1 Querida Vitória, n Deus nos abençoe. Você deseja notícias nossas e aqui as tem.
2 Pudesse e diria ao seu coração quanto me doem as saudades de nosso convívio, entretanto, as palavras não correspondem aos meus desejos. Creio bastaria que reafirme ao seu carinho a continuidade de nossa união que a Providência Divina abençoa agora, como sempre nos amparou nos dias passados.
3 Eu que sempre me ajustava à nossa vida a dois, sem ausências que não fossem aquelas absolutamente indispensáveis, posso dizer que estes onze junhos de distância aparente estão por dentro de mim quais feridas de separação, embora essa separação seja ilusória, porque a desencarnação — palavra que me habituei presentemente a usar para que a ideia da morte não nos arrase os corações — não nos afasta uns dos outros.
4 Através dos pensamentos, a nossa aparente solidão é intimidade espiritual em que nos entendemos pelas forças intuitivas. 5 Você pensa, eu penso e nos entendemos, qual se estivéssemos juntos na mesma faixa de intercâmbio, como sucedia no Plano Físico.
6 Agradeço as suas preces e as suas vibrações de amor, em me referindo não somente às de hoje, e sim de sempre.
7 Imagine que voltei planejando aquisição da casa que esperávamos pudesse representar o nosso refúgio, n e a ideia da transformação de nossos hábitos era em mim tão forte, que somente aqui na Vida Espiritual, vim a saber que todo aquele anseio de nos recolhermos em nova moradia, era o sentimento da grande transformação que nos devia surpreender.
8 Admito agora que a despedida dos entes amados deve ser preferivelmente aquela precedida de sofrimentos longos, pelos quais a doença visível nos faça refletir no desprendimento gradual de nossa paisagem doméstica.
9 Ao que me parece, os que voltam, qual me sucedeu, através de um colapso do coração, não sentem qualquer dor preparatória para o grande acontecimento. 10 Alguns sintomas de garra a me tocarem o peito não foram suficientes para que me empenhasse a tratamento médico, de caráter urgente, e foi assim que caí fulminado, à maneira de um tronco que experimentasse dilapidações invisíveis aos outros, tombando, por fim, sem escoras que o sustentassem contra a queda fatal.
11 Com isso, não quero afirmar que voltei desvalido de assistência. Acontece é que a chamada para a vida diferente, na qual me vejo agora, não erra o endereço. Meu dia era aquele e não me cabia argumentar com as leis que nos regem.
12 Você deseja saber de que modo me vi matriculado nesta nova existência.
13 De começo, foi aquele sono irresistível, sono pesado e sem sonhos, cuja duração não sei ainda explicar, em seguida, não me vi acordado de repente.
14 Observava-me num sonho quase pesadelo, porque, de início, via junto de mim a nossa Cotinha e o nosso Amado, n o Tormim e o Juvenal, n como se me chamassem para estarmos juntos outra vez.
15 Sentia-me contente, esperando despertar, no entanto, por mais quisesse voltar de semelhante situação, sentia você e os nossos, ao meu lado, entre lágrimas e orações.
16 Quis, sinceramente, retornar ao corpo, mas os irmãos sorriam, conhecendo a minha impossibilidade, sem que eu disso tivesse conhecimento. Foi então que percebendo a minha aflição por retomar contato com você e com os nossos, amparados por outros amigos espirituais, auxiliaram-me todos eles a adormecer, novamente.
17 Quanto tempo gastei nesse torpor, ainda ignoro, mas conscientizei-me finalmente e, acordado, entendi que tudo quanto ouvira acerca da sobrevivência era e é a verdade.
18 Lutei bastante para conformar-me, entretanto, apoiado na dedicação de nossa mãe Carolina, n cujo devotamento recebi depois do impacto de rudes emoções das quais me via objeto, passei a reconsiderar a nossa própria situação, e sou grato a todas as providências que você movimentou, em meu favor, para que me visse dentro da paz possível.
19 Desde então, permitiram-me, primeiramente, acompanhar as suas preces e meditações, ao modo de aprendiz que necessitava habilitar-se para a vida nova.
20 Agradeço quanto recebi no lar do nosso irmão Fernandes, da “Casa do Cinza”, n em me reportando ao benfeitor que foi o pai amigo e afetuoso de nosso companheiro Odilon.
21 Ali, ao calor da fraternidade real, adquiri conhecimentos valiosos, fosse em contato com o irmão Fernandes, com a nossa devotada Mãe Maria, n com a irmã pelo coração, Mercedes Chaves, n com médicos e amigos outros que ali se consagram à construção do bem.
22 Não é fácil a transposição das atividades gerais num homem de minha têmpera, condicionado à formação de negócios e realizações da vida rural, entretanto, com o seu apoio, consigo colaborar em auxílio de companheiros que ainda se encontram nos setores de trabalho a que me referi, e vou atendendo à minha efetiva modificação interior, de modo a inclinar-me para assuntos que ainda são mais seus do que meus, porque preciso ajudar-me às questões de ordem espiritual, a fim de cooperar em sua companhia na prática da elevação íntima e no exercício do bem.
23 Presentemente, com o apoio de amigos de mais perto, vou melhorando com mais eficiência.
24 O convívio com o Odilon e com o Waldemar, n nesta fase nova, tem sido para mim extremamente benéfico. Tenho conseguido cooperar com o nosso Lamartine, n e agora com a nossa Elza, a companheira do nosso Riva, na iniciação deles neste campo imenso em que nos vemos.
25 Que a nossa irmã Hermínia n e os familiares de nossa Elza estejam confortados, na certeza de que ambos foram recebidos carinhosamente por nossa mãe Carolina.
26 Sobre Adelaide, n posso comunicar-lhe que o Alcides prossegue com excelente recuperação, e que a jovem Virgínia, igualmente, se vê no processo da restauração necessária.
27 A convalescença após a liberação da experiência física é semelhante à que se verifica na Terra com qualquer enfermo, depois de cirurgia complicada. O período de reajuste depende muito do esforço de cada um.
28 Aqui o Avelar n e o Fábio, tanto quanto os nossos todos estão em minha dedicação fraternal.
29 Os nossos pais Miguel e Dona Maria n foram e são para mim de extremado carinho, buscando auxiliar-me em todas as medidas, nas quais a minha paz esteja em jogo.
30 Graças a Deus e a você, querida Vitória, prossigo bem. Não posso alongar-me. Não relaciono os sobrinhos para não cometer qualquer falta de omissão. Por isso, endereço a todos as minhas muitas lembranças.
31 Aqui, em casa de nossa estimada Amália, n nesta noite, permanecem muitos amigos nossos, e sou grato a todos, tanto quanto manifesto o meu reconhecimento aos corações amigos que vieram orar conosco, na intenção de nos lembrarem com tanta gentileza.
32 Perdoem-me pelos problemas que deixei involuntariamente em suas mãos, ante a urgência da mudança a que me vi compelido. Felizmente, com a bênção de Deus, você soube resolver todos eles com caridade e prudência, harmonia e discernimento.
33 Muito grato à sua festa de meu novo renascimento no Lar Maior. Onze anos me consolam ante a posição do aprendiz em que me reconheço.
34 Muitas lembranças a todos os que nos vinculam aos sentimentos, e receba, querida esposa e inesquecível companheira, todo o amor com as minhas saudades e com as muitas esperanças do seu, sempre seu,
Ed
Edmundo
Edmundo Mendes
Edmundo Mendes, filho do Sr. Carlos Mendes dos Santos e de D. Carolina Mendes dos Santos, nasceu em Uberaba, Minas, a 20 de fevereiro de 1905, aí desencarnado, em consequência de enfarte de miocárdio, a 14 de junho de 1970, às 15:30 horas.
“Homem digno e trabalhador, cercou-se da estima e respeito de seus conterrâneos, que viam nele, e com razão, o cidadão idôneo, o produtor rural de largo tirocínio e segura experiência.” n
Sobre a mensagem psicografada pelo médium Xavier, em Uberaba, a 14 de junho de 1981, eis o que apuramos:
1 — “Querida Vitória”: Trata-se da esposa do comunicante, D. Vitória Tahan Mendes, residente em Uberaba.
2 — “Imagine que voltei planejando aquisição da casa que esperávamos pudesse representar o nosso refúgio…” — Quando desencarnou, o Sr. Edmundo Mendes residia à Rua Dr. Ferreira, nº 55, e pretendia, com efeito, vender a casa em que morava, e comprar um apartamento.
3 — “A nossa Cotinha e o nosso Amado”: Respectivamente, a mais velha das irmãs, D. Maria Mendes dos Santos, e o cunhado, marido de D. Cotinha, Sr. José Amado, ambos desencarnados em Uberaba.
4 — “O Tormim e o Juvenal”: Irmãos do comunicante, também desencarnados, o primeiro, ainda moço, num desastre de trem, no sul do País.
5 — “Nossa mãe Carolina”: D. Carolina Mendes dos Santos, genitora, desencarnada em 1910, em Uberaba.
6 — “Agradeço quanto recebi no lar do nosso irmão Fernandes, a Casa do Cinza, em me reportando ao benfeitor que foi o pai amigo e afetuoso de nosso companheiro Odilon.” — Trata-se do Sr. Ludovice Fernandes, pai do Dr. Odilon Fernandes, fundador do Centro Espírita “Casa do Cinza”.
Sobre Dr. Odilon Fernandes, nascido em São João de Capivari, Estado de São Paulo, a 10 de outubro de 1903, e desencarnado em Guarulhos, no mesmo Estado, a 13 de janeiro de 1973, consultemos o item 2 do Capítulo 6 de “Quem São”, obra psicografada pelo médium Xavier.
7 — “A nossa devotada Mãe Maria”: Entidade Espiritual muito querida pelos frequentadores do Centro Espírita “Casa do Cinza”.
8 — Mercedes Chaves: Devotada tarefeira do Espiritismo, sobre quem voltaremos a nos referir, no item 5 do Capítulo 11, adiante, nasceu em Monte Alegre de Minas, a 16 de abril de 1879, e desencarnou em Uberaba, a 3 de agosto de 1957.
9 — Waldemar: Sr. Waldemar Vieira, nascido em Campos, Estado do Rio de Janeiro, a 8 de janeiro de 1898, e desencarnado em Uberaba, a 18 de julho de 1977, nosso conhecido dos Capítulos 5 a 8 de “Quem São”.
10 — Lamartine, Elza, Riva: Sr. Lamartine Mendes, irmão; D. Elza Mendes, cunhada; Sr. Riválio Mendes, esposo de D. Elza, todos desencarnados em Uberaba.
11 — Hermínia: Sra. Hermínia Baptista Mendes, esposa do Sr. Lamartine Mendes, residente em Uberaba.
12 — Adelaide, Alcides, a jovem Virgínia: Sra. Adelaide Mendes Marquez, irmã do comunicante, casada com o Sr. Alcides Marquez; avós de Virgínia, desencarnada em consequência de uma queda de cavalo, há quatro anos, no Município do Prata, Estado de Minas Gerais.
13 — Avelar e Fábio: Avelar e Fábio Mendes dos Santos, irmãos, desencarnados em Uberaba, tendo o segundo morado, por algum tempo, com o Sr. Edmundo, na fazenda.
14 — “Os nossos pais Miguel e Dona Maria”: Sr. Ragueb Tahan, nascido na Síria, e desencarnado em Uberaba, a 26 de abril de 1955; D. Maria Tahan, também nascida na Síria, e desencarnada em Uberaba, a 30 de janeiro de 1956, genitores de D. Vitória e de D. Amália. (Cf. o item 9-c-d, do Capítulo 6 de Quem São).
15 — “Nossa estimada Amália”: D. Amália Tahan Vieira, segunda esposa do Sr. Waldemar Vieira, residente em Uberaba, à Rua Senador Pena, n.º 42, sobre quem nos estendemos bastante, estampando-lhe a foto [v. livro impresso], em Quem São.
Ante tantas provas de sobrevivência do Espírito, que possamos continuar estudando as obras de Allan Kardec, reverenciando-lhe o nome, e praticando a caridade, em nome de Jesus, o Nosso Divino Mestre.
Elias Barbosa
[5]“Lavoura e Comércio”, Ano LXXI, Número 17.412, Uberaba, segunda-feira, 15 de junho de 1970.