O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Nos domínios da mediunidade — André Luiz


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Serviço de passes

(Sumário)

1. Atravessamos a porta e fomos defrontados por ambiente balsâmico e luminoso.

2 Um cavalheiro maduro e uma senhora respeitável recolhiam apontamentos em pequeno livro de notas, ladeados por entidades evidentemente vinculadas aos serviços de cura.

3 Indicando os dois médiuns, o Assistente informou:

— São os nossos irmãos Clara e Henrique, em tarefa de assistência, orientados pelos amigos que os dirigem.

4 — Como compreender a atmosfera radiante em que nos banhamos? — Aventurou Hilário, curioso.

— Nesta sala, — explicou Áulus, amigavelmente, — se reúnem sublimadas emanações mentais da maioria de quantos se valem do socorro magnético, tomados de amor e confiança. Aqui possuímos uma espécie de altar interior, formado pelos pensamentos, preces e aspirações de quantos nos procuram trazendo o melhor de si mesmos.

5 Não dispúnhamos, todavia, de muito tempo para a conversação isolada.

Clara e Henrique, agora em prece, nimbavam-se de luz.

Dir-se-ia estavam quase desligados do corpo denso, porque se mostravam espiritualmente mais livres, em pleno contato com os benfeitores presentes, embora por si mesmos não no pudessem avaliar.

Calmos e seguros, pareciam haurir forças revigorantes na intimidade de suas almas. Guardavam a ideia de que a oração lhes mantinha o Espírito em comunicação com invisível e profundo manancial de energia silenciosa.

6 Ante a porta ainda cerrada, acotovelavam-se pessoas aflitas e bulhentas, esperando o término da preparação a que se confiavam.

Os dois médiuns, porém, afiguravam-se-nos espiritualmente distantes.

Absortos, em companhia das entidades irmãs, registavam-lhes as instruções, através dos recursos intuitivos.

7 Pelas irradiações da personalidade magnética de Henrique, reconhecia-se-lhe, de imediato, a superioridade sobre a companheira. Era ele, dentre os dois, o ponto dominante.

Por isso, decerto, ao seu lado se achava o orientador espiritual mais categorizado para a tarefa.

Áulus abraçou-o e no-lo apresentou, gentil.


2. O irmão Conrado, nosso novo amigo, enlaçou-nos acolhedor.

2 Anunciou que o serviço estaria à nossa disposição para os apontamentos que desejássemos. E o nosso instrutor, colocando-nos à vontade, autorizou-nos dirigir a Conrado qualquer indagação que nos ocorresse.

3 Hilário, que nunca sopitava a própria espontaneidade, começou, como de hábito, a inquirição, perguntando respeitosamente:

— O amigo permanece frequentemente aqui?

— Sim, tomamos sob nossa responsabilidade os serviços assistenciais da instituição, em favor dos doentes, duas noites por semana.

4 — Dos enfermos tão somente encarnados?

— Não é bem assim. Atendemos aos necessitados de qualquer procedência.

— Conta com muitos cooperadores?

— Integramos um quadro de auxiliares, de acordo com a organização estabelecida pelos mentores da Esfera Superior.

5 — Quer dizer que, numa casa como esta, há colaboradores espirituais devidamente fichados, assim como ocorre a médicos e enfermeiros num hospital terrestre comum?

— Perfeitamente. Tanto entre os homens como entre nós, que ainda nos achamos longe da perfeição espiritual, o êxito do trabalho reclama experiência, horário, segurança e responsabilidade do servidor fiel aos compromissos assumidos. A Lei não pode menosprezar as linhas da lógica.

6 — E os médiuns? São invariavelmente os mesmos?

— Sim, contudo, em casos de impedimento justo, podem ser substituídos, embora nessas circunstâncias se verifiquem, inevitavelmente, pequenos prejuízos resultantes de natural desajuste.


3. Meu colega passeou o olhar inquieto pelos dois companheiros encarnados, em oração, e continuou:

2 — Preparam-se nossos amigos, à frente do trabalho, com o auxílio da prece?

— Sem dúvida. A oração é prodigioso banho de forças, tal a vigorosa corrente mental que atrai. Por ela, Clara e Henrique expulsam do próprio mundo interior os sombrios remanescentes da atividade comum que trazem do círculo diário de luta e sorvem do nosso Plano as substâncias renovadoras de que se repletam, a fim de conseguirem operar com eficiência, a favor do próximo. Desse modo, ajudam e acabam por ser firmemente ajudados.

3 — Isso significa que não precisam recear a sua exaustão…

— De modo algum. Tanto quanto nós, não comparecem aqui com a pretensão de serem os senhores do benefício, mas sim na condição de beneficiários que recebem para dar. A oração, com o reconhecimento de nossa desvalia, coloca-nos na posição de simples elos de uma cadeia de socorro, cuja orientação reside no Alto. Somos nós aqui, neste recinto consagrado à missão evangélica, sob a inspiração de Jesus, algo semelhante à singela tomada elétrica, dando passagem à força que não nos pertence e que servirá na produção de energia e luz.


4. A explicação não podia ser mais clara.

2 E enquanto Hilário sorria satisfeito, Conrado afagou os ombros de Henrique, como a recordar-lhe o horário estabelecido, e o médium, apesar de não lhe assinalar o gesto no campo das sensações físicas, obedeceu, de pronto, encaminhando-se para a porta e descerrando-a aos sofredores.

3 Pequena multidão de encarnados e desencarnados aglomerou-se à entrada, todavia, companheiros da casa controlavam-lhes os movimentos.

Conrado entregou-se ao trabalho que lhe competia e, em razão disso, tornamos à intimidade do Assistente.

4 Ambos os médiuns atacaram a tarefa.

Enfermos de variada expressão entravam esperançosos e retiravam-se, depois de atendidos, com evidentes sinais de reconforto. Das mãos de Clara e Henrique irradiavam-se luminosas chispas, comunicando-lhes vigor e refazimento.

5 Na maioria dos casos, não precisavam tocar o corpo dos pacientes, de modo direto. Os recursos magnéticos, aplicados a reduzida distância, penetravam assim mesmo o “halo vital” ou a aura dos doentes, provocando modificações subitâneas.


5. Os passistas afiguravam-se-nos como duas pilhas humanas deitando raios de espécie múltipla, a lhes fluírem das mãos, depois de lhes percorrerem a cabeça, ao contato do irmão Conrado e de seus colaboradores.

2 O quadro era efetivamente fascinador pelos jogos de luz que apresentava.

Hilário sondou o ambiente e, em seguida, indagou de nosso orientador:

3 — Por que motivo a energia transmitida pelos amigos espirituais circula primeiramente na cabeça dos médiuns?

— Ainda aqui, — disse Áulus, — não podemos subestimar a importância da mente. O pensamento influi de maneira decisiva na doação de princípios curadores. Sem a ideia iluminada, pela fé e pela boa vontade, o médium não conseguiria ligação com os Espíritos amigos que atuam sobre essas bases.

4 — Entretanto, — ponderei, — há pessoas tão bem dotadas de força magnética perfeitamente despreocupadas do elemento moral!…

— Sim, — redarguiu o Assistente, — refere-se você aos hipnotizadores comuns, muita vez portadores de energia excepcional. Fazem belas demonstrações, impressionam, convencem, contudo, movimentam-se na esfera de puro fenômeno, sem aplicações edificantes no campo da espiritualidade. É imperioso não esquecer, André, que o potencial magnético é peculiar a todos, com expressões que se graduam ao infinito.

5 — Mas semelhantes profissionais podem igualmente curar! — Frisou meu companheiro, completando-me as observações.

— Sim, podem curar, mas acidentalmente, quando o enfermo é credor de assistência espiritual imediata, com a intervenção de amigos que o favorecem.  6 Fora disso, os que abusam dessa fonte de energia, explorando-a ao seu bel-prazer, quase sempre resvalam para a desmoralização de si mesmos, porque interferindo num campo de forças que lhes é desconhecido, guiados tão somente pela vaidade ou pela ambição inferior, fatalmente encontram entidades que com eles se afinam, precipitando-se em difíceis situações que não vêm à baila comentar. 7 Se não possuem um caráter elevado, suscetível de opor um dique à influenciação viciosa, acabam vampirizados por energias mais acentuadas que as deles, porquanto, se considerarmos o assunto apenas sob o ponto de vista da força, somos constrangidos a reconhecer que há imenso número de vigorosos hipnotizadores espirituais, nas linhas atormentadas da ignorância e da crueldade, de onde se originam os mais aflitivos processos de obsessão.

8 E, sorrindo, acrescentou:

— Recordemos a Natureza. A serpente é um dos maiores detentores de poder hipnótico.


6. — Então, — disse Hilário, — para curar, serão indispensáveis certas atitudes do espírito…

2 — Indiscutivelmente não prescindimos do coração nobre e da mente pura, no exercício do amor, da humildade e da fé viva, para que os raios do poder divino encontrem acesso e passagem por nós, a benefício dos outros. Para a sustentação de um serviço metódico de cura, isso é indispensável.

3 — Entretanto, para o esforço desse tipo precisaremos de pessoas escolhidas, com a obrigação de efetuarem estudos especiais?

— Importa ponderar, — disse Áulus, convicto, — que em qualquer setor de trabalho a ausência de estudo significa estagnação. 4 Esse ou aquele cooperador que desistam de aprender, incorporando novos conhecimentos, condenam-se fatalmente às atividades de subnível, todavia, em se tratando do socorro magnético, tal qual é administrado aqui, convém lembrar que a tarefa é de solidariedade pura, com ardente desejo de ajudar, sob a invocação da prece. 5 E toda oração, filha da sinceridade e do dever bem cumprido, com respeitabilidade moral e limpeza de sentimentos, permanece tocada de incomensurável poder.  6 Analisada a questão nestes termos, todas as pessoas dignas e fervorosas, com o auxílio da prece, podem conquistar a simpatia de veneráveis magnetizadores do Plano Espiritual, que passam, assim, a mobilizá-las na extensão do bem. 7 Não nos achamos à frente do hipnotismo espetacular, mas sim num gabinete de cura, em que os médiuns transmitem os benefícios que recolhem, sem a presunção de doá-los de si mesmos. 8 É importante não esquecer essa verdade, para deixarmos bem claro que, onde surjam a humildade e o amor, o amparo divino é seguro e imediato.


7. O ministério da cura, porém, a desdobrar-se eficiente e pacífico, reclamava-nos atenção.

2 Os doentes entravam dois a dois, sendo carinhosamente atendidos por Clara e Henrique, sob a providencial assistência de Conrado e seus colaboradores.

3 Obsidiados ganhavam ingresso no recinto, acompanhados de frios verdugos, no entanto, com o toque dos médiuns sobre a região cortical, depressa se desligavam, postando-se, porém, nas vizinhanças, como que à espera das vítimas, com a maioria das quais se reacomodavam, de pronto.

4 Alinhando apontamentos, começamos a reparar que alguns enfermos não alcançavam a mais leve melhoria.

As irradiações magnéticas não lhes penetravam o veículo orgânico.

5 Registando o fenômeno, a pergunta de Hilário não se fez esperar.

— Por quê?

— Falta-lhes o estado de confiança, — esclareceu o orientador.

6 — Será, então, indispensável a fé para que registrem o socorro de que necessitam?

— Ah! sim. Em fotografia precisamos da chapa impressionável para deter a imagem, tanto quanto em eletricidade carecemos do fio sensível para a transmissão da luz. 7 No terreno das vantagens espirituais, é imprescindível que o candidato apresente uma certa “tensão favorável”. Essa tensão decorre da fé. 8 Certo, não nos reportamos ao fanatismo religioso ou à cegueira da ignorância, mas sim à atitude de segurança íntima, com reverência e submissão, diante das Leis Divinas, em cuja sabedoria e amor procuramos arrimo. 9 Sem recolhimento e respeito na receptividade, não conseguimos fixar os recursos imponderáveis que funcionam em nosso favor, 10 porque o escárnio e a dureza de coração podem ser comparados a espessas camadas de gelo sobre o templo da alma.


8. A lição fora simples e bela.

2 Hilário calou-se, talvez para refletir sobre ela, em silêncio.

3 Sem descurar dos nossos objetivos de estudo, Áulus considerou a conveniência de nosso contato direto com o serviço em ação. Seria interessante para nós a auscultação de algum dos casos em foco.

4 Para isso, aproximou-se de idosa matrona que acabava de entrar, à cata de auxílio e, com permissão de Conrado, convidou-nos a examiná-la com o cuidado possível.

5 A senhora, aguardando o concurso de Clara, sustentava-se dificilmente de pé, com o ventre volumoso e o semblante dolorido.

— Observem o fígado!

Utilizamo-nos dos recursos ao nosso alcance e passamos a analisar.

6 Realmente, o órgão mencionado demonstrava a dilatação característica das pessoas que sofrem de insuficiência cardíaca. As células hepáticas pareceram-me vasta colmeia, trabalhando sob enorme perturbação. A vesícula congestionada impeliu-me a imediata inspeção do intestino. A bile comprimida atingira os vasos e assaltava o sangue. O colédoco interdito facilitava o diagnóstico. Ligeiro exame da conjuntiva ocular confirmava-me a impressão.

A icterícia mostrava-se insofismável.

7 Após ouvir-me, Conrado reafirmou:

— Sim, é uma icterícia complicada. Nasceu de terrível acesso de cólera, em que nossa amiga se envolveu no reduto doméstico. Rendendo-se, desarvorada, à irritação, adquiriu renitente hepatite, da qual a icterícia é a consequência.

8 — E como será socorrida?

Conrado, impondo a destra sobre a fronte da médium, comunicou-lhe radiosa corrente de forças e inspirou-a a movimentar as mãos sobre a doente, desde a cabeça até o fígado enfermo.

9 Notamos que o córtex encefálico se revestiu de substância luminosa que, descendo em fios tenuíssimos, alcançou o campo visceral.

A senhora exibiu inequívoca expressão de alívio, na expressão fisionômica, retirando-se visivelmente satisfeita, depois de prometer que voltaria ao tratamento.

10 Hilário fixou os olhos interrogadores no Assistente que nos acompanhava, solícito, e indagou:

— Nossa irmã estará curada?

— Isso é impossível, — acentuou Áulus, paternal; — temos aí órgãos e vasos comprometidos. O tempo não pode ser desprezado na solução.


9. — E em que bases se articula semelhante processo de curar?

2 — O passe é uma transfusão de energias, alterando o campo celular. 3 Vocês sabem que na própria ciência humana de hoje o átomo não é mais o tijolo indivisível da matéria… Que, antes dele, encontram-se as linhas de força, aglutinando os princípios subatômicos, e que, antes desses princípios, surge a vida mental determinante… 4 Tudo é espírito no santuário da Natureza. Renovemos o pensamento e tudo se modificará conosco. 5 Na assistência magnética, os recursos espirituais se entrosam entre a emissão e a recepção, ajudando a criatura necessitada para que ela ajude a si mesma. 6 A mente reanimada reergue as vidas microscópicas que a servem, no templo do corpo, edificando valiosas reconstruções. 7 O passe, como reconhecemos, é importante contribuição para quem saiba recebê-lo, com o respeito e a confiança que o valorizam.

8 — E pode, acaso, ser dispensado a distância?

— Sim, desde que haja sintonia entre aquele que o administra e aquele que o recebe. 9 Nesse caso, diversos companheiros espirituais se ajustam no trabalho do auxílio, favorecendo a realização, e a prece silenciosa será o melhor veículo da força curadora.

10 O serviço, em torno, prosseguia intenso.

Áulus considerou que a nossa presença talvez sobrecarregasse as preocupações de Conrado, e que não seria lícito permanecer junto dele por mais tempo, já que havíamos recolhido os apontamentos rápidos que nos propúnhamos obter e, à vista disso, despedimo-nos do supervisor, buscando o salão central para a continuidade de nossas abençoadas lições.


André Luiz


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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