O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Missionários da Luz — André Luiz


2

A epífise

(Sumário)

1. Ao passo que o nosso companheiro se aproveitava da organização mediúnica, vali-me das forças magnéticas que o instrutor me fornecera, para fixar a máxima atenção no médium. 2 Quanto mais lhe notava as singularidades do cérebro, mais admirava a luz crescente que a epífise deixava perceber. A glândula minúscula transformara-se em núcleo radiante e, em derredor, formavam seus raios um lótus de pétalas sublimes.

3 Examinei atentamente os demais encarnados. Em todos eles, a glândula apresentava notas de luminosidade, mas em nenhum brilhava como no intermediário em serviço.

4 Sobre o núcleo, semelhante agora a flor resplandecente, caíam luzes suaves, de Mais Alto, reconhecendo eu que ali se encontravam em jogo vibrações delicadíssimas, imperceptíveis para mim.

5 Estudara a função da epífise nos meus apagados serviços de médico terrestre. Segundo os orientadores clássicos, circunscreviam-se suas atribuições ao controle sexual no período infantil. Não passava de velador dos instintos, até que as rodas da experiência sexual pudessem deslizar com regularidade, pelos caminhos da vida humana. Depois, decrescia em força, relaxava-se, quase desaparecia, para que as glândulas genitais a sucedessem no campo da energia plena.

6 Minhas observações, ali, entretanto, contrastavam com as definições dos círculos oficiais.

Como o recurso de quem ignora é esperar pelo conhecimento alheio, aguardei Alexandre para elucidar-me, findo o serviço ativo.

Passados alguns minutos, o generoso mentor acercava-se de mim.

7 Não esperou que me explicasse.

— Conheço-lhe a perplexidade, — falou. Também passei pela mesma surpresa, noutro tempo. A epífise é agora uma revelação para você.

— Sem dúvida, — acrescentei.

8 — Não se trata de órgão morto, segundo velhas suposições, — prosseguiu ele. — É a glândula da vida mental. Ela acorda no organismo do homem na puberdade as forças criadoras e, em seguida, continua a funcionar, como o mais avançado laboratório de elementos psíquicos da criatura terrestre. 9 O neurologista comum não a conhece bem. O psiquiatra devassar-lhe-á, mais tarde, os segredos. Os psicólogos vulgares ignoram-na. Freud interpretou-lhe o desvio, quando exagerou a influenciação da “libido”, no estudo da indisciplina congênita da Humanidade. 10 Enquanto no período do desenvolvimento infantil, fase de reajustamento desse centro importante do corpo perispiritual preexistente, a epífise parece constituir o freio às manifestações do sexo; entretanto, há que retificar observações.

11 Aos catorze anos, aproximadamente, de posição estacionária, quanto às suas atribuições essenciais, recomeça a funcionar no homem reencarnado. O que representava controle é fonte criadora e válvula de escapamento. 12 A glândula pineal reajusta-se ao concerto orgânico e reabre seus mundos maravilhosos de sensações e impressões na esfera emocional. Entrega-se a criatura à recapitulação da sexualidade, examina o inventário de suas paixões vividas noutra época, que reaparecem sob fortes impulsos.

13 Achava-me profundamente surpreendido.

Findo o intervalo que impusera à exposição do ensinamento, Alexandre continuou:

— Ela preside aos fenômenos nervosos da emotividade, como órgão de elevada expressão no corpo etéreo. 14 Desata, de certo modo, os laços divinos da Natureza, os quais ligam as existências umas às outras, na sequência de lutas pelo aprimoramento da alma, e deixa entrever a grandeza das faculdades criadoras de que a criatura se acha investida.

15 — Deus meu! — Exclamei, — e as glândulas genitais, onde ficam?

O instrutor sorriu e esclareceu:

— São demasiadamente mecânicas, para guardarem os princípios sutis e quase imponderáveis da geração. Acham-se absolutamente controladas pelo potencial magnético de que a epífise é a fonte fundamental. 16 As glândulas genitais segregam os hormônios do sexo, mas a glândula pineal, se me posso exprimir assim, segrega “hormônios psíquicos” ou “unidades-força” que vão atuar, de maneira positiva, nas energias geradoras. Os cromossomos da bolsa seminal não lhe escapam à influenciação absoluta e determinada.

17 Alexandre fez um gesto significativo e considerou:

— No entanto, não estamos examinando problemas de embriologia. Limitemo-nos ao assunto inicial e analisemos a epífise, como glândula da vida espiritual do homem.

18 Dentro de meu espanto, guardei rigoroso silêncio, faminto de instruções novas.

— Segregando delicadas energias psíquicas, — prosseguiu ele, — a glândula pineal conserva ascendência em todo o sistema endocrínico. 19 Ligada à mente, através de princípios eletromagnéticos do campo vital, que a ciência comum ainda não pode identificar, comanda as forças subconscientes sob a determinação direta da vontade. 20 As redes nervosas constituem-lhe os fios telegráficos para ordens imediatas a todos os departamentos celulares, e sob sua direção efetuam-se os suprimentos de energias psíquicas a todos os armazéns autônomos dos órgãos.


2. Manancial criador dos mais importantes, suas atribuições são extensas e fundamentais. Na qualidade de controladora do mundo emotivo, sua posição na experiência sexual é básica e absoluta. 2 De modo geral, todos nós, agora ou no pretérito, viciamos esse foco sagrado de forças criadoras, transformando-o num ímã relaxado, entre as sensações inferiores de natureza animal. Quantas existências temos despendido na canalização de nossas possibilidades espirituais para os campos mais baixos do prazer materialista? 3 Lamentavelmente divorciados da lei do uso, abraçamos os desregramentos emocionais, e daí, meu caro amigo, a nossa multimilenária viciação das energias geradoras, carregados de compromissos morais, com todos aqueles a quem ferimos com os nossos desvarios e irreflexões. 4 Do lastimável menosprezo a esse potencial sagrado, decorrem os dolorosos fenômenos da hereditariedade fisiológica, que deveria constituir, invariavelmente, um quadro de aquisições abençoadas e puras. 5 A perversão do nosso plano mental consciente, em qualquer sentido da evolução, determina a perversão de nosso psiquismo inconsciente, encarregado da execução dos desejos e ordenações mais íntimas, na esfera das operações automáticas. 6 A vontade desequilibrada desregula o foco de nossas possibilidades criadoras. Daí procede a necessidade de regras morais para quem, de fato, se interesse pelas aquisições eternas nos domínios do Espírito. 7 Renúncia, abnegação, continência sexual, disciplina emotiva não representam meros preceitos de feição religiosa. São providências de teor científico, para enriquecimento efetivo da personalidade. 8 Nunca fugiremos à lei, cujos artigos e parágrafos do Supremo Legislador abrangem o Universo. Ninguém enganará a Natureza. Centros vitais desequilibrados obrigarão a alma à permanência nas situações de desequilíbrio. 9 Não adianta alcançar a morte física, exibindo gestos e palavras convencionais, se o homem não cogitou do burilamento próprio. A Justiça que rege a Vida Eterna jamais se inclinou. 10 É certo que os sentimentos profundos do extremo instante do Espírito encarnado cooperam decisivamente nas atividades de regeneração além do túmulo, mas não representam a realização precisa.

11 O instrutor falava em tom sublime, pelo menos para mim, que, pela primeira vez, ouvia comentários sobre consciência, virtude e santificação, dentro de conceitos estritamente lógicos e científicos no campo da razão.

12 Agora, aclaravam-se-me os raciocínios, de modo franco. Receber um corpo, nas concessões do reencarnacionismo, não é ganhar um barco para nova aventura, ao acaso das circunstâncias, mas significa responsabilidade definida nos serviços de aprendizagem, elevação ou reparação, nos esforços evolutivos ou redentores.


3. — Compreende, agora, as funções da epífise no crescimento mental do homem e no enriquecimento dos valores da alma? — Indagou-me o orientador.

— Sim… — Respondi sob impressão forte.

2 — Segregando “unidades-força”, — continuou, — pode ser comparada a poderosa usina, que deve ser aproveitada e controlada, no serviço de iluminação, refinamento e benefício da personalidade e não relaxada em gasto excessivo do suprimento psíquico, nas emoções de baixa classe. 3 Refocilar-se no charco das sensações inferiores, à maneira dos suínos, é retê-la nas correntes tóxicas dos desvarios de natureza animal; 4 e, na despesa excessiva de energias sutis, muito dificilmente consegue o homem levantar-se do mergulho terrível nas sombras, mergulho que se prolonga, além da morte corporal. 5 Em vista disso, é indispensável cuidar atentamente da economia de forças, em todo serviço honesto de desenvolvimento das faculdades superiores. 6 Os materialistas da razão pura, senhores de vastos patrimônios intelectuais, perceberam de longe semelhantes realidades e, no sentido de preservar à juventude, a plástica e a eugenia, fomentaram a prática do esporte, em todas as suas modalidades. 7 Contra os perigos possíveis, na excessiva acumulação de forças nervosas, como são chamadas as secreções elétricas da epífise, aconselharam aos moços de todos os países o uso do remo, da bola, do salto, da barra, das corridas a pé. Desse modo, preservavam-se os valores orgânicos, legítimos e normais, para as funções da hereditariedade. 8 A medida, embora atenda, em parte, é, contudo, incompleta e defeituosa. Incontestavelmente, a ginástica e o exercício controlados são fatores valiosos de saúde; a competição esportiva honesta é fundamento precioso de socialização; no entanto, podem circunscrever-se a meras providências, em benefício dos ossos, e, por vezes, degeneram-se em elástico das paixões menos dignas. 9 São muito raros ainda, na Terra, os que reconhecem a necessidade de preservação das energias psíquicas para engrandecimento do Espírito eterno. 10 O homem vive esquecido de que Jesus ensinou a virtude como esporte da alma, e nem sempre se recorda de que, no problema do aprimoramento interior, não se trata de retificar a sombra da substância e sim a substância em si mesma.


4. Ouvia-lhe as instruções, entre a emotividade e o assombro.

— Entende, agora, como é importante renunciar? Percebe a grandeza da lei de elevação pelo sacrifício? 2 A sangria estimula a produção de células vitais, na medula óssea; a poda oferece beleza, novidade e abundância nas árvores. 3 O homem que pratica verdadeiramente o bem, vive no seio de vibrações construtivas e santificantes da gratidão, da felicidade, da alegria. Não é fazer teoria de esperança. É princípio científico, sem cuja aplicação, na esfera comum, não se liberta a alma, descentralizada pela viciação nas zonas mais baixas da Natureza.

4 E porque observasse que as instruções lhe tomavam demasiado tempo, Alexandre concluiu:

— De acordo com as nossas observações, a função da epífise na vida mental é muito importante.

5 — Sim, — considerei, — compreendo agora a substancialidade de sua influenciação no sexo e entendo igualmente a dolorosa e longa tragédia sexual da Humanidade. Percebo, nitidamente, o porquê dos dramas que se sucedem, ininterruptos, as aflições que parecem nunca chegar ao fim, as ansiedades que esbarram no crime, o cipoal do sofrimento, envolvendo lares e corações…

6 — E o homem sempre disposto a viciar os centros sagrados de sua personalidade, — concluiu Alexandre, solenemente, — sempre inclinado a contrair novos débitos, mas dificilmente decidido a retificar ou pagar.

— Compreendo, compreendo…

7 E, asilando certas dúvidas, exclamei:

— Não seria então mais razoável…

O orientador cortou-me a palavra e esclareceu:

— Já sei o que deseja indagar.

E, sorrindo:

— Você pergunta se não seria mais interessante encerrar todas as experiências do sexo, sepultar as possibilidades do renascimento carnal. 8 Semelhante indagação, no entanto, é improcedente. Ninguém deve agir contra a lei. O uso respeitável dos patrimônios da vida, a união enobrecedora, a aproximação digna, constituem o programa de elevação. 9 É, portanto, indispensável distinguir entre harmonia e desequilíbrio, evitando o estacionamento em desfiladeiros fatais.

10 Ditas estas palavras, Alexandre calou-se, como orientador criterioso que deixa ao discípulo o tempo necessário para digerir a lição.


André Luiz


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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