1. PENSAMENTO E OBSESSÃO. — O estudo da obsessão, conjugado à mediunidade, se realizado em maior amplitude, abrangeria o exame de quase toda a Humanidade terrestre.
2 Expressamos tal conceito,
à face do pensamento que age e reage, carreando para o emissor todas
as fecundações felizes ou infelizes que arremessa de si próprio, 3
a determinar para cada criatura os estados psíquicos que variam segundo
os tipos de emoção e conduta a que se afeiçoe.
4 Enquanto se não
aprimore, é certo que o Espírito padecerá, em seu instrumento de manifestação,
a resultante dos próprios erros. 5
Esses desajustes, como é natural, não se limitam à comunidade das células
físicas, quando em disfunções múltiplas por força dos agentes mentais
viciados e enfermiços; 6
estendem-se, muito especialmente, à constituição do corpo espiritual,
a refletir-se no cérebro ou gabinete complexo da alma, aí ocasionando
os diversos sintomas de perturbação do campo encefálico, acompanhados
dos fenômenos psico-sensoriais que produzem alucinações e doenças da
mente.
2. PERTURBAÇÕES
MORAIS. — Não nos propomos analisar aqui as personalidades psicopáticas,
do ponto de vista da Psiquiatria, nem focalizar as chamadas psicoses
de involução, ou as demências senis, claramente necessitadas de orientação
médica; 2 recordaremos,
contudo, que na retaguarda dos desequilíbrios mentais, sejam da ideação
ou da afetividade, da atenção e da memória, tanto quanto por trás de
enfermidades psíquicas clássicas, como, por exemplo, as esquizofrenias
e as parafrenias, as oligofrenias e a paranoia, as psicoses e neuroses
de multifária expressão, permanecem as perturbações da individualidade
transviada do caminho que as Leis Divinas lhe assinalam à evolução moral.
3 Enquanto se lhe mantém
a internação no instrumento físico transitório, até certo ponto ela
consegue ocultar no esconderijo da carne os resultados das paixões e
abusos, extravagâncias e viciações a que se dedica.
4 Assim vive na paisagem social
em que transita, até que, arredada de semelhante vaso pela influência
decisiva da morte não mais suporta o regime de fantasia, obrigando-se
a sofrer, em si própria, as consequências dos excessos e ultrajes com
que, imprevidente, se desrespeitou.
5 Torturada por suas
próprias ondas desorientadas, a reagirem, incessantes, sobre os centros
e mecanismos do corpo espiritual, cai a mente nas desarmonias e fixações
consequentes e, 6 porque
o veículo de células extrafísicas que a serve, depois da morte, é extremamente
influenciável, ambienta nas próprias forças os desequilíbrios que a
senhoreiam, 7 consolidando-se-lhe,
desse modo, as inibições que, em futura existência, dominar-lhe-ão temporariamente
a personalidade, sob a forma de fatores mórbidos, condicionando as disfunções
de certos recursos do cérebro físico, por tempo indeterminado.
3. ZONAS
PURGATORIAIS. — Entendendo-se que todos os delinquentes deitam de si oscilações mentais
de terrível caráter, condensando as recordações malignas que albergam
no seio, compreenderemos a existência das zonas purgatoriais ou infernais
como regiões em que se complementam as temporárias criações do remorso,
associando arrependimento e amargura, desespero e rebelião.
2 Na intimidade dessas
províncias de sombra, em que se agrupam multidões de criminosos, segundo
a espécie de delito que cometeram, Espíritos culpados, através das ondas
mentais com que essencialmente se afinam, se comunicam reciprocamente,
gerando, ante os seus olhos, quadros vivos de extremo horror, junto
dos quais desvairam, recebendo, de retorno, os estranhos padecimentos
que criaram no ânimo alheio.
3 Claro está que, embora comandados
por Inteligências pervertidas ou bestializadas nas trevas da ignorância,
esses antros jazem circunscritos no Espaço, fiscalizados por Espíritos
sábios e benfazejos que dispõem de meios precisos para observar a transformação
individual das consciências em processo de purificação ou regeneração,
a fim de conduzi-las a providências compatíveis com a melhoria já alcançada.
4 Semelhante supervisão,
entretanto, não impede que essas vastas cavernas de tormento reeducativo
sejam, em si, imensas penitenciárias do Espírito, a que se recolhem
as feras conscientes que foram homens. 5
Aí permanecem detidas por guardas especializados, que lhes são afins,
o que nos faz definir cada “purgatório particular” como “prisão-manicômio”,
em que as almas embrutecidas no crime sofrem, de volta, o impacto de
suas fecundações mentais infelizes.
6 Tiranos, suicidas, homicidas,
carrascos do povo, libertinos, caluniadores, malfeitores, ingratos,
traidores do bem e viciados de todas as procedências, reunidos conforme
o tipo de falta ou defecção a que se renderam, se examinados pelos cientistas
do mundo apresentariam à Medicina os mais extensos quadros para estudos
etiológicos das mais obscuras enfermidades.
7 Deduzimos, assim, que todos
os redutos de sofrimento, além-túmulo, não passam de largos porões do
trabalho evolutivo da alma, à feição de grandes hospitais carcerários
para tratamento das consciências envilecidas.
4. REENCARNAÇÃO DE ENFERMOS. — Dos abismos expiatórios, volvem à reencarnação quantos se mostram inclinados à recuperação dos valores morais em si mesmos.
2 Transportados a novo berço,
comumente entre aqueles que os induziram à queda, quando não se veem
objeto de amorosa ternura por parte de corações que por eles renunciam
à imediata felicidade nas Esferas Superiores, são resguardados no recesso
do lar.
3 Contudo, renascem no corpo
carnal espiritualmente jungidos às linhas inferiores de que são advindos,
assimilando-lhes, facilmente, o influxo aviltante.
4 Reaparecem, desse
modo, na arena física. Mas, via de regra, quando não se mostram retardados
mentais, desde a infância, são perfeitamente classificáveis entre os
psicopatas amorais, segundo o conceito da “moral insanity” ( † )
vulgarizado pelos Ingleses, demonstrando manifesta perversidade, na
qual se revelam constantemente brutalizados e agressivos, petulantes
e pérfidos, indiferentes a qualquer noção da dignidade e da honra, continuamente
dispostos a mergulhar na criminalidade e no vício.
5 Aqueles Espíritos relativamente
corrigidos nas escolas de reabilitação da Espiritualidade desenvolvem-se,
no ambiente humano, enquadráveis entre os psicopatas astênicos e abúlicos,
fanáticos e hipertímicos, ou identificáveis como representantes de várias
doenças e delírios psíquicos, inclusive aberrações sexuais diversas.
5. OBSESSÃO
E MEDIUNIDADE. — Tais enfermos da alma, tantas vezes submetidos,
sem resultado satisfatório, à insulina e à convulsoterapia, quando recomendados
ao auxílio dos templos espíritas, poderão ser tidos como médiuns? 2
Sem dúvida, são médiuns doentes, afinizados com os fulcros de sentimento
desequilibrado de onde ressurgiram para novo aprendizado entre os homens.
3 Por certa quota de tempo,
são intérpretes de forças degradadas, às quais é preciso opor a intervenção
moral necessária, do mesmo modo que se prescreve medicação aos enfermos.
4 Trazendo consigo
as sequelas ocultas da internação na província purgatorial, de que volvem
pela porta do berço terrestre, exteriorizam ondas mentais viciadas que
lhes alentam as disfunções dos implementos físicos, 5
ondas essas pelas quais recolhem os pensamentos das entidades inferiores
a lhes constituírem a cobertura da retaguarda.
6 Apesar disso, devem
ser acolhidos nos santuários do Espiritismo por medianeiros de Planos
que é preciso transformar e ajudar, 7
porquanto um Espírito renovado para o Bem, — Lei do Criador para todas
as criaturas, — é peça importante para o reajustamento geral dessa ou
daquela engrenagem conturbada na máquina da vida.
6. DOUTRINA ESPÍRITA. — Forçoso é considerar que a atividade religiosa, digna e venerável, em qualquer setor da edificação humana, exprime socorro celeste aos desajustes morais de quantos se demoram na reencarnação, buscando a restauração precisa.
2 E, compreendendo-se
que elevada percentagem das personalidades humanas traz, no imo do próprio
ser, raízes e brechas de comunhão com o pretérito de sombra, através
das quais são suscetíveis de sofrer os mais estranhos processos de obsessão
oculta, 3 — a se reavivarem,
constantes, nos diversos períodos etários que correspondem ao tempo
de formação dos débitos cármicos que buscam equacionar no corpo terrestre,
— 4 é justo encarecer,
assim, a oportunidade e a excelência do amparo moral da Doutrina Espírita,
como sendo o recurso mais sólido na assistência às vítimas do desequilíbrio
espiritual de qualquer matiz, por oferecer-lhes, no estudo nobre e no
serviço santificante, o clima indispensável de transmutação e harmonização,
com que se recuperem, no domínio dos pensamentos mais íntimos, para
assimilarem a influência benéfica dos agentes espirituais da necessária
renovação.
André Luiz