302. — Como compreender a afirmativa
de Jesus aos judeus: — “Sois deuses”? ( † )
— Em todo homem repousa a partícula da divindade do Criador, com a qual pode a criatura terrestre participar dos poderes sagrados da Criação.
O Espírito encarnado ainda não ponderou devidamente o conjunto de possibilidades divinas guardadas em suas mãos, dons sagrados tantas vezes convertidos em elementos de ruína e destruição.
Entretanto, os poucos que sabem crescer na sua divindade, pela exemplificação e pelo ensinamento, são cognominados na Terra santos e heróis, por afirmarem a sua condição espiritual, sendo justo que todas as criaturas procurem alcançar esses valores, desenvolvendo para o bem e para a luz a sua natureza divina.
303. — Qual o sentido do ensinamento
evangélico: — “Todos os pecados ser-vos-ão perdoados, menos os que cometerdes
contra o Espírito Santo”? ( † )
— A aquisição do conhecimento espiritual, com a perfeita noção de nossos deveres, desperta em nosso íntimo a centelha do espírito divino, que se encontra no âmago de todas as criaturas.
Nesse instante, descerra-se à nossa visão profunda o santuário da luz de Deus, dentro de nós mesmos, consolidando e orientando as nossas mais legítimas noções de responsabilidade na vida.
Enquanto o homem se desvia ou fraqueja, distante dessa iluminação, seu erro justifica-se, de alguma sorte, pela ignorância ou pela cegueira. Todavia, a falta cometida com a plena consciência do dever, depois da bênção do conhecimento interior, guardada no coração e no raciocínio, essa significa o “pecado contra o Espírito Santo”, porque a alma humana estará, então, contra si própria, tripudiando das suas divinas possibilidades.
É lógico, portanto, que esses erros são os mais graves da vida, porque consistem no desprezo dos homens pela expressão de Deus, que habita neles.
304. — Qual o espírito destas
letras: — “Não cuides que vim trazer paz à Terra; não vim trazer a paz,
mas a espada”? ( † )
— Todos os símbolos do Evangelho, dado o meio em que desabrocharam, são, quase sempre, fortes e incisivos.
Jesus não vinha trazer ao mundo a palavra de contemporização com as fraquezas do homem, mas a centelha de luz para que a criatura humana se iluminasse para os Planos divinos.
E a lição sublime do Cristo, ainda e sempre, pode ser reconhecida como a “espada” renovadora, com a qual deve o homem lutar consigo mesmo, extirpando os velhos inimigos do seu coração, sempre capitaneados pela ignorância e pela vaidade, pelo egoísmo e pelo orgulho.
305. — A afirmativa do Mestre:
— “Porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, a filha contra
sua mãe e a nora contra sua sogra;” — como deve ser compreendida em espírito
e verdade? ( † )
— Ainda aqui, temos de considerar a feição antiga do hebraico, com a sua maneira vigorosa de expressão.
Seria absurdo admitir que o Senhor viesse estabelecer a perturbação no sagrado instituto da família humana, nas suas elevadas expressões afetivas, mas, sim, que os seus ensinamentos consoladores seriam o fermento divino das opiniões, estabelecendo os movimentos naturais das ideias renovadoras, fazendo luz no íntimo de cada um, pelo esforço próprio, para felicidade de todos os corações.
306. — “E tudo o que pedirdes
na oração, crendo, o recebereis.” — Esse preceito do Mestre tem aplicação,
igualmente, no que se refere aos bens materiais? ( † )
— O “seja feita a vossa vontade”, da oração comum, constitui nosso pedido geral a Deus, cuja Providência, através dos seus mensageiros, nos proverá o Espírito ou a condição de vida do mais útil, conveniente e necessário ao nosso progresso espiritual, para a sabedoria e para o amor.
O que o homem não deve esquecer, em todos os sentidos e circunstâncias da sua vida, é a prece do trabalho e da dedicação, no santuário da existência de lutas purificadoras, porque Jesus abençoará as suas realizações de esforço sincero.
307. — Por que disse Jesus que
“o escândalo é necessário, mas ai daquele por quem o escândalo vier”? ( † )
— Num Plano de vida, onde quase todos se encontram pelo escândalo que praticaram no pretérito, é justo que o mesmo “escândalo” seja necessário, como elemento de expiação, de prova ou de aprendizado, porque aos homens falta ainda aquele “amor que cobre a multidão dos pecados”. ( † )
As palavras do ensinamento do Mestre ajustam-se, portanto, de maneira perfeita, à situação dos encarnados no mundo, lastimando-se os que não vigiam, por se tornarem desse modo instrumentos de tentação nas suas quedas constantes, através dos longos caminhos.
308. — As palavras de João:
— “A luz brilha nas trevas e as trevas não a compreenderam”, tiveram
aplicação somente quando da exemplificação do Cristo, há dois mil anos,
ou essa aplicação é extensiva à nossa era? ( † )
— As palavras do apóstolo referiam-se à sua época; todavia, o simbolismo evangélico do seu enunciado estende-se aos tempos modernos, nos quais a lição do Senhor permanece incompreendida para a maioria dos corações, que persistem em não ver a luz, fugindo à verdade.
309. — Em que sentido devemos
interpretar as sentenças de João: — “A quem pertence a esposa
é o esposo; mas o amigo do esposo, que com ele está e ouve, muito se
regozija por ouvir a voz do esposo. Pois este gozo eu agora experimento;
é preciso que ele cresça e que eu diminua”? ( † )
— O esposo da humanidade terrestre é Jesus Cristo, o mesmo Cordeiro de Deus que arranca as almas humanas dos caminhos escusos da impenitência.
O amigo do esposo é o seu apóstolo, cuja expressão humana deveria desaparecer, para que Jesus resplandecesse para o mundo inteiro, no seu Evangelho de Verdade e Vida.
310. — A transfiguração do Senhor
é também um símbolo para a Humanidade? ( † )
— Todas as expressões do Evangelho possuem uma significação divina e, no Tabor, contemplamos a grande lição de que o homem deve viver a sua existência no mundo sabendo que pertence ao Céu, por sua sagrada origem, sendo indispensável, desse modo, que se desmaterialize, a todos os instantes, para que se desenvolva em amor e sabedoria, na sagrada exteriorização da virtude celeste, cujos germens lhe dormitam no coração.
311. — Qual o sentido da afirmativa
do texto sagrado, acerca de Jesus: — “Não tendo Deus querido sacrifício,
nem oblata, lhe formou um corpo”? ( † )
— Para Deus, o mundo não mais deveria persistir no velho costume de sacrificar nos altares materiais, em seu nome, razão pela qual enviou aos homens a palavra do Cristo, a fim de que a humanidade aprendesse a sacrificar no altar do coração, na ascensão divina dos sentimentos para o seu amor.
312. — Como interpretar a afirmativa
de João: — “Três são os que fornecem testemunho no Céu; o Pai, o Verbo
e o Espírito Santo”? ( † )
— João referia-se ao Criador, a Jesus, que constituía para a Terra a sua mais perfeita personificação, e à legião dos Espíritos redimidos e santificados que cooperam com o Divino Mestre, desde os primeiros dias da organização terrestre, sob a misericórdia de Deus.
313. — Como entender a bem-aventurança
conferida por Jesus aos “pobres de espírito”? ( † )
— O ensinamento do Divino Mestre referia-se às almas simples e singelas, despidas do “espírito de ambição e de egoísmo”, que costumam triunfar nas lutas do mundo.
Não costumais até hoje denominar os vitoriosos do século, nas questões puramente materiais, de “homem de espírito”? É por essa razão que, em se dirigindo à massa popular, aludia o Senhor aos corações despretensiosos e humildes, aptos a lhe seguirem os ensinamentos, sem determinadas preocupações rasteiras da existência material.
314. — Qual a maior lição que
a humanidade recebeu do Mestre, ao lavar ele os pés dos seus discípulos? ( † )
— Entregando-se a esse ato, queria o Divino Mestre testemunhar às criaturas humanas a suprema lição da humildade, demonstrando, ainda uma vez, que, na coletividade cristã, o maior para Deus seria sempre aquele que se fizesse o menor de todos.
315. — Por que razão Jesus,
ao lavar os pés dos discípulos, cingiu-se com uma toalha? ( † )
— O Cristo, que não desdenhou a energia fraternal na eliminação dos erros da criatura humana, afirmando-se como o Filho de Deus nos divinos fundamentos da Verdade, quis proceder desse modo para revelar-se o escravo pelo amor da humanidade, à qual vinha trazer a luz da vida, na abnegação e no sacrifício supremo.
316. — Aceitando Jesus o auxílio
de Simão, Cirineu, desejava deixar um novo ensinamento às criaturas? ( † )
— Essa passagem evangélica encerra o ensinamento do Cristo, concernente à necessidade de cooperação fraternal entre os homens, em todos os trâmites da vida.
317. — A ressurreição de Lázaro,
operada pelo Mestre, tem um sentido oculto, como lição à humanidade? ( † )
— O episódio de Lázaro era um selo divino, identificando a passagem do Senhor, mas também foi o símbolo sagrado da ação do Cristo sobre o homem, testemunhando que o seu amor arrancava a humanidade do seu sepulcro de misérias, humanidade pela qual tem o Senhor dado o sacrifício de suas lágrimas, ressuscitando-a para o sol da vida eterna, nas sagradas lições do seu Evangelho de amor e de redenção.
318. — Poderemos receber um
ensinamento sobre a eucaristia, dado o costume tradicional da igreja
romana, que recorda a ceia dos discípulos com o vinho e a hóstia? ( † )
— A verdadeira eucaristia evangélica não é a do pão e do vinho materiais, como pretende a igreja de Roma, mas, a identificação legítima e total do discípulo com Jesus, de cujo ensino de amor e sabedoria deve haurir a essência profunda, para iluminação dos seus sentimentos e do seu raciocínio, através de todos os caminhos da vida.
319. — Quem terá recebido maior
soma de misericórdia na justiça divina: — Judas, o discípulo infiel,
mas iludido e arrependido, ou o sacerdote maldoso e indiferente, que
o induziu à defecção? ( † )
— Quem há recebido mais misericórdia, por mais necessitado e indigente, é o mau sacerdote de todos os tempos, que, longe de confundir a lição do Cristo uma só vez, vem praticando a defecção espiritual para com o Divino Mestre, de muitos séculos.
320. — Que ensinamentos nos
oferece a negação de Pedro? ( † )
— A negação de Pedro serve para significar a fragilidade das almas humanas, perdidas na invigilância e na despreocupação da realidade espiritual, deixando-se conduzir, indiferentemente, aos torvelinhos mais tenebrosos do sofrimento, sem cogitarem de um esforço legítimo e sincero, na definitiva edificação de si mesmas.
321. — Qual a edição dos Evangelhos
que melhor traduz a fonte original?
— A grafia original dos Evangelhos já representa, em si mesma, a própria tradução do ensino de Jesus, considerando-se que essa tarefa foi delegada aos seus apóstolos.
Sendo razoável estimarmos, em todas as circunstâncias, os esforços sinceros, seja qual for o meio onde se desdobram, apenas consideramos que, em todas as traduções dos ensinamentos do Mestre Divino, torna-se imprescindível a separação da letra e do espírito.
Podereis objetar que a letra deveria ser simples e clara.
Convenhamos que sim, mas importa observar que os Evangelhos são o roteiro das almas, e é com a visão espiritual que devem ser lidos.
Constituindo a cátedra de Jesus, o discípulo que deles se aproximar com a intenção sincera de aprender encontra, sob todos os símbolos da letra, a palavra persuasiva e doce, simples e enérgica, da inspiração do seu Mestre imortal.
Emmanuel