O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Nosso Lar — André Luiz


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Em serviço

(Sumário)

1. Encerrada a prece coletiva, ao crepúsculo, Tobias ligou o receptor, a fim de ouvir os Samaritanos em atividade no Umbral. n

2 Justamente curioso, vim a saber que as turmas de operações dessa natureza se comunicavam com as retaguardas de tarefa, em horas convencionais.

3 Sentia-me algo cansado pelos intensos esforços despendidos, mas o coração entoava hinos de alegria interior. Recebera a ventura do trabalho, afinal. E o espírito de serviço fornece tônicos de misterioso vigor.

4 Estabelecido o contato elétrico, o pequenino aparelho, sob meus olhos, começou a transmitir o recado, depois de alguns minutos de espera:

— Samaritanos ao Ministério da Regeneração!… Samaritanos ao Ministério da Regeneração!… Muito trabalho nos abismos da sombra. Foi possível deslocar grande multidão de infelizes, sequestrando às trevas espirituais vinte e nove irmãos. Vinte e dois em desequilíbrio mental e sete em completa inanição psíquica. Nossas turmas estão organizando o transporte… Chegaremos alguns minutos depois da meia-noite… Pedimos providenciar..

5 Notando que Narcisa e Tobias se entreolhavam fundamente admirados, tão logo silenciou a estranha voz, não pude conter a pergunta que me desbordava dos lábios:

— Como assim? Por que esse transporte em massa? Não são todos Espíritos?

6 Tobias sorriu e explicou:

— O irmão esquece que não chegou ao Ministério do Auxílio de outro modo. Conheço o episódio de sua vinda. É preciso recordar, sempre, que a natureza não dá saltos e que, na Terra, ou nos Círculos do Umbral, estamos revestidos de fluidos pesadíssimos. 7 São aves e têm asas, tanto o avestruz como a andorinha; entretanto, a primeira apenas subirá às alturas, se transportado, enquanto a segunda corta, célere, as vastas regiões do céu.

8 E deixando perceber que o momento não comportava divagações, dirigiu-se a Narcisa, ponderando:

— É muito grande a leva desta noite. Precisamos tomar providências imediatas.

— Serão necessários muitos leitos! — Murmurou a serva algo pesarosa.

— Não se aflija, — respondeu Tobias resoluto, — alojaremos os perturbados no Pavilhão 7 e os enfraquecidos na Câmara 33.

9 Em seguida, levou a destra à fronte, como a ponderar algo muito sério, e exclamou:

— Resolveremos facilmente a questão da hospitalidade; o mesmo, porém, não se dará no concernente à assistência. 10 Nossos auxiliares mais fortes foram requisitados para garantir os serviços da Comunicação nas Esferas da Crosta, em vista das nuvens de treva que ora envolvem o mundo dos encarnados. Precisamos de pessoal de serviço noturno, porquanto os operários em função com os Samaritanos chegarão extremamente fatigados.

11 — Ofereço-me, com prazer, para o que possa aproveitar! — Exclamei espontaneamente.

Tobias endereçou-me um olhar de profunda simpatia, mesclada de gratidão, fazendo-me experimentar cariciosa alegria íntima.

12 — Mas está resolvido a permanecer nas Câmaras, durante a noite? — Perguntou, admirado.

— Outros não fazem o mesmo? — Indaguei por minha vez, — sinto-me disposto e forte, preciso recuperar o tempo perdido.

13 Abraçou-me o generoso amigo, acrescentando:

— Pois bem, aceito confiante a colaboração. Narcisa e os demais companheiros ficarão também de guarda. Além do mais, mandarei Venâncio e Salústio, dois irmãos de minha confiança. 14 Não posso permanecer aqui, de plantão noturno, em vista de compromissos anteriores; no entanto, caso necessário, você ou algum dos nossos me comunicará qualquer ocorrência de maior gravidade. Traçarei o plano dos trabalhos, facilitando quanto possível a execução.

15 E descortinou-se campo enorme de providências. Enquanto cinco servidores operavam em companhia de Narcisa, preparando roupa adequada e apetrechos de enfermagem, eu e Tobias movíamos pesado material no Pavilhão 7 e na Câmara 33.

16 Não poderia explicar o que se passava comigo. Apesar da fadiga dos braços, experimentava júbilo inexcedível no coração.

Na oficina, onde a maioria procura o trabalho, entendendo-lhe o sublime valor, servir constitui alegria suprema. 17 Não pensava, francamente, na compensação dos bônus-hora, nas recompensas imediatas que me pudessem advir do esforço; contudo, minha satisfação era profunda, reconhecendo que poderia comparecer feliz e honrado, perante minha mãe e os benfeitores que havia encontrado no Ministério do Auxílio.

18 Ao despedir-se, Tobias voltou a abraçar-me e falou:

— Desejo a vocês muita paz de Jesus, boa noite e serviço útil. Amanhã, às oito horas, você poderá descansar. O máximo de trabalho, cada dia, é de doze horas, mas estamos em circunstâncias especiais.

Respondi que as determinações me enchiam de sincero contentamento.


2. A sós com o grande número de enfermeiros, passei a me interessar pelos doentes, com mais carinho. Dentre as figuras de auxiliares presentes, impressionou-me a bondade espontânea de Narcisa, que atendia a todos, maternalmente. 2 Atraído pela sua generosidade, busquei aproximar-me com interesse. Não foi difícil alcançar o prazer de sua conversação carinhosa e simples. A velhinha amável semelhava-se a um livro sublime de bondade e sabedoria.

3 — Mas, a irmã aqui trabalha há muito? — Perguntei, a certa altura da palestra amistosa.

— Sim, permaneço nas Câmaras de Retificação, em serviço ativo, há seis anos e alguns meses; entretanto, ainda me faltam mais de três anos para realizar meus desejos.

4 Ante a silenciosa indagação do meu olhar, falou Narcisa generosamente:

— Preciso um endosso muito sério.

— Que quer dizer com isso? — Perguntei interessado.

5 — Preciso encontrar alguns Espíritos amados, na Terra, para serviços de elevação em conjunto. Por muito tempo, em razão de meus desvios passados, roguei, em vão, a possibilidade necessária aos meus fins. Vivia perturbada, aflita. 6 Aconselharam-me, porém, recorrer à Ministra Veneranda, e nossa benfeitora da Regeneração prometeu que endossaria meus propósitos no Ministério do Auxílio, mas exigiu dez anos consecutivos de trabalho aqui, para que eu possa corrigir certos desequilíbrios de sentimento. 7 No primeiro instante, quis recusar, considerando demasiada a exigência; depois, reconheci que ela estava com a razão. Afinal, o conselho não visava a interesses dela e sim ao meu próprio benefício. E ganhei muito, aceitando-lhe o parecer. Sinto-me mais equilibrada e mais humana e, creio, viverei com dignidade espiritual minha futura experiência na Terra.

8 Ia manifestar profunda admiração, mas um dos enfermos próximos gritou:

— Narcisa! Narcisa!

Não me cabia reter, por mera curiosidade pessoal, aquela irmã generosa, transformada em mãe espiritual dos sofredores.


André Luiz



[1] [Vide: Algumas referências ao uso de itens materiais no Mundo Invisível do Plano Espiritual, como edificações providas dos mais diversos objetos, aparelhos, veículos de transporte, etc.]


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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