O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Enxugando lágrimas — Familiares diversos


19 n

Mamãe, aqui temos jardins e escolas, parques e flores

1 Minha querida mãezinha, querido papai.
Abençoem-me!

2 Fiz muitos exercícios para escrever esta carta, mas não sei como agir direito.

3 Mãezinha e papai, vocês choraram tanto e me chamaram com tanto amor que, desde minhas melhoras, quero responder. Venho pedir à mamãe que creia em mim. Ela me fala, quase todas as noites:
— Meu filho, se existe outra vida, venha ver sua mãe! Venha ver a falta que você faz. Fale, meu filhinho, comigo, o que existe e fale depressa para que eu e seu pai consigamos viver.

4 Isso, mãezinha, eu ouço de seu querido coração, em nossa casa da Rua 128, n quando há silêncio bastante para receber a presença de nossas lembranças. Estou sempre que posso, desde que comecei a melhorar, lá no número 20, recordando com as suas recordações…

5 Papai, por que o senhor há de pensar que poderia ter evitado tudo o que aconteceu? Tenha fé em Deus, meu pai querido, e não se culpe por desejar colocar mais conforto em nossa casa feliz. Aquela luz que se apagou e a luz que acendi na vela chegavam de longe.

6 Aqui, temos muitas aulas. Não sei explicar como os professores daqui explicam, mas fiquei sabendo que todo sofrimento que não provocamos é resultado de sofrimento que já causamos em outros tempos. Não tenho meios de esclarecer isso, mas os amigos nossos aqui são muitos e todos me auxiliam, esclarecendo.

7 Mamãe, quando as queimaduras ficaram profundas, eu não lembrava com segurança o que havia acontecido. Lembro-me que papai estava assustado, querendo colocar a gente fora de perigo, mas isso para seu filho não seria possível. Mas no hospital, eu queria ver o papai me tratando, sem saber que ele também estava lutando com os braços feridos. Não sei contar como foi aquela aflição toda de ver que todos perto de mim mostravam rosto triste, até que, num certo momento, que não sei precisar, senti-me aliviado, quase tranquilo. As feridas das queimaduras ainda doíam, mas eu estava diferente. Eu estava num colo de mãe, tão acolhedor, e me via embalado muito suavemente e com tanto carinho, que eu pensei ter obtido alta e estava em nossa casa, em seu colo.

8 Chamei por você, mamãe, com aquela confiança de todo dia, mas o semblante de alguém que não era a senhora, se abeirou de meu rosto e uns lábios de bondade parecendo com os seus me beijaram. “Não tenha medo, meu filho, sou a vovó Alexandrina n em lugar de sua mãe.” Escutei essas palavras sem o menor receio e sem qualquer ideia de morte, e havia lutado tanto com o corpo antigo que me entreguei, de novo, ao descanso.

9 Acordei numa escola-hospital com os seus e com os chamados de papai. A senhora sabe quanto devo ter chorado também, mas aquela abençoada protetora que me ensinou a chamá-la por vovó Alexandrina me sossegava o coração. Era preciso ser bem comportado, e fiz muita força.

10 Médicos me assistiram. Eram outra vez os médicos sem meu pai. Um deles, que se dá a conhecer por Doutor Paulo Rosa, n me entregou aos cuidados de um amigo de papai e do meu avô José, n o nosso amigo José Fernandes Valente, n que me serviu de enfermeiro com outras pessoas boas. São tantas que não sei. Mas posso dizer à senhora e a meu Pai que o irmão Tarcísio Siqueira n e o Padre ou Monsenhor Pitaluga n me prestam muitos serviços.

11 Monsenhor Pitaluga me falou das preces da vovó Augusta n e do vovô Zico n e dos meus avós e parentes todos que pediam a Deus por nós. Estou mais forte. Não tenho mais a pele ferida e os meus cabelos estão como no retrato melhor.

12 A senhora, mãezinha, e você, papai, não se esqueçam de que temos muito a trabalhar pela Jeanine n e pelo nosso Wagner.

13 Os amigos que fiz aqui, dentre eles, o Izídio do Seu Cacildo e o Henrique de Dona Augustinha, n estão me auxiliando a escrever.

14 Mamãe, aqui, temos jardins e escolas, parques e flores, muitos diálogos com professores e muita música, mas sentimos muita falta de nossos pais que ficam no mundo. Tenho companheiros bons, com quem encontro muitas distrações, mas o esquecimento daqueles que amamos não existe. 15 A saudade é uma espécie de ímã no coração. Tenho dias em que meu espírito parece uma peça atraída para a nossa casa, e então sou levado até lá para aliviar-me. Conto isso, mas não é para chorarem. Tudo já passou. Agora, eles, os professores, me deixam escrever em confiança.

16 Não devo escrever nada que aumente o sofrimento em meus pais e irmãos queridos.

17 Mamãe, sabe o que tenho pedido a Deus? Tenho pedido para que a fé venha morar em seu coração, como sendo uma estrela no céu, porque o seu carinho é o céu para nós. Não deixe nossa casa triste. Faça nossas músicas, mamãe. Elas serão preces pela felicidade de seu filho. Seu sorriso e o sorriso de papai são luzes para mim.

18 Sempre que eu puder, escreverei. Quero dizer à senhora e papai que o Tio Antônio n e Tio Godofredo n são dois amigos muito legais para mim.

19 Agora é o momento de parar, mas carta com saudade parece corpo com o coração batendo incessantemente. O coração não para nem quando se dorme no mundo e a saudade para mim é isto que estou falando: um relógio por dentro que marca tempo constante de nossa ligação e de nosso amor.

20 Papai, receba um beijo na testa com a alegria de havermos vencido a prova da cola incendiada e você, mamãe, guarde como sempre, todo o coração de seu filho e seu companheiro de sempre,


Maurício n




LUZES QUE CHEGAVAM DE LONGE


Ainda sob o impacto de profunda emoção, que persistiu durante a datilografia definitiva do capítulo anterior, verdadeira obra-prima da Literatura Mediúnica Espírita, resta-nos sugerir ao leitor amigo, tão logo se inteire dos dados comprobatórios da aludida mensagem, a ela retornar para nova leitura, deixando-se imergir na aura de Espiritualidade Superior que dela dimana.

A fina joia de fino valor mediúnico a que nos reportamos, foi recebida pelo médium Xavier, ao final da sessão da noite de 22 de abril de 1977, no Grupo Espírita da Prece, em Uberaba, Minas.

Da peça primorosa que nos traça com mão de mestre o perfil da Lei de Causa e Efeito — “aquela luz que se apagou e a luz que acendi na vela chegavam de longe”, — salientemos tão somente os elementos identificadores da entidade comunicante, importantes para muitos dos nossos irmãos que compõem a grande Família Humana Reencarnada:


1. Maurício: Maurício Xavier de Vieira nasceu em Goiânia, Estado de Goiás, a 14 de dezembro de 1968. Filho do Dr. José Vieira Filho, distinto médico que exerce a Clínica de Anestesiologia, em Goiânia, e de D. Alexandrina Maria Xavier Vieira. Desencarnou em consequência de queimaduras, por acidente, no dia 17 de maio de 1976, em Goiânia, com 7 anos de idade.


2. Casa da Rua 128, número 20: Setor Sul. Local onde entrevistamos os pais de Maurício, na tarde de 4 de fevereiro de 1978.


3. Vovó Alexandrina: Bisavó de Maurício. Trata-se da Sra. Alexandrina Fontes Xavier, que nasceu e desencarnou em Anápolis, Estado de Goiás, respectivamente, a 13 de agosto de 1888 e 3 de março de 1936.


4. Doutor Paulo Rosa: Distinto médico pediatra, que clinicava em Anápolis, e escritor de renome que ganhou o primeiro lugar em dois concursos de contos — da Rádio Nacional e o jornal médico “Pulso”. Conforme dados fornecidos por seus familiares, Dr. Paulo Rosa nasceu em Uberaba, Estado de Minas Gerais, a 22 de janeiro de 1904, e desencarnou em Anápolis, Estado de Goiás, a 6 de novembro de 1969. Segundo o jornal uberabense “Lavoura e Comércio”, de 27 de novembro de 1969 (Ano LXXI, nº 17434, p. 3), a desencarnação do ilustre médico e figura de relevo no panorama intelectual de todo o Brasil Central teria se dado a 25-11-1969.


5. Meu avô José: Avô paterno de Maurício. Trata-se de José Vieira, que nasceu em São Francisco, Estado de Goiás, a 15 de maio de 1898.


6. José Fernandes Valente: Farmacêutico antigo de Anápolis, amigo da família. Nasceu em Descalvado, Estado de São Paulo, a 17 de junho de 1898, e desencarnou em Anápolis (GO), a 13 de abril de 1974.


7. Irmão Tarcísio Siqueira: Compadre do avô materno de Maurício. Escrivão do 1.º Ofício, em Anápolis. Nasceu em Jaraguá, Estado de Goiás, em 1904, e desencarnou em Anápolis, em 1963.


8. Padre ou Monsenhor Pitaluga: Trata-se de João Olímpio Pitaluga. Vigário da Paróquia do Bom Jesus de Anápolis, durante vários anos, nasceu na antiga Vila Boa, Estado de Goiás, em 1895, e desencarnou em Anápolis, em 1970. (Dados colhidos no Museu de Anápolis.)


9. Vovó Augusta: Avó materna, Sra. Augusta Leite Xavier, que nasceu em Sacramento, Estado de Minas Gerais.


10. Vovô Zico: Avô materno, Sr. Brasil Xavier Nunes. Nasceu em Silvânia, Estado de Goiás, a 20 de setembro de 1907.


11. Jeanine e Wagner: Irmãos de Maurício, respectivamente, nascidos em 11 de junho de 1964 e 7 de agosto de 1965, em Goiânia, Estado de Goiás.


12. O Izídio do Seu Cacildo e o Henrique de Dona Augustinha: Nossos conhecidos de capítulos que compõem a Segunda Parte deste livro. Henrique, primo de Maurício.


13. Tio Antônio: Trata-se do bisavô Antônio Xavier Nunes, que nasceu em Goiás, Estado de Goiás, a 7 de outubro de 1873, e desencarnou em Anápolis, a 20 de setembro de 1960.


14. Tio Godofredo: Sr. Godofredo Xavier Nunes, irmão do bisavô, desencarnado. Nasceu na cidade de Goiás, em 1883, e desencarnou em Anápolis, em 1952.


Depois de percorrer estas notas, leitor amigo, volte, por gentileza, à página de Maurício para que, edificado, possa enxugar as lágrimas de emoção que, por certo, lhe aflorarão dos olhos.


Elias Barbosa


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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