O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Nosso Lar — André Luiz


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Notícias de Veneranda

(Sumário)

1. Agora, que penetrara o parque banhado de luz, experimentava singular fascinação.

2 Aquelas árvores acolhedoras, aquelas virentes sementeiras reclamavam-me a todo momento. De maneira indireta, provocava explicações de Narcisa, enunciando perguntas veladas.

— No grande parque, — dizia ela, — não há somente caminhos para o Umbral ou apenas cultura de vegetação destinada aos sucos alimentícios. A Ministra Veneranda criou planos excelentes para os nossos processos educativos.

3 E observando-me a curiosidade sadia, continuou esclarecendo:

— Trata-se dos “salões verdes” para serviço de educação. Entre as grandes fileiras das árvores, há recintos de maravilhosos contornos para as conferências dos Ministros da Regeneração; outros para Ministros visitantes e estudiosos em geral, reservando-se, porém, um de assinalada beleza, para as conversações do Governador, quando ele se digna de vir até nós. 4 Periodicamente, as árvores eretas se cobrem de flores, dando ideia de pequenas torres coloridas, cheias de encantos naturais. Temos, assim, no firmamento, o teto acolhedor, com as bênçãos do Sol ou das estrelas distantes.

— Devem ser prodigiosos esses palácios da natureza, — acrescentei.

5 — Sem dúvida, — prosseguiu a enfermeira, entusiasticamente, — o projeto da Ministra despertou, segundo me informaram, aplausos francos em toda a colônia. Soube que tal se dera, havia precisamente quarenta anos. 6 Iniciou-se, então, a campanha do “salão natural”. Todos os Ministérios pediram cooperação, inclusive o da União Divina, que solicitou o concurso de Veneranda na organização de recintos dessa ordem, no Bosque das Águas. 7 Surgiram deliciosos recantos em toda parte. Os mais interessantes, todavia, a meu ver, são os que se instituíram nas escolas. Variam nas formas e dimensões. 8 Nos parques de educação do Esclarecimento, instalou a Ministra um verdadeiro castelo de vegetação, em forma de estrela, dentro do qual se abrigam cinco numerosas classes de aprendizados e cinco instrutores diferentes. 9 No centro, funciona enorme aparelho destinado a demonstrações pela imagem, n à maneira do cinematógrafo terrestre, com o qual é possível levar a efeito cinco projeções variadas, simultaneamente. Essa iniciativa melhorou consideravelmente a cidade, unindo no mesmo esforço o serviço proveitoso à utilidade prática e à beleza espiritual.

10 Valendo-me da pausa natural, interpelei:

— E o mobiliário dos salões? Tal como dos grandes recintos terrenos?

Narcisa sorriu e acentuou:

— Há diferença. A Ministra ideou os quadros evangélicos do tempo que assinalou a passagem do Cristo pelo mundo, e sugeriu recursos da própria natureza. 11 Cada “salão natural” tem bancos e poltronas esculturados na substância do solo, forrados de relva olente e macia. Isso imprime formosura e disposições características. 12 Disse a organizadora que seria justo lembrar as preleções do Mestre, em plena praia, quando de suas divinas excursões junto ao Tiberíades, e dessa recordação surgiu o empreendimento do “mobiliário natural”. A conservação exige cuidados permanentes, mas a beleza dos quadros representa vasta compensação.

13 A essa altura, interrompeu-se a enfermeira bondosa, mas, identificando-me o interesse silencioso, prosseguiu:

— O mais belo recinto do nosso Ministério é o destinado às palestras do Governador. A Ministra Veneranda descobriu que ele sempre estimou as paisagens de gosto helênico, mais antigo, e decorou o salão a traços especiais, formados em pequenos canais de água fresca, pontes graciosas, lagos minúsculos, palanquins de arvoredo e frondejante vegetação. 14 Cada mês do ano mostra cores diferentes, em razão das flores que se vão modificando em espécie, de trinta a trinta dias. A Ministra reserva o mais lindo aspecto para o mês de dezembro, em comemoração ao Natal de Jesus, quando a cidade recebe os mais formosos pensamentos e as mais vigorosas promessas dos nossos companheiros encarnados na Terra e envia, por sua vez, ardentes afirmações de esperança e serviço às Esferas superiores, em homenagem ao Mestre dos mestres. Esse salão é nota de orgulho para o nosso Ministério. 15 Talvez já saiba que o Governador aqui vem, quase que semanalmente, aos domingos. Ali permanece longas horas, conferenciando com os Ministros da Regeneração, conversando com os trabalhadores, oferecendo sugestões valiosas, examinando nossas vizinhanças com o Umbral, recebendo nossos votos e visitas, e confortando enfermos convalescentes. 16 A noitinha, quando pode demorar-se, ouve música e assiste a números de arte, executados por jovens e crianças dos nossos educandários. A maioria dos forasteiros, que se hospedam em “Nosso Lar”, costuma vir até aqui só no propósito de conhecer esse “palácio natural”, que acomoda confortavelmente mais de trinta mil pessoas.


2. Ouvindo os interessantes informes, eu experimentava um misto de alegria e curiosidade.

— O salão da Ministra Veneranda, — continuou Narcisa animadamente, — é também esplêndido recinto, cuja conservação nos merece especial carinho. 2 Todo o nosso préstimo será pouco para retribuir as dedicações dessa abnegada serva de Nosso Senhor. Grande número de benefícios, neste Ministério, foram por ela criados para atender aos mais infelizes. Sua tradição de trabalho, em “Nosso Lar”, é considerada pela Governadoria como das mais dignas. 3 É a entidade com maior número de horas de serviço na colônia e a figura mais antiga do Governo e do Ministério, em geral. Permanece em tarefa ativa, nesta cidade, há mais de duzentos anos.

4 Impressionado com as informações, adiantei:

— Como deve ser respeitável essa benfeitora!…

— Você diz muito bem, — atalhou Narcisa, com reverência, — é criatura das mais elevadas de nossa colônia espiritual. 5 Os onze Ministros, que com ela atuam na Regeneração, ouvem-na antes de tomar qualquer providência de vulto. Em numerosos processos, a Governadoria se socorre dos seus pareceres. 6 Com exceção do Governador, a Ministra Veneranda é a única entidade, em “Nosso Lar”, que já viu Jesus nas Esferas Resplandecentes, mas nunca comentou esse fato de sua vida espiritual e esquiva-se à menor informação a tal respeito. 7 Além disso, há outra nota interessante, relativamente a ela. Um dia, há quatro anos, “Nosso Lar” amanheceu em festa. As Fraternidades da Luz, que regem os destinos cristãos da América, homenagearam Veneranda conferindo-lhe a medalha do Mérito de Serviço, a primeira entidade da colônia que conseguiu, até hoje, semelhante triunfo, apresentando um milhão de horas de trabalho útil, sem interromper, sem reclamar e sem esmorecer. 8 Generosa comissão veio trazer a honrosa mercê, mas em meio do júbilo geral, reunidos a Governadoria, os Ministérios e a multidão, na praça maior, a Ministra Veneranda apenas chorou em silêncio. Entregou, em seguida, o troféu aos arquivos da cidade, afirmando que não o merecia e transmitindo-o à personalidade coletiva da colônia, apesar dos protestos do Governador. Desistiu de todas as homenagens festivas com que se pretendia comemorar, mais tarde, o acontecimento, jamais comentando a honrosa conquista.

9 — Extraordinária mulher! — Disse eu, — por que não se encaminharia a Esferas mais altas?

Narcisa baixou o tom de voz e declarou:

— Intimamente, ela vive em zonas muito superiores à nossa e permanece em “Nosso Lar” por espírito de amor e sacrifício. Soube que essa benfeitora sublime vem trabalhando, há mais de mil anos, pelo grupo de corações bem-amados que demoram na Terra, e espera com paciência.

10 — Como poderei conhecê-la? — Perguntei, impressionado.

Narcisa, que parecia alegrar-se com o meu interesse, explicou, satisfeita:

— Amanhã, à tardinha, após as preces, a Ministra virá ao salão, a fim de esclarecer alguns aprendizes sobre o pensamento.


André Luiz



[1] [Vide: Algumas referências ao uso de itens materiais no Mundo Invisível do Plano Espiritual, como edificações providas dos mais diversos objetos, aparelhos, veículos de transporte, etc.]


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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