1. NAS OCORRÊNCIAS COTIDIANAS. — No estudo da mediunidade de efeitos intelectuais, podemos invocar as ocorrências cotidianas para ilustrar a nossa conceituação de maneira simples.
2 Basta examinar o hábito,
como cristalização do reflexo condicionado específico, para encontrá-la,
a cada instante, nos próprios encarnados entre si.
3 Tomemos o homem moderno
buscando o jornal da manhã, e vê-lo-emos procurando o setor do noticiário
com que mais sintonize.
4 Se os negócios materiais
lhe definem o campo de interesses imediatos, assimilará, automaticamente,
todos os assuntos comerciais, emitindo oscilações condicionadas aos
pregões e avisos divulgados.
5 Formará, então, largos raciocínios
sobre o melhor modo de amealhar os lucros possíveis, e, se o cometimento
demanda a cooperação de alguém, buscá-lo-á, incontinente, na pessoa
de um parente ou afeiçoado que lhe partilhe as visões da vida.
6 O sócio potencial
de aventura ouvir-lhe-á as alegações e, mecanicamente, absorver-lhe-á
os pensamentos, passando a incorporá-los na onda que lhe seja própria,
mentalizando os problemas e realizações previstos, em termos análogos.
7 Cada um de per si
falará na ação em perspectiva, com impulsos e resoluções individuais,
embora a ideia fundamental lhes seja comum.
8 Pelo reflexo condicionado
específico, haurido através da imprensa, ambos produzirão raios mentais,
subordinados ao tema em foco, comunicando-se intimamente um com o outro
e partindo no encalço do objetivo.
9 Suponhamos, porém, que o
leitor se decida pelos fatos policiais.
10 Avidamente procurará os
sucessos mais lamentáveis e, finda a voluptuosa seleção dos crimes ou
desastres apresentados, escolherá o mais impressionante aos próprios
olhos, para nele concentrar a atenção.
11 Feito isso, começará exteriorizando
na onda mental característica os quadros terrificantes que lhe nascem
do cérebro, plasmando a sua própria versão, ao redor dos fatos ocorridos.
12 Nesse estado de ânimo, atrairá
companhias simpáticas que, em lhe escutando as conjeturas, passarão
a cunhar pensamentos da mesma natureza, associando-se-lhe à maneira
íntima de ver, não obstante cada um se mostre em campo pessoal de interpretação.
13 Daí a instantes, se as formas-pensamentos
fossem visíveis ao olhar humano, os comentaristas contemplariam no próprio
agrupamento o fluxo tóxico de imagens deploráveis, em torno da tragédia,
a lhes nascerem da mente no regime das reações em cadeia, espraiando-se
no rumo de outras mentes interessadas no acontecimento infeliz.
14 E, por vezes,
semelhantes conjugações de ondas desequilibradas culminam em grandes
crimes públicos, 15
nos quais Espíritos encarnados, em desvario, pelas ideias doentes que
permutam entre si, se antecipam às manifestações da justiça humana,
efetuando atos de extrema ferocidade, em canibalismo franco, atacados
de loucura coletiva, 16
para, mais tarde, responderem às silenciosas arguições da Lei Divina,
cada qual na medida da colaboração própria, no que se refere à extensão
do mal.
2. MEDIUNIDADE IGNORADA. — Na pauta do reflexo condicionado específico, surpreendemos também vícios diversos, tão vulgares na vida social, como sejam a maledicência, a crítica sistemática, os abusos da alimentação e os exageros do sexo.
2 Esse ou aquele Espírito
encarnado, sob o disfarce de um título honroso qualquer, lança o motivo
inconveniente numa reunião ou conversação e quantos lhe aderem ao mote
passam a lançar oscilações mentais no plano menos digno que lhes diga
respeito, plasmando formas-pensamentos estranhas,
3 entre as quais permanece
o conjunto em comunhão temporária, do qual cada um se retira experimentando
excitação de natureza inferior, à caça de presa para os apetites que
manifeste.
4 Como é fácil reconhecer,
cada qual foi apenas influenciado de acordo com as suas inclinações,
mas debita a si próprio os erros que venha a perpetrar, conforme a onda
mental que deitou de si mesmo.
5 Tais notas ajudam a compreender
os mecanismos da mediunidade de efeitos intelectuais, em que encarnados
e desencarnados se associam nas manifestações da chamada metapsíquica
subjetiva.
6 Qual se observa nos efeitos
físicos, a eclosão da força psíquica nos efeitos intelectuais pode surgir
em qualquer idade fisiológica, verificando-se muita vez, a simbiose
entre a entidade desencarnada e a entidade encarnada desde o renascimento
dessa última, pela ocorrência da conjugação de ondas.
7 Em todos os continentes,
podemos encontrar milhões de pessoas em tarefas dignas ou menos dignas,
— mais destacadamente os expositores e artistas da palavra, na tribuna
e na pena, como veículos mais constantemente acessíveis ao pensamento,
— senhoreadas por Espíritos desenfaixados do liame físico, atendendo
a determinadas obras ou influenciando pessoas para fins superiores ou
inferiores, em largos processos de mediunidade ignorada, fatos esses
vulgares em todas as épocas da Humanidade.
3. MEDIUNIDADE
DISCIPLINADA. — Imaginemos que certa personalidade se disponha
a disciplinar as energias medianímicas, segundo os moldes morais da
Doutrina Espírita, 2
cujos postulados se destinam a solucionar, tão simplesmente quanto possível,
todos os problemas do destino e do ser.
3 Admitida ao círculo da atividade
espiritual, recolherá na oração o reflexo condicionado específico para
exteriorizar as oscilações mentais próprias, no rumo da entidade desencarnada
que mais de perto lhe comungue as ideações.
4 Decerto que, nos
serviços de intercâmbio, experimentará largo período de vacilações e
dúvidas, porquanto, morando no centro das próprias emanações e recolhendo
a influenciação do Plano espiritual — com que, muitas vezes, já se encontra
inconscientemente automatizada, — a princípio supõe que as ondas mentais
alheias incorporadas ao campo de seu Espírito não sejam mais que pensamentos
arrojados do próprio cérebro.
5 Ilhado no fulcro
da consciência, de acordo com a Lei do Campo Mental que especifica obrigações
para cada ser guindado à luz da razão, habitualmente se tortura o medianeiro,
perguntando, imponderado, se não deve interromper o chamado “desenvolvimento
mediúnico”, já que não consegue, de imediato, discernir as ideias que
lhe pertencem das ideias que pertencem a outrem, 6
sem aperceber-se de que ele próprio é um Espírito responsável, com o
dever de resguardar a própria vida mental e de enriquecê-la com valores
mais elevados pela aquisição de virtude e conhecimento.
4. PASSIVIDADE MEDIÚNICA. — Se o médium consegue transpor, valoroso, a faixa de hesitações pueris, entendendo que importa, acima de tudo, o bem a fazer, procura ofertar a reta conduta, no reflexo condicionado específico da prece, à Espiritualidade Superior, e passa, então, a ser objeto da confiança dos Benfeitores desencarnados que lhe aproveitam as capacidades no amparo aos semelhantes, dentro do qual assimila o amparo a si mesmo.
2 Quanto mais se lhe acentuem
o aperfeiçoamento e a abnegação, a cultura e o desinteresse, mais se
lhe sutilizam os pensamentos, e, com isso, mais se lhe aguçam as percepções
mediúnicas, que se elevam a maior demonstração de serviço, de acordo
com as suas disposições individuais.
3 Com base no magnetismo
enobrecido, os instrutores desencarnados influenciam os mecanismos do
cérebro para a formação de certos fenômenos, como acontece aos musicistas
que tangem as cordas do piano na produção da melodia. 4
E assim como as ondas sonoras se associam na música, as ondas mentais
se conjugam na expressão.
5 Se o instrumento oferece
maleabilidade mais avançada, mais intensamente específico aparece o
toque do artista.
6 Nessa base, identificamos
a psicografia, desde a estritamente mecânica até a intuitiva, a incorporação
em graus diversos de consciência, as inspirações e premonições.
5. CONJUGAÇÃO DE ONDAS. — Vemos que a conjugação de ondas mentais surge, presente, em todos os fatos mediúnicos.
2 Atenta ao reflexo condicionado
da prece, nas reuniões doutrinárias ou nas experiências psíquicas, a
mente do médium passa a emitir as oscilações que lhe são próprias, às
quais se entrosam aquelas da entidade comunicante, com vistas a certos
fins.
3 É natural, dessa forma,
que as dificuldades da filtragem mediúnica se façam, às vezes, extremamente
preponderantes, porquanto, se não há riqueza de material interpretativo
no fulcro receptor, as mais vivas fulgurações angélicas passarão despercebidas
para quem as procura, com sede da luz do Além.
4 Cabe-nos reconhecer que
excetuados os casos especiais, em que o medianeiro e a entidade espiritual
se completam de modo perfeito, na maioria das circunstâncias, apesar
da integração mental profunda entre um e outro, quase toda a exteriorização
fisiológica no intercâmbio pertence ao médium, cujos traços característicos,
via de regra, assinalarão as manifestações até que a força psíquica
da Humanidade se mostre mais intrinsecamente aperfeiçoada, para mais
aprimorada evidência do Plano Superior.
6. CLARIVIDÊNCIA E CLARIAUDIÊNCIA. — Idêntico mecanismo preside os fenômenos da clarividência e da clariaudiência, porquanto, pela associação avançada dos raios mentais entre a entidade e o médium dotado de mais amplas percepções visuais e auditivas, a visão e a audição se fazem diretas, do recinto exterior para o campo íntimo, graduando-se, contudo, em expressões variadas.
2 Escasseando os recursos
ultra-sensoriais, surgem nos médiuns dessa categoria a vidência e a
audição internas, mais entranhadamente radicadas na conjugação de ondas.
3 Atuando sobre os
raios mentais do medianeiro, o desencarnado transmite-lhe quadros e
imagens, valendo-se dos centros autônomos da visão profunda, localizados
no diencéfalo, 4 ou
lhe comunica vozes e sons, utilizando-se da cóclea, tanto mais perfeitamente
quanto mais intensamente se verifique a complementação vibratória nos
quadros de frequência das ondas, 5
ocorrências essas nas quais se afigura ao médium possuir um espelho
na intimidade dos olhos ou uma caixa acústica na profundez dos ouvidos.
André Luiz