1. PRÓDROMOS DA HIPNOSE. — Após observarmos o fenômeno do hipnotismo num espetáculo público, imaginemos que o magnetizador seja um homem digno de respeito, capaz de nutrir a confiança popular.
2 Suponhamos seja ele procurado
por um cidadão qualquer, portador de doença nervosa, desejoso de tratar-se
pela hipnose.
3 O enfermo tê-lo-á visto
na exibição a que nos referimos ou dela terá recebido exato noticiário
e, por isso mesmo, buscar-lhe-á o concurso, fortemente decidido a aceitar-lhe
a orientação. n
4 O hipnotizador, de imediato
adquire conhecimento da atitude simpática do visitante e acolhe-o com
manifesto carinho.
5 Toma-lhe a mão, entrando
de imediato na aura ou halo de forças do paciente, endereçando-lhe algumas
inquirições.
6 Nesse toque direto, inocula-lhe
vasta corrente revitalizadora, em lhe falando de bom ânimo e esperança,
e o doente se lhe rende, satisfeito, aos apelos silenciosos de relaxamento
da tensão que o castiga.
7 O consulente prestará ligeiros
informes acerca dos sintomas de que se vê objeto, e o anfitrião, paternal,
convidá-lo-á a sentar-se em larga poltrona que lhe faculte mais amplamente
o repouso.
2. MECANISMO
DO FENÔMENO HIPNÓTICO. — Recorrendo, para exemplo, em nosso estudo,
ao conhecido processo de Liébeault, ( † )
o hipnotizador passará à ação franca, colocando-se à frente do enfermo.
2 E, situando de leve a mão
esquerda sobre a sua cabeça, manterá dois dedos da mão direita à distância
aproximada de vinte a trinta centímetros dos olhos do paciente, de modo
a formar com eles um ângulo elevado, compelindo-o a levantar os olhos,
em atenção algo laboriosa, para que lhe fixe os dedos por algum tempo.
3 Com esse gesto,
o magnetizador estará projetando o seu próprio fluxo energético sobre
a epífise do hipnotizado, glândula esta de suma importância em todos
os processos medianímicos,
n por favorecer a passividade
dos núcleos receptivos do cérebro, 4
provocando, ao mesmo tempo, a atenção ou o circuito fechado no
campo magnético do paciente cuja onda mental, projetada para além de
sua própria aura, é imediatamente atraída pelas oscilações do magnetizador
que, a seu turno, lhe transmite a essência das suas próprias ordens.
5 Libertando as aglutininas
mentais do sono, o passivo, na hipnose estimulada, se vê influenciado
pela vontade que lhe comanda transitoriamente os sentidos, vontade essa
a que, de maneira habitual, adere de “moto-próprio”, quase que alegremente.
6 É então que o hipnotizador,
para fixar com mais segurança a sua própria atuação, exclama, em tom
grave e calmo: — “Não receie. Segundo o nosso desejo, passará você,
em breves instantes, pela mesma transfiguração mental a que se entrega
cada noite, transitando da vida ativa para o entorpecimento do sono
em que os seus ouvidos escutam sem qualquer esforço e no qual não se
sente você disposto a voluntária movimentação. Durma, descanse. Repouse
na certeza de que não terá consciência do que ocorra em torno de nós!
Despertará você do presente estado, quando me aprouver, perfeitamente
aliviado e fortalecido pela supressão do desequilíbrio orgânico.”
7 O doente enlanguesce, satisfeito,
acalentado pela sua própria onda mental de confiança, exteriorizada
ao impacto do pensamento positivo que o controla, e o hipnotizador reafirma,
tocando-lhe as pálpebras de leve:
— “Durma tranquilamente. Tudo está
bem. Acordará livre de todo o mal. Acalme-se e espere. Não sofrerá qualquer
incômodo. Dentro de alguns minutos, chamá-lo-ei à vigília.”
8 O doente dorme e o magnetizador
retira-se por alguns minutos.
3. MECANISMO DA HIPNOTERAPIA. — Enquanto adormecido, a própria onda mental do paciente, em movimento renovador e guardando consigo as sugestões benéficas recebidas, atua sobre as células do veículo fisiopsicossomático, anulando, tanto quanto possível, as inibições funcionais existentes.
2 Como se observa, o agente
positivo atua como fator desencadeante da recuperação, que passa a ser
efetuada pelo próprio paciente, em todos os casos de hipnoterapia ou
reflexoterapia.
3 O hipnotizador, depois de
um quarto de hora fá-lo novamente voltar à vigília, e o enfermo, desperto,
acusa por vezes grandes melhoras.
4 Naturalmente, agradece
ao benfeitor o socorro assimilado; 5
contudo, o magnetizador agiu apenas como recurso de excitação e influência,
porque as oscilações mentais em ação restaurativa dos tecidos celulares
foram exteriorizadas pelo próprio consulente.
4. OBJETOS E REFLEXOS ESPECÍFICOS. — No segundo dia do tratamento hipnótico, o paciente com mais facilidade se confiará à vontade orientadora que o dirige.
2 Bastar-lhe-á o reencontro
com o hipnotizador para entrar no reflexo condicionado, pelo qual começa
a automatizar o ato de arrojar de si mesmo as próprias forças mentais,
impregnadas das imagens de saúde e coragem que ele mesmo recorporifica
no pensamento, recordando os apelos recebidos na véspera.
3 E assim procede o enfermo,
no mesmo regime de condicionamento, até que a contemplação de um simples
objeto que lhe tenha sido presenteado pelo magnetizador, com o fim de
ajudá-lo a liberar-se de qualquer crise, na linha de ocorrências da
moléstia nervosa de que se haja curado, será o suficiente para que se
entregue à hipnose de recuperação por sua própria conta.
4 Semelhante medida, que explica
o suposto poder curativo de certas relíquias materiais ou dos chamados
talismãs da magia, pode ser interpretada como reflexo condicionado específico,
porquanto sem à presença do hipnotizador, suscetível de imprimir novas
modalidades à onda mental de que tratamos, o objeto aludido servirá
— muito particularmente nesse caso — como reflexo determinado para o
refazimento orgânico, em certo sentido.
5. CIRCUITO MAGNÉTICO E CIRCUITO MEDIÚNICO. — Se o paciente, depois de curado, prossegue submisso ao hipnotizador, sustentando-se entre ambos o intercâmbio seguro, dentro de algum tempo ambos se encontrarão em circuito mediúnico perfeito.
2 A onda mental do magnetizado,
reeducada para a extirpação da moléstia anteriormente apresentada, terá
atendido ao restabelecimento da região em desequilíbrio, mostrando-se
agora, sadia e harmônica para os serviços da troca, na hipótese do continuísmo
de contato.
3 Voltando-se diariamente
para o magnetizador que, a seu turno, diariamente o influencia, e devidamente
ajustada ao cérebro em que se apoia, do ponto de vista da resistência
do campo, [a onda mental do magnetizado] passará a refletir a onda
mental da vontade a que livremente se submete, absorvendo-lhe as inclinações
e os desígnios.
4 Verificam-se aí os mais
avançados processos de telementação, inclusive o desdobramento controlado,
pelo qual o passivo ausente do corpo físico sob a indução preponderante
do hipnotizador, apenas verá e ouvirá de acordo com a orientação particular a
que se sujeita.
5 É o estado de permuta magnética
aperfeiçoada, em que o passivo, na hipnose ou na vigília, transmite
com facilidade as determinações e propósitos do mentor, na esfera das
suas possibilidades de expressão.
6. AUTOMAGNETIZAÇÃO. — Ainda há que apreciar uma ocorrência importante.
2 Se o hipnotizador
não mais tem contato com o passivo e se o passivo prossegue interessado
no progresso de suas conquistas espirituais, este consegue, à custa
de esforço, por intermédio da profunda concentração das energias mentais,
na lembrança dos fenômenos a que se consagrou junto ao magnetizador,
cair em hipnose ou letargia, catalepsia ou sonambulismo — 3
ainda pelo reflexo condicionado igualmente específico — 4
afastando-se do envoltório carnal, em plena consciência para entrar
em contato com entidades encarnadas ou desencarnadas de sua condição
5 ou para provocar
por si mesmo certa categoria de fenômenos físicos, mediante a aplicação
de energia acumulada, 6
com o que se explicam as ocorrências do faquirismo oriental, nas quais
a própria vontade do operador parcial ou integralmente separado do corpo
somático, exerce determinada ação sobre as células físicas e extrafísicas,
estabelecendo acontecimentos inabituais para o mundo rotineiro dos cinco sentidos.
André Luiz
[1] A utilização dos fenômenos hipnóticos serve, neste livro, simplesmente para explicar os mecanismos da mediunidade, e não para induzir os companheiros do Espiritismo a praticá-los em suas tarefas, porquanto o nosso objetivo primordial é o serviço da Doutrina Espírita que devemos tomar por disciplinadora de todos os fenômenos que nos rodeiam, na esfera das ocorrências mediúnicas, a beneficio de nossa própria melhoria moral — (Nota do Autor espiritual.)
[2] Para mais claro entendimento do assunto, indicamos ao leitor a releitura do capítulo 2 do
livro “Missionários da Luz”, do mesmo Autor espiritual, recebido pelo médium Francisco Cândido Xavier. — (Nota da Editora.)