Cap. XIV — Item 2.
1 Senhor, que criastes as leis que nos regem e o mundo que nos acolhe; 2 que nos destes a glória solar por luz de vossa onipresença e o manto estrelado que resplende nos céus, por divina promessa de que a vossa misericórdia fundirá, em láurea fulgurante de redenção, as trevas dos nossos erros; 3 que sois a justiça nos justos, a santidade nos santos, a sabedoria nos sábios, a pureza nos puros, a humildade nos humildes, a bondade nos bons, a virtude nos virtuosos, a vitória nos triunfadores do bem e a fidelidade nas almas fiéis, 4 derramai a bênção de vossa compaixão sobre nós, a fim de que venhamos, ainda mesmo por relampagueante minuto, a esquecer os horizontes anuviados da Terra, em que se acumulam as vibrações letíferas de nossas malquerenças e o fumo empestado de nossos desesperos, convertidos na miséria e no ódio que se voltam, constantes, contra nós, da caliça do tempo!… 5 Fazei, Senhor, que se nos dobrem as cervizes sobre os campos do planeta que semeastes de fontes e embalsamastes de perfumes, que engrinaldastes de flores e loirejastes de frutos, e se nos acomode o pensamento na oração, olvidando, por um momento só, a lei de Caim, ( † ) a que temos atrelado o carro dos nossos falsos princípios de soberania e de força, ensanguentando searas e templos, lares e escolas, e assassinando mulheres e crianças, a invocarmos a chacina e a violência por suposto direito das nações!… 6 E permiti, ó Deus da liberalidade infinita, que irmanados no santuário doméstico possamos todos nós, ante a paz que nos requesta ao trabalho dealvando o futuro, louvar-nos o nome inefável, reconhecidos e reverentes, por haverdes concedido às nossas deserções e às nossas calamidades a coroa de heroísmo e o tesouro de amor que brilham em nossas mães.
Ruy