O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Na hora do testemunho — Autores diversos — F. C. Xavier / J. Herculano Pires


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Desavenças e antagonismos

Francisco Cândido Xavier


Em nossa reunião pública de ontem O Evangelho Segundo o Espiritismo nos deu o item 14 do capítulo X para estudos. Vários comentaristas discorreram sobre a nossa posição em face dos irmãos que não afinam espiritualmente conosco. Falaram sobre desavenças e antagonismos que se expressam em diversas formas.


Ao término das tarefas, o nosso caro Emmanuel escreveu a página que lhe envio, no desejo de tê-la, com os seus apontamentos doutrinários, em algum dos nossos lançamentos do “Diário de S. Paulo” aos domingos. Exprimindo ao caro amigo os nossos agradecimentos por sua valiosa cooperação de sempre, num grande abraço, sou o seu de sempre: — Chico Xavier.




Desculpa e Bênção


Emmanuel


1 Solicitando o auxílio dos Mensageiros do Senhor para a garantia da paz entre nós e àqueles que ainda não nos entendem, é preciso construir o ambiente necessário para que semelhante auxílio se efetue.

2 Nesse sentido, se obstáculos e problemas te batem à porta, conserva a paciência por fator de receptividade ao socorro que a Divina Providência expedirá em teu favor.

3 Num painel de conflitos em que sejamos chamados a testemunhos de fé e compreensão, não nos será lícito esquecer que tanto somos filhos de Deus quanto aqueles que se fazem instrumentos de nossas dificuldades.

4 Aqueles que se nos erguem à frente na condição de adversários gratuitos, avançam em nossos próprios caminhos, frequentemente invocando a proteção de Deus tanto quanto a invocamos.

5 E os outros que se transformam em perseguidores são outros tantos irmãos nossos, de pensamento enfermo e rumo inadequado, a requisitarem apoio de urgência pelos fardos de tribulações que carregam, às vezes muito mais pesados que os nossos.


6 Não te inclines ao desequilíbrio, quando alguém te reclame reações de entendimento mais amplo.

7 Aceita as aulas de serenidade e tolerância que a vida te oferece, com a certeza de que não te faltará o amparo de Mais Alto.

8 De qualquer modo, porém, colabora na conservação da harmonia e da benevolência para que o auxílio do Senhor não se te faça obscuro no imediatismo das necessidades humanas.

9 Desespero é nuvem formada pelos ingredientes da aflição inútil, impedindo-te visão e discernimento.

10 Cólera é tumulto absolutamente desnecessário, incitando-nos à queda em alucinação ou delinquência.

11 Quando a tempestade da incompreensão esteja rugindo ao redor de teus passos, recordemos o Cristo de Deus que nos propomos a seguir e servir: “Ama aos inimigos e ora pelos que te perseguem e caluniam”. ( † )

12 Jesus, decerto, em se expressando assim, não exonerava os agressores da obrigação de arcar com os resultados infelizes das próprias ações, e sim aconselhava-nos à prática da imunização de espírito, ensinando-nos que desculpa e benção em amparo a todos aqueles que não nos compreendam, sempre serão bases eficientes para a vitória do amor pelo sustento da paz.




Guerra e Paz


Irmão Saulo


É difícil entendermos a atitude daqueles que, ombreando conosco em longas caminhadas no rumo da verdade e do bem, subitamente rompem a antiga ligação e passam a tratar-nos como adversários. Mais difícil, ainda, compreender agressões e calúnias proferidas pela boca de amigos e companheiros que ontem só tinham para conosco palavras de elogio e carinho. E tudo se confunde num temporal de incongruências e absurdos, quando o único motivo do rompimento foi o fato de não nos havermos afastado do caminho reto. Que razões teriam os companheiros revoltados para nos acusar, hoje, daquilo que ontem mesmo louvavam? Por que estranhos motivos não procuraram debater suas dúvidas conosco em pé de igualdade, à base do raciocínio fraterno? Por que fogem de nós e nos acusam por trás?


Jesus sofreu as negações de Pedro, a dúvida de Tomé, a traição de Judas. Não deixou de adverti-los com energia quando necessário, mas nunca se recusou a entender-se com eles e nunca deixou de amá-los. Quando precisou de um apóstolo capaz de tudo abandonar pela causa evangélica — de ser fiel à verdade, acima de tudo — foi buscar o seu inimigo mais feroz na estrada de Damasco e o arrebatou na sua luz e no seu amor. Paulo, por sua vez advertiu que ninguém devia dizer-se dele ou de Apolo, pois o fundamenta de ambos era um só: o Cristo. Resistindo a Pedro corajosamente, repreendendo com energia os transviados da Igreja de Corinto, denunciando os apóstolos judaizantes, Paulo permaneceu de braços abertos a todos eles, embora sem transigir no tocante à verdade doutrinária do Evangelho. Foi ele o teórico do “bom combate” ( † ) , exemplificando na prática a excelência da sua teoria. Kardec, por sua vez, rejeitou e criticou a absurda mistificação de Roustaing, sem com isso fazer-se inimigo dos que o aceitavam. Há guerra e guerra, paz e paz. A guerra do bem utiliza-se das armas da verdade, que ferem a golpes de cirurgia, para curar o doente. Abençoada guerra. A paz da hipocrisia serve-se das armas da mentira e da calúnia, que envenenam, destroem e matam. É a paz enganosa do pântano, da deterioração moral.


É por isso que Emmanuel repete as palavras de Jesus: “Ama aos inimigos, ora pelos que perseguem e caluniam.” ( † ) Imunizar-nos contra a perfídia, a arrogância, a vaidade — sem trair nem aprovar a traição à verdade — é combater o “bom combate” ( † ) de Paulo, pela vitória do amor e pelo sustento da paz verdadeira, aquela em que os antagonismos se resolvem no plano da razão, do entendimento fraterno.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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