1 Oi, Sueli, meu papai e mamãe, Gema n de lado, a nossa querida Gema de nossa amizade.
2 Sueli, você tá esperando papo firme. E o manoca n está no estudo. Vidrado nos livros. Parado nas observações. 3 É preciso sair da avenida de vocês aí, deslanchar e seguir pra frente. Não é mole abraçar tarefas tão duras. Mas tou forte mesmo. Arregaçando mangas. Porque não vivo aqui de peixinho. Estou fazendo vida nova no caprichado.
4 Sei que você e nossas amizades lá no grupo esperam mensagens. E mensagens em bossa nova, em conversa bem animada, mas a vida aqui não é o que se pensa, nem o que se diz. É como é. 5 A pessoa é obrigada a dar a si mesma em proveito dos outros, porque os outros todos fazem o mesmo. E devo estar super-incrementado para não cair em preguiça. Trouxe para cá unicamente o coração de rapaz que não tem muita chance para retomar o passado.
6 Muitos se levantam aqui lembrando e refazendo conhecimentos, mas, pelo menos agora estou em frias. Lutando muito para encucar a mim mesmo que devo estudar e renovar minha própria vida. Por aí, tudo era aquela água. Tudo no livro do tá feito e na lista do tá comprado. 7 Aqui, fazer e comprar é com a gente mesmo. A pessoa tem o que vale para o próximo. Por isso é que tenho batido nessa de agir e servir. Vocês não se enganem. Exercício de caridade para recebermos caridade, onde estou e para onde vocês virão.
8 Ninguém precisa assustar porque não faço caveira alguma. Penso em melhorar o coreto para não perdermos tempo. Fui eu mesmo quem escreveu a mensagem com o pessoal do Grameiro. n Não me meti em frias porque não estava certo se conseguiria pôr o lápis ou a palavra pra jambrar fazendo o bem.
9 Estou trabalhando. Dando duro se quiser ficar mais perto de vocês. Que há muita gente por aqui apenas procurando sacudir a carola, não tenham dúvida. É muita gente do contra. Se fosse pessoa de força religiosa, diria, muita gente anti-Cristo. 10 Vocês, porém, vivam certos de que não posso largar a praça em que vocês me puseram com tanta oração e com tantas palavras boas. Não posso fugir do que presta e por isso vou indo no prafrentex da vida nova. Conhecer para fazer e fazer o melhor para chegar ao bem que é a luz de Deus.
11 Ainda preciso de vocês. A gente aqui continua ligado com quem se liga conosco. E precisamos do apoio daqueles em cujo amor estamos crentes. Continuar e continuar para estarmos firmes. Mesmo aqui, interrompo o que digo para cumprir ordens. Isso é bom para mim; porque meu curso agora é outro.
12 Amigos pedem para dizer que presentes conosco temos duas pessoas cuja palavra devo encaminhar com respeito. Duas pessoas de recado em regime de urgência. Um deles é um amigo de nome Aníbal n que pede ao pai tolerância e desculpa pela ocorrência em que foi vencido, pela própria insuficiência de forças. Abriu o portão do lado de vocês e veio para cá em dificuldade. Mas o entendimento paterno e as desculpas da família são para ele bênçãos de paz.
13 E outro aviso é de uma irmã que roga à irmã Lídia, n oração e tranquilidade, abençoando a amiga que voltou para cá nas condições a que nos referimos. Naturalmente que a irmã do nosso lado sofre ao pensar que a companheira possa imitar o gesto em que se fez mais doente. Ela agora pede sossego e bênção e a nossa irmã presente pode auxiliá-la procurando fortalecê-la com a sua paciência tocada de fé em Deus. A morte procurada encontra problemas fortes. A pessoa busca esquecimento e ganha memória, mas memória doente, porque a lembrança se transforma em aflição por não conseguir consertar de pronto o que ficou na incerteza.
14 Não sei se transmiti os recados de que me incumbiram. Entretanto, Sueli, nossos amigos aqui me falam que mensagem deve ter mensagem por dentro. E esses comunicados precisam chegar ao destino. Por hoje é parar no ponto justo. Não posso escrever tanto papel só para dizer que o trabalho é nosso.
15 Abracem nossos amigos por mim. Aqui somos um outro bando. A patota, porém, está iluminada com a fé em Deus e decidida a servir para aprender realmente a servir. O Wady amigo é também figura de prol. E temos outros. Estamos fazendo um grupinho novo, com a tarefa de nos unirmos para Cristo, buscando, assim, o bem para nós mesmos.
16 Continuo pedindo preces. Sabem vocês que no campo de luta precisamos da torcida. Um pouco mais de bom ânimo para nós. Lembrem-nos para trabalhar. Chamem-nos se isso for possível. O negócio aqui é diferente. Na Terra pedimos trabalho para ganhar, aqui rogamos trabalho como sendo salário.
17 Vocês, aí! Preparem-se porque vão encontrar os mesmos programas, embora deva saber de minha parte que muitos de vocês já cooperam com Jesus de modo silencioso.
18 Ajudem-me para que me livre de mim para pertencer realmente a Jesus.
19 Meu pai, mamãe e querida Sueli, adeus por hoje. O pessoal aqui saberá perdoar o moço inexperiente que ainda sou.
20 Muito grato a todos. Tchau para cada um com aquele abraço. E escrevo aqui o ponto final, meio ouriçado e meio borocochô comigo mesmo, pedindo desculpas se não comuniquei meus pensamentos abilolados como desejava e realmente sem saber se falei.
Jair
COMENTÁRIOS
Mais familiarizado com o relacionamento mediúnico, através da psicografia, quase 10 meses após sua desencarnação, nesta mensagem encontramos o Jair em toda a pujança de sua comunicação, manejando — como o fazia em vida — as palavras e expressões de gíria com bastante facilidade.
Vemos também o jovem estudante de Engenharia superando as naturais inibições da adaptação a tão radical mudança: já não mais o lar querido com o quarto de estudos e de elucubrações continuadas; já não mais a UNICAMP e os cursos que perseguia com a obstinação de quem buscava o seu pássaro azul.
Agora comparece para o diálogo entretecido nas saudades de tantas experiências em comum. Os Espíritos são os mesmos: ele, Jair, os pais queridos, os amigos, mas a diferença de Plano vibratório é flagrante: Jair, do Plano Espiritual, a utilizar-se dos recursos ilimitados de um médium abençoado para comunicar-se com os demais presos à matéria densa, envoltos em seus escafandros de carne.
Mas o fio do pensamento é absolutamente o mesmo. O mesmo Jair a mostrar que a mudança para o lado de lá não se acompanha de transformações milagrosas; há necessidade de estudar, de trabalhar, de viver ainda mais ligado às responsabilidades, posto que já não se pode mais alimentar ilusões quanto à nossa destinação ante os desígnios de Deus.
Assim, fala Jair: “Sueli, você tá esperando papo firme. E o manoca está no estudo. Vidrado nos livros.” Mais adiante fala: “estou trabalhando. Dando duro se quiser ficar mais perto de vocês.” Ao epílogo da mensagem diz: “Na Terra pedimos trabalho para ganhar; aqui rogamos trabalho como sendo salário.”
Estas ponderações do jovem autor espiritual confirmam citações de outros Espíritos consonantes com os conceitos espíritas da vida após morte, lembrando que a morte é apenas mudança de Plano vibratório, pois, na Espiritualidade, como aqui, somos os mesmos.
Nesta sua 4ª mensagem endereçada aos pais e amigos, encontramos as seguintes citações:
1 — Gema — Gema Cristina Galgani, estudante colegial, irmã do Sérgio Galgani, já apresentado.
2 — “Fui eu mesmo quem escreveu a mensagem com o pessoal do Grameiro” — Temos em nossas mãos esta página psicografada no Movimento Assistencial Espírita Maria Rosa, no Bairro do Grameiro, em Campinas, assinada por Jair e endereçada à sua irmã que relutou em aceitar-lhe a originalidade. Tal mensagem foi recebida um mês antes (18 de outubro de 1974) da mensagem psicografada em Uberaba que neste capítulo consideramos. O próprio Jair, como vemos, sem que Chico o soubesse, vem dar cunho de autenticidade a uma comunicação sua ditada a outro médium, em outra cidade, um mês antes…
3 — Aníbal — Refere-se Jair a Aníbal Rodrigues, jovem suicida de Campinas que se atirou de um edifício da Avenida Francisco Glicério.
Com referência a essa citação cabe algum esclarecimento:
O nome Aníbal grafado na página psicográfica de Chico Xavier causou espanto aos presentes à reunião. Ninguém conhecia o Aníbal. Diante da insólita ocorrência, o jornalista Mário B. Tamassia publicou no Correio Popular, de Campinas, edição de 21 de novembro de 1974, o recado de Aníbal aos pais, no intuito de verificar se a família era da cidade ou se, ao menos, algum leitor a conhecia. No dia seguinte, a família Presente foi procurada pela Sra. Maria Aparecida Rodrigues que se identificou como mãe de Aníbal, contando, então, o triste episódio que envolveu a morte do jovem campineiro, através do suicídio. Muito reconfortados, ela e o marido, comentou mais tarde a Sra. Maria Aparecida ter-lhe sido o recado do Aníbal um grande lenitivo ao seu coração de mãe que pôde compreender estar vivo o filho querido, a despeito de seu suicídio.
4 — Lídia — trata-se de uma senhora presente à reunião e de quem a jovem desencarnada era muito amiga. Tendo sido Lídia surpreendida pelo suicídio recente da amiga (matara-se há três meses com um tiro no ouvido) foi a Uberaba, em busca da orientação do Chico, pois tencionava também dar cabo da vida. Chico de nada sabia, antes do recebimento desta mensagem…
A pedido de seu esposo, expresso em depoimento prestado ao Dr. Elias Barbosa, escusamo-nos de oferecer dados pessoais de D. Lídia.
Caio Ramacciotti
[1] Obs. Para melhor compreensão de algumas expressões utilizadas pelo autor espiritual vide Glossário de gírias.