Cap. VI — Item 3.
1 Somos discípulos do Cristo. Mas, repetindo com Ele a sublime afirmação: — “Pai nosso que estais no Céu”, ( † ) — esperamos que Deus se transforme em nosso escravo particular, atento às nossas ilusões e caprichos.
2 Somos discípulos do Cristo. Contudo, redizendo-lhe as inesquecíveis palavras de submissão ao Criador: — “Seja feita a vossa vontade”, ( † ) — assemelhamo-nos a vulcões de intemperança mental, vomitando fumo de rebeldia e lava de imprecações, sempre que nos sintamos contrariados na execução de pequeninos desejos.
3 Somos discípulos do Cristo. Entretanto, refazendo-lhe a súplica ao Pai de Infinito Amor: — “O pão de cada dia dai-nos hoje”, ( † ) — reclamamos a carcaça do boi e a safra do trigo exclusivamente para a nossa casa, esquecendo-nos de que, ao redor de nossa mesa insaciável, milhares de companheiros desfalecem de fome.
4 Somos discípulos do Cristo. Todavia, depois de implorar com o Sábio Orientador à Eterna Justiça: — “Perdoai as nossas dívidas”, ( † ) — mentalizamos, de imediato, a melhor maneira de cultivar aversões e malquerenças, aperfeiçoando, assim, os métodos de odiar os mais fortes e oprimir os mais fracos.
5 Somos discípulos do Cristo. No entanto, mal acabamos de pedir a Deus, em companhia do Grande Benfeitor: — “Não nos deixeis cair em tentação”, ( † ) — procuramos, por nós mesmos, aprisionar o sentimento nas esparrelas do vício.
6 Somos discípulos do Cristo. Contudo, rogando ao Todo-Poderoso, junto do Inefável Companheiro: — “Livrai-nos de todo o mal”, ( † ) — construímos canhões e fabricamos bombas mortíferas para arrasar a vida dos semelhantes.
7 Somos discípulos do Cristo. Mas convertemos o próximo em alimária de nossos interesses escusos, olvidando o dever da fraternidade, para desfrutarmos, no mundo, a parte do leão.
8 É por isso que somos, na atualidade da Terra, os cristãos incrédulos, que ensinamos sem crer e pregamos sem praticar, trazendo o cérebro luminoso e o coração amargo.
9 E é assim que, atormentados por dificuldades e crises de toda espécie, — aflitiva colheita de velhos males, — cada qual de nós tem necessidade de prosternar-se perante o Mestre Divino, à maneira do escriba do Evangelho, guardando nalma o próprio sonho de felicidade, enfermiço ou semimorto, a exorar em contraditória rogativa: — “Senhor, eu creio! Ajuda a minha incredulidade!” ( † )
Jacinto Fagundes