O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Nosso Lar — André Luiz


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Em conversação

(Sumário)

1. O Ministério da Regeneração continuou cheio de expressões festivas, não obstante se haver retirado o Governador ao seu círculo mais íntimo.

2 Comentavam-se os acontecimentos. Centenas de companheiros se ofereciam para os trabalhos árduos da defensiva, assim correspondendo ao apelo do grande chefe espiritual.

3 Procurei Tobias, para consultá-lo sobre a possibilidade do meu aproveitamento, mas o generoso irmão sorriu da minha ingenuidade e falou:

— André, você está começando agora a tarefa nova. Não se precipite, solicitando acréscimo de responsabilidade. Haverá serviço para todos, disse-nos, ainda agora, o Governador. 4 Não se esqueça que as nossas Câmaras de Retificação constituem núcleos de esforço ativo, dia e noite. Não se aflija. Recorde que trinta mil servidores vão ser convocados para a vigilância permanente. Destarte, na retaguarda, serão muito grandes os claros a preencher.

5 Identificando-me o desapontamento, o bondoso companheiro, bem-humorado, acentuou depois de ligeira pausa:

— Contente-se com a matrícula na escola contra o medo. Creia que isso lhe fará enorme bem.


2. Nesse ínterim, recebi grande abraço de Lísias, que integrara, na festa, a deputação do Ministério do Auxílio. Com a licença de Tobias, retirei-me em companhia de Lísias para gozar de palestra mais íntima.

2 — Conhece você, — indagou ele, — o Ministro Benevenuto, aqui da Regeneração, o mesmo que chegou anteontem da Polônia.

— Não tenho esse prazer.

— Vamos ao seu encontro, — replicou Lísias, envolvendo-me nas vibrações do seu imenso carinho fraterno, — há muito que tenho a honra de incluí-lo no círculo das minhas relações pessoais.

3 Daí a momentos, estávamos no grande recinto verde, consagrado aos trabalhos desse Ministro da Regeneração, que eu apenas conhecia de vista.

4 Numerosos grupos de visitantes trocavam ideias sob a copa das grandes árvores. Lísias conduziu-me ao núcleo maior, onde Benevenuto trocava impressões com diversos amigos, apresentando-me com generosas palavras. O Ministro acolheu-me, cortês, admitindo-me na sua roda com extrema bondade.


3. A conversação continuou nos rumos naturais e notei que se discutia a situação da Esfera Terrestre.

— Muito doloroso o quadro que vimos, — comentava Benevenuto em tom grave; — habituados ao serviço da paz na América, nenhum de nós imaginava o que fosse o trabalho de socorro espiritual nos campos da Polônia. 2 Tudo obscuro, tudo difícil. Não se podem, ali, esperar claridades de fé nos agressores nem, tampouco, na maioria das vítimas, que se entregam totalmente a pavorosas impressões. 3 Os encarnados não nos ajudam, apenas consomem nossas forças. Desde o começo do meu Ministério, nunca vi tamanhos sofrimentos coletivos.

4 — E a comissão demorou-se muito por lá? — Perguntou um dos companheiros com interesse.

— Todo o tempo disponível, — ajuntou o Ministro. — O chefe da expedição, nosso colega do Auxílio, julgou conveniente permanecermos exclusivamente atidos à tarefa, para enriquecermos observações e melhor aproveitar a experiência. 5 Com efeito, as condições não poderiam ser melhores. Acredito que nossa posição está muito distante da extraordinária capacidade de resistência dos abnegados servidores espirituais que ali se encontram de serviço. 6 Todas as tarefas de assistência imediata funcionam perfeitamente, a despeito do ar asfixiante, saturado de vibrações destruidoras. O campo de batalha, invisível aos nossos irmãos terrestres, é verdadeiro inferno de indescritíveis proporções. 7 Nunca, como na guerra, evidencia o espírito humano a condição de alma decaída, apresentando características essencialmente diabólicas. 8 Vi homens inteligentes e instruídos localizarem, com minuciosa atenção, determinados setores de atividade pacífica, para o a que chamam “impactos diretos”. Bombas de alto poder explosivo destroem edifícios pacientemente edificados. 9 Aos fluidos venenosos da metralha, casam-se as emanações pestilentas do ódio e tornam quase impossível qualquer auxílio. 10 O que mais nos contristou, porém, foi a triste condição dos militares agressores, quando algum deles abandonava as vestes carnais, compelido pelas circunstâncias. Dominados, na maioria, por forças tenebrosas, fugiam dos Espíritos missionários, chamando-lhes a todos “fantasmas da cruz”.

11 — E não eram recolhidos para esclarecimento justo? — Inquiriu alguém, interrompendo o narrador. Benevenuto esboçou um gesto significativo e respondeu:

— Será sempre possível atender aos loucos pacíficos, no lar; mas que remédio se reservará aos loucos furiosos, senão o hospício? 12 Não havia outro recurso para tais criaturas, senão deixá-las nos precipícios das trevas, onde serão naturalmente compelidas a reajustar-se, dando ensejo a pensamentos dignos. 13 É razoável, portanto, que as missões de auxílio recolham apenas os predispostos a receber o socorro elevado. Os espetáculos entrevistos foram, portanto, demasiadamente dolorosos, por muitas razões.


4. Valendo-se de ligeiro intervalo, outro companheiro opinou:

— É quase incrível que a Europa, com tantos patrimônios culturais, se tenha abalançado a semelhante calamidade.

2 — Falta de preparação religiosa, meus amigos, — definiu o Ministro com expressiva inflexão de voz, — não basta ao homem a inteligência apurada, é-lhe necessário iluminar raciocínios para a vida eterna. 3 As igrejas são sempre santas em seus fundamentos e o sacerdócio será sempre divino, quando cuide essencialmente da Verdade de Deus; mas o sacerdócio político jamais atenderá a sede espiritual da civilização.  4 Sem o sopro divino, as personalidades religiosas poderão inspirar respeito e admiração, menos a fé e a confiança.

5 — Mas, o Espiritismo? — Perguntou abruptamente um dos circunstantes. Não surgiram as primeiras florações doutrinárias na América e na Europa, há mais de cinquenta anos? Não continua esse movimento novo a serviço das verdades eternas?

6 Benevenuto sorriu, esboçou um gesto extremamente significativo e acrescentou:

— O Espiritismo é a nossa grande esperança e, por todos os títulos, é o Consolador da humanidade encarnada; mas a nossa marcha é ainda muito lenta. Trata-se de uma dádiva sublime, para a qual a maioria dos homens ainda não possui “olhos de ver”. 7 Esmagadora percentagem dos aprendizes novos aproxima-se dessa fonte divina a copiar antigos vícios religiosos. Querem receber proveitos, mas não se dispõem a dar cousa alguma de si próprios. Invocam a verdade, mas não caminham ao encontro dela. 8 Enquanto muitos estudiosos reduzem os médiuns a cobaias humanas, numerosos crentes procedem à maneira de certos enfermos que, embora curados, creem mais na doença que na saúde, e nunca utilizam os próprios pés. 9 Enfim, procuram-se, por lá, os Espíritos materializados para o fenomenismo passageiro, ao passo que nós outros vivemos à procura de homens espiritualizados para o trabalho sério.

10 O trocadilho arrancou expressões de bom humor geral, acrescentando o Ministro, gravemente:

— Nossos serviços são astronômicos. Não esqueçamos, porém, que todo homem é semente da divindade. Ataquemos a execução de nossos deveres com esperança e otimismo, e estejamos sempre convictos de que, se bem fizermos a nossa parte, podemos permanecer em paz, porque o Senhor fará o resto.


André Luiz


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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