1.
No dia imediato, logo que descansei de meus quefazeres cotidianos, atinentes
à tarefa comum, regressei, ansioso, ao lar de Raquel.
2 Era noite alta, encontrando
ali o amigo fiel de Segismundo e os Espíritos Construtores, operando
na intimidade afetuosa que caracteriza as reuniões das entidades superiores.
Apuleio, o chefe, recebeu-me com amabilidade.
3 A esposa de Adelino, ao
contrário da véspera, não passava bem, fisicamente. Embora mantivesse
o corpo em posição de repouso, estava superexcitada, inquieta:
— Nossa irmã Raquel, — esclareceu-me o diretor, — começa a sentir o
esforço de adaptação. Por enquanto, e, durante alguns dias, permanecerá
indisposta; todavia, a ocorrência é passageira.
4 — Não conseguirá dormir?
— perguntei.
— Mais tarde, — respondeu ele; — por agora, terá o sono reduzido, até que se
formem os folhetos blastodérmicos. É o serviço inicial do feto e não
podemos dispensar-lhe a cooperação ativa.
5 Observei, interessado, a
extraordinária movimentação celular, no desenvolvimento da estrutura
do novo corpo em formação e anotei o cuidado empregado pelos Espíritos
presentes para que o disco embrionário fosse esculturado com a exatidão
devida.
6 — A engenharia orgânica,
— exclamou o chefe do trabalho, bem humorado, — reclama bases perfeitas.
O corpo carnal é também um edifício delicado e complexo. Urge cuidar
dos alicerces com serenidade e conhecimento.
7 Reconheci que o serviço
de segmentação celular e ajustamento dos corpúsculos divididos ao molde
do corpo perispirítico, em redução, era francamente mecânico, obedecendo
a disposições naturais do campo orgânico, mas toda a entidade microscópica
do desenvolvimento da estrutura celular recebia o toque magnético das
generosas entidades em serviço, dando-me a ideia de que toda a célula-filha
era convenientemente preparada para sustentar a tarefa da iniciação
do aparelho futuro.
8 No intuito talvez de justificar
o desvelo empregado, Apuleio explicou-me, atencioso:
— Temos grandes responsabilidades na missão construtiva do mecanismo fetal. Há que remover empecilhos e auxiliar os organismos unicelulares do embrião, na intimidade do útero materno, para que a reencarnação, por vezes tão dificilmente projetada e elaborada, não venha a falhar, de início, por falta de colaboração do nosso Plano, onde são tomados os compromissos.
9 Escutava-lhe a palavra experiente
e sábia, com muita atenção, a fim de aproveitar-lhe todo o conteúdo
educativo.
— Em razão disto, — prosseguiu ele, — o aborto muito raramente se verifica
obedecendo a causas de nossa Esfera de ação. 10
Em regra geral, origina-se do recuo inesperado dos pais terrestres,
diante das sagradas obrigações assumidas ou aos excessos de leviandade
e inconsciência criminosa das mães, menos preparadas na responsabilidade
e na compreensão para este ministério divino. 11
Entretanto, mesmo aí, encontrando vasos maternais menos dignos, tudo
fazemos, por nossa vez, para opor-lhes resistência aos projetos de fuga
ao dever, quando essa fuga representa mero capricho da irresponsabilidade,
sem qualquer base em programas edificantes. 12
Claro, porém, que a nossa interferência no assunto, em se tratando de
luta aberta contra nossos amigos reencarnados, transitoriamente esquecidos
da obrigação a cumprir, tem igualmente os seus limites. Se os interessados,
retrocedendo nas decisões espirituais, perseveram sistematicamente contra
nós, somos compelidos a deixá-los entregues à própria sorte. 13
Daí, a razão de existirem muitos casais humanos, absolutamente sem a
coroa dos filhos, visto que anularam as próprias faculdades geradoras.
Quando não procederam de semelhante modo no presente, sequiosos de satisfação
egoística, agiram assim, no passado, determinando sérias anomalias na
organização psíquica que lhes é peculiar. Neste último caso, experimentam
dolorosos períodos de solidão e sede afetiva, até que refaçam, dignamente,
o patrimônio de veneração que todos nós devemos às leis de Deus.
14 As definições do chefe
dos Construtores aclaravam-me o raciocínio, referentemente a graves
problemas da luta humana.
Interessado em aprender, cooperando, busquei tomar a posição do trabalhador, procurando o serviço que me competia, no campo de auxílio magnético às organizações celulares.
Mais tarde, porém, antes de me retirar, aproximei-me do diretor, a fim de recolher algumas informações.
Impressionavam-me certas minudências do trabalho que se levara a efeito na noite anterior.
2.
Por que processo conseguira localizar-se a ligação inicial de Segismundo
ao futuro corpo, nos órgãos geradores de Raquel? E o problema do elemento
masculino mais apto? Em todos os casos de fecundação, amigos da condição
de um Alexandre deveriam funcionar no serviço de escolha?
2 Apuleio ouviu-me, com a
benevolência que caracteriza as entidades superiores, e informou:
— Passividade não significa ausência de cooperação. Quando Raquel aceitou
a tarefa maternal, fê-lo com decisão e obediência construtiva: 3
Ela recebeu Segismundo em seu organismo perispiritual, e, mobilizando
os poderes naturais de sua mente, situou-lhe o molde vivo na esfera
uterina, com a mesma espontaneidade de outros processos orgânicos, superintendidos
pela atividade mecânica subconsciente, cujo automatismo traduz a conquista
de experiências multimilenárias da alma reencarnada. 4
Para os círculos da mulher é tão fácil a ambientação das forças criativas,
como é natural para o homem a manutenção da atitude patriarcal e protetora,
enquanto perdura a existência dos laços paternais.
5 Percebendo-me a intenção
de aproveitar-lhe os informes para pequenino esforço meu, no sentido
de escrever para leitores encarnados, Apuleio acentuou:
— Teríamos grandes dificuldades em explicar aos homens terrestres o fenômeno da adaptação das energias criativas, no útero materno, nos processos da reencarnação. Por enquanto, a tendência da maioria dos nossos irmãos encarnados encaminha-se para a materialização de todos os nossos esclarecimentos. É preciso esperar mais tempo para ministrar-lhes certas informações que, por agora, seriam para eles incompreensíveis.
3.
E, sorrindo, prosseguia:
— Eles se alimentam, diariamente, de formas mentais, sem utilizarem
a boca física, valendo-se da capacidade de absorção do organismo perispirítico,
mas ainda não sentem a extensão desses fenômenos em suas experiências
diárias. 2 No lar,
na via pública, no trabalho, nas diversões, cada criatura recebe o alimento
mental que lhe é trazido por aqueles com quem convive, temperado com
o magnetismo pessoal de cada um. 3
Dessa alimentação dependem, na maioria das vezes, mormente para a imensa
percentagem de encarnados que ainda não alcançaram o domínio das próprias
emoções, os estados íntimos de felicidade ou desgosto, de prazer ou
sofrimento. 4 Segundo observa, também o homem absorve matéria mental, em todas
as horas do dia, ambientando-a dentro de si mesmo, nos círculos mais
íntimos da própria estrutura fisiológica.
5 O chefe dos Construtores
fixou-me, bem humorado, a expressão de surpresa, ao lhe receber elucidações
tão simples, em assunto tão complexo, e acrescentou:
— Em sua experiência última na Crosta, quando envergava os fluidos
carnais, nunca sentiu a perturbação do fígado, depois de um atrito verbal?
Jamais experimentou o desequilíbrio momentâneo do coração, recebendo
uma notícia angustiosa? 6
Por que a desarmonia orgânica, se a hora em curso era, muitas vezes,
de satisfação e felicidade? É que, em tais momentos, o homem recebe
“certa quantidade de força mental” em seu campo de pensamento, como
o fio recebe a “carga de eletricidade positiva”. 7
O ponto de recepção está efetivamente no cérebro, mas se a criatura
não está identificada com a lei de domínio emotivo, que manda selecionar
as emissões que chegam até nós, ambientará a força perturbadora dentro
de si mesma, na intimidade das células orgânicas, com grande prejuízo
para as zonas vulneráveis.
8 Apuleio, com muita serenidade,
fez ligeiro intervalo e considerou:
— Se é muito difícil explicar aos homens encarnados fatos rotineiros como esses a que nos referimos, repetidos com eles dezenas de vezes, durante cada dia de luta carnal, como informá-los, com exatidão e minúcias, quanto à ambientação do molde vivo para a edificação fetal na intimidade uterina? Precisamos esperar pelo concurso do tempo para conjugar as nossas experiências.
9 Animado com as elucidações
recebidas, observei:
— Tem razão. Ainda hoje, embora a minha condição de desencarnado, não me sinto à altura de receber determinadas notícias, sem alterações do meu campo emocional.
10 — Muito bem!
— Falou o diretor, satisfeito, — é que você está fazendo o longo curso
de autodomínio. Somente depois dele, saberá selecionar as forças que
o procuram, ambientando nas zonas íntimas de sua alma somente aquelas
de teor reconfortante ou construtivo.
4.
Em seguida, fornecendo-me a impressão de desejar manter-se dentro do
assunto em exame, Apuleio prosseguiu:
2 — Quanto às suas
observações alusivas à colaboração de Alexandre na escolha do elemento
masculino de fecundação, cumpre-me acentuar que não podemos contar em
todos os casos com esse concurso, que depende do setor de merecimento.
3 Entretanto, quando
o fator magnético não procede de cooperação elevada dessa ordem, devemos
considerar que ele prevalece do mesmo modo, compreendendo-se que a esfera
passiva está igualmente impregnada de energias da atração. 4
Se o elemento masculino da fecundação está repleto de força positiva,
o óvulo feminino está cheio de força receptiva. E se esse óvulo está
imantado de energias desequilibrantes, naturalmente exercerá especial
atração sobre o elemento que se aproxime da sua natureza intrínseca.
5 Em vista disso, meu
amigo, a célula masculina que atinge o óvulo em primeiro lugar, para
fecundá-lo, não é a mais apta em sentido de “superioridade”, mas em
sentido de “sintonia magnética”, em todos os casos de fecundação para
o mundo das formas. 6
Esta é a lei, pela qual os geneticistas do Globo são muitas vezes surpreendidos
em suas observações, em face das mudanças inesperadas na estrutura de
vários tipos, dentro das mesmas espécies. As células possuem também
o seu “individualismo magnético” algo independente, no campo das manifestações
vitais.
7 Nesse ponto, o diretor sorriu,
prosseguindo:
— Se a mulher pode exercer a sua influência decisiva na escolha do companheiro, também a célula feminina, na maioria das vezes, pode exercer a sua atuação na escolha do elemento que a fecundará. Claro que nos referimos aqui a problema de ciência física, sem alusão aos problemas espirituais das tarefas, missões ou provas necessárias.
8 Identificando-me o silencioso
gesto de interrogação, o diretor observou:
— Sim, porque nas obrigações determinadas de certos Espíritos na reencarnação, as autoridades de nossa Esfera de luta dispõem de suficiente poder para intervir na lei biogenética, dentro de certos limites, ajustando-lhe as disposições, a caminho de objetivos especiais.
5.
Nesse momento, porém, nossa conversação foi interrompida.
Pequeno grupo de entidades amigas pedia a presença de Apuleio, fora da câmara de serviço.
2 Muito gentil, o chefe de
trabalho convidou-me a acompanhá-lo.
Apresentou-se o grupo com desembaraço. Constituía-se de duas senhoras desencarnadas, amigas de Raquel, e de um amigo de Segismundo, desejosos de testemunhar-lhes afeto e dedicação, na experiência em curso. Vinham de nossa colônia espiritual, em serviço de assistência a familiares detidos na Crosta, e pretendiam aproveitar a oportunidade para a visita carinhosa.
3 O diretor ouviu-os, atencioso,
bem humorado, mas, com imensa surpresa para mim, observou:
— Como responsáveis pela organização primordial do novo corpo de carne do nosso irmão Segismundo, agradecemos a atenção de todos, porém não podemos autorizar a visita a esta hora. Estamos aproveitando o escasso tempo de harmonia relativa que a mente maternal nos oferece para delicados serviços de magnetização celular mais urgente.
4 E sorrindo, afável, acrescentou:
— Depois do vigésimo primeiro dia, porém, quando o embrião atingir a configuração
básica, nossos amigos podem ser visitados a qualquer hora, salientando-se
que, a esse tempo, ambos, mãe e filho, conseguirão ausentar-se do corpo
com facilidade. 5 Por
enquanto, nosso amigo Segismundo não pode afastar-se e a nossa irmã
Raquel, ainda mesmo em estado de sono físico, é obrigada a permanecer
junto de nós, a pequena distância.
6 — Não há dúvida! — Replicou
o cavalheiro de nossa Esfera, — não desejamos perturbar o desenvolvimento
do trabalho.
— Sabemos que Raquel ficaria muitíssimo comovida com o nosso abraço pessoal,
— comentou uma das senhoras. — A alegria inesperada, de qualquer modo,
é também um choque.
7 — É o que precisamos
evitar, — replicou Apuleio, satisfeito; — desejo, todavia, fazer-lhes
sentir que Segismundo necessita de amparo espiritual de todos nós. Temos
recomendação de notificar a todos os seus amigos, quanto à presente
reencarnação dele, a fim de que venham até aqui, quando lhes seja possível,
não somente para beneficiá-lo com os valores do estímulo espiritual,
senão também para colaborarem com as suas vibrações de simpatia na organização
harmoniosa do feto.
8 — Voltaremos na
primeira oportunidade, — exclamou uma das visitantes que, até ali, se
mantivera silenciosa. — Precisamos colaborar em benefício de Raquel.
E acentuou, sorridente:
— Temos uma série de excursões espirituais para as próximas noites dela. Faremos tudo por oferecer-lhe um estado dalma confiante e feliz. Diversas amigas se encontram avisadas para esse fim.
— Muito bem! — Respondeu o diretor, satisfeito.
Logo após, despediram-se os visitantes, enquanto eu registava mais uma preciosa lição do Plano espiritual.
6.
A sós, de novo, Apuleio esclareceu-me, bondoso:
— O momento que atravessamos é delicado e não podemos distrair a atenção.
2 E, noite a noite, penetrei
a câmara de trabalho reencarnacionista, aprendendo e cooperando, para
melhor conhecer a generosidade dos Benfeitores Espirituais e a Sabedoria
de Deus, manifesta em todas as coisas.
3 Depois da vesícula germinal,
com a cooperação magnética dos Construtores para cada célula, formaram-se
os três folhetos blastodérmicos, aproveitando-se o molde que Raquel
idealizara mentalmente para o futuro filhinho, que foi aplicado sobre
o modelo vivo de Segismundo, em processo de nova reencarnação.
4 Reparei que os trabalhos
dos técnicos espirituais eram, em tudo, semelhantes aos serviços que
acompanhara na sessão de materialização de desencarnados. ( † )
Tomava-se o concurso do interessado, valia-se da colaboração de Raquel,
que, no caso, tomava a função de “médium” da vida, mobilizavam-se amigos,
utilizava-se de recursos magnéticos, requisitava-se o auxílio direto
e positivo de Adelino, o futuro pai de Segismundo, como se requeria,
na sessão, o concurso do orientador mediúnico sobre as forças passivas
da intermediária. 5
O símile era completo, apenas com a diferença de que, nos trabalhos
de materialização dos desencarnados, gastavam-se algumas horas de preparação
para um ressurgimento incompleto e transitório, ao passo que ali se
gastariam nove meses consecutivos para uma reencarnação tangível da
alma, em caráter mais ou menos longo e definitivo.
6 Com o transcurso dos dias,
formava-se o novo corpo de Segismundo, célula a célula, dentro dum plano
simples e inteligente.
Prosseguindo nas observações metódicas, verifiquei que o folheto blastodérmico
inferior, obedecendo às disposições do molde vivo, enrolava-se, apresentando
os primórdios do tubo intestinal, ao passo que o folheto superior tomava
o mesmo impulso de enrolamento, formando os tubos epidérmico e nervoso.
O folheto médio, assumindo feição especialíssima, dava lugar às primeiras
manifestações da coluna vertebral, dos músculos e vasos diversos.
7 O tubo intestinal,
em certas regiões, começou a dilatar-se, dando origem ao estômago e
às alças de vária espécie e revelando, em seguida, determinados movimentos
de invaginação, interna e externamente, organizava, aos poucos, as estrias
inferiores e superiores, constituídas de pregas, vilosidades e glândulas.
8 O tubo cutâneo começou
o serviço de estruturação complicada da pele, ao mesmo tempo que o tubo
nervoso dobrava-se paulatinamente sobre si mesmo, preparando a oficina
encefálica. 9 Enquanto
isso ocorria, as substâncias do folheto médio transformavam-se de modo
surpreendente. E, dia a dia, eram para mim cada vez mais belas as lições
que recebia, observando, então, por que disposições maravilhosas segmenta-se
o cordão axial em vértebras que abraçam o tubo nervoso na parte superior
e o tubo intestinal na zona inferior.
10 O serviço dos Espíritos
Construtores, aliado à dedicação de Herculano, revelava ensinamentos
sempre novos.
Não seria possível descrever-lhes as minúcias de carinho na construção da nova
morada carnal de Segismundo. Trabalhavam com zelo inexcedível, desenvolvendo
vasto sistema de garantia das organizações celulares. 11
Por vezes, nos pródromos da formação dos órgãos mais importantes, detinham-se
em oração, suplicando as bênçãos de Jesus para a tarefa iniciada e observei
que, sempre que isso acontecia, brilhantes luzes, procedentes do Alto,
derramavam-se através da câmara, incentivando-lhes a ação.
12 O trabalho assumia características
de verdadeira revelação divina. Para fixá-lo em particularidades, seria
preciso esquecer a finalidade doutrinária de nossas singelas observações,
resvalando para o campo da técnica, propriamente dita, esforço descritivo
esse que tem sido objeto de longas considerações dos tratadistas do
assunto e que devem servir ao investigador de puras informações de ordem
material, nos setores da inteligência.
13 A primeira célula da fecundação
estava transformada num verdadeiro mundo de organização ativa e sábia.
O embrião revelava-se notavelmente desenvolvido.
14 Na parte anterior, o tubo
intestinal dava origem ao esôfago, enquanto que o intestino, com as
suas disposições complexas, situava-se na região posterior; internamente,
fizera-se nele perfeito serviço de pregueamento, salientando-se que,
na zona interior, se formavam pregas e vilosidades, e, na parte exterior,
se organizavam saliências que, por sua vez, pouco a pouco se convertiam
em glândulas diversas.
15 Prosseguia, célere, a formação
dos vários departamentos cerebrais, a preparação das glândulas sudoríparas
e sebáceas, os órgãos autônomos, os vasos sanguíneos, os músculos e
ossos.
16 No vigésimo dia de serviço,
Apuleio mostrava-se muito satisfeito. Informou-me de que o trabalho
básico estava pronto. Alguns cooperadores poderiam mesmo afastar-se.
Para a continuidade da tarefa bastariam dois deles, associados ao esforço
contínuo de Herculano.
17 Nesse dia, a futura forma
física de Segismundo, acomodada no líquido amniótico, proporcionou-me
a perfeita impressão de um peixe. Não faltavam, para isto, nem mesmo
as reentrâncias branquiais que se revelavam no feto, com exatidão absoluta,
falando-nos do serviço de recapitulação em curso e das reminiscências
das velhas épocas de nossa passagem pelas correntes marinhas.
7.
Na noite do vigésimo primeiro dia, abriu-se a porta magnética da câmara
de Raquel à visitação afetiva.
2 Não foram poucos os amigos
espirituais que aguardavam o momento feliz.
A futura mãezinha, desligada do corpo pela doce influência do sono, sentia-se aliviada e quase ditosa.
3 Apuleio e os companheiros,
bem como Herculano, foram cumprimentados com alegria e emoção.
Alguns amigos de Adelino haviam chegado, igualmente, no propósito de felicitá-lo e de prestar-lhe o concurso possível.
4 Notei que Segismundo fora
igualmente aliviado. Os fios tenuíssimos que ligam os encarnados ao
aparelho físico, quando em estado de temporária libertação, prendiam-no
também à organização fetal. À medida que Raquel se afastava, também
ele podia afastar-se, não lhe sendo, porém, possível abandonar a companhia
maternal. Raquel asilava-o nos braços carinhosos, enquanto sorria, ali
conosco, fora do campo material mais denso.
5 Reconheci que a
trégua se verificara para todos, com exceção de Herculano, que não arredou
da câmara, mantendo-se vigilante. Os Construtores, de modo geral, estabeleceram
uma grande pausa no serviço, e enquanto os amigos de Adelino o conduziam
a Planos diferentes, para certas informações que lhe eram necessárias,
acompanhei o grupo que formava com Raquel e o filhinho uma assembleia
de esperança e alegria. 6
Muitas afeições reunidas conduziam-nos, a ambos, a extenso jardim da
própria Crosta e, no momento em que o Sol anunciava, de longe, o seu
reaparecimento no hemisfério, oramos em conjunto, louvando a bondade
de Deus, que nos enchera de bênçãos o caminho evolutivo.
7 Em seguida, reparei
que muitos amigos desencarnados, ali presentes, compunham tônicos e
bálsamos reconfortadores com as emanações das plantas e das flores,
derramando-os sobre Raquel e o filhinho, fortificando-os para a luta.
Era belo identificar-lhes o carinho fraternal naquelas demonstrações de
devotamento e ternura. 8
Aprendia, extasiado, mais uma lição, na Esfera espiritual. Como as aves
viajoras que sabem buscar longe a penugem suave para o ninho e o precioso
alimento para os filhotinhos recém-natos, a alma das mães devotadas
e carinhosas sabe atravessar grandes distâncias, à procura de elementos
cariciosos para a formação do ninho de carne em que um filhinho bem-amado
deve renascer.
8.
O serviço de organização fetal continuou normalmente, em vista dos
hábitos respeitáveis do casal, que, dia a dia, parecia mais integrado
com a assistência de nossa Esfera de ação.
2 O desenvolvimento
da futura forma de Segismundo compelia Raquel a verdadeiros sacrifícios
orgânicos; contudo, em cada noite, pela madrugada, repetiam-se as excursões
espirituais que ela e o filho recebiam dos afetos de nosso Plano. 3
O trabalho de Herculano mereceu a cooperação de inúmeros amigos. Rara
a noite em que não vinham Espíritos, agradecidos a Segismundo, velar
pela harmonia da sua nova reencarnação, prestando à casa, aos pais e
a ele os mais variados auxílios.
4 Terminado o período de minhas
observações fundamentais, também eu não voltei ao lar de Adelino com
a mesma assiduidade. Não obstante prosseguir interessado no trabalho
em processo, somente regressava à câmara da reencarnação, de tempos
a tempos, compelido por outro gênero de serviços, junto de Alexandre.
5 Mas, na véspera do nascimento
da nova forma física de Segismundo, lá compareci, em companhia do meu
venerável orientador, que fazia questão de cooperar para o fortalecimento
maternal, no momento culminante.
Depois de prolongados esforços em que senti, mais uma vez, a sublime
glorificação da esposa-mãe, Segismundo renascia…
6 Assombrado com a vigorosa
assistência espiritual que a nossa Esfera dispensava ao assunto, ouvi
Alexandre falar comovido:
— Está pronto o serviço de reencarnação inicial. O trabalho completo, com a plena integração de nosso amigo nos elementos físicos, somente se verificará de agora a sete anos!
7 Admirado e enternecido
em minhas fibras mais íntimas, envolvi-me nas preces de agradecimento
que formulávamos ao Senhor, reconhecendo o tesouro divino que constituía
a dádiva dum corpo carnal para a nossa experiência e aprendizado na
superfície da Terra.
André Luiz