O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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O Espírito da Verdade — Autores diversos — F. C. Xavier / Waldo Vieira


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História de um pão

Cap. XIII — Item 15.


1 Quando Barsabás, o tirano, demandou o reino da morte, buscou debalde reintegrar-se no grande palácio que lhe servira de residência.

2 A viúva, alegando infinita mágoa, desfizera-se da moradia, vendendo-lhe os adornos. Viu ele, então, baixelas e candelabros, telas e jarrões, tapetes e perfumes, joias e relíquias, sob o martelo do leiloeiro, enquanto os filhos querelavam no tribunal, disputando a melhor parte da herança.

3 Ninguém lhe lembrava o nome, desde que não fosse para reclamar o ouro e a prata que doara a mordomos distintos.

4 E porque na memória de semelhantes amigos ele não passava, agora, de sombra, tentou o interesse afetivo de companheiros outros da infância…

5 Todavia, entre estes encontrou simplesmente a recordação dos próprios atos de malquerença e de usura.

6 Barsabás entregou-se às lágrimas, de tal modo, que a sombra lhe embargou, por fim, a visão, arrojando-o nas trevas…

7 Vagueou por muito tempo no nevoeiro, entre vozes acusadoras, até que um dia aprendeu a pedir na oração, e, como se a rogativa lhe servisse de bússola, embora caminhasse às escuras, eis que, de súbito, se lhe extingue a cegueira e ele vê, diante de seus passos, um santuário sublime, faiscante de luzes. Milhões de estrelas e pétalas fulgurantes povoavam-no em todas as direções.

8 Barsabás, sem perceber, alcançara a Casa das Preces de Louvor, nas faixas inferiores do firmamento.

9 Não obstante deslumbrado, chorou, impulsivo, ante o ministro espiritual que velava no pórtico. Após ouvi-lo, generoso, o funcionário angélico falou, sereno:

— Barsabás, cada fragmento luminoso que contemplas é uma prece de gratidão que subiu da Terra…

— Ai de mim — soluçou o desventurado — eu jamais fiz o bem…

— Em verdade — prosseguiu o informante — trazes contigo, em grandes sinais, o pranto e o sangue dos doentes e das viúvas, dos velhinhos e órfãos indefesos que despojaste, nos teus dias de invigilância e de crueldade; entretanto, tens aqui, em teu crédito, uma oração de louvor…

10 E apontou-lhe acanhada estrela que brilhava à feição de pequeno disco solar.

— Há trinta e dois anos — disse, ainda, o instrutor — deste um pão a uma criança e essa criança te agradeceu, em prece ao Senhor da Vida.

11 Chorando de alegria e consultando velhas lembranças, Barsabás perguntou:

— Jonakim, o enjeitado?

— Sim, ele mesmo — confirmou o missionário divino. — Segue a claridade do pão que deste, um dia, por amor, e livrar-te-ás, em definitivo, do sofrimento nas trevas.

12 E Barsabás acompanhou o tênue raio do tênue fulgor que se desprendia daquela gota estelar, mas, ao invés de elevar-se às Alturas, encontrou-se numa carpintaria humilde da própria Terra.

13 Um homem calejado aí refletia, manobrando a enxó em pesado lenho… Era Jonakim, aos quarenta de idade.

14 Como se estivessem os dois identificados no doce fio de luz, Barsabás abraçou-se a ele, qual viajante abatido, de volta ao calor do lar.




15 Decorrido um ano, Jonakim, o carpinteiro, ostentava, sorridente, nos braços, mais um filhinho, cujos louros cabelos emolduravam belos olhos azuis.

16 Com a bênção de um pão dado a um menino triste, por espírito de amor puro, conquistara Barsabás, nas Leis Eternas, o prêmio de renascer para redimir-se.


Irmão X

(Humberto de Campos)

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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