1.
A sala em que fomos recebidos pelo sacerdote Gregório semelhava-se a
estranho santuário, cuja luz interior se alimentava de tochas ardentes.
2 Sentado em pequeno trono
que lhe singularizava a figura no desagradável ambiente, a exótica personagem
rodeava-se de mais de cem entidades em atitude adorativa. Dois áulicos,
extravagantemente vestidos, manejavam grandes turíbulos, em cujo bojo
se consumiam substâncias perfumadas, de violentas emanações.
3 Trajava ele uma túnica escarlate
e nimbava-se de halo pardo-escuro, cujos raios, inquietantes e contundentes,
nos feriam a retina.
4 Fixou em nós o olhar percuciente
e inquiridor e estendeu-nos a destra, dando-nos a entender que podíamos
aproximar-nos.
Fortemente empolgado, acompanhei Gúbio.
5 Quem seria Gregório naquele
recinto? Um chefe tirânico ou um ídolo vivo, saturado de misterioso
poder?
Doze criaturas, ladeando-lhe o dourado assento, ajoelhavam-se, humildes,
atentas às ordens que lhe emanassem da boca.
6 Com um simples gesto determinou
regime sigiloso para a conversação que entabularia conosco, porque,
em alguns segundos, o recinto se esvaziou de quantos dentro dele se
achavam, estranhos à nossa presença.
7 Compreendi que cogitaríamos
de grave assunto e fitei nosso orientador para copiar-lhe os movimentos.
Gúbio, seguido por Elói e por mim, a reduzida distância, acercou-se do anfitrião que o contemplava de fisionomia rude, passando, de minha parte, a espreitar o esforço de nosso Instrutor para contornar os obstáculos do momento, de modo a não classificar-se por mentiroso, à face da própria consciência.
8 Cumprimentou-o Gregório,
exibindo fingida complacência, e falou:
— Lembra-te de que sou juiz, mandatário do governo forte aqui estabelecido. Não deves, pois, faltar à verdade.
Decorrida pequena pausa, acrescentou:
— Em nosso primeiro encontro, enunciaste um nome…
— Sim, — respondeu Gúbio, sereno, — o de uma benfeitora.
— Repete-o! — Ordenou o sacerdote, imperativo.
— Matilde. n
9 O semblante de Gregório
fez-se sombrio e angustiado. Dir-se-ia recebera naquele instante tremenda
punhalada invisível. Dissimulou, no entanto, dura impassibilidade e,
com a firmeza de um administrador orgulhoso e torturado, inquiriu:
— Que tem de comum comigo semelhante criatura?
10 Nosso orientador redarguiu,
sem afetação:
— Asseverou-nos querer-te com desvelado amor materno.
11 — Evidente engano!
— Aduziu Gregório, ferino, — minha mãe separou-se de mim, há alguns
séculos. Ao demais, ainda que me interessasse tal reencontro, estamos
fundamentalmente divorciados um do outro. Ela serve ao Cordeiro, eu
sirvo aos Dragões. n
2.
Aquela particularidade da palestra bastava para que minha curiosidade
explodisse, indômita. 2
Quem seriam os Dragões a que se reportava? Gênios satânicos da lenda
de todos os tempos? Espíritos caídos no caminho evolucionário, de inteligência
voltada contra os princípios salutares e redentores do Cristo, que todos
veneramos na condição do Cordeiro de Deus? 3
Sem dúvida, não me equivocava; no entanto, Gúbio lançou-me significativo
olhar, certamente depois de sondar-me, em silêncio, a perquirição íntima,
convidando-me, sem palavras, a selar os lábios entreabertos de assombro.
4 Indiscutivelmente, aquele
instante não comportava a conversação dum aprendiz e devia destinar-se
às manifestações conscientes e seguras de um mestre.
5 — Respeitável sacerdote,
— obtemperou o nosso orientador, com grande surpresa para mim, — não
te posso discutir os motivos pessoais. Sei que há uma ordem absoluta
na Criação e não ignoro que cada Espírito é um mundo diferente e que
cada consciência tem a sua rota.
6 — Criticas, porventura,
os Dragões, que se incumbem da Justiça? — Perguntou Gregório, duramente.
— Quem sou para julgar? — Comentou Gúbio, com simplicidade, — não passo
dum servidor na escola da vida.
7 — Sem eles, — prosseguiu
o hierofanta, algo colérico, — que seria da conservação da Terra? Como
poderia operar o amor que salva, sem a justiça que corrige? Os Grandes
Juízes são temidos e condenados; entretanto, suportam os resíduos humanos,
convivem com as nojentas chagas do Planeta, lidam com os crimes do mundo,
convertem-se em carcereiros dos perversos e dos vis.
8 E à maneira da pessoa culpada,
que estima longas justificações, continuou, irritadiço:
— Os filhos do Cordeiro poderão ajudar e resgatar a muitos. No entanto,
milhões de criaturas, n
como sucede a mim mesmo, não pedem auxílio nem liberação. 9
Afirma-se que não passamos de transviados morais. Seja. Seremos, então,
criminosos, vigiando-nos uns aos outros. 10
A Terra pertence-nos, porque, dentro dela, a animalidade domina, oferecendo-nos
clima ideal. 11 Não
tenho, por minha vez, qualquer noção de Céu. Acredito seja uma corte
de eleitos, mas o mundo visível para nós constitui extenso reino de
condenados. 12 No
corpo físico, caímos na rede de circunstâncias fatais; contudo, a teia
que os Planos inferiores nos prepararam servirá a milhões. 13
Se é nosso destino joeirar o trigo do mundo, nossa peneira não se fará
complacente. Experimentados que somos na queda, provaremos todos os
que nos surgirem no caminho. 14
Ordenam os Grandes Juízes que guardemos as portas. Temos, por isso,
servidores, em todas as direções. 15
Subordinam-se-nos todos os homens e mulheres afastados da evolução regular,
e é forçoso reconhecer que semelhantes individualidades se contam por
milhões. 16 Além disso,
os tribunais terrestres são insuficientes para a identificação de todos
os delitos que se processam entre as criaturas. Nós, sim, é que somos
os olhos da sombra, para os quais os menores dramas ocultos não passam
despercebidos.
17 Ante o intervalo que se
fizera, contemplei o rosto de Gúbio, que não apresentava qualquer alteração.
Fitando Gregório, com humildade, considerou:
18 — Grande sacerdote,
eu sei que o Senhor Supremo nos aproveita em sua obra divina, segundo
as nossas tendências e possibilidades de satisfazer-lhe os desígnios.
19 Os fagócitos no
corpo humano são utilizados na eliminação da impureza, do mesmo modo
que a faísca elétrica irrompe, insofreável, a fim de sanar os desequilíbrios
atmosféricos. 20
Respeito, assim, o teu poder, porque se a Sabedoria Celeste conhece
a existência das folhas tenras das árvores, sabe também a razão de teu
extenso domínio; entretanto, não concordas em que a nossa interferência
prevalece sobre a fatalidade, círculo fechado de circunstâncias que
nós mesmos criamos? 21
Não estou habilitado a apreciar o trabalho dos Juízes que administram
estes pousos de sofrimento reparador… Conheço, contudo, os quadros pavorosos
que se desdobram ao teu olhar. Observo, de perto, os criminosos que
se imantam uns aos outros; sondo, de quando em vez, os dramas sombrios
daqueles que jazem nas furnas de dor, magnetizados ao mal que praticaram,
e não ignoro que a Justiça deve reinar, consoante as determinações soberanas.
22 Todavia, respeitável
Gregório, não admites que o amor, instalado nos corações, redimiria
todos os pecados? Não aceitas, porventura, a vitória final da bondade,
através do serviço fraterno que nos eleva e conduz ao Pai Supremo? 23
Se gastássemos nos cometimentos divinos do Cordeiro as mesmas energias
que se despendem a serviço dos Dragões, não alcançaríamos, mais apressadamente,
os objetivos do supremo triunfo?
24 O sacerdote ouviu, contrariado,
e clamou com desagradável inflexão de voz:
— Como pude escutar-te, calado, tanto tempo? 25
Somos aqui julgadores na morte de todos aqueles que malbarataram os
tesouros da vida. Como inocular amor em corações enregelados? Não disse
o Cordeiro, certa vez, que não se deve lançar pérolas aos porcos? ( † ) Para
cada pastor de rebanho na Terra, há mil porcos ostentando as insígnias
da carne. 26 E se
o teu Mestre reclama pegureiros ao seu apostolado, que fazer, de nossa
parte, senão constituir equipes de inteligências vigorosas, especializadas
em corrigir as criaturas delinquentes que se colocam sob nossa vara
diretiva? 27 Os Dragões
são os gênios conservadores do mundo físico e se esmeram em preservar
a aglutinação dos elementos planetários. Coerentes com a lógica, não
entendem o paraíso de imposição. 28
Se o amor conquistasse a Terra, de um dia para outro, desintegrando-lhe
os abismos escuros a fim de que a luz sublime aí brilhasse para sempre,
fácil e instantânea, como acomodar nesse clima celestial as consciências
de lobos e leões, panteras e tigres (pela extrema analogia que ainda
guardam com essas feras), almas essas que habitam formas humanas aos
milhares de milhares? 29
Que seria dos Céus se não vigiássemos os infernos?
Gargalhada sarcástica e estrepitosa seguiu-lhe as palavras.
30 Gúbio, porém, não se perturbou.
Com simplicidade, tornou a considerar:
— Ouso lembrar, todavia, que, se nos lançássemos todos a socorrer os miseráveis, a miséria se extinguiria; se educássemos os ignorantes, a treva não teria razão de ser; se amparássemos os delinquentes, oferecendo-lhes estímulos à luta regenerativa, o crime seria varrido da face da Terra.
31 O sacerdote fez vibrar uma
campainha, que me pareceu destinada a expandir-lhe as expressões de
ira e gritou, rouquenho:
— Cala-te! Insolente! Sabes que te posso punir!…
32 — Sim, — concordou
o nosso orientador, imperturbável, — suponho conhecer a extensão de
tuas possibilidades. 33
Eu e meus companheiros, à leve ordem de tua boca, podemos receber prisão
e tortura e, se esta representa a vontade de teu coração, estamos prontos
a recebê-las. Conhecíamos, de antemão, as probabilidades contra nós,
nesta aventura; entretanto, o amor nos inspira e confiamos no mesmo
Poder Soberano que te induz a aplicar a justiça.
3.
Gregório fitou Gúbio, assombrado, à vista de tamanha coragem e, decerto,
aproveitando este a transformação psicológica do momento, enunciou com
firmeza serena:
2 — Declarou-nos Matilde,
a nossa benfeitora, que a tua nobreza não se esvaiu e que as tuas elevadas
qualidades de caráter permanecem invioladas, não obstante a direção
diferente que imprimiste aos passos; por isto mesmo, identificando-te
o valor pessoal, chamo-te de “respeitável” nos apelos que te dirijo.
3 A cólera do sacerdote pareceu
amainar-se.
— Não acredito em tuas informações, — acentuou, contrariado, — mas sê claro
nas rogativas. Não disponho de tempo para falas inúteis.
4 — Venerável Gregório, —
pediu nosso Instrutor, humilde, — serei breve. Ouve-me com tolerância
e bondade. Não ignoras que tua mãe espiritual jamais se esqueceria de
Margarida, ameaçada atualmente de loucura e morte, sem razão de ser…
5 Escutando o informe, o hierofante
modificou-se visivelmente, expressando na fisionomia inquietação indisfarçável.
A estranha auréola que lhe revestia a fronte revelou tonalidades mais
escuras. Dureza singular transpareceu-lhe nos olhos felinos e os lábios
se lhe contraíram num ricto de infinita amargura.
6 Tive a ideia de que ele
nos fulminaria se pudesse, mas conteve-se, imóvel, apesar da expressão
agressiva e rude.
7 — Não desconheces
que Matilde possui na tua companheira de outras eras uma pupila muito
amada ao coração. As preces dessa torturada filha espiritual atingem-lhe
a alma abnegada e luminosa. 8
Gregório: Margarida empenha-se em viver no corpo, faminta de redenção.
Aspirações renovadoras banharam-lhe a meninice e, agora, que o casamento,
em plena juventude, lhe revigoriza as esperanças, deseja demorar-se
no campo de luta benéfica, de modo a ressarcir o passado culposo. 9
Certamente, fortes razões te obrigam a constrangê-la ao retorno, porque
lhe armaste caprichoso caminho de morte. Não te reprovo, nem te acuso,
pois nada sou. E ainda que o Senhor me conferisse algum alto encargo
representativo, não me competiria julgar-te, senão depois de haver vivido
a tua própria tragédia, experimentando as tuas próprias dores. 10
Sei, porém, que pelo amor e pelo ódio do pretérito ela permanece intensamente
ligada aos raios de tua mente e todos sabemos que os credores e os devedores
se encontrarão, uns com os outros, tarde ou cedo, face a face… 11
Entretanto, a atual existência dela envolve largo serviço salvador.
Desposou antigo associado de luta evolutiva que te não é estranho ao
coração e reinará, maternalmente, num lar em que devotados benfeitores
organizarão formoso ministério de trabalho iluminativo. 12
Espíritos amigos da verdade e do bem se preparam a receber-lhe a ternura
materna, quais flores abençoadas pelo orvalho celeste, em caminho de
preciosa frutificação. 13
Venho rogar-te, pois, seja suavizada a vindita cruel. 14
Nossa alma, por mais impassível, modifica-se com as horas. O tempo tudo
devasta e nos subtrai todos os patrimônios da inferioridade para que
a obra de aperfeiçoamento permaneça. A matéria que nos serve às manifestações
modifica-se com os dias. 15
E, por mais invencíveis que fossem os poderosos Juízes aos quais obedeces,
não ultrapassariam eles, de nenhum modo, a autoridade soberana do Todo-Misericordioso
que lhes permite agir em nome da corrigenda, afeiçoando-lhes a tarefa
ao bem comum.
16 Pesados minutos de expectação
e silêncio caíram sobre nós.
Nosso Instrutor, no entanto, longe de desanimar, retomou a palavra,
em voz súplice:
17 — Se ainda não
consegues ouvir os recursos interpostos pela Lei do Cordeiro Divino
que nos recomenda o amor recíproco e santificante, não te ensurdeças
aos apelos do coração materno. Ajuda-nos a liberar Margarida, salvando-a
da destrutiva perseguição. Não se faz imperioso o teu concurso pessoal.
Bastar-nos-á tua indiferença, a fim de que nos orientemos com a precisa
liberdade.
18 O hierofante riu-se, contrafeito,
e acrescentou:
— Observo que conheces a justiça.
— Sim, — concordou Gúbio, melancólico.
19 O anfitrião, contudo, falou
sem rebuços:
— Quem lavra sentenças, despreza a renúncia. Entre os que defendem
a ordem, o perdão é desconhecido. 20
Determinavam os legisladores da Bíblia que os arestos se baseassem no
princípio da troca: “olho por olho e dente por dente”. ( † )
E já que te mostras tão bem informado acerca de Margarida, poderás,
em sã consciência, suprimir as razões que me compelem a decretar-lhe
a morte?
21 — Não discuto
os motivos que te conduzem, — exclamou nosso orientador, entre aflito
e entristecido, — todavia, ouso insistir na súplica fraterna. Auxilia-nos
a conservar aquela existência valiosa e frutífera. Ajudando-nos, quem
sabe? Talvez, pelos braços carinhosos da vítima de hoje poderias, tu
mesmo, voltar ao banho lustral da experiência humana, renovando caminhos
para glorioso futuro.
22 — Qualquer ideia de volta
à carne me é intolerável! — Gritou Gregório, contrafeito.
— Sabemos, grande sacerdote, — continuou Gúbio, muito calmo, — que
sem a tua permissão, em vista dos laços que Margarida criou com a tua
mente, poderosa e ativa, ser-nos-ia difícil qualquer atividade libertadora.
23 Promete-nos independência
de ação! Não te pedimos sustar a sentença, nem pretendemos inocentar
Margarida. Quem assume compromissos diante das Leis Eternas é obrigado
a encará-los, de frente, agora ou mais tarde, para resgate justo. 24
Rogar-te-íamos, contudo, adiamento na execução de teus propósitos. Concede
à tua devedora um intervalo benéfico, em homenagem aos desvelos de tua
mãe e, possivelmente, os dias se encarregarão de modificar este processo
doloroso.
25 Demonstrando expressão de
surpresa, em face da imprevista solicitação de adiamento, quando, nós
mesmos, esperávamos que o orientador se impusesse, reclamando revogação
definitiva, Gregório considerou, menos contundente:
— Tenho necessidade do alimento psíquico que só a mente de Margarida me pode proporcionar.
26 Perguntou Gúbio, mais encorajado:
— E se reencontrasses o doce reconforto da ternura materna, sustentando-te a alma, até que Margarida te pudesse fornecer, redimida e feliz, o sublimado pão do espírito?
27 O sacerdote levantou-se
pela primeira vez e clamou:
— Não creio…
28 — E se propuséssemos semelhante
bênção em troca de tua neutralidade ante o nosso esforço de salvação?
Permitir-nos-ias agir concomitantemente com os servidores que te obedecem
às ordens? Não os inclinarias contra nós e deixar-nos-ias ombrear com
eles, tentando a restauração? O tempo, dessa forma, daria o último retoque
em tuas decisões…
29 Gregório refletiu alguns
instantes e redarguiu:
— É muito tarde.
— Porquê? — Indagou nosso Instrutor, inquieto.
30 — O caso de Margarida,
— esclareceu o hierofante em tom significativo, — está definitivamente
entregue a uma falange de sessenta servidores de meu serviço, sob a
chefia de duro perseguidor que lhe odeia a família. A solução cabal
poderia ter sido alcançada em poucas horas, mas não desejo que ela me
volte às mãos, com a revolta de vítima, em cuja fonte interior só me
fosse possível recolher as águas turvas do desespero e do fel. 31
Será torturada como me torturou em outra época; padecerá humilhações
sem nome e desejará a morte como valioso bem. Atingida a rendição pelo
sofrimento dilacerante, a mente dela me receberá por benfeitor, amoroso
e providencial, envolvendo-me nas emissões de carinho que, há muitos
anos, venho esperando… 32
Seria infrutífera qualquer tentativa liberatória. Os raciocínios dela
vão sendo conturbados, pouco a pouco, e o trabalho de imantação para
a morte estão quase terminados.
33 O nosso dirigente, no entanto,
não se deu por vencido e insistiu:
— E se nos confundíssemos com a tua falange, tentando o serviço a que nos propomos? Compareceríamos, junto à enferma, como amigos teus e, sem te desrespeitarmos a autoridade, procuraríamos a execução do programa que nos trouxe até aqui, testemunhando a humildade e o amor que o Cordeiro nos ensina.
34 Gregório pensava, maduramente,
em silêncio, mas Gúbio prosseguia com simplicidade e firmeza:
— Concede!… Concede!… Dá-nos tua palavra de sacerdote! Lembra-te de
que, um dia, ainda que não creias, enfrentarás, de novo, o olhar de
tua mãe!
35 O interpelado, após longos
minutos de reflexão, ergueu os braços e asseverou:
— Não creio nas possibilidades do tentame; todavia, concordo com a providência a que recorres. Não interferirei.
36 Em seguida, tilintando
a campainha de modo particular, determinou que os auxiliares se reaproximassem.
Como que semivencido na batalha em que se empenhara com a própria consciência,
invocou a presença de um certo Timão, que nos surgiu pela frente surpreendendo-nos
com seu semblante de carrasco. 37
Dirigiu-lhe a palavra, indagando pelo andamento do “caso-Margarida”,
ao que o preposto informou estar o processo de alienação mental quase
pronto. Questão de poucos dias para a segregação em casa de saúde.
38 Indicando-nos, algo constrangido,
determinou Gregório que o auxiliar de sinistro aspecto nos situasse
junto da falange que operava, ativa, na execução gradual do seu decreto
de morte.
André Luiz
[1] [Condessa Matilde de Canossa, protetora de Gregório VII.]
[2] Espíritos
caídos no mal, desde eras primevas da Criação Planetária, e que operam
em zonas inferiores da vida, personificando lideres de rebelião, ódio,
vaidade e egoísmo; não são, todavia, demônios eternos, porque individualmente
se transformam para o bem, no curso dos séculos, qual acontece aos próprios
homens. — Nota do Autor espiritual.
[3] Não
devemos esquecer que a argumentação procede de um Espírito poderoso
nos raciocínios e que ainda não aceitou a iluminação do Cristo, idêntico,
pois, a muitos homens representativos do mundo, obcecados pelos desvarios
da inteligência. — Nota do Autor espiritual.