1. HIPNOTISMO VULGAR. — No exame dos sucessos devidos ao reflexo condicionado, é importante nos detenhamos, por alguns instantes, no hipnotismo vulgar.
2 Há quem diga que o ato de
hipnotizar se filia à ciência de atuar sobre o espírito alheio, e, para
que a impressão provocada, nesse sentido, se faça duradoura e profunda
é imperioso se não desenvolva maior intimidade entre o magnetizador
e a pessoa que lhe serve de instrumento, porquanto a faculdade de hipnotizar,
para persistir em alguém, reclama dos outros obediência e respeito.
3 Reparemos o fenômeno hipnótico
em sua feição mais simples, a evidenciar-se, muita vez, em espetáculos
públicos menos edificantes.
4 O operador pede silêncio,
e, para observar quais as pessoas mais suscetíveis de receber-lhe a
influenciação, roga que todos os presentes fixem determinado objeto
ou local, proibindo perturbação e gracejo.
5 Anotamos aqui a operação
inicial do “circuito fechado”.
6 Exteriorizando-se em mais
rigoroso regime de ação e reação sobre si mesma, a corrente mental dos
assistentes capazes de entrar em sintonia com o toque de indução do
hipnotizador passa a absorver-lhe os agentes mentais, predispondo-se
a executar-lhe as ordens.
7 Semelhantes pessoas
não precisarão estar absolutamente coladas à região espacial em que
se encontra a vontade que as magnetiza. Podem estar até mesmo muito
distanciadas, sofrendo-lhe a influência através do rádio, de gravações
e da televisão. 8 Desde
que se rendam, profundamente, à sugestão inicial recebida, começam a
emitir certo tipo de onda mental com todas as potencialidades criadoras
da ideação comum, e ficam habilitadas a plasmar as formas-pensamentos
que lhes sejam sugeridas, 9
formas essas que, estruturadas pelos movimentos de ação dos princípios
mentais exteriorizados, reagem sobre elas próprias, determinando os
efeitos ou alucinações que lhes imprima a vontade a que se submetem.
10 Temos aí a perfeita conjugação
de forças ondulatórias.
2. GRAUS
DE PASSIVIDADE. — Induzidos pelo impacto de comando do hipnotizador,
os hipnotizados produzem oscilações mentais com frequência peculiar
a cada um, 2 oscilações
essas que, partindo deles, entram automaticamente em relação com a onda
de forças positivas do magnetizador, voltando a eles próprios com a
sugestão que lhes é desfechada, estabelecendo para si mesmos o campo
alucinatório em que lhe responderão aos apelos.
3 Cada instrumento, nesse
passo, após demonstrar obediência característica, revelar-se-á em determinado
grau de passividade.
4 A maioria estará em posição
de hipnose vulgar, alguns cairão em letargia e alguns raros em catalepsia
ou sonambulismo.
5 Nos dois primeiros
casos (isto é, na hipnose e na letargia), as pessoas apassivadas, à
frente do magnetizador, terão libertado, em condições anômalas, certa
classe de aglutininas mentais que facultam o sono comum, obscurecendo
os núcleos de controle do Espírito, nos diversos departamentos cerebrais.
6 Além disso, correlacionam-se
com a onda-motor da vontade a que se sujeitam, substancializando, na
conduta que lhes é imposta, os quadros que se lhes apresentem.
7 Nos dois segundos (na catalepsia
e no sonambulismo provocado), as oscilações mentais dos hipnotizados,
a reagirem sobre eles mesmos, determinam o desprendimento parcial ou
total do perispírito ou psicossoma, que, não obstante mais ou menos
liberto das células físicas, se mantém sob o domínio direto do magnetizador,
atendendo-lhe as ordenações.
3. IDEIA-TIPO E REFLEXOS INDIVIDUAIS. — Na hipnose ou na letargia, os passivos controlados executam habitualmente cenas que provocam admiração pela jogralidade com que se manifestam.
2 O hipnotizador dará,
por exemplo, a dez passivos em ação, a ideia de frio, asseverando que
a atmosfera se tornou subitamente gélida.
3 Expedirão todos eles, para
logo, ondas mentais características, associando as imagens que sejam
capazes de formular.
4 Semelhantes vibrações encontram
na onda mental do hipnotizador o agente excitante que lhes alimenta
o fluxo crescente na direção do objetivo determinado.
5 No decurso de instantes,
essas vibrações terão reagido muitas vezes sobre os cérebros que as
geram e entretecem, inclinando-os a agir como se realmente estivessem
em pleno inverno.
6 Cada um, entretanto, procederá
no vaivém das oscilações de maneira diversa.
7 Aqui, um deles abotoará
fortemente o casaco; ali, outro se encolherá, vergando a cabeça para
a frente; acolá, outro fará gestos de quem toma agasalhos, utilizando
objetos em desacordo com os que imagina, e, além, ainda outros tremerão,
impacientes, como que desamparados à ventania de um temporal.
8 O toque excitante do hipnotizador
lançou uma ideia-tipo; contudo, as mentes por ele impressionadas
responderam em sintonia, mas segundo os reflexos peculiares a si mesmas.
4. AULA DE VIOLINO. — Na mesma ordem de fenômenos, o hipnotizador sugerirá aos mesmos passivos, em sono provocado, que se encontram numa aula de música e que lhes cabe o dever de ensaiarem ao violino.
2 A mente de cada um despedirá
ondas de acordo com a ordem recebida, criando a forma-pensamento respectiva.
3 Em poucos segundos, sob
o controle do magnetizador, tê-la-ão plasmado com tanto realismo quanto
lhes seja possível.
4 Os mais achegados ao culto
do referido instrumento assumirão atitude consentânea com o estudo mentalizado,
conjugando movimentos harmoniosos, com a dignidade de um concertista,
enquanto os adventícios da música exibirão gestos grotescos, manobrando
a forma-pensamento mencionada quais se fossem crianças injuriando a
arte musical.
5 Em todos os estados
anômalos a que nos referimos, os sujets governados demonstrarão
certo grau de passividade. 6
Da hipnose semiconsciente ao sonambulismo profundo numerosas posições
se evidenciam.
5. HIPNOSE E TELEMENTAÇÃO. — Em determinados estágios da ocorrência hipnótica, verifica-se o desprendimento parcial da personalidade, com o deslocamento de centros sensoriais.
2 Ainda aí, porém, o hipnotizado,
no centro das irradiações mentais que lhe são próprias, permanece controlado
pela onda positiva da vontade a que se submete.
3 Nessa condição,
esse ou aquele passivo pode ainda representar o papel de suposta personalidade,
conforme a sugestão que o magnetizador lhe incuta. 4
O hipnotizador escolherá, de preferência, uma figura popular, um cantor,
um literato ou um regente de orquestra que esteja no âmbito de conhecimento
do passivo em ação e incliná-lo-á a sentir-se como sendo a pessoa lembrada.
5 Imediatamente o sujet
estampará, no próprio fluxo de energia mental, a figura do artista,
do escritor ou do maestro, de acordo com as possibilidades da própria
imaginação, tomará da pena, erguerá a voz, ou empunhará a forma-pensamento
de uma batuta, por ele mesmo criada, manobrando os mecanismos da mente
para substancializar a sugestão recebida.
6 Entretanto, se o magnetizador
lembra algum maestro de aldeia, ou escritor sem projeção, ou algum cantor
obscuro, conhecido apenas dele, não será tão fácil ao passivo atender-lhe
as ordens, por falta de recursos imaginativos a serem apostos por ele
mesmo nas próprias oscilações mentais, o que apenas será conseguido
após longos exercícios de telementação especializada entre ambos.
6. SUGESTÃO
E AFINIDADE. — Estabelecida a sugestão mais profunda, o hipnotizador
pode traçar ao sujet, com pleno êxito, essa ou aquela incumbência
de somenos importância, para ser executada após desperte do sono provocado,
seja oferecer um lápis ou um copo d’água a certa pessoa, 2
sugestão essa que por seu caráter elementar é absorvida pela onda mental
do passivo, em seu movimento de refluxo, incorporando-se-lhe, automaticamente,
ao centro da atenção, para que a vontade lhe dê curso no instante preciso.
3 Isso, porém, não
aconteceria de modo tão simples se a sugestão envolvesse processos de
mais alta responsabilidade na esfera da consciência, 4
porquanto, nos atos mais complexos do Espírito, para que haja sintonia
nas ações que envolvam compromisso moral, é imprescindível que a onda
do hipnotizador se case perfeitamente à onda do hipnotizado, com plena
identidade de tendências ou opiniões, qual se estivessem jungidos, moralmente,
um ao outro nos recessos da afinidade profunda.
André Luiz