O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Nosso Lar — André Luiz


24

O impressionante apelo

(Sumário)

1. Ligado o receptor, suave melodia derramou-se no ambiente, embalando-nos em harmoniosa sonoridade, vendo-se no espelho da televisão a figura do locutor, no gabinete de trabalho. n Daí a instantes, começou ele a falar:

2 — Emissora do Posto Dois, de “Moradia”. Continuamos a irradiar o apelo da colônia, a benefício da paz na Terra. Concitamos os colaboradores de bom ânimo a congregar energias no serviço de preservação do equilíbrio moral nas esferas do globo. 3 Ajudem-nos, quantos puderem ceder algumas horas de cooperação nas zonas de trabalho que ligam as forças obscuras do Umbral à mente humana. 4 Negras falanges da ignorância, depois de espalharem os fachos sanguinários da guerra na Ásia, cercam as nações europeias, impulsionando-as a novos crimes. 5 Nosso núcleo, junto aos demais que se consagram ao trabalho de higiene espiritual, nos Círculos mais próximos da crosta, denuncia esses movimentos dos poderes concentrados do mal, pedindo concurso fraterno e auxílio possível.  6 Lembrai que a paz necessita trabalhadores de defesa! Colaborai conosco na medida de vossas forças!… Há serviço para todos, desde os campos da crosta às nossas portas!… Que o Senhor nos abençoe.

7 Interrompeu-se a voz, ouvindo-se divina música, novamente. A inflexão do estranho convite abalara-me as fibras mais íntimas. Veio Lísias em meu socorro, explicando:

— Estamos ouvindo “Moradia”, velha colônia de serviços muito ligada às zonas inferiores. 8 Como sabe, estamos em agosto de 1939. Seus últimos sofrimentos pessoais não lhe deram tempo a ponderar a angustiosa situação do mundo, mas posso afiançar que as nações do planeta se encontram na iminência de tremendas batalhas.

9 — Que diz? — Indaguei, aterrado, — pois não bastou o sangue da última grande guerra?

Lísias sorriu, fixando em mim os olhos brilhantes e profundos, como a lastimar em silêncio a gravidade da hora humana. Pela primeira vez o enfermeiro amigo não me respondeu. Seu mutismo constrangera-me. 10 Assombrava-me, sobretudo, a imensidade dos serviços espirituais nos Planos de vida nova a que me recolhera. Pois havia cidades de Espíritos generosos, suplicando socorro e cooperação? 11 Apresentara-se a voz do locutor com entonação de verdadeiro S. O. S. Vira-lhe a fisionomia abatida, no espelho da televisão. Demonstrava ansiedade profunda nos olhos inquietos. 12 E a linguagem? Ouvira-lhe nitidamente o idioma português, claro e correto. Julgava que todas as colônias espirituais se intercomunicassem pelas vibrações do pensamento. Havia, ainda ali, tão grande dificuldade no capítulo do intercâmbio? Identificando-me as perplexidades, Lísias esclareceu:

13 — Estamos ainda muito longe das regiões ideais da mente pura. Tal como na Terra, os que se afinam perfeitamente entre si podem permutar pensamentos, sem as barreiras idiomáticas; mas, de modo geral, não podemos prescindir da forma, no lato sentido da expressão. 14 Nosso campo de lutas é imensurável. A humanidade terrestre, constituída de milhões de seres, une-se à humanidade invisível do planeta, que integra muitos bilhões de criaturas. Não seria, portanto, possível atingir as zonas aperfeiçoadas, logo após a morte do corpo físico. 15 Os patrimônios nacionais e linguísticos remanescem ainda aqui, condicionados a fronteiras psíquicas. Nos mais diversos setores de nossa atividade espiritual existe elevado número de Espíritos libertos de todas as limitações, mas insta considerar que a regra pertence à natureza. Nada enganará o princípio de sequência, imperante nas leis evolutivas.

16 Nesse ínterim, interrompia-se a música, voltando o locutor:

— Emissora do Posto Dois, de “Moradia”. Continuamos a irradiar o apelo da colônia a benefício da paz na Terra. Nevoeiros pesados amontoam-se ao longo dos céus da Europa. 17 Forças tenebrosas do Umbral penetram em todas as direções, respondendo ao apelo das tendências mesquinhas do homem. 18 Há muitos benfeitores devotados, lutando com sacrifícios a favor da concórdia internacional, nos gabinetes políticos. 19 Alguns governos, no entanto, se encontram excessivamente centralizados, oferecendo escassas possibilidades à colaboração de natureza espiritual. Sem órgãos de ponderação e conselho desapaixonado, caminham esses países para a guerra de grandes proporções. 20 Oh! Irmãos muito amados, dos núcleos superiores, auxiliemos a preservação da tranquilidade humana!… Defendamos os séculos de experiência de numerosas pátrias-mães da Civilização Ocidental!… Que o Senhor nos abençoe.

21 Calou-se o locutor e voltaram as cariciosas melodias.

O enfermeiro permaneceu em silêncio, que não ousei interromper. Após cinco minutos de harmonia repousante, a mesma voz se fez novamente ouvir:

— Emissora do Posto Dois, de “Moradia”. Continuamos a irradiar o apelo da colônia a benefício da paz na Terra. 22 Companheiros e irmãos, invoquemos o amparo das poderosas Fraternidades da Luz, que presidem os destinos da América! Cooperai conosco na salvação de milenários patrimônios da evolução terrestre! 23 Marchemos em socorro das coletividades indefesas, amparemos os corações maternais sufocados de angústia! Nossas energias estão empenhadas em vigoroso duelo com as legiões da ignorância. 24 Quanto estiver ao vosso alcance, vinde em nosso auxílio! Somos a parte invisível da humanidade terrestre, e muitos de nós volveremos aos fluidos carnais para resgatar erros prístinos. 25 A humanidade encarnada é igualmente nossa família. Unamo-nos numa só vibração. 26 Contra o assédio das trevas, acendamos a luz; contra a guerra do mal, movimentemos a resistência do bem. Rios de sangue e lágrimas ameaçam os campos das comunidades europeias. Proclamemos a necessidade do trabalho construtivo, dilatemos nossa fé… Que o Senhor nos abençoe.

27 A essa altura, desligou Lísias o aparelho e vi-o enxugar discretamente uma lágrima, que seus olhos não conseguiam conter. Num gesto expressivo, falou, comovido:

— Grandes abnegados, os irmãos de “Moradia”! Tudo inútil, porém, — acentuou, triste, depois de ligeira pausa, — a humanidade terrestre pagará, em dias próximos, terríveis tributos de sofrimento.

28 — Não há, todavia, recurso para conjurar a tremenda catástrofe? — Perguntei, sensibilizado.

— Infelizmente, — acrescentou Lísias em tom grave e doloroso, — a situação geral é muito crítica. 29 Para atender às solicitações de “Moradia” e outros núcleos que funcionam nas vizinhanças do Umbral, reunimos aqui numerosas assembleias, mas o Ministério da União Divina esclareceu que a humanidade carnal, com personalidade coletiva, está nas condições do homem insaciável que devorou excesso de substâncias no banquete comum. A crise orgânica é inevitável. Nutriram-se várias nações de orgulho criminoso, vaidade e egoísmo feroz. Experimentam, agora, a necessidade de expelir os venenos letais.

30 Demonstrando, entretanto, o propósito de não prosseguir no amarguroso assunto, Lísias convidou-me a recolher.


André Luiz



[1] [Vide: Algumas referências ao uso de itens materiais no Mundo Invisível do Plano Espiritual, como edificações providas dos mais diversos objetos, aparelhos, veículos de transporte, etc.]


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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