1.
Ao passo que o nosso companheiro se aproveitava da organização mediúnica,
vali-me das forças magnéticas que o instrutor me fornecera, para fixar
a máxima atenção no médium. 2
Quanto mais lhe notava as singularidades do cérebro, mais admirava a
luz crescente que a epífise deixava perceber. A glândula minúscula transformara-se
em núcleo radiante e, em derredor, formavam seus raios um lótus de pétalas
sublimes.
3 Examinei atentamente os
demais encarnados. Em todos eles, a glândula apresentava notas de luminosidade,
mas em nenhum brilhava como no intermediário em serviço.
4 Sobre o núcleo, semelhante
agora a flor resplandecente, caíam luzes suaves, de Mais Alto, reconhecendo
eu que ali se encontravam em jogo vibrações delicadíssimas, imperceptíveis
para mim.
5 Estudara a função da epífise
nos meus apagados serviços de médico terrestre. Segundo os orientadores
clássicos, circunscreviam-se suas atribuições ao controle sexual no
período infantil. Não passava de velador dos instintos, até que as rodas
da experiência sexual pudessem deslizar com regularidade, pelos caminhos
da vida humana. Depois, decrescia em força, relaxava-se, quase desaparecia,
para que as glândulas genitais a sucedessem no campo da energia plena.
6 Minhas observações, ali,
entretanto, contrastavam com as definições dos círculos oficiais.
Como o recurso de quem ignora é esperar pelo conhecimento alheio, aguardei Alexandre para elucidar-me, findo o serviço ativo.
Passados alguns minutos, o generoso mentor acercava-se de mim.
7 Não esperou que me explicasse.
— Conheço-lhe a perplexidade, — falou. Também passei pela mesma surpresa, noutro
tempo. A epífise é agora uma revelação para você.
— Sem dúvida, — acrescentei.
8 — Não se trata de
órgão morto, segundo velhas suposições, — prosseguiu ele. — É a glândula
da vida mental. Ela acorda no organismo do homem na puberdade as forças
criadoras e, em seguida, continua a funcionar, como o mais avançado
laboratório de elementos psíquicos da criatura terrestre. 9
O neurologista comum não a conhece bem. O psiquiatra devassar-lhe-á,
mais tarde, os segredos. Os psicólogos vulgares ignoram-na. Freud interpretou-lhe
o desvio, quando exagerou a influenciação da “libido”, no estudo da
indisciplina congênita da Humanidade. 10
Enquanto no período do desenvolvimento infantil, fase de reajustamento
desse centro importante do corpo perispiritual preexistente, a epífise
parece constituir o freio às manifestações do sexo; entretanto, há que
retificar observações.
11 Aos catorze anos,
aproximadamente, de posição estacionária, quanto às suas atribuições
essenciais, recomeça a funcionar no homem reencarnado. O que representava
controle é fonte criadora e válvula de escapamento. 12
A glândula pineal reajusta-se ao concerto orgânico e reabre seus mundos
maravilhosos de sensações e impressões na esfera emocional. Entrega-se
a criatura à recapitulação da sexualidade, examina o inventário de suas
paixões vividas noutra época, que reaparecem sob fortes impulsos.
13 Achava-me profundamente
surpreendido.
Findo o intervalo que impusera à exposição do ensinamento, Alexandre continuou:
— Ela preside aos fenômenos nervosos da emotividade, como órgão de
elevada expressão no corpo etéreo. 14
Desata, de certo modo, os laços divinos da Natureza, os quais ligam
as existências umas às outras, na sequência de lutas pelo aprimoramento
da alma, e deixa entrever a grandeza das faculdades criadoras de que
a criatura se acha investida.
15 — Deus meu! — Exclamei,
— e as glândulas genitais, onde ficam?
O instrutor sorriu e esclareceu:
— São demasiadamente mecânicas, para guardarem os princípios sutis e quase
imponderáveis da geração. Acham-se absolutamente controladas pelo potencial
magnético de que a epífise é a fonte fundamental. 16
As glândulas genitais segregam os hormônios do sexo, mas a glândula
pineal, se me posso exprimir assim, segrega “hormônios psíquicos” ou
“unidades-força” que vão atuar, de maneira positiva, nas energias geradoras.
Os cromossomos da bolsa seminal não lhe escapam à influenciação absoluta
e determinada.
17 Alexandre fez um gesto significativo
e considerou:
— No entanto, não estamos examinando problemas de embriologia. Limitemo-nos ao assunto inicial e analisemos a epífise, como glândula da vida espiritual do homem.
18 Dentro de meu espanto, guardei
rigoroso silêncio, faminto de instruções novas.
— Segregando delicadas energias psíquicas, — prosseguiu ele, — a glândula
pineal conserva ascendência em todo o sistema endocrínico. 19
Ligada à mente, através de princípios eletromagnéticos do campo vital,
que a ciência comum ainda não pode identificar, comanda as forças subconscientes
sob a determinação direta da vontade. 20
As redes nervosas constituem-lhe os fios telegráficos para ordens imediatas
a todos os departamentos celulares, e sob sua direção efetuam-se os
suprimentos de energias psíquicas a todos os armazéns autônomos dos
órgãos.
2.
Manancial
criador dos mais importantes, suas atribuições são extensas e fundamentais. Na qualidade de controladora do mundo emotivo, sua posição na experiência
sexual é básica e absoluta. 2
De modo geral, todos nós, agora ou no pretérito, viciamos esse foco
sagrado de forças criadoras, transformando-o num ímã relaxado, entre
as sensações inferiores de natureza animal. Quantas existências temos
despendido na canalização de nossas possibilidades espirituais para
os campos mais baixos do prazer materialista? 3
Lamentavelmente divorciados da lei do uso, abraçamos os desregramentos
emocionais, e daí, meu caro amigo, a nossa multimilenária viciação das
energias geradoras, carregados de compromissos morais, com todos aqueles
a quem ferimos com os nossos desvarios e irreflexões. 4
Do lastimável menosprezo a esse potencial sagrado, decorrem os dolorosos
fenômenos da hereditariedade fisiológica, que deveria constituir, invariavelmente,
um quadro de aquisições abençoadas e puras. 5
A perversão do nosso plano mental consciente, em qualquer sentido da
evolução, determina a perversão de nosso psiquismo inconsciente, encarregado
da execução dos desejos e ordenações mais íntimas, na esfera das operações
automáticas. 6 A vontade
desequilibrada desregula o foco de nossas possibilidades criadoras.
Daí procede a necessidade de regras morais para quem, de fato, se interesse
pelas aquisições eternas nos domínios do Espírito. 7
Renúncia, abnegação, continência sexual, disciplina emotiva não representam
meros preceitos de feição religiosa. São providências de teor científico,
para enriquecimento efetivo da personalidade. 8
Nunca fugiremos à lei, cujos artigos e parágrafos do Supremo Legislador
abrangem o Universo. Ninguém enganará a Natureza. Centros vitais desequilibrados
obrigarão a alma à permanência nas situações de desequilíbrio. 9
Não adianta alcançar a morte física, exibindo gestos e palavras convencionais,
se o homem não cogitou do burilamento próprio. A Justiça que rege a
Vida Eterna jamais se inclinou. 10
É certo que os sentimentos profundos do extremo instante do Espírito
encarnado cooperam decisivamente nas atividades de regeneração além
do túmulo, mas não representam a realização precisa.
11 O instrutor falava em tom
sublime, pelo menos para mim, que, pela primeira vez, ouvia comentários
sobre consciência, virtude e santificação, dentro de conceitos estritamente
lógicos e científicos no campo da razão.
12 Agora, aclaravam-se-me os
raciocínios, de modo franco. Receber um corpo, nas concessões do reencarnacionismo,
não é ganhar um barco para nova aventura, ao acaso das circunstâncias,
mas significa responsabilidade definida nos serviços de aprendizagem,
elevação ou reparação, nos esforços evolutivos ou redentores.
3.
— Compreende, agora, as funções da epífise no crescimento mental do
homem e no enriquecimento dos valores da alma? — Indagou-me o orientador.
— Sim… — Respondi sob impressão forte.
2 — Segregando “unidades-força”,
— continuou, — pode ser comparada a poderosa usina, que deve ser aproveitada
e controlada, no serviço de iluminação, refinamento e benefício da personalidade
e não relaxada em gasto excessivo do suprimento psíquico, nas emoções
de baixa classe. 3
Refocilar-se no charco das sensações inferiores, à maneira dos suínos,
é retê-la nas correntes tóxicas dos desvarios de natureza animal; 4
e, na despesa excessiva de energias sutis, muito dificilmente consegue
o homem levantar-se do mergulho terrível nas sombras, mergulho que se
prolonga, além da morte corporal. 5
Em vista disso, é indispensável cuidar atentamente da economia de forças,
em todo serviço honesto de desenvolvimento das faculdades superiores.
6 Os materialistas
da razão pura, senhores de vastos patrimônios intelectuais, perceberam
de longe semelhantes realidades e, no sentido de preservar à juventude,
a plástica e a eugenia, fomentaram a prática do esporte, em todas as
suas modalidades. 7
Contra os perigos possíveis, na excessiva acumulação de forças nervosas,
como são chamadas as secreções elétricas da epífise, aconselharam aos
moços de todos os países o uso do remo, da bola, do salto, da barra,
das corridas a pé. Desse modo, preservavam-se os valores orgânicos,
legítimos e normais, para as funções da hereditariedade. 8
A medida, embora atenda, em parte, é, contudo, incompleta e defeituosa.
Incontestavelmente, a ginástica e o exercício controlados são fatores
valiosos de saúde; a competição esportiva honesta é fundamento precioso
de socialização; no entanto, podem circunscrever-se a meras providências,
em benefício dos ossos, e, por vezes, degeneram-se em elástico das paixões
menos dignas. 9 São
muito raros ainda, na Terra, os que reconhecem a necessidade de preservação
das energias psíquicas para engrandecimento do Espírito eterno. 10
O homem vive esquecido de que Jesus ensinou a virtude como esporte da
alma, e nem sempre se recorda de que, no problema do aprimoramento interior,
não se trata de retificar a sombra da substância e sim a substância
em si mesma.
4.
Ouvia-lhe as instruções, entre a emotividade e o assombro.
— Entende, agora, como é importante renunciar? Percebe a grandeza da
lei de elevação pelo sacrifício? 2
A sangria estimula a produção de células vitais, na medula óssea; a
poda oferece beleza, novidade e abundância nas árvores. 3
O homem que pratica verdadeiramente o bem, vive no seio de vibrações
construtivas e santificantes da gratidão, da felicidade, da alegria.
Não é fazer teoria de esperança. É princípio científico, sem cuja aplicação,
na esfera comum, não se liberta a alma, descentralizada pela viciação
nas zonas mais baixas da Natureza.
4 E porque observasse que
as instruções lhe tomavam demasiado tempo, Alexandre concluiu:
— De acordo com as nossas observações, a função da epífise na vida mental é muito importante.
5 — Sim, — considerei, — compreendo
agora a substancialidade de sua influenciação no sexo e entendo igualmente
a dolorosa e longa tragédia sexual da Humanidade. Percebo, nitidamente,
o porquê dos dramas que se sucedem, ininterruptos, as aflições que parecem
nunca chegar ao fim, as ansiedades que esbarram no crime, o cipoal do
sofrimento, envolvendo lares e corações…
6 — E o homem sempre
disposto a viciar os centros sagrados de sua personalidade, — concluiu
Alexandre, solenemente, — sempre inclinado a contrair novos débitos,
mas dificilmente decidido a retificar ou pagar.
— Compreendo, compreendo…
7 E, asilando certas dúvidas,
exclamei:
— Não seria então mais razoável…
O orientador cortou-me a palavra e esclareceu:
— Já sei o que deseja indagar.
E, sorrindo:
— Você pergunta se não seria mais interessante encerrar todas as experiências
do sexo, sepultar as possibilidades do renascimento carnal. 8
Semelhante indagação, no entanto, é improcedente. Ninguém deve agir
contra a lei. O uso respeitável dos patrimônios da vida, a união enobrecedora,
a aproximação digna, constituem o programa de elevação. 9
É, portanto, indispensável distinguir entre harmonia e desequilíbrio,
evitando o estacionamento em desfiladeiros fatais.
10 Ditas estas palavras, Alexandre
calou-se, como orientador criterioso que deixa ao discípulo o tempo
necessário para digerir a lição.
André Luiz