1. NO SONO ARTIFICIAL. — Enfileirando algumas anotações com respeito ao desdobramento da personalidade, consoante as nossas referências ao hipnotismo comum, recordemos ainda o fenômeno da hipnose profunda, entre o magnetizador e o sensitivo.
2 Quem possa observar além
do campo físico, reparará, à medida se afirme a ordem do hipnotizador,
que se escapa abundantemente do tórax do “sujet”, caído em transe, um
vapor branquicento que, em se condensando qual nuvem inesperada, se
converte, habitualmente à esquerda do corpo carnal, numa duplicata dele
próprio, quase sempre em proporções ligeiramente dilatadas.
3 Tal seja o potencial mais
amplo da vontade que o dirige, o sensitivo, desligado da veste física,
passa a movimentar-se e, ausentando-se muita vez do recinto da experiência,
atendendo a determinações recebidas, pode efetuar apontamentos a longa
distância ou transmitir notícias, com vistas a certos fins.
4 Seguindo-lhe a excursão,
vê-lo-emos, porém constantemente ligado ao corpo somático por fio tenuíssimo,
fio este muito superficialmente comparável, de certo modo, à onda do
radar, que pode vencer imensuráveis distâncias, voltando, inalterável,
ao centro emissor, não obstante sabermos que semelhante confronto resulta
de todo impróprio para o fenômeno que estudamos no campo da inteligência.
5 Nessa fase, o paciente executa
as ordens que recebeu desde que não constituam desrespeito evidente
à sua dignidade moral, trazendo informes valiosos para as realidades
do Espírito.
6 Notemos que aí, enquanto
o carro fisiológico se detém, resfolegante e imóvel, a individualidade
real embora teleguiada, evidencia plena integridade de pensamento, transmitindo,
de longe, avisos e anotações através dos órgãos vocais, em circunstâncias
comparáveis aos implementos do alto-falante, num aparelho radiofônico.
7 À semelhança do fluxo energético
da circulação sanguínea, incessante no corpo denso, a onda mental é
inestancável no Espírito.
8 Esmaecem-se as impressões
nervosas e dorme o cérebro de carne, mas o coração prossegue ativo,
no envoltório somático, e o pensamento vibra, constante, no cérebro
perispirítico.
2. NO SONO NATURAL. — Na maioria das situações, a criatura, ainda extremamente aparentada com a animalidade primitivista, tem a mente como que voltada para si mesma, em qualquer expressão de descanso, tomando o sono para claustro remansoso das impressões que lhe são agradáveis, qual criança que, à solta, procura simplesmente o objeto de seus caprichos.
2 Nesse ensejo, configura
na onda mental que lhe é característica as imagens com que se acalenta,
sacando da memória a visualização dos próprios desejos, imitando alguém
que improvisasse miragens, na antecipação de acontecimentos que aspira
a concretizar.
3 Atreita ao narcisismo, tão
logo demande o sono, quase sempre se detém justaposta ao veículo físico,
como acontece ao condutor que repousa ao pé do carro que dirige, entregando-se
à volúpia mental com que alimenta os próprios impulsos afetivos, enquanto
a máquina se refaz.
4 Ensimesmada, a alma,
usando os recursos da visão profunda, localizada nos fulcros do diencéfalo,
e, plenamente desacolchetada do corpo carnal, por temporário desnervamento,
não apenas se retempera nas telas mentais com que preliba satisfações
distantes, 5 mas experimenta
de igual modo o resultado dos próprios abusos, suportando o desconforto
das vísceras injuriadas por ele mesmo ou a inquietude dos órgãos que
desrespeita, 6 quando
não padece a presença de remorsos constrangedores, à face dos atos reprováveis
que pratica, 7 porquanto
ninguém se livra, no próprio pensamento, dos reflexos de si mesmo.
3. SONO
E SONHO. — Qual ocorre no animal de evolução superior, 2
no homem de evolução positivamente inferior o desdobramento da individualidade,
por intermédio do sono, é quase que absoluto estágio de mero refazimento
físico.
3 No primeiro, em
que a onda mental é simplesmente fraca emissão de forças fragmentárias,
o sonho é puro reflexo das atividades fisiológicas. 4
No segundo, em que a onda mental está em fase iniciante de expansão,
o sonho, por muito tempo, será invariável ação reflexa de seu próprio
mundo consciencial ou afetivo.
5 Evolui, no entanto, o pensamento
na criatura que amadurece, espiritualmente, através da repercussão.
6 Como no caso do
sensitivo que, fora do envoltório físico, vai até ao local sugerido
pelo magnetizador, tomando-se a ordem determinante da hipnose artificial
pelo reflexo condicionado que lhe comanda as ideias, 7
a criatura na hipnose natural, fora do veículo somático, possui no próprio
desejo o reflexo condicionado que lhe circunscreverá o âmbito da ação
além da roupagem fisiológica, alongando-se até ao local em que se lhe
vincula o pensamento.
8 O homem do campo,
no repouso físico, supera os fenômenos hipnagógicos e volta à gleba
que semeou contemplando aí, em Espírito, a plantação que lhe recolhe
o carinho; 9 o artista
regressa à obra a que se consagra, mentalizando-lhe o aprimoramento;
10 o espírito maternal
se aconchega ao pé dos filhinhos que a vida lhe confia, 11
e o delinquente retorna ao lugar onde se encarcera a dor do seu arrependimento.
12 Atravessada a
faixa das chamadas imagens eutópticas, exteriorizam de si mesmos os
quadros mentais pertinentes à atividade em que se concentram 13
com os quais angariam a atenção das Inteligências desencarnadas que
com eles se afinam, recolhendo sugestões para o trabalho em que se empenham,
14 muito embora,
à distância da veste somática, frequentemente procedam ao modo de crianças
conduzidas ao ambiente de pessoas adultas, mantendo-se entre as ideias
superiores que recebem e as ideias infantis que lhes são próprias, 15
do que resulta, na maioria das vezes, o aspecto caótico das reminiscências
que conseguem guardar, ao retornarem à vigília.
16 Nesse estágio
evolutivo, permanecem milhões de pessoas, — representando a faixa de
evolução mediana da Humanidade, — 17
rendendo-se, cada dia, ao impositivo do sono ou hipnose natural de refazimento,
em que se desdobram, mecanicamente, 18
entrando, fora do indumento carnal, em sintonia com as entidades que
se lhes revelam afins, tanto na ação construtiva do bem, quanto na ação
deletéria do mal, entretecendo-se-lhes o caminho da experiência que
lhes é necessária à sublimação no porvir.
4. CONCENTRAÇÃO
E DESDOBRAMENTO. — Quantos se entregam ao labor da arte, atraem,
durante o sono, as inspirações para a obra que realizam, 2
compreendendo-se que os Espíritos enobrecidos assimilam do contato com
as Inteligências superiores os motivos corretos e brilhantes que lhes
palpitam nas criações, 3
ao passo que as mentes sarcásticas ou criminosas, pelo mesmo processo,
apropriam-se dos temas infelizes com que se acomodam, acordando a ironia
e a irresponsabilidade naqueles que se lhes ajustam aos pensamentos,
pelo trabalho a que se dedicam.
4 Desdobrando-se no sono vulgar,
a criatura segue o rumo da própria concentração, procurando, automaticamente,
fora do corpo de carne, os objetivos que se casam com os seus interesses
evidentes ou escusos.
5 Desse modo, mencionando
apenas um exemplo dos contatos a que aludimos, determinado escritor
exporá ideias edificantes e originais no que tange ao serviço do bem,
induzindo os leitores à elevação de nível moral, 6
ao passo que outro exibirá elementos aviltantes, alinhando escárnio
ou lodo sutil com que corrompe as emoções de quantos se lhe entrosam
à maneira de ser.
5. INSPIRAÇÃO
E DESDOBRAMENTO. — Dormindo o corpo denso, continua vigilante
a onda mental de cada um — 2
presidindo ao sono ativo, quando registra no cérebro dormente as impressões
do Espírito desligado das células físicas, 3
e ao sono passivo, quando a mente, nessa condição, se desinteressa,
de todo, da Esfera carnal.
4 Nessa posição, sintoniza-se
com as oscilações de companheiros desencarnados ou não, com as quais
se harmonize, trazendo para a vigília no carro de matéria densa, em
forma de inspiração, os resultados do intercâmbio que levou a efeito,
porquanto raramente consegue conscientizar as atividades que empreendeu
no tempo de sono.
5 Muitos apelos do Plano terrestre
são atendidos, integralmente ou em parte, nessa fase de tempo.
6 Formulado esse ou
aquele pedido ao companheiro desencarnado, habitualmente surge a resposta
quando o solicitante se acha desligado do vaso físico. 7
Entretanto, como nem sempre o cérebro físico está em posição de fixar
o encontro realizado ou a informação recebida, os remanescentes da ação
espiritual, entre encarnados e desencarnados, permanecem, naqueles Espíritos
que ainda se demorem chumbados à Terra, à feição de quadros simbólicos
ou de fragmentárias reminiscências, 8
quando não sejam na forma de súbita intuição, a expressarem, de certa
forma, o socorro parcial ou total que se mostrem capazes de receber.
6. DESDOBRAMENTO
E MEDIUNIDADE. — As ocorrências referidas vigem na conjugação
de ondas mentais, 2
porque apenas excepcionalmente consegue a criatura encarnada desvencilhar-se
de todas as amarras naturais a que se prende, 3
adstrita às conveniências e necessidades de redenção ou evolução que
lhe dizem respeito.
4 É imperioso notar, porém,
que considerável número de pessoas, principalmente as que se adestraram
para esse fim, efetuam incursões nos Planos do Espírito, transformando-se,
muitas vezes, em preciosos instrumentos dos Benfeitores da Espiritualidade,
como oficiais de ligação entre a Esfera física e a Esfera extrafísica.
5 Entre os médiuns dessa categoria,
surpreenderemos todos os grandes místicos da fé, portadores de valiosas
observações e revelações para quantos se decidam marchar ao encontro
da Verdade e do Bem.
6 Cumpre destacar,
entretanto, a importância do estudo para quantos se vejam chamados a
semelhante gênero de serviço, 7
porque, segundo a Lei do Campo Mental, cada Espírito somente logrará
chegar, do ponto de vista da compreensão necessária, até onde se lhe
paire o discernimento.
André Luiz