O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Missionários da Luz — André Luiz


14

Proteção

(Sumário)

1. No dia imediato, logo que descansei de meus quefazeres cotidianos, atinentes à tarefa comum, regressei, ansioso, ao lar de Raquel.

2 Era noite alta, encontrando ali o amigo fiel de Segismundo e os Espíritos Construtores, operando na intimidade afetuosa que caracteriza as reuniões das entidades superiores.

Apuleio, o chefe, recebeu-me com amabilidade.

3 A esposa de Adelino, ao contrário da véspera, não passava bem, fisicamente. Embora mantivesse o corpo em posição de repouso, estava superexcitada, inquieta:

— Nossa irmã Raquel, — esclareceu-me o diretor, — começa a sentir o esforço de adaptação. Por enquanto, e, durante alguns dias, permanecerá indisposta; todavia, a ocorrência é passageira.

4 — Não conseguirá dormir? — perguntei.

— Mais tarde, — respondeu ele; — por agora, terá o sono reduzido, até que se formem os folhetos blastodérmicos. É o serviço inicial do feto e não podemos dispensar-lhe a cooperação ativa.

5 Observei, interessado, a extraordinária movimentação celular, no desenvolvimento da estrutura do novo corpo em formação e anotei o cuidado empregado pelos Espíritos presentes para que o disco embrionário fosse esculturado com a exatidão devida.

6 — A engenharia orgânica, — exclamou o chefe do trabalho, bem humorado, — reclama bases perfeitas. O corpo carnal é também um edifício delicado e complexo. Urge cuidar dos alicerces com serenidade e conhecimento.

7 Reconheci que o serviço de segmentação celular e ajustamento dos corpúsculos divididos ao molde do corpo perispirítico, em redução, era francamente mecânico, obedecendo a disposições naturais do campo orgânico, mas toda a entidade microscópica do desenvolvimento da estrutura celular recebia o toque magnético das generosas entidades em serviço, dando-me a ideia de que toda a célula-filha era convenientemente preparada para sustentar a tarefa da iniciação do aparelho futuro.

8 No intuito talvez de justificar o desvelo empregado, Apuleio explicou-me, atencioso:

— Temos grandes responsabilidades na missão construtiva do mecanismo fetal. Há que remover empecilhos e auxiliar os organismos unicelulares do embrião, na intimidade do útero materno, para que a reencarnação, por vezes tão dificilmente projetada e elaborada, não venha a falhar, de início, por falta de colaboração do nosso Plano, onde são tomados os compromissos.

9 Escutava-lhe a palavra experiente e sábia, com muita atenção, a fim de aproveitar-lhe todo o conteúdo educativo.

— Em razão disto, — prosseguiu ele, — o aborto muito raramente se verifica obedecendo a causas de nossa Esfera de ação. 10 Em regra geral, origina-se do recuo inesperado dos pais terrestres, diante das sagradas obrigações assumidas ou aos excessos de leviandade e inconsciência criminosa das mães, menos preparadas na responsabilidade e na compreensão para este ministério divino. 11 Entretanto, mesmo aí, encontrando vasos maternais menos dignos, tudo fazemos, por nossa vez, para opor-lhes resistência aos projetos de fuga ao dever, quando essa fuga representa mero capricho da irresponsabilidade, sem qualquer base em programas edificantes. 12 Claro, porém, que a nossa interferência no assunto, em se tratando de luta aberta contra nossos amigos reencarnados, transitoriamente esquecidos da obrigação a cumprir, tem igualmente os seus limites. Se os interessados, retrocedendo nas decisões espirituais, perseveram sistematicamente contra nós, somos compelidos a deixá-los entregues à própria sorte. 13 Daí, a razão de existirem muitos casais humanos, absolutamente sem a coroa dos filhos, visto que anularam as próprias faculdades geradoras. Quando não procederam de semelhante modo no presente, sequiosos de satisfação egoística, agiram assim, no passado, determinando sérias anomalias na organização psíquica que lhes é peculiar. Neste último caso, experimentam dolorosos períodos de solidão e sede afetiva, até que refaçam, dignamente, o patrimônio de veneração que todos nós devemos às leis de Deus.

14 As definições do chefe dos Construtores aclaravam-me o raciocínio, referentemente a graves problemas da luta humana.

Interessado em aprender, cooperando, busquei tomar a posição do trabalhador, procurando o serviço que me competia, no campo de auxílio magnético às organizações celulares.

Mais tarde, porém, antes de me retirar, aproximei-me do diretor, a fim de recolher algumas informações.

Impressionavam-me certas minudências do trabalho que se levara a efeito na noite anterior.


2. Por que processo conseguira localizar-se a ligação inicial de Segismundo ao futuro corpo, nos órgãos geradores de Raquel? E o problema do elemento masculino mais apto? Em todos os casos de fecundação, amigos da condição de um Alexandre deveriam funcionar no serviço de escolha?

2 Apuleio ouviu-me, com a benevolência que caracteriza as entidades superiores, e informou:

— Passividade não significa ausência de cooperação. Quando Raquel aceitou a tarefa maternal, fê-lo com decisão e obediência construtiva: 3 Ela recebeu Segismundo em seu organismo perispiritual, e, mobilizando os poderes naturais de sua mente, situou-lhe o molde vivo na esfera uterina, com a mesma espontaneidade de outros processos orgânicos, superintendidos pela atividade mecânica subconsciente, cujo automatismo traduz a conquista de experiências multimilenárias da alma reencarnada. 4 Para os círculos da mulher é tão fácil a ambientação das forças criativas, como é natural para o homem a manutenção da atitude patriarcal e protetora, enquanto perdura a existência dos laços paternais.

5 Percebendo-me a intenção de aproveitar-lhe os informes para pequenino esforço meu, no sentido de escrever para leitores encarnados, Apuleio acentuou:

— Teríamos grandes dificuldades em explicar aos homens terrestres o fenômeno da adaptação das energias criativas, no útero materno, nos processos da reencarnação. Por enquanto, a tendência da maioria dos nossos irmãos encarnados encaminha-se para a materialização de todos os nossos esclarecimentos. É preciso esperar mais tempo para ministrar-lhes certas informações que, por agora, seriam para eles incompreensíveis.


3. E, sorrindo, prosseguia:

— Eles se alimentam, diariamente, de formas mentais, sem utilizarem a boca física, valendo-se da capacidade de absorção do organismo perispirítico, mas ainda não sentem a extensão desses fenômenos em suas experiências diárias. 2 No lar, na via pública, no trabalho, nas diversões, cada criatura recebe o alimento mental que lhe é trazido por aqueles com quem convive, temperado com o magnetismo pessoal de cada um. 3 Dessa alimentação dependem, na maioria das vezes, mormente para a imensa percentagem de encarnados que ainda não alcançaram o domínio das próprias emoções, os estados íntimos de felicidade ou desgosto, de prazer ou sofrimento. 4 Segundo observa, também o homem absorve matéria mental, em todas as horas do dia, ambientando-a dentro de si mesmo, nos círculos mais íntimos da própria estrutura fisiológica.

5 O chefe dos Construtores fixou-me, bem humorado, a expressão de surpresa, ao lhe receber elucidações tão simples, em assunto tão complexo, e acrescentou:

— Em sua experiência última na Crosta, quando envergava os fluidos carnais, nunca sentiu a perturbação do fígado, depois de um atrito verbal? Jamais experimentou o desequilíbrio momentâneo do coração, recebendo uma notícia angustiosa? 6 Por que a desarmonia orgânica, se a hora em curso era, muitas vezes, de satisfação e felicidade? É que, em tais momentos, o homem recebe “certa quantidade de força mental” em seu campo de pensamento, como o fio recebe a “carga de eletricidade positiva”. 7 O ponto de recepção está efetivamente no cérebro, mas se a criatura não está identificada com a lei de domínio emotivo, que manda selecionar as emissões que chegam até nós, ambientará a força perturbadora dentro de si mesma, na intimidade das células orgânicas, com grande prejuízo para as zonas vulneráveis.

8 Apuleio, com muita serenidade, fez ligeiro intervalo e considerou:

— Se é muito difícil explicar aos homens encarnados fatos rotineiros como esses a que nos referimos, repetidos com eles dezenas de vezes, durante cada dia de luta carnal, como informá-los, com exatidão e minúcias, quanto à ambientação do molde vivo para a edificação fetal na intimidade uterina? Precisamos esperar pelo concurso do tempo para conjugar as nossas experiências.

9 Animado com as elucidações recebidas, observei:

— Tem razão. Ainda hoje, embora a minha condição de desencarnado, não me sinto à altura de receber determinadas notícias, sem alterações do meu campo emocional.

10 — Muito bem! — Falou o diretor, satisfeito, — é que você está fazendo o longo curso de autodomínio. Somente depois dele, saberá selecionar as forças que o procuram, ambientando nas zonas íntimas de sua alma somente aquelas de teor reconfortante ou construtivo.


4. Em seguida, fornecendo-me a impressão de desejar manter-se dentro do assunto em exame, Apuleio prosseguiu:

2 — Quanto às suas observações alusivas à colaboração de Alexandre na escolha do elemento masculino de fecundação, cumpre-me acentuar que não podemos contar em todos os casos com esse concurso, que depende do setor de merecimento. 3 Entretanto, quando o fator magnético não procede de cooperação elevada dessa ordem, devemos considerar que ele prevalece do mesmo modo, compreendendo-se que a esfera passiva está igualmente impregnada de energias da atração. 4 Se o elemento masculino da fecundação está repleto de força positiva, o óvulo feminino está cheio de força receptiva. E se esse óvulo está imantado de energias desequilibrantes, naturalmente exercerá especial atração sobre o elemento que se aproxime da sua natureza intrínseca. 5 Em vista disso, meu amigo, a célula masculina que atinge o óvulo em primeiro lugar, para fecundá-lo, não é a mais apta em sentido de “superioridade”, mas em sentido de “sintonia magnética”, em todos os casos de fecundação para o mundo das formas. 6 Esta é a lei, pela qual os geneticistas do Globo são muitas vezes surpreendidos em suas observações, em face das mudanças inesperadas na estrutura de vários tipos, dentro das mesmas espécies. As células possuem também o seu “individualismo magnético” algo independente, no campo das manifestações vitais.

7 Nesse ponto, o diretor sorriu, prosseguindo:

— Se a mulher pode exercer a sua influência decisiva na escolha do companheiro, também a célula feminina, na maioria das vezes, pode exercer a sua atuação na escolha do elemento que a fecundará. Claro que nos referimos aqui a problema de ciência física, sem alusão aos problemas espirituais das tarefas, missões ou provas necessárias.

8 Identificando-me o silencioso gesto de interrogação, o diretor observou:

— Sim, porque nas obrigações determinadas de certos Espíritos na reencarnação, as autoridades de nossa Esfera de luta dispõem de suficiente poder para intervir na lei biogenética, dentro de certos limites, ajustando-lhe as disposições, a caminho de objetivos especiais.


5. Nesse momento, porém, nossa conversação foi interrompida.

Pequeno grupo de entidades amigas pedia a presença de Apuleio, fora da câmara de serviço.

2 Muito gentil, o chefe de trabalho convidou-me a acompanhá-lo.

Apresentou-se o grupo com desembaraço. Constituía-se de duas senhoras desencarnadas, amigas de Raquel, e de um amigo de Segismundo, desejosos de testemunhar-lhes afeto e dedicação, na experiência em curso. Vinham de nossa colônia espiritual, em serviço de assistência a familiares detidos na Crosta, e pretendiam aproveitar a oportunidade para a visita carinhosa.

3 O diretor ouviu-os, atencioso, bem humorado, mas, com imensa surpresa para mim, observou:

— Como responsáveis pela organização primordial do novo corpo de carne do nosso irmão Segismundo, agradecemos a atenção de todos, porém não podemos autorizar a visita a esta hora. Estamos aproveitando o escasso tempo de harmonia relativa que a mente maternal nos oferece para delicados serviços de magnetização celular mais urgente.

4 E sorrindo, afável, acrescentou:

— Depois do vigésimo primeiro dia, porém, quando o embrião atingir a configuração básica, nossos amigos podem ser visitados a qualquer hora, salientando-se que, a esse tempo, ambos, mãe e filho, conseguirão ausentar-se do corpo com facilidade. 5 Por enquanto, nosso amigo Segismundo não pode afastar-se e a nossa irmã Raquel, ainda mesmo em estado de sono físico, é obrigada a permanecer junto de nós, a pequena distância.

6 — Não há dúvida! — Replicou o cavalheiro de nossa Esfera, — não desejamos perturbar o desenvolvimento do trabalho.

— Sabemos que Raquel ficaria muitíssimo comovida com o nosso abraço pessoal, — comentou uma das senhoras. — A alegria inesperada, de qualquer modo, é também um choque.

7 — É o que precisamos evitar, — replicou Apuleio, satisfeito; — desejo, todavia, fazer-lhes sentir que Segismundo necessita de amparo espiritual de todos nós. Temos recomendação de notificar a todos os seus amigos, quanto à presente reencarnação dele, a fim de que venham até aqui, quando lhes seja possível, não somente para beneficiá-lo com os valores do estímulo espiritual, senão também para colaborarem com as suas vibrações de simpatia na organização harmoniosa do feto.

8 — Voltaremos na primeira oportunidade, — exclamou uma das visitantes que, até ali, se mantivera silenciosa. — Precisamos colaborar em benefício de Raquel.

E acentuou, sorridente:

— Temos uma série de excursões espirituais para as próximas noites dela. Faremos tudo por oferecer-lhe um estado dalma confiante e feliz. Diversas amigas se encontram avisadas para esse fim.

— Muito bem! — Respondeu o diretor, satisfeito.

Logo após, despediram-se os visitantes, enquanto eu registava mais uma preciosa lição do Plano espiritual.


6. A sós, de novo, Apuleio esclareceu-me, bondoso:

— O momento que atravessamos é delicado e não podemos distrair a atenção.

2 E, noite a noite, penetrei a câmara de trabalho reencarnacionista, aprendendo e cooperando, para melhor conhecer a generosidade dos Benfeitores Espirituais e a Sabedoria de Deus, manifesta em todas as coisas.

3 Depois da vesícula germinal, com a cooperação magnética dos Construtores para cada célula, formaram-se os três folhetos blastodérmicos, aproveitando-se o molde que Raquel idealizara mentalmente para o futuro filhinho, que foi aplicado sobre o modelo vivo de Segismundo, em processo de nova reencarnação.

4 Reparei que os trabalhos dos técnicos espirituais eram, em tudo, semelhantes aos serviços que acompanhara na sessão de materialização de desencarnados. ( † ) Tomava-se o concurso do interessado, valia-se da colaboração de Raquel, que, no caso, tomava a função de “médium” da vida, mobilizavam-se amigos, utilizava-se de recursos magnéticos, requisitava-se o auxílio direto e positivo de Adelino, o futuro pai de Segismundo, como se requeria, na sessão, o concurso do orientador mediúnico sobre as forças passivas da intermediária. 5 O símile era completo, apenas com a diferença de que, nos trabalhos de materialização dos desencarnados, gastavam-se algumas horas de preparação para um ressurgimento incompleto e transitório, ao passo que ali se gastariam nove meses consecutivos para uma reencarnação tangível da alma, em caráter mais ou menos longo e definitivo.

6 Com o transcurso dos dias, formava-se o novo corpo de Segismundo, célula a célula, dentro dum plano simples e inteligente.

Prosseguindo nas observações metódicas, verifiquei que o folheto blastodérmico inferior, obedecendo às disposições do molde vivo, enrolava-se, apresentando os primórdios do tubo intestinal, ao passo que o folheto superior tomava o mesmo impulso de enrolamento, formando os tubos epidérmico e nervoso. O folheto médio, assumindo feição especialíssima, dava lugar às primeiras manifestações da coluna vertebral, dos músculos e vasos diversos.

7 O tubo intestinal, em certas regiões, começou a dilatar-se, dando origem ao estômago e às alças de vária espécie e revelando, em seguida, determinados movimentos de invaginação, interna e externamente, organizava, aos poucos, as estrias inferiores e superiores, constituídas de pregas, vilosidades e glândulas. 8 O tubo cutâneo começou o serviço de estruturação complicada da pele, ao mesmo tempo que o tubo nervoso dobrava-se paulatinamente sobre si mesmo, preparando a oficina encefálica. 9 Enquanto isso ocorria, as substâncias do folheto médio transformavam-se de modo surpreendente. E, dia a dia, eram para mim cada vez mais belas as lições que recebia, observando, então, por que disposições maravilhosas segmenta-se o cordão axial em vértebras que abraçam o tubo nervoso na parte superior e o tubo intestinal na zona inferior.

10 O serviço dos Espíritos Construtores, aliado à dedicação de Herculano, revelava ensinamentos sempre novos.

Não seria possível descrever-lhes as minúcias de carinho na construção da nova morada carnal de Segismundo. Trabalhavam com zelo inexcedível, desenvolvendo vasto sistema de garantia das organizações celulares. 11 Por vezes, nos pródromos da formação dos órgãos mais importantes, detinham-se em oração, suplicando as bênçãos de Jesus para a tarefa iniciada e observei que, sempre que isso acontecia, brilhantes luzes, procedentes do Alto, derramavam-se através da câmara, incentivando-lhes a ação.

12 O trabalho assumia características de verdadeira revelação divina. Para fixá-lo em particularidades, seria preciso esquecer a finalidade doutrinária de nossas singelas observações, resvalando para o campo da técnica, propriamente dita, esforço descritivo esse que tem sido objeto de longas considerações dos tratadistas do assunto e que devem servir ao investigador de puras informações de ordem material, nos setores da inteligência.

13 A primeira célula da fecundação estava transformada num verdadeiro mundo de organização ativa e sábia. O embrião revelava-se notavelmente desenvolvido.

14 Na parte anterior, o tubo intestinal dava origem ao esôfago, enquanto que o intestino, com as suas disposições complexas, situava-se na região posterior; internamente, fizera-se nele perfeito serviço de pregueamento, salientando-se que, na zona interior, se formavam pregas e vilosidades, e, na parte exterior, se organizavam saliências que, por sua vez, pouco a pouco se convertiam em glândulas diversas.

15 Prosseguia, célere, a formação dos vários departamentos cerebrais, a preparação das glândulas sudoríparas e sebáceas, os órgãos autônomos, os vasos sanguíneos, os músculos e ossos.

16 No vigésimo dia de serviço, Apuleio mostrava-se muito satisfeito. Informou-me de que o trabalho básico estava pronto. Alguns cooperadores poderiam mesmo afastar-se. Para a continuidade da tarefa bastariam dois deles, associados ao esforço contínuo de Herculano.

17 Nesse dia, a futura forma física de Segismundo, acomodada no líquido amniótico, proporcionou-me a perfeita impressão de um peixe. Não faltavam, para isto, nem mesmo as reentrâncias branquiais que se revelavam no feto, com exatidão absoluta, falando-nos do serviço de recapitulação em curso e das reminiscências das velhas épocas de nossa passagem pelas correntes marinhas.


7. Na noite do vigésimo primeiro dia, abriu-se a porta magnética da câmara de Raquel à visitação afetiva.

2 Não foram poucos os amigos espirituais que aguardavam o momento feliz.

A futura mãezinha, desligada do corpo pela doce influência do sono, sentia-se aliviada e quase ditosa.

3 Apuleio e os companheiros, bem como Herculano, foram cumprimentados com alegria e emoção.

Alguns amigos de Adelino haviam chegado, igualmente, no propósito de felicitá-lo e de prestar-lhe o concurso possível.

4 Notei que Segismundo fora igualmente aliviado. Os fios tenuíssimos que ligam os encarnados ao aparelho físico, quando em estado de temporária libertação, prendiam-no também à organização fetal. À medida que Raquel se afastava, também ele podia afastar-se, não lhe sendo, porém, possível abandonar a companhia maternal. Raquel asilava-o nos braços carinhosos, enquanto sorria, ali conosco, fora do campo material mais denso.

5 Reconheci que a trégua se verificara para todos, com exceção de Herculano, que não arredou da câmara, mantendo-se vigilante. Os Construtores, de modo geral, estabeleceram uma grande pausa no serviço, e enquanto os amigos de Adelino o conduziam a Planos diferentes, para certas informações que lhe eram necessárias, acompanhei o grupo que formava com Raquel e o filhinho uma assembleia de esperança e alegria. 6 Muitas afeições reunidas conduziam-nos, a ambos, a extenso jardim da própria Crosta e, no momento em que o Sol anunciava, de longe, o seu reaparecimento no hemisfério, oramos em conjunto, louvando a bondade de Deus, que nos enchera de bênçãos o caminho evolutivo.

7 Em seguida, reparei que muitos amigos desencarnados, ali presentes, compunham tônicos e bálsamos reconfortadores com as emanações das plantas e das flores, derramando-os sobre Raquel e o filhinho, fortificando-os para a luta. Era belo identificar-lhes o carinho fraternal naquelas demonstrações de devotamento e ternura. 8 Aprendia, extasiado, mais uma lição, na Esfera espiritual. Como as aves viajoras que sabem buscar longe a penugem suave para o ninho e o precioso alimento para os filhotinhos recém-natos, a alma das mães devotadas e carinhosas sabe atravessar grandes distâncias, à procura de elementos cariciosos para a formação do ninho de carne em que um filhinho bem-amado deve renascer.


8. O serviço de organização fetal continuou normalmente, em vista dos hábitos respeitáveis do casal, que, dia a dia, parecia mais integrado com a assistência de nossa Esfera de ação.

2 O desenvolvimento da futura forma de Segismundo compelia Raquel a verdadeiros sacrifícios orgânicos; contudo, em cada noite, pela madrugada, repetiam-se as excursões espirituais que ela e o filho recebiam dos afetos de nosso Plano. 3 O trabalho de Herculano mereceu a cooperação de inúmeros amigos. Rara a noite em que não vinham Espíritos, agradecidos a Segismundo, velar pela harmonia da sua nova reencarnação, prestando à casa, aos pais e a ele os mais variados auxílios.

4 Terminado o período de minhas observações fundamentais, também eu não voltei ao lar de Adelino com a mesma assiduidade. Não obstante prosseguir interessado no trabalho em processo, somente regressava à câmara da reencarnação, de tempos a tempos, compelido por outro gênero de serviços, junto de Alexandre.

5 Mas, na véspera do nascimento da nova forma física de Segismundo, lá compareci, em companhia do meu venerável orientador, que fazia questão de cooperar para o fortalecimento maternal, no momento culminante.

Depois de prolongados esforços em que senti, mais uma vez, a sublime glorificação da esposa-mãe, Segismundo renascia…

6 Assombrado com a vigorosa assistência espiritual que a nossa Esfera dispensava ao assunto, ouvi Alexandre falar comovido:

— Está pronto o serviço de reencarnação inicial. O trabalho completo, com a plena integração de nosso amigo nos elementos físicos, somente se verificará de agora a sete anos!

7 Admirado e enternecido em minhas fibras mais íntimas, envolvi-me nas preces de agradecimento que formulávamos ao Senhor, reconhecendo o tesouro divino que constituía a dádiva dum corpo carnal para a nossa experiência e aprendizado na superfície da Terra.


André Luiz


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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