1 Querida Emília, n ainda escrevo com muita dificuldade.
2 Não sei, mas tenho a impressão de trazer comigo o frio da lagoa, toda vez que me lembro da tarrafa e do mergulho.
3 Às vezes, penso que é o frio de saudade da sua presença e do nosso Rodrigo, n que fui obrigado a deixar, quando nosso filhinho mais necessitava de mim. Estou bem.
4 Encontrei, em nossa avó Maria Emília, n o apoio de que precisava para deslanchar-me do lugar de minha despedida que ficou sendo para mim um lugar triste.
5 Os companheiros julgaram que estivesse na posição de afogado, e ainda ouvi a palavra de um deles, falando em respiração boca-a-boca, entretanto, digo a você que o motor do peito parou, justamente quando as águas me cobriram no mergulho a que me entreguei para verificar os efeitos de nosso trabalho.
6 De começo, experimentei uma forte asfixia, sem tragar qualquer gota d’água, e depois veio sobre mim um sono invencível. Lutei contra esse torpor que me assaltava, mas não adiantou. Era como se meu corpo parado fosse uma lâmpada repentinamente queimada. 7 A eletricidade da vida continuava comigo, mas estava descontrolado e sonolento.
7 Quando despertei, fiquei ciente de que me achava muito longe de Santa Rosa, de sua companhia e de nosso filhinho, de cuja presença sempre sentia tanta falta, quando fora de casa.
8 Confesso a você que chorei, no entanto, estou treinando aceitação da vontade de Deus e espero melhorar-me, a fim de ser útil a você, ao nosso filho querido e a todos os nossos.
9 Você não se amedronte com as ideias de viuvez e solidão. Estamos juntos e confio em que me fortalecerei para ser o seu apoio.
10 Deus, que promove alimento para os próprios passarinhos, não deixará você em falta desse ou daquele recurso.
11 Não desejo ver você acabrunhada e chorosa. Nosso Rodrigo precisa de você e, como ele, eu também, porque necessito da sua coragem para reanimar-me a cada lembrança negativa que ainda me visita, ao recordar o mergulho em que a morte me esperava.
12 Querida Emília, seja forte e paciente. Estou aconselhando a você, as duas forças da vida de que ainda mais preciso. Apesar disso, meu pedido é este mesmo, porque estarei espiritualmente escorado em sua fé em Deus e em sua força.
13 As orações do papai Eugênio n me auxiliam com segurança e, por todas as bênçãos que tenho recebido, nada tenho que me queixar, pois tenho tudo para agradecer.
14 Com o nosso anjo do coração, apelo a você conservar a certeza do amor, sempre mais amor do esposo, e amigo, companheiro e servidor muito grato de sempre,
José Benedito da Silva
Na “Folha Espírita” (São Paulo, maio de 1984. Ano XI — n.º 122), eis o que nos diz Paulo Rossi Severino sobre esta bela mensagem que acabamos de ler, recebida a 13 de agosto de 1983, e o seu autor espiritual:
“José Benedito da Silva nasceu em Santa Rosa do Viterbo (SP), a 31/8/1949, renascendo para a vida espiritual a 8/3/1983, quando foi tragado pelas águas da Lagoa Quebra Cuia, na mesma cidade.
“Através da mensagem recebida por Chico Xavier, ele esclarece: “Os companheiros julgaram que estivesse na posição de afogado, e ainda ouvi a palavra de um deles, falando em respiração boca-a-boca, entretanto, digo a você que o motor do peito parou, justamente quando as águas me cobriram no mergulho a que me entreguei para verificar os efeitos de nosso trabalho.
“De começo, experimentei uma forte asfixia, sem tragar qualquer gole d’água, e depois veio sobre mim um sono invencível.”
Portanto, fica esclarecido, pela psicografia, que a morte não ocorreu por afogamento.
O popular Zé Furado, apelido adquirido por causa do seu queixo, sempre residiu na cidade onde nasceu.
Era motorista da Prefeitura e desde criança foi muito estimado por todos, tendo, por isso, inúmeros amigos. José Benedito era católico, de gênio alegre e descontraído, gostava de contar piadas, tendo especial predileção por caçadas e pescarias.
Tinha fama de bom nadador.
Era casado com D. Emília Paulino da Silva e sempre viveram felizes, principalmente após a chegada do filhinho Rodrigo, que deixou com apenas 10 meses de idade.
Na manhã de 8/3/1883, saiu para uma pescaria com alguns amigos, quando o fato ocorreu.
Ao saber a notícia, D. Emília ficou desnorteada. Deixemos que ela mesma conte:
“Eu vivia muito feliz ao lado de meu querido marido, Zé. Ele era tudo para mim, e a separação violenta com sua morte, deixou-me desesperada.
“O desânimo tomou conta de mim, nada mais estava bom e também pensava em morrer.
“Sofrendo muito com toda essa confusão na cabeça, fui a Uberaba, à procura de Chico Xavier.
“Recebi palavras de conforto e depois, para minha alegria, a mensagem do Zé.
“A emoção tomou conta de mim, nem sei explicar o que sentia naquele momento.
“Voltei de Uberaba muito confortada, com novo ânimo para viver e cuidar de nosso filhinho Rodrigo.
“Graças a Deus e ao Chico Xavier, estou prosseguindo, embora com muitas saudades, pois a falta do meu esposo é muito grande.
“Agradeço a atenção a mim dispensada pelo Dr. Eurípedes Higino dos Reis, e a todos que me ajudaram com tanta bondade.”
A Carta de José Benedito à esposa demonstra que o amor nunca desaparece dos corações daqueles que nos antecederam na separação provisória.
A saudade dos entes queridos corresponde a um espaço que ninguém consegue preencher.
Temos, ainda uma vez, o consolo e o conforto de um esposo e pai, transmitindo sua ternura aos familiares que permanecem no Plano Físico, através da psicografia.
Assim, a Doutrina Espírita continua confortando corações em sua trajetória de “Consolador Prometido”, revivendo a pureza dos primórdios do Cristianismo.
1 — Emília Paulino da Silva: Esposa, residente à Rua Eduardo Gubitoso, 27 — Cohab — Santa Rosa do Viterbo, Estado de São Paulo.
2 — Rodrigo: Filhinho de 10 meses de idade.
3 — Maria Emília: Avó desencarnada, há mais de 40 anos.
4 — Eugênio: Francisco Eugênio da Silva, pai, desencarnado a 5 de novembro de 1982.
Ainda imersos no clima de beleza que a mensagem de José Benedito da Silva nos induziu, resta-nos pedir escusas ao distinto jornalista espírita — Paulo Rossi Severino — pela iniciativa que tomamos de abrir parágrafos em todo o seu excelente trabalho e na página psicografada pelo médium Xavier, visando a tornar a leitura do texto mais fácil.
Que o Divino Mestre nos abençoe e possamos continuar reverenciando Allan Kardec, percorrendo-lhe as páginas luminosas, diariamente, palavra a palavra!
Elias Barbosa