O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Nos domínios da mediunidade — André Luiz


18

Apontamentos à margem

(Sumário)

1. Dona Ambrosina continuava psicografando várias mensagens, endereçadas aos presentes.

2 E um dos oradores, sob a influência de benigno mentor da Espiritualidade, salientava a necessidade de conformação com as Leis Divinas para que a nossa vida mental se refaça, fazendo jus a bênçãos renovadoras.

3 Alguns encarnados jaziam impermeáveis e sonolentos, vampirizados por obsessores caprichosos que os acompanhavam de perto, entretanto, muitos desencarnados de mediana compreensão ouviam, solícitos, e sinceramente aplicados ao ensino consolador.

4 Gabriel, de olhos percucientes e lúcidos, a tudo presidia com firmeza.

Nenhuma ocorrência, por mínima que fosse, lhe escapava à percepção.

Aqui, a um leve sinal seu, entidades escarnecedoras eram exortadas à renovação de atitude, ali, socorriam-se doentes que ele indicava com silencioso gesto de recomendação.

Era o pulso de comando, forte e seguro, sustentando a harmonia e a ordem, na exaltação do trabalho.

5 Contemplamos a mesa enorme em que a direção se processava com equilíbrio irrepreensível e, fitando a médium, rodeada de apetrechos do serviço, em atividade constante, Hilário perguntou ao nosso orientador:

6 — Por que tantas mensagens pessoais dos Espíritos amigos?

— São respostas reconfortantes a companheiros que lhes solicitam assistência e consolo.

— E essas respostas, — continuou meu colega, — traduzem equação definitiva para os problemas que expõem?

— Isso não, — aclarou o Assistente, convicto; — entre o auxílio e a solução vai sempre alguma distância em qualquer dificuldade, e não podemos esquecer que cada um de nós possui os seus próprios enigmas.

7 — Se é assim, por que motivo o intercâmbio? Se os desencarnados não podem oferecer uma conclusão pacífica aos tormentos dos irmãos que ainda se demoram na carne, por que a porta aberta entre eles e nós?

— Não te esqueças do impositivo da cooperação na estrada de cada ser, — disse Áulus com grave entono. 8 — Na vida eterna, a existência no corpo físico, por mais longa, é sempre curto período de aprendizagem. E não nos cabe olvidar que a Terra é o campo onde ferimos a nossa batalha evolutiva. Dentro dos princípios de causa e efeito, adquirimos os valores da experiência com que estruturamos a nossa individualidade para as Esferas Superiores. 9 A mente, em verdade, é o caminheiro buscando a meta da angelitude, contudo, não avançará sem auxílio. Ninguém vive só. 10 Os pretensos mortos precisam amparar os companheiros em estágio na matéria densa, porquanto em grande número serão compelidos a novos mergulhos na experiência carnal. É da Lei que a sabedoria socorra a ignorância, que os melhores ajudem aos menos bons. 11 Os homens, cooperando com os Espíritos esclarecidos e benevolentes, atraem simpatias preciosas para a vida espiritual, e as entidades amigas, auxiliando os reencarnados, estarão construindo facilidades para o dia de amanhã, quando de volta à lide terrestre.

12 — Sim, sim, compreendo… — Exclamou Hilário, reconhecido. — Entretanto, colocando-me na situação da criatura vulgar, recordo-me de que no mundo habituamo-nos a esperar do Céu uma solução decisiva e absoluta para inúmeros problemas que se nos deparam…

— Semelhante atitude, porém, — acentuou o orientador, — decorre de antiga viciação mental no Planeta. 13 Para maior clareza do assunto, rememoremos a exemplificação do Divino Mestre. Jesus, o Governador Espiritual do Mundo, auxiliou a doentes e aflitos, sem retirá-los das questões fundamentais que lhes diziam respeito. 14 Zaqueu, o rico prestigiado pela visita que lhe foi feita, ( † ) sentiu-se constrangido a modificar a sua conduta. 15 Maria de Magdala, que lhe recebeu carinhosa atenção, ( † ) não ficou livre do dever de sustentar-se no árduo combate da renovação interior. 16 Lázaro, reerguido das trevas do sepulcro, ( † ) não foi exonerado da obrigação de aceitar, mais tarde, o desafio da morte. 17 Paulo de Tarso foi por Ele distinguido com um apelo pessoal, às portas de Damasco, ( † ) entretanto, por isso, o apóstolo não obteve dispensa dos sacrifícios que lhe cabiam no desempenho da nova missão. 18 Segundo reconhecemos, seria ilógico aguardar dos desencarnados a liquidação total das lutas humanas. Isso significaria furtar o trabalho que corresponde ao sustento do servidor, ou subtrair a lição ao aluno necessitado de luz.


2. A essa altura, não longe de nós, simpática senhora monologava em pensamento:

2 — Meu filho! Meu filho! Se você não está morto, visite-me! Venha! Venha! Estou morrendo de saudade, de angústia!… Fale-me alguma palavra pela qual nos entendamos… Se tudo não está acabado, aproxime-se da médium e comunique-se. É impossível que você não tenha piedade…

3 As frases amargas, embora inarticuladas, atingiam-nos a audição, qual se fossem arremessadas ao ambiente em voz abafadiça.

4 Leve rumor à retaguarda feriu-nos a atenção.

Um rapaz desencarnado apresentou-se em lastimáveis condições e avançou para a triste mulher, dominado por invencível atração.

5 Da boca amarfanhada escorria a amargura em forma de palavras comovedoras.

— Mãe! Mãe! — Gritava de joelhos, qual se fora atormentada criança, conchegando-se-lhe ao regaço, — não me abandone!… Estou aqui, ouça-me! Não morri… Perdoe-me, perdoe-me!… Sou um renegado, um náufrago!… Busquei a morte quando eu deveria viver para o seu carinho! Agora sim! Vejo o sofrimento de perto e desejaria aniquilar-me para sempre, tal a vergonha que me aflige o coração!…

6 A matrona não lhe via a figura agoniada, contudo, registava-lhe a presença, através de intraduzível ansiedade, a constringir-lhe o peito.

7 Dois vigilantes aproximaram-se, arrebatando o moço ao colo materno, e, ladeando por nossa vez o Assistente, que se deu pressa em socorrer a senhora em lágrimas, ouvimo-la clamar, mentalmente:

— “Não será melhor segui-lo?! Morrer e descansar!… Meu filho, quero meu filho!…”

8 Áulus aplicou-lhe recursos magnéticos, com o que a desventurada criatura experimentou grande alívio, e, em seguida, informou:

— Anotemos o caso desta pobre mãe desarvorada. 9 O filho suicidou-se, há meses, e ainda não consegue forrar-se à flagelação íntima. Em sua devoção afetiva, reclama-lhe a manifestação pessoal sem saber o que pede, porque a chocante posição do rapaz constituir-lhe-ia pavoroso martírio. Não poderá, desse modo, recolher-lhe a palavra direta, entretanto, ao contato do trabalho espiritual que aqui se processa, incorporará energias novas para refazer-se gradualmente.

10 — Decerto, — acrescentou Hilário, com inteligência, — não terá resolvido o problema crucial da sensibilidade ferida, no entanto, adquire forças para recuperar-se…

— Isso mesmo.


3. — Aliás, — considerei a meu modo, — a mediunidade de hoje é, na essência, a profecia das religiões de todos os tempos.

2 — Sim, — aprovou Áulus, prestimoso, — com a diferença de que a mediunidade hoje é uma concessão do Senhor à Humanidade em geral, considerando-se a madureza do entendimento humano, à frente da vida. 3 O fenômeno mediúnico não é novo. Nova é tão somente a forma de mobilização dele, porque o sacerdócio de várias procedências jaz, há muitos séculos, detido nos espetáculos do culto exterior, mumificando indebitamente o corpo das revelações celestiais. 4 Notadamente o Cristianismo, que deveria ser a mais ampla e a mais simples das escolas de fé, há muito tempo como que se enquistou no superficialismo dos templos. 5 Era preciso, pois, libertar-lhe os princípios, a benefício do mundo que, cientificamente, hoje se banha no clarão de nova era. Por esse motivo, o Governo oculto do Planeta deliberou que a mediunidade fosse trazida do colégio sacerdotal à praça pública, a fim de que a noção da eternidade, através da sobrevivência da alma, desperte a mente anestesiada do povo.  6 É assim que Jesus nos reaparece, agora, não como fundador de ritos e fronteiras dogmáticas, mas sim em sua verdadeira feição de Redentor da Alma Humana. 7 Instrumento de Deus por excelência, Ele se utilizou da mediunidade para acender a luz da sua Doutrina de Amor. Restaurando enfermos e pacificando aflitos; em muitas ocasiões esteve em contato com os chamados mortos, alguns dos quais não eram senão almas sofredoras a vampirizarem obsidiados de diversos matizes. 8 E, além de surgir em colóquio com Moisés materializado no Tabor, ( † ) Ele mesmo é o grande ressuscitado, legando aos homens o sepulcro vazio ( † ) e acompanhando os discípulos com acendrado amor, para que lhe continuassem o apostolado de bênçãos.

9 Hilário esboçou o sorriso de um estudante satisfeito com a lição, e exclamou:

— Ah! sim, tenho a impressão de começar a compreender…


4. Os trabalhos da reunião tocavam a fase terminal.

2 Nosso orientador percebeu que Gabriel se dispunha a grafar a mensagem do encerramento e, respeitoso, pediu-lhe cunhar alguns conceitos em derredor da mediunidade, ao que o supervisor aquiesceu, gentil.

3 Dona Ambrosina entrara em pausa ligeira para alguns momentos de recuperação.

O diretor da reunião rogou silêncio para o remate dos serviços, e, tão logo reverente quietação se fez na assembleia, o condutor da casa controlou o cérebro da medianeira e tomou-lhe o braço, escrevendo aceleradamente.

Em minutos rápidos, os apontamentos de Gabriel estavam concluídos.

4 A médium levantou-se e passou a lê-los em voz alta:

— “Meus amigos, — dizia o mentor, — é indispensável procurar na mediunidade não a chave falsa para certos arranjos inadequados na Terra, mas sim o caminho direito de nosso ajustamento à vida superior.

5 “Compreendendo assim a verdade, é necessário renovar a nossa conceituação de médium, para que não venhamos a transformar companheiros de ideal e de luta em oráculos e adivinhos, com esquecimento de nossos deveres na elevação própria.

6 “O Espiritismo, simbolicamente, é Jesus que retorna ao mundo, convidando-nos ao aperfeiçoamento individual, por intermédio do trabalho construtivo e incessante.

7 “Dentro das leis da cooperação, será justo aceitar o braço amigo que se nos oferece para a jornada salvadora, entretanto é imprescindível não esquecer que cada qual de nós transporta consigo questões essenciais e necessidades intransferíveis.

8 “Desencarnados e encarnados, todos palmilhamos extenso campo de experimentações e de provas, condizentes com os impositivos de nosso crescimento para a imortalidade.

9 “Não atribuamos, assim, ao médium, obrigações que nos competem, em caráter exclusivo, e nem aguardemos da mediunidade funções milagreiras, porquanto só a nós cabe o serviço árduo da própria ascensão, na pauta das responsabilidades que o conhecimento superior nos impõe.

10 “Diante de nossas assertivas, podereis talvez indagar, segundo os velhos hábitos que nos caracterizam a preguiça mental na Terra: — Se o Espiritismo e a Mediunidade não nos solucionam os enigmas de maneira absoluta, que estarão ambos fazendo no santuário religioso da Humanidade?

11 “Responder-vos-emos, todavia, que neles reencontramos o pensamento puro do Cristo, auxiliando-nos a compreensão para mais amplo discernimento da realidade. 12 Neles recolhemos exatos informes, quanto à lei das compensações, equacionando aflitivos problemas do ser, do destino e da dor e deixando-nos perceber, de alguma sorte, as infinitas dimensões para as quais evolvemos. 13 E a eles deveremos, acima de tudo, a luz para vencer os tenebrosos labirintos da morte, a fim de que nos consorciemos, afinal, com as legítimas noções da consciência cósmica.

14 “Alcançadas semelhantes fórmulas de raciocínio, perguntaremos a vós outros por nossa vez:

“— Acreditais seja pouco revelar a excelsitude da Justiça? Admitis seja desprezível descortinar a vida em suas ilimitadas facetas de evolução e eternidade?

15 “Reverenciemos, pois, o Espiritismo e a Mediunidade como dois altares vivos no templo da fé, através dos quais contemplaremos, de mais alto, a esfera das cogitações propriamente terrestres, compreendendo, por fim, que a glória reservada ao Espírito humano é sublime e infinita, no Reino Divino do Universo.”


16 A comunicação psicográfica tratou de outros assuntos e, finda a sua leitura, breve oração de reconhecimento foi pronunciada. E, enquanto os assistentes tornavam à conversação livre, Hilário e eu, ante os conceitos ouvidos, passamos a profunda introversão para melhor aprender e meditar.


André Luiz


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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