Rodrigo Junqueira Alves de Souza n
1 Querido papai José Marco e mãezinha Nilda, estou aqui com as notícias que ansiávamos transmitir para sossegar os familiares e os amigos, a nosso respeito.
2 Estou consciente do desastre calamitoso de que fomos vítimas.
3 Pai, não sei como foi o que sucedeu. Quando vimos a carreta na retaguarda, tivemos o susto natural de quem percebe o perigo, e ficamos baratinados, ignorando como retirar o carro fora da pista, na rodovia.
4 Não sei, porém, como não nos foi possível retirar o veículo do meio da pista, justamente quando queríamos e precisávamos afastar a máquina que parou instantaneamente, à maneira de um animal que se decidisse a empacar.
5 A realidade é que a carreta que vinha com velocidade normal, a nosso ver, contava com a nossa saída para a esquerda ou para a direita e naturalmente incapaz de fazer funcionar os freios assim de estalo, o motorista, decerto, admitiu que nos distanciaríamos da posição perigosa nos momentos últimos. n
6 Entretanto, afobados como nos achávamos, não atinamos com a maneira de movimentar a nossa máquina. Em nosso apuro, não esperávamos que a carreta nos colhesse, e, por isso devo dizer que fomos surpreendidos com aquele rolo compressor a esmagar-nos sem qualquer outro recurso de evitar o acidente infeliz.
7 Creio que nenhum de nós saberá contar o que foi aquele amasso de ferragem, sufocando-nos e retalhando-nos o corpo. Falando a verdade, não sei se pela emoção ou pelo susto, não sentimos dor alguma. n
8 Lembro-me de que saltamos do corpo, tão de improviso, que a cena me lembrou o amendoim quando salta da casca. n
9 Vimo-nos todos de pé, ao lado de pessoas que pareciam nos esperar. Estávamos, porém, tontos e inseguros.
10 O Romêro n me fitou espantado, como quem queria explicações que eu mesmo não sabia dar.
11 A hora não admitia saudações ou cortesias, porque a nossa cabeça rodopiava.
12 Fomos então carregados para uma ambulância de grande tamanho, mas o ambiente estava diferente.
13 As pessoas que nos aguardavam, ao que parece, sabiam que nós todos íamos tombar ali mesmo, porque nos abraçaram qual se fôssemos crianças, e seguiram conosco, à pressa, na direção da ambulância.
14 Um senhor recomendava-nos que não olhássemos para trás.
15 Ele pusera o Português n nos braços fortes, e as senhoras presentes guardaram a cada um de nós no próprio colo, apressadamente.
16 Assim que a ambulância deu partida, caímos todos num sono esquisito, como se tivéssemos recebido injeções de sedativos fortes. E dormimos.
17 Quando acordei, pois fui eu a despertar antes de todos na enfermaria, em que ficamos segregados, vim a saber que o homem que carregara o Português se chamava Sandoval, e fiquei sabendo que era o Dr. Sandoval de Sá. n
18 Cautelosamente, ele me informou que eu estava em condições de saber o que acontecera pelas muitas leituras que já fizera. n
19 Ele me esclareceu que estávamos sob a proteção de nossas parentas, e falou-me que a vovó Minerva n me havia suportado nos braços; que o Romêro havia sido transportado do carro para a ambulância pela nossa avó ou bisavó Filhuca; n que a tia Geralda n carregara o Guto n desmaiado; e a tia Luizinha n havia se encarregado de conduzir o Nadinho n nos próprios braços.
20 Quando estávamos nesse dia, logo apareceu a vovó Minerva que procurou me consolar, pois a notícia recebida me reduzira a um menino chorão, vendo os companheiros inanimados.
21 Começou para mim uma vida nova, porque senti muito a falta de sua presença, do Leonardo e da Luciene, n ao mesmo tempo que imaginava o sofrimento de nossos familiares da cidade.
22 Vó Minerva procurou acalmar-me, e um padre, que nos acompanhava, me aconselhou a oração. O Dr. Sandoval me disse que aquele sacerdote era o cônego Osório. n
23 O anseio de lhes enviar notícias era uma ansiedade, que eu não sabia controlar.
24 Chorando estava e chorando continuo, apesar dos conselhos da vó Minerva, que recomendava serenidade e fé em Deus.
25 No dia seguinte, o Romêro e os outros acordaram com a mesma perplexidade em que me vi.
26 As lágrimas vieram aos olhos de todos, porque pensávamos muito mais em nossos pais queridos do que em nós mesmos, e por cinco dias estivemos acamados e febris.
27 O Guto, o Nadinho e o Português com o Romêro a falarem na saudade de casa, e eu querendo bancar o forte, conquanto me sentisse o mais fraco de todos os companheiros.
28 Assim estamos ainda, sendo tratados por Dr. Sandoval de Sá e por outros médicos e enfermeiros.
29 Não posso continuar. A vovó Minerva, que me trouxe, é de opinião que devo continuar estas notícias depois, porque a vontade de voltar para a nossa casa, em sua companhia e em companhia de mãezinha Nilda, está me alterando os pensamentos.
30 Agradeço, em meu nome e em nome dos companheiros, o amparo religioso que nos deram, e as preces em casa com que fomos apoiados por nossos pais e mães.
31 A vovó Minerva me pede para não fazer queixa alguma, porque o que nos aconteceu se verificou com a permissão dos Mensageiros de Jesus, para nosso benefício. Mais tarde compreenderemos tudo isso.
32 Papai José Marco e mãezinha Nilda, com nossos amigos que vieram de Frutal, fiquem todos na certeza de que estamos com muita fé em Deus.
33 Aos pais queridos, as muitas saudades com todo o carinho do filho que ainda não sabe escrever, mas do filho agradecido de sempre,
Didido
Didido
Rodrigo Junqueira Alves de Souza
Filho do Dr. José Marco Alves de Souza, advogado e industrial, e de D. Nilda de Lourdes Junqueira Souza, residentes em Frutal, Minas, à Rua Treze de Maio, 222, CEP 38200, fone: 421-2113, Rodrigo nasceu no dia 11 de junho de 1970, em Frutal, tendo concluído a 8ª série do 1º Grau.
1 — “A realidade é que a carreta que vinha com velocidade normal, a nosso ver, contava com a nossa saída para a esquerda ou para a direita e naturalmente incapaz de fazer funcionar os freios assim de estalo, o motorista, decerto, admitiu que nos distanciaríamos da posição perigosa dos momentos últimos.” — Digna de nota a preocupação do Espírito, compreendendo, agora, em que consiste a Lei de Causa e Efeito, por não responsabilizar o motorista da carreta pelo acontecido.
2 — “Falando a verdade, não sei se pela emoção ou pelo susto, não sentimos dor alguma.” — Confortadora revelação de que os que foram surpreendidos com aquele rolo compressor a esmagá-los, não sentiram dor alguma. Quão grande e sábia é a Misericordiosa Justiça de Deus!
3 — “Lembro-me de que saltamos do corpo, tão de improviso, que a cena me lembrou o amendoim quando salta da casca.” — Bela imagem para caracterizar a desvinculação violenta do corpo de um Espírito com a consciência não conspurcada por remorsos cruéis.
4 — Romêro — Consultemos o Capítulo 5, adiante.
5 — O Português— Cf. o Capítulo 1, retro.
6 — Dr. Sandoval — Cf. o item 3 do Capítulo 1, acima.
7 — “Cautelosamente, ele me informou que eu estava em condições de saber o que acontecera pelas muitas leituras que já fizera.”— A leitura construtiva, com efeito, é da mais alta importância para o Espírito, principalmente quando em trânsito pela Terra, servindo-se de um corpo físico.
8— Vovó Minerva — Trata-se de D. Minerva Maluf de Souza, avó paterna, nascida e desencarnada em Frutal, respectivamente, a 30 de janeiro de 1917 e 21 de novembro de 1967.
9 — Nossa avó ou bisavó Filhuca — Bisavó paterna, D. Maria Judith Alves de Souza, nascida a 16 de fevereiro de 1888, e desencarnada em Frutal, a 4 de novembro de 1968.
10 — Tia Geralda— Nasceu D. Geralda Carvalho de Souza, tia paterna, a 20 de abril de 1922, e desencarnou em Frutal, a 30 de abril de 1979, casada com o Sr. Gilberto Alves de Souza, residente à Rua Bias Fortes, 200.
11 — Guto — Cf. o Capítulo 3, adiante.
12 — Tia Luizinha— Nasceu D. Maria Luiza Pereira de Souza, a 26 de agosto de 1914, e desencarnou a 29 de novembro de 1966, primeira esposa do Sr. José Alves de Souza — Sr. Juquinha.
13 — Nadinho — Cf. o Capítulo 4, adiante.
14 — Leonardo e Luciene— a) Leonardo Junqueira Alves de Souza, nascido em Frutal, no dia 25 de abril de 1969, irmão de Romêro e do Didido; b) Luciene Esperança de Oliveira mora no lar do Dr. José Marco e de D. Nilda, há 13 anos, e foi pagem dos dois filhos desencarnados do casal.
15 — Cônego Osório — Nascido em Uberaba, Minas, a 14 de novembro de 1876, e aí desencarnado, às 17 horas do dia 1.º de janeiro de 1961, Cônego Osório Ferreira dos Santos exerceu as funções de Vigário da paróquia de Frutal, por 31 anos, sendo depois, transferido para São Francisco de Sales. (Dados fornecidos por D. Oronda Mendonça de Queiroz, extraídos do livro Município de Frutal (Minas), de Roberto Capre, editado em 1916.)
Em entrevista concedida a Ruth Rossi Ribeiro e Ricardo Oliveira Barbosa, na tarde de 9 de fevereiro de 1989, em sua residência, em Uberaba, o Arcebispo D. Alexandre Gonçalves do Amaral, que neste ano completou 60 anos de sacerdócio, a 22 de setembro; 60 anos de publicação do 1.º artigo, no jornal O Horizonte, que antecedeu O Diário e o atual Jornal de Minas, de Belo Horizonte, a 28 de setembro; e 50 anos de bispo de Uberaba, a 29 de outubro, tendo sido homenageado, de 20 de agosto a 21 de setembro, pela comunidade católica de Uberaba, afirmou que Cônego Osório Ferreira dos Santos se ordenou padre, em 1900, com 24 anos de idade, e já em 1939, era vigário da paróquia de São Francisco de Sales, depois de ter sido vigário da paróquia de Frutal, onde, na condição de pacificador de violentas brigas políticas, chegou a ser nomeado Chefe do Executivo, a pedido do povo e graças à exceção aberta por D. Eduardo Duarte Silva, primeiro bispo de Uberaba, que aqui chegou, em 1896, tendo se revelado excelente administrador, construindo famosa ponte que hoje leva o seu nome, escolas e hospitais, durante os quatro anos de governo; posteriormente, já residindo em Uberaba, prestava assistência à paróquia de Santa Rosa, hoje Iturama, onde ia todas as semanas, até a época de sua desencarnação, em janeiro de 1961, já Cônego do Capítulo de Uberaba; que fez a primeira comunhão, em companhia de Tonico dos Santos, na Igreja de Santa Rita, tendo estudado em Coimbra.
No extinto Correio Católico, de 21-01-1961, D. Alexandre escreveu um artigo sobre Cônego Osório — “Um Túmulo na Terra e um Trono do Céu” —, do qual extraímos o seguinte: “A visão que Uberaba tem, hoje, de um túmulo aberto na terra e de um trono, levantado no céu, marca o epílogo, o coroamento de uma vida simples e operosa, cristã e sacerdotal, na humildade da renúncia e na grandeza de um mérito legítimo, do saudoso Cônego Osório Ferreira dos Santos.”
Que todos possamos nos lembrar do que nos diz o Espírito deste jovem, acerca do amparo religioso que ele e seus companheiros receberam, através de preces e atividades no bem dos seus familiares, especialmente pais e mães, facilitando-lhes a compreensão de que tudo o que aconteceu com eles se verificou com a permissão dos Mensageiros de Jesus, a benefício deles mesmos, os jovens de Frutal.
Elias Barbosa