1. NO
SONO PROVOCADO. — Para maior compreensão de qualquer fenômeno
da transmissão mediúnica, não nos será lícito esquecer a ideoplastia,
2 pela qual o pensamento
pode materializar-se, criando formas que muitas vezes se revestem de
longa duração, conforme a persistência da onda em que se expressam.
3 Entendendo-se que os poderes
mentais são inerentes tanto às criaturas desencarnadas quanto às encarnadas,
é natural que os elementos plásticos e organizadores da ideia se exteriorizem
dos médiuns, como também dos companheiros que lhes comungam tarefas
e experiências, estabelecendo-se problemas espontâneos, cuja solução
reclama discernimento.
4 Para clarear o assunto,
recordemos o circuito de forças existente entre magnetizador e magnetizado,
no sono provocado.
5 Se o primeiro sugere
ao segundo a existência de determinada imagem, em certo local, de imediato
a mente do “sujet”, governada pelo toque positivo que a orienta, concentrará
os próprios raios mentais no ponto indicado, aí plasmando o quadro sugerido,
segundo o princípio da reflexão, 6
pelo qual, como no cinematógrafo, a projeção de cenas repetidas mantém
a estabilidade transitória da imagem, com o movimento e som respectivos.
7 O hipnotizado contemplará,
então, o desenho estabelecido, nas menores particularidades de tessitura,
8 e se o hipnotizador,
sem preveni-lo, lhe coloca um espelho à frente, o sensitivo para logo
demonstra insopitável assombro, ao fitar a gravura em dupla exibição,
porquanto a imagem refletida parecer-lhe-á tão real quanto a outra.
9 Emprega-se comumente a palavra
“alucinação” para designar tal fenômeno; contudo, a definição não é
praticamente segura, de vez que na ocorrência não entra em jogo o devaneio
ou a ilusão.
10 Qual acontece
nos espetáculos da televisão, em que a cena transmitida é essencialmente
real, 11 através
da conjugação de ondas, o quadro entretecido pela mente do magnetizado,
ao influxo do magnetizador, é fundamentalmente verdadeiro, segundo análogo
princípio, 12 porque,
fazendo convergir, em certa região, as oscilações do próprio Espírito,
o hipnotizado cria a gravura sugerida, imprimindo-lhe vitalidade correspondente,
à força da percussão sutil, pela qual a tela se estrutura.
13 O acontecimento, corriqueiro
aliás, dá noções exatas da ideoplastia em todas as atividades mediúnicas
comandadas por investigadores em que a exigência alcança as raias da
presunção.
14 Multiplicando
instâncias, além da fiscalização compreensível e justa, não se precatam
de que se transformam em hipnotizadores incômodos, ao invés de estudiosos
equilibrados, 15 interferindo
no circuito de energias mantido entre o benfeitor desencarnado e o servidor
encarnado, obstando, assim, a realização de programas do Plano Superior
com vistas à identificação e revelação da Espiritualidade Maior.
2. NOS
FENÔMENOS FÍSICOS. — Nas sessões de efeitos físicos, ante as
energias ectoplasmáticas exteriorizadas no curso das tarefas em vias
de efetivação pelo instrutor espiritual, 2
se o experimentador humano formula essa ou aquela reclamação, eis que
a mente mediúnica qual ocorre ao “sujet” na hipnose artificial, se deixa
empolgar pela ordem recebida, emitindo a própria onda mental, não mais
no sentido de atender ao amigo desencarnado que dirige a ação em foco,
mas sim para satisfazer ao pesquisador no campo físico.
3 Daí porque, apreendendo,
com mais segurança, as necessidades do médium e respeitando-as com o
elevado critério de quem percebe a complexidade do serviço em desenvolvimento,
as entidades indulgentes e sábias se retraem na experiência mantendo-se
em guarda para proteger o conjunto, 4
à maneira de professores que, dentro das suas possibilidades, se colocam
na posição de sentinelas quando os alunos abandonam os objetivos enobrecedores
da lição, a pervagarem no terreno de caprichos inconsequentes.
3. INTERFERÊNCIAS
IDEOPLÁSTICAS. — Mentalizemos o orientador desencarnado, numa sessão de ectoplasmia
regularmente controlada, quando esteja constituindo a forma de um braço
com os recursos exteriorizados do médium, a planejar maior desdobramento
do trabalho em curso. 2
Se, no mesmo instante, o experimentador terrestre, tocando a forma tangível,
solicita, por exemplo: — “uma pulseira, quero uma pulseira no braço”,
— de imediato a mente do médium recolhe o impacto da determinação e,
em vez de prosseguir sob o controle benevolente do operador desencarnado,
passa a obedecer ao investigador humano, centralizando de modo inconveniente,
a própria onda mental induzida sobre o braço já parcialmente materializado,
aí plasmando a pulseira nas condições reclamadas.
3 Surgida a interferência,
o serviço da Esfera Espiritual sofre enorme dificuldade de ação, diminuindo-se
o proveito da assembleia encarnada.
4 E, na mesma pauta, requerimentos
fúteis e pedidos desordenados dos circunstantes provocam ocorrências
ideoplásticas de manifesta incongruência, baixando o teor das manifestações,
por viciarem a mente mediúnica, ligando-a à influência de agentes inferiores
que, não raro, passam a atuar com manifesto desprestígio dos projetos
de sublimação, a princípio acalentados pelo conjunto de pessoas irmanadas
para o intercâmbio.
4. MEDIUNIDADE E RESPONSABILIDADE. — Decerto não invocamos o relaxamento para o governo das reuniões de ectoplasmia, nem endossamos a irresponsabilidade.
2 Recordamos simplesmente
que a bancarrota de muitos círculos organizados para o trato dos efeitos
físicos e, notadamente, da materialização, se deve à própria incúria
ou impertinência daqueles que os constituem, 3
na maioria das vezes indagadores e pedinchões inveterados que descambam,
imperceptivelmente, para a leviandade, comprometendo a obra ideada para
o bem, 4 porquanto
interpõem os mais estranhos recursos na edificação programada, provocando
enganos ou fraudes inconscientes e intervenções menos desejáveis em
resposta à irresponsabilidade deles mesmos.
5. EM
OUTROS FENÔMENOS. — Idênticos fenômenos com a ideoplastia por
base são comuns na fotografia transcendente, em seus vários tipos, 2
porque, se o instrumento mediúnico e acompanhantes não demonstram mais
alta compreensão dos atributos que lhes cabem na mediação entre os dois
Planos, preponderando com a força de suas próprias oscilações mentais
sobre as energias exteriorizadas, perde-se, como é natural, o ascendente
da Esfera Superior, que sulcaria a experiência com o selo de sua presença
iluminativa, impondo-se-lhe tão somente a marca dos encarnados inquietos,
ainda incapazes de formar o campo indispensável à receptividade dos
agentes de ordem mais elevada. 3
Na mediunidade de efeitos intelectuais, a ideoplastia assume papel extremamente
importante, 4 porque
certa classe de pensamentos, constantemente repetidos sobre a mente
mediúnica menos experimentada, pode constrangê-la a tomar certas imagens,
mantidas pela onda mental persistente, como situações e personalidades
reais, 5 tal qual uma
criança que acreditasse estar contemplando essa paisagem ou aquela pessoa,
tão só por ver-lhes o retrato animado num filme.
6. NA
MEDIUNIDADE AVILTADA. — Onde os agentes ideoplásticos assumem
caráter dos mais significativos, desde épocas imemoriais no mundo, é
justamente nos círculos do magismo, 2
dentro dos quais a mediunidade rebaixada a processos inferiores de manifestação
se deixa aprisionar por seres de posição primitiva ou por Inteligências
degradadas que cunham ideias escravizantes para quantos se permitem
vampirizar.
3 Aceitando sugestões deprimentes,
quantos se entregam ao culto da magia aviltante arremessam de si próprios
as imagens menos dignas a que se vinculam, engendrando tabus dos quais
dificilmente se desvencilham, à face do terror que lhes instila o demorado
cativeiro às forças da ignorância.
4 Submetida a mente
a idolatria desse jaez, passa a manter, por sua própria conta, os agentes
com que se tortura, tanto mais intensamente quanto mais extensa se lhe
revele a sensibilidade receptiva 5
porque, com mais alevantado poder de plasmagem mental, a criatura mais
facilmente gera, para si mesma, tanto o bem que a tonifica quanto o
mal que a perturba.
6 E não se diga que o assunto
vige preso a mero entrechoque de aparências, de vez que a sugestão é
poder inconteste, ligando a alma, de maneira inequívoca, às criações
que lhes são inerentes no mundo íntimo, obrigando-a a recolher as resultantes
da treva ou da luz a que se afeiçoe.
André Luiz