A Carta aos Romanos é, desde cedo, considerada um dos escritos mais importantes do Novo Testamento. Tertuliano, Marcião, Clemente, dentre outros, a conhecem e citam-na. Lutero a considera o escrito mais importante e, sobre ela, Calvino escreveria que “quem a compreendeu, recebe precisamente com ela a chave para todas as câmaras secretas do tesouro da Sagrada Escritura”.
É uma das cartas de Paulo que mais faz referências ao Antigo Testamento, traz a maior relação de nomes de colaboradores e saudações, incluindo o de Tércio, a quem possivelmente Paulo ditou esta carta (Romanos, 16.22) e o de Febe, que seria a portadora desta (Romanos, 16.1).
Registra, ainda, a base de um dos grandes debates teológicos sobre a justificação pela fé (Romanos, 1.17). Apesar disso, é importante não perder de vista as circunstâncias concretas que deram origem à carta, principalmente no que se refere ao desentendimento entre judeus e gentios daquela comunidade, e, também, a intenção de Paulo de ir até Roma, tendo que, antes, viajar para Jerusalém. A carta, portanto, o precederia naquela comunidade, que ele esperava utilizar como base para dali seguir até a Espanha.
Estrutura e temas
Remetente: Paulo | Capítulos: 16 | Versículos: 433
Destinatários e saudações. | 1.1-7
Gratidão é desejo de visitar a comunidade em Roma. | 1.8-13
Paulo se sente devedor de gregos e bárbaros, sábios e ignorantes. | 1.14,15
Tema da epístola: viver pela fé. | 1.16,17
A justiça de Deus. | 1.18-32
Responsabilidade de todas as pessoas perante Deus. | 2.1-16
Advertência aos judeus. | 2.17-29
A vantagem de ser judeu. | 3.1-8
Tanto judeus como gregos se equivocam. | 3.9-19
A manifestação da justiça de Deus. | 3.20-31
Abraão tornou-se justo por sua fé. | 4.1-25
Recompensa por ser justo. O papel de Jesus no desenvolvimento do homem justo. | 5.1-11
Adão e seu erro comparado com Jesus e sua retidão. | 5.12-21
Necessidade da mudança. A vida com o Cristo. | 6.1-14
Ser justo onde quer que estejamos. | 6.15-23
Limites de atuação da lei judaica. | 7.1-6
Característica e função da lei judaica. | 7.7-13
Dificuldades existentes no cumprimento da lei judaica. | 7.14-25
Não há mais condenação para os que vivem de acordo com o que Jesus ensinou e realizou. | 8.1-13
Todos são filhos de Deus. | 8.14-17
Sofrimento presente e recompensa e alegria futuras. | 8.18-27
Deus age para o bem dos que o amam. | 8.28-30
Se Deus é por nós, quem será contra? | 8.31-39
O que Paulo sente sobre os equívocos do povo de Israel. | 9.1-33
Desejo de Paulo em relação ao futuro do povo de Israel. | 10.7-21
O povo de Israel não foi repudiado por Deus. | 11.1-15
Adverténcia contra a soberba dos gentios. | 11.16-24
Todo o povo de Israel será salvo. | 11.25-36
O culto espiritual. | 12.1,2
Necessidade da humildade e da caridade. | 12.3-13
A caridade deve ser para todos, mesmo para os inìmigos. | 12.14-21
O respeito e a submissão às autoridades do mundo. | 13.1-7
A caridade é a plenitude da lei judaica. | 13.8-10
O cristão deve ser um foco de luz. | 13.11-14
Necessidade da caridade para com os mais fracos. | 14.1-23
Os fortes devem carregar a fragilidade dos fracos. | 15.1-3
Necessidade de esperança e perseverança. A consolação virá. | 15.4-13
A tarefa de Paulo. | 15.14-21
O projeto de viajar até Roma. | 15.22-33
Saudações e recomendações - primeira parte. | 16.1-16
Adverténcia. O mal será esmagado. | 16.17-20
Saudações e recomendações - parte final. | 16.21-24
Tércio como escrevente da epístola. Louvor final. | 16.25-27
A comunidade
Roma é a capital do Império, fundada em torno de 750 a.C. A comunidade cristã existente não foi fundada por Paulo e ele não a conhecia quando a carta é escrita.
Sua origem pode apoiar-se tanto em judeus, levados até a capital do Império, quanto por romanos, que recolheram a mensagem do Evangelho na Galileia, Judeia ou Samaria. Lembremos que, em Atos, 2.10, existe uma pequena referência a romanos ouvindo os apóstolos, por ocasião do Pentecostes. A depreender do próprio teor da carta, não existia uma hegemonia entre judeus e gentios dentro da comunidade, e divergências entre esses dois grupos motivou o pedido de auxílio ao Apóstolo dos Gentios, sobre temas bastante concretos.
Autoria e origem
Não há, praticamente, nenhuma contestação séria sobre a autoria atribuída a Paulo de Tarso. Ele está em Corinto, provavelmente na casa de Gaio, preparando-se para empreender uma viagem até Jerusalém, a fim de levar recursos angariados para aquela comunidade. Informado da situação na comunidade de Roma, redige uma carta que deveria precedê-lo e contribuir para diminuir os conflitos que surgiram.
Possível datação
As datas que tratam da redação incluem o ano de 55 como o mais antigo e o de 58 como o mais tardio.
Conteúdo e temática
Romanos é uma carta que trata de divergências surgidas no seio de uma comunidade, formada por pessoas com diferentes históricos e perspectivas religiosas, acerca de elementos da prática e da crença. É uma carta de especial importância, não só pela longa e cuidadosa exposição de vários temas que estariam na origem das comunidades cristãs, como também pela forma pela qual os conflitos surgidos, dentro dessas igrejas, deveriam ser considerados e tratados. Para a atualidade das comunidades cristãs, constitui um atual e importante apelo à concórdia, à fé e a uma prática cristã que se aproxime do exemplo de Jesus.
Perspectiva espírita
De acordo com Emmanuel, em Paulo e Estêvão, a Epístola aos romanos foi escrita quando o Apóstolo dos Gentios estava em Corinto. A carta teria o propósito de preparar a sua chegada à capital do Império, e, por isso, durante alguns dias, ele trabalhou nesse documento, de modo que ele recapitulasse a doutrina consoladora do Evangelho e também referências a todos os trabalhadores de que Paulo já-tivera notícias naquela cidade.
A portadora da carta foi uma grande colaboradora de Paulo no porto de Cencreia, que teria que viajar a Roma para visitar alguns familiares.
Emmanuel também confirma a importância dessa carta quando narra a chegada de Paulo preso à cidade de Puteólli. Um velhinho chamado Sexto Flacus foi até a hospedaria humilde onde ele estava, informando que a cidade possuía, há muito, uma comunidade onde várias cartas do Apóstolo dos Gentios eram lidas, dentre elas a escrita aos Romanos, da qual ele trazia uma cópia, guardada com especial carinho pelos confrades.
A Epístola aos romanos representa um importante marco na história do Cristianismo. Escrita já na maturidade de Paulo, destinada a uma comunidade existente na capital do Império, demonstra a universalidade do Evangelho, cuja prática e aplicação alcançam todas as dimensões da vida humana. Seus ensinos ecoam pelos séculos, nos fazendo lembrar que, para além de todas as artificiais e transitórias divisões que podem surgir nos agrupamentos humanos, o Evangelho, como proposta libertadora, nos une e orienta, nos consola e esclarece, aguardando, de nós, as disposições de agir e servir, cooperando com a difusão da luz onde quer que estejamos.
Saulo Cesar Ribeiro da Silva