1 Mamãe, abençoe seu filho e continue pedindo a Deus por mim.
2 Tanta escora encontrei nas suas preces que, de certo modo me habituei com a segurança. Aliás, querida mamãe, que filho se reconhecerá de outra maneira?
3 Pedi vez e tento falar escrevendo. Minhas saudações alcançam a todos, com os meus votos a Leila e ao Nilson, por um futuro abençoado constantemente por Deus.
4 Mamãe, parece-me que a gente, quando se desvencilha do corpo físico, regressa à condição de criança. Referimo-nos à Divina Providência com tanta facilidade e o nosso pensamento se eleva para o Alto com tanta frequência, que a renovação por aqui, apresenta igualmente um começo ou recomeço em que a fé na essência, é a base mais importante de nossas afirmações.
5 Creia que me regozijo com as novidades. O seu trabalho é hoje tão grande que me sinto, por vezes, com dificuldade para caminhar nos seus passos.
6 Graças a Jesus, o seu carinho compreendeu, precisávamos disso: converter saudades em oração, e crença em serviço aos outros. Visito em sua companhia a nossa família nova — a família que adquirimos por extensão. Escuto seus convites ao trabalho, e acompanho-a com aquela satisfação de menino feliz.
7 Até fevereiro de 1974, era jornada com meu pai, respirando aquele cheiro maravilhoso de capim verde ou molhado, era a gleba cercada, os liames a se ampliarem e o gado amigo dando ideias a seu filho de que aquelas cabeças sustentadas em quatro pés, eram quase criaturas humanas, pedindo compreensão. O amor pelo campo não sofreu qualquer modificação. Fitar os céus e estudar na terra acolhedora, são ainda um prazer no meu coração.
8 Entretanto, agora, mãezinha, sem deixar de ser o que sou, rejubilo-me com seus artesanatos de balas e enxovais, especialmente, tudo que signifique elementos de auxílio aos nossos irmãos em obstáculos maiores do que os nossos, nos quais as suas queridas mãos sabem transformar o seu próprio esforço em recursos de socorro aos nossos semelhantes.
9 Muito grato quando você procura colocar minhas mãos nas suas, no serviço do bem. Sei que apregoar caridade seria pedante em mim, no entanto, reporto-me com muito orgulho à cozinha onde procuro aprender, de longe embora, tudo aquilo que venha a ser ideal mais trabalho somando beneficência.
Agradeço igualmente ao papai o quanto nos auxilia.
10 Mamãe, aqui se nos achamos ligados à família, acompanhamos todas as ocorrências em casa.
Não fique triste se meu pai não consegue ainda se desligar daquelas ideias de tristeza e quase desânimo que, por algumas vezes, ainda lhe aparece no espírito.
11 É assim mesmo. Ele crê em Deus, ele sabe que continuo existindo. Mas entendi com a vovó Laudelina que ele é extremamente sensível.
12 Na Terra, surgimos na mesma forma: cabeça, tronco e membros, (veja lá se me lembro da escola com exatidão). Mas, por dentro do crânio, a vida é muito diferente de uns para os outros.
13 Paciência, mamãe.
Aquela severidade de meu pai é amor vestido num tecido forte. Mas, no íntimo, é aquele protetor que temos e conhecemos.
14 Nosso caro Nilson n conhecerá conosco tudo isso. Digo assim, porque Nilson é o caçula da casa, é aquele filho do coração que chegou por último e terá essas honras de mais moço, até que nosso grupo alcance novas promoções.
15 Peço ao seu carinho dizer ao papai para não acolher qualquer desânimo. Compreendo que no coração dele aparece a saudade rogando renovações; entretanto, certas renovações em família não devem ser apressadas. De meu lado, no que se refere a isso, não perdi o meu encantamento pela terra.
16 Entendo que o dinheiro é uma bênção de Deus para se aplicar, mas a terra é uma bênção de Deus, em que conseguimos e devemos produzir para o bem de todos.
Aqueles projetos para o Norte, com Araguaína em nossa mira, continuam comigo.
Isso não quer dizer que me apeguei a patrimônios materiais, ou que não encontrei vida melhor, que a vida na fazenda. Não é isso.
17 Penso em trabalho e proteção para aqueles que a bondade de Deus nos confiou ao zelo de cada dia.
Papai e a senhora façam, porém, o melhor.
Apesar de tudo, não me podem recusar o direito de respeitar as alegrias que me deram e as lições que me ensinaram.
18 Quero dizer à Leila e ao Nilson que estamos contentes, muito contentes ao vê-los de aliança dupla, anel de ouro no ouro do coração, caminhando lado a lado para a frente. Estamos agradecidos a todos, o amor com que somos lembrados em casa.
19 Aqui, temos atividades e mais atividades, não temos tanto “soçaite”, mas cultivamos reuniões fraternas com muita esperança e com muitos planos de melhora crescente.
20 Vovó Laudelina e tia Nené estão comigo, com outras afeições em anexo. Tudo com muita alegria de mistura com as nossas preces a Deus pela felicidade de todos.
21 Nosso abraço a Lau, ao Carlos, a Júlia, a Blanche, n ao Flávio, a Urquiza, n e a todos os corações queridos.
22 Mamãe, rogo as suas preces pelo amigo José — o Zé da Brahma; n devo auxiliá-lo e preciso de seu concurso.
23 Sou portador de notícias do amigo Geraldo n para nossa irmã D. Nenzinha. n Ele está muito bem, conquanto, naquela rede de ansiedade entre os dois mundos — Saudade pra lá e saudade pra cá. No entanto, a proteção aqui é uma cobertura joia e todos devemos aguardar tudo de bom para nosso amigo e para D. Nenzinha com os nossos entes queridos.
24 Lembro, mamãe, que a nossa gratidão ao amigo Dr. Vieira n não pode esmorecer, e peço dizer a ele que o Maurício n vai num reajuste dos melhores.
25 Mamãe, é tanta a emoção ao escrever tudo isso, que tenho um nó na garganta, como se a minha garganta estivesse nos dedos com que me faço sentir.
26 Rogo comunicar ao papai que estamos cientes quanto à cirurgia, e que se meu avô Izídio não está aqui com o neto, é porque está embalando o filho querido, garantindo-lhe mais força nas forças habituais.
27 Mamãe, agradeço por tudo.
Perdoe seu filho, se falei em seu trabalho sempre renovado na visitação aos nossos companheiros de experiência. Afinal, sou seu filho e fico feliz ao reconhecer que o seu coração me ouviu os rogos na carta de outubro, há quase dois anos. 28 É isso. O câmbio se modifica, entendemos que é sempre melhor dar do que receber, porque estamos sempre recebendo da bondade de Deus para sermos mais úteis.
29 Um beijo na fronte da Leila, sem me esquecer da Nazira. n
Com o meu coração dividido entre a senhora e meu pai, peço-lhe guardar o amor e a saudade, o carinho e a gratidão num beijo do filho sempre mais reconhecido,
Izídio
Da mensagem recebida pelo médium Xavier, ao final da reunião da noite de 20 de agosto de 1976, explicitemos apenas alguns itens, deixando que o próprio leitor o faça quanto aos demais, já que esta quanto a primeira página de Izídio, se mostra referta de apontamentos que nos induzem a pensar.
1. Leila, n Júlia, Lau e Blanche: irmãs de Izídio.
2. Carlos, Flávio e Nilson: cunhados do comunicante.
3. Urquiza: amiga da família, que ajudou a criá-lo.
4. Nazira: prima de Izídio.
5. Geraldo: pai de Nilson, desencarnado em janeiro de 1976.
6. Nenzinha: apelido familiar de D. Maria Rodrigues, esposa de Geraldo e mãe de Nilson.
7. Dr. Vieira: abnegado médico que deu assistência a Izídio, nos seis dias que esteve em estado de coma, no Hospital Ortopédico, de Goiânia.
8. Maurício: filho do Dr. Vieira, que desencarnou em maio de 1976, com apenas sete anos de idade, vítima de queimadura. Cf. os capítulos 37 e 38 [do livro impresso.] [Vide: Capítulo 19.]
9. Zé da Brahma: companheiro de Izídio, que desencarnou no mesmo acidente automobilístico, sobre quem nos estendemos no capítulo anterior.
“Mamãe, parece-me que a gente, quando se desvencilha do corpo físico, regressa à condição de criança. (…) Visito em sua companhia a nossa família nova — a família que adquirimos por extensão. Escuto seus convites ao trabalho, e acompanho-a com aquela satisfação de menino feliz. (…) O amor pelo campo não sofreu qualquer modificação. Fitar os céus e estudar na terra acolhedora, são ainda um prazer no meu coração. (…) Muito grato quando você procura colocar minhas mãos nas suas, no serviço do bem.” Em todos os lances, Izídio deixa claro que “fora da caridade não há salvação”.
Mais adiante, entra num ponto da maior importância: o papel do dinheiro e como nos conduzir quando possuímos glebas de terra neste mundo:
“Entendo que o dinheiro é uma bênção de Deus para se aplicar, mas a terra é uma bênção de Deus, em que conseguimos e devemos produzir para o bem de todos.
“Aqueles projetos para o Norte, com Araguaína em nossa mira, continuam comigo.
“Isso não quer dizer que me apeguei a patrimônios materiais, ou que não encontrei vida melhor, que a vida na fazenda. Não é isso. “Penso em trabalho e proteção para aqueles que a bondade de Deus nos confiou ao zelo de cada dia.” Lição das mais profundas para aqueles que por prova ou expiação se tornam latifundiários. Que distribuam tarefas para os trabalhadores braçais e estes sejam remunerados com dignidade, não havendo necessidade de transformarem suas grandes propriedades rurais em minifúndios. Lição profunda, repetimos, a do jovem fazendeiro desencarnado. De certa forma, vem completar a segunda mensagem de Henrique Emanuel Gregoris (veja-se o Capítulo 25 [do livro impresso]) [“De volta ao berçário novo”], a propósito daqueles que perdem muito tempo acumulando “alguns mangos na poupança”, quando “poderíamos acumular outras espécies de benefícios.”
Que todas essas lições nos calem fundo na inteligência e nos corações, sejamos apagados jornaleiros ou detentores de relativa fortuna material.
Elias Barbosa
[1] [No livro impresso: “Leilá”.]