O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Eles voltaram — Familiares diversos


3

Um casal unido no Mundo Maior

José Roberto e Beatriz viviam felizes, constituindo um lar de amor e paz na cidade de Martinópolis, Estado de São Paulo.

Manoelinha, única filha, com um aninho de idade, era o encantamento e a presença de mais um traço de união do casal.

Porém, um acidente fatal, no dia 2 de março de 1978, viria mudar completamente o panorama familiar com a transferência dos pais de Manoelinha para o Plano Espiritual, quando se dirigiam de automóvel, pela Rodovia Raposo Tavares, com destino a Presidente Prudente, para assistirem ao casamento de Eduardo, irmão de José Roberto.

Beatriz Cândida Maria Ferrairo Janini Gonçalves, nascida a 28 de dezembro de 1955, era filha do Dr. Paulo Affonso Macuco Janini e de D. Leda Marlene Ferrairo Janini, residentes em Martinópolis.

E José Roberto Gonçalves, nascido a 5 de março de 1952, era filho de D. Arminda Gonçalves, viúva do Sr. José Teixeira Gonçalves, também residente em Martinópolis.


Meses após o doloroso acontecimento, D. Arminda, orientada por amigas, passou a frequentar, aproximadamente cada dois meses, as reuniões do Grupo Espírita da Prece, em Uberaba, Minas, onde trabalha o médium Chico Xavier.

Cultivando a fé de um dia receber notícias de seu querido e inesquecível filho José Roberto, ela soube aguardar a oportunidade do reencontro pelo correio mediúnico, viajando nada menos de dez vezes, percorrendo um trajeto de mais de quinhentos quilômetros que separam sua cidade de Uberaba.

E o seu dia chegou. Na reunião pública da noite de 1º de fevereiro de 1980, seu filho, empunhando o lápis do médium Xavier, escreveu-lhe longa carta, com 36 laudas, de esclarecimento e consolo, pedindo-lhe resignação e coragem, trazendo notícias de seu pai José Teixeira, falecido há três anos, de sua esposa e de outros familiares desencarnados. Sobre sua situação atual afirmou: “Beatriz e eu temos procurado aprender e progredir um tanto… seguimos com mais segurança para a frente.”

Para D. Arminda, essa foi a maior alegria de sua vida. Disse-nos ainda, quando a conhecemos em Uberaba, que a sua família, embora não espírita, aceitou muito bem a mensagem, e que ela sentiu-se, a partir do recebimento da mesma, mais confortada, enfatizando: “Mudei-me completamente. Foi o fato mais importante de minha vida.”

Assim, aconteceu o que o seu filho esperava, quando escreveu: “E ao reler ou escutar estas palavras, que entrego ao papel, o seu coração me descobrirá por dentro das letras, que me refletem os sentimentos de amor e reconhecimento.”


Presença de Beatriz na carta do esposo


Observando as laudas psicografadas da carta de José Roberto, não é difícil identificar, no final da 32ª e no início da 33ª, o seguinte recado de três linhas, com letra diferente do restante: com todo o amor à nossa Manoelinha abraçando a todos com os meus melhores sentimentos.

Pode-se observar, também, um outro detalhe: o recado foi escrito logo após a expressão: os meus e os nossos pensamentos.

Contou-nos D. Leda, mãe de Beatriz, que também acompanhava D. Arminda na viagem a Uberaba, em 14 de março de 1980, quando as conhecemos, que, ao ver, pela primeira vez os originais da carta de José Roberto identificou a letra de sua filha naquele recado de três linhas mas na hora, “teve medo de dizer” e nada comentou. No entanto, sua cunhada identificou, “tendo coragem de falar para os demais familiares”. Foi quando ela confirmou a “descoberta”. Hoje, todos aceitam esse fato com naturalidade.

Há quase dois anos, D. Leda aguardava, pacientemente, esse “aviso” de sua filha. Pois um mês após o acidente, ela teve um sonho interessante e nítido: via uma mão segurando um lápis e escrevendo sobre uma folha de papel. Quando ela se aproximava para ler o que estava sendo escrito, a folha se afastava. Até que escutou uma voz que dizia: “É uma mensagem de Beatriz, mas você só conseguirá lê-la quando for através das mãos de Chico Xavier.”

Ela confiou neste sonho-revelação (hoje podemos dizer que foi premonitório) e nunca se animou a acompanhar D. Arminda em suas periódicas viagens a Uberaba, aguardando um aviso do médium de Uberaba. Por isso, D. Leda deduziu que aquele recado da filha, dentro da mensagem do seu esposo José Roberto (de 1/2/1980), era o aviso há tanto tempo esperado. E, quinze dias depois, a 16 de fevereiro de 1980, lá estava ela em Uberaba, como que atendendo a um encontro marcado. Pela mão abençoada de Chico Xavier deu-se, de fato, a festa do reencontro: Beatriz, Espírito, escreveu a sua primeira carta, assim iniciando-a:

“Querida mãezinha.

Conto, como sempre, com a sua bênção.

Venho em companhia do nosso caro José Roberto, só para agradecer a sua confiança e a sua renovação ao ver minha letra na mensagem que o José Roberto transmitiu à mãezinha Arminda.”


Esta carta foi recebida e lida em reunião pública, e a seguir entregue pelo médium a D. Leda. Mas esta não teve oportunidade, naquela noite, de comentar com Chico sobre o interessante fato ocorrido na carta de José Roberto. Somente um mês após, em 14 de março, é que ela juntamente com D. Arminda, conversaram com o médium, mostrando o trecho em que Beatriz entrou na mensagem do marido. Foi nesse momento que estando próximo, as conhecemos, prestando atenção naquela curiosa narrativa, inédita para nós.


Demonstrando uma segurança notável, quanto à fidelidade da carta mediúnica, D. Leda esclareceu-nos:

“O estilo sucinto da carta é o mesmo da minha filha. Beatriz continua sendo o que era. (apresentando-nos os originais) É ela mesma…”

E, continuou:

“Ela foi sempre sintética, até para falar. Falava muito pouco. Nesse particular, não se assemelhava à sua mãe… Sendo professora de Português, era muito cuidadosa em sua redação. Observe aqui (mostrando-nos a página 11 dos originais), uma de suas características: tinha o cuidado de não repetir a mesma palavra num texto; note, na penúltima linha: ela escreveu “criatura” sobre a palavra “pessoa”, para não repetir a palavra “pessoa”, já escrita na 2ª linha desta página. Ela sempre revisava bem o que escrevia.

Para me convencer, Beatriz não precisava acrescentar mais nada em sua carta. E, olhe, ela me conhecia bem, eu sempre coloquei um ponto de interrogação em tudo. Estou plenamente satisfeita. O seu estilo não me deixa a menor dúvida. Ela sempre foi assim desde os primeiros anos escolares, nunca detalhista. Para o senhor ter uma ideia, quando ela regressou de uma viagem à França, colocou em meu colo uma caixa de fotos da viagem, e disse: “Mamãe, tudo o que eu vi na França está aqui.” Ela pagava para não falar…”


Buscando outros esclarecimentos do caso em estudo, estabelecemos com D. Leda o seguinte diálogo: — Esta carta mediúnica foi a primeira notícia que lhe chegou de sua filha desencarnada?

— Não. Quando D. Arminda, mãe do José Roberto, esteve aqui pela primeira vez, dois meses após o acidente, para falar com o Chico, este, surpreendentemente, interrogou-a: “Quem é Maria Cândida Janini?” Ela não sabia. Pelo sobrenome Janini, respondeu que devia ser um parente de sua nora, falecida. E o médium explicou: “A Beatriz está com ela.” D. Maria Cândida Janini, desencarnada há muitos anos, era a avó paterna de Beatriz. Esta revelação do Chico foi uma feliz surpresa para toda a família.

— A senhora teve oportunidade de pedir novas notícias de Beatriz, diretamente ao médium Xavier, na sua primeira vinda aqui?

— Sim, mas o meu diálogo com ele foi rápido. Ele nada prometeu. Depois coloquei sobre a mesa um papel com o nome dela e a data do seu falecimento. Mais tarde, durante a reunião, fiquei preocupada porque me lembrei que escrevera o seu nome de solteira, omitindo a palavra “Gonçalves”. Na carta, porém, Beatriz assinou o seu nome completo, de casada, aliás, muito semelhante à assinatura em vida material.

— Como a família da senhora recebeu a carta mediúnica?

— Muito bem. A repercussão foi grande, pois todos acharam maravilhoso. Eu tinha uma grande preocupação íntima de não ter dado à Beatriz uma orientação espiritual adequada, baseada nos conhecimentos que tenho hoje, e ela faleceu tão jovem… Mas a sua mensagem desfez essa preocupação, transmitindo-me muita tranquilidade, principalmente esta frase: “A sua presença em minha vida me fez rica de paz, compreensão, esperança e felicidade.” Hoje sou uma pessoa feliz.


“A TODOS, OS MEUS E NOSSOS PENSAMENTOS DE AFETUOSA GRATIDÃO”


1 Querida mãezinha Arminda, peço-lhe nos recomende a Jesus em sua bênção.

2 O tempo que parece cicatrizar qualquer ferida não curou ainda as nossas. As chagas da separação repentina com que não contávamos. Posso dizer-lhe, porém, que Beatriz e eu seguimos com mais segurança para a frente.

3 Aquele desastre numa festa foi algo de terrível para nós, de começo, quando, mais por intuição do que através de conhecimento direto, nos vimos no processo da desencarnação.

4 Mamãe, foi muito difícil conseguir paciência a fim de suportar a imobilidade que me entorpeceu devagar. 5 No íntimo, tentava fazer algo que significasse socorro à companheira, mas os braços estavam parados e não encontrava em mim qualquer recurso para mobilizar-me. Por fim, aquela parada geral de tudo. As mãos inertes, a boca hirta, os ouvidos silenciosos, os olhos ensombrados e o cérebro anestesiado por estranha força.  6 Foi assim que parti, ignorando o que fosse qualquer iniciativa para arredar-me do local em que os veículos se haviam chocado… 7 Depois de tempo grande que não medi, acordei ao lado de meu pai n que me sossegou o espírito para logo atormentado de indagações.

8 A presença paterna não me deu ensejo a qualquer dúvida, Beatriz e eu não residíamos mais no mundo que nos fizera felizes. Chorei ao pensar em seu sofrimento de mãe e me senti ligado aos seus sentimentos. Acordar era retomar a vida e retomar a vida era reapossar-me do sofrimento que nos ficara de partilha.

9 Agora, venho pedir-lhe coragem e segurança. Tanto tempo se foi e vejo-a, quase todos os dias, com o mesmo pranto a perguntar: por quê? Não indague mais, querida mãezinha, e aceitemos a realidade qual se nos mostra.

10 Estou melhorando por aqui e não me esquecerei de dividir com a senhora todas as boas realizações que o Senhor me permitir efetuar.

11 As saudades são nossas, mas, no fundo de todas as amarguras da separação aparente, as alegrias estão semeadas e produzirão flores e frutos de felicidade para nós todos.

12 Beatriz e eu temos procurado aprender e progredir um tanto… Creia, porém, que o desprendimento dos laços humanos é uma lição das mais difíceis para mim, porquanto a vejo longe de nós, embora desejando que a sua querida existência seja premiada por Deus, com a mais longa extensão possível.

13 O Eduardo, a Francelina n e todos os nossos precisam de sua dedicação e tudo farei para que o seu querido coração se reconforte, permanecendo aí por muito e muito tempo, a fim de que os propósitos das Leis de Deus sejam cumpridos.

14 Sempre acreditei que as mães não deveriam morrer nunca, porquanto somente as nossas mães encontram em si o poder de sustentar-nos vivos na Terra com esperança e harmonia de uns para com os outros.

15 Estou contente com a oportunidade obtida e transmito-lhe não somente as lembranças de meu pai, mas também o carinho do meu avô Antônio n e da vovó Camilla. n

16 Querida mãezinha, a todos os nossos, os meus e nossos pensamentos (com todo o amor à nossa Manoelinha, abraçando a todos com os meus melhores sentimentos) de afetuosa gratidão.

17 E ao reler ou escutar estas palavras, que entrego ao papel, o seu coração me descobrirá por dentro das letras que me refletem os sentimentos de amor e reconhecimento. Deus a recompense por todos os seus sacrifícios por nós, seus filhos, aos quais a senhora sempre se entregou para amar-nos e sofrer por nós todos. E guarde, como sempre, com a senhora, todo o coração reconhecido do seu filho,


José Roberto Gonçalves


NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


1 — Meu pai — Seu pai, Sr. José Teixeira Gonçalves, desencarnou em 13 de julho de 1975.


2 — Eduardo e Francelina — Irmãos.


3 — Avô Antônio — Sr. Antônio Gonçalves; bisavô paterno, falecido em Portugal há mais de 20 anos. (Não foi fácil para a família identificá-lo.)


4 — Vovó Camilla — Bisavó materna, falecida em Portugal, há aproximadamente 26 anos.


PRIMEIRA CARTA DE BEATRIZ n


“Que a saudade seja para nós uma oração de esperança”

1 Querida mãezinha. Conto como sempre com a sua bênção.

2 Venho em companhia do nosso caro José Roberto, só para agradecer a sua confiança e a sua renovação ao ver minha letra na mensagem que o José Roberto transmitiu à mãezinha Arminda.

3 Mamãe, muito grata ao seu amor e por todas as alegrias de que a sua presença em minha vida me fez rica de paz, compreensão, esperança e felicidade.

4 Aquele acidente, no dia do enlace do nosso estimado Eduardo, tinha razão de ser. As raízes de todos aqueles quadros tristes estão no passado e Deus já permitiu fossem arquivados em definitivo nos caminhos do tempo. n

5 Para nós, agora, é a certeza da imortalidade e a alegria do reencontro.

6 Agradeço quanto fazem os meus familiares queridos e especialmente a sua dedicação por nossa querida Manoelinha.

7 Graças a Deus, tenho uma filha privilegiada, porque a vejo com duas mães carinhosas e devotadas, a fazerem por ela tudo aquilo que desejaria fazer.

8 Estou agradecida e quase feliz: Esse quase vem da carência afetiva, diante da falta que sinto de sua presença e da presença de todos os nossos. 9 Entretanto, reconheço que, tanto na Terra quanto aqui, toda pessoa se sente incompleta ante a ausência dessa ou daquela criatura querida, que passou a residir em outro Plano de existência.

10 Que a saudade seja para nós uma oração de esperança; e confiemos em Deus.

11 Querida mãezinha Leda, a todos de casa os meus votos de paz e alegria.

12 Para o seu coração querido, todo o coração de sua filha,


Beatriz

Beatriz C. M. Ferrairo Janini Gonçalves


NOTAS


5 — Carta recebida na reunião pública do Grupo Espírita da Prece, em Uberaba/MG, pelo médium Francisco C. Xavier, a 16/2/1980.


6 — Aquele acidente, no dia do enlace do nosso estimado Eduardo, tinha razão de ser. As raízes de todos aqueles quadros tristes estão no passado e Deus já permitiu fossem arquivados em definitivo nos caminhos do tempo. — Por que um acidente tão grave e fatal, logo com um casal jovem, trabalhador e feliz, pais de uma filhinha ainda no primeiro ano de vida? As Forças Superiores do Bem não poderiam tê-lo evitado? Existe uma Justiça Divina orientando e disciplinando os passos humanos? — são perguntas, quase sempre carregadas de revolta e desespero, que habitualmente são feitas diante de dramas semelhantes a esse. Aqui, é a própria Beatriz — já consciente de sua posição em face das leis evolutivas do espírito imortal —, que volta do Além, pela psicografia, para explicar: as raízes de todo o drama estão no passado, em vidas anteriores do casal e familiares. Ela esclarece, com segurança, sem entrar em detalhes desnecessários. A reencarnação é a chave que nos permite abrir as portas para um entendimento maior dos ditames sábios e justos da Providência Divina, que supervisionam o progresso espiritual de cada um de nós. (Ver os livros de Allan Kardec: O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulos 4 e 5; e O Livro dos Espíritos, cap. 4, 2ª parte (reencarnação) e cap. 10, 3ª parte (livre-arbítrio e fatalidade).)


SEGUNDA CARTA DE BEATRIZ n


“Só dispomos de razões para agradecer a Deus as bênçãos que nos iluminam o caminho”

1 Querida mãezinha Leda, peço a sua bênção.

2 Venho agradecer-lhe tudo o que faz em meu benefício, e dizer ao papai, vovó, n e aos irmãos Paulo, Márcia e Elsie que não os esqueço.

3 Tanto quanto estou ligada ao seu carinho e à nossa querida Manoelinha, estou junto aos familiares inesquecíveis.

4 Mãezinha, peço dizer ao meu pai que esperamos dele a coragem e a fortaleza de sempre.

5 Realmente, o amigo Dr.… esteve um tanto desorientado após a liberação da experiência física, e como é lógico, lembrou-se dos amigos, dentre os quais o papai, que é sempre aquele esteio forte. Mas já foi encaminhado para tratamento de recuperação espiritual.

6 Rogo a meu pai aliviar o pensamento de qualquer retalho de sombra, porque só dispomos de razões para agradecer a Deus as bênçãos que nos iluminam o caminho.

7 Agradeço à mãezinha Arminda o bem que nos faz. O José Roberto está em minha companhia e beija-lhe as mãos.

8 Querida mãezinha Leda, não posso gastar mais tempo. Agradeço toda a sua bondade.

9 Um beijo em nossa querida Manoelinha e em sua dedicação incessante, ficam a alma toda e todo o coração de sua filha


Beatriz

Beatriz C. M. Ferrairo Janini Gonçalves. n


NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


7 — Carta recebida pelo médium Francisco C. Xavier, a 16 de maio de 1980, em reunião pública do Grupo Espírita da Prece, em Uberaba, Minas.


8 — Vovó — D. Rosa Ferrairo, avó materna.


9 — Paulo, Márcia e Elsie — Irmãos.


10 — As duas cartas de Beatriz foram divulgadas pela família, em impressos bem confeccionados. No impresso da primeira, reproduziu-se um trecho do original psicografado, e na da segunda, a família colocou o seguinte: “Agradecimento — Chico, pelo conforto recebido e fortalecimento na fé em Jesus, nós te agradecemos, elevando nossos pensamentos ao Altíssimo para que sua missão tão maravilhosa, seja cada vez mais acrescida de bênçãos celestiais.”


Hércio Arantes


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