1 Mãezinha querida, peço a bênção do seu carinho, em nome do Senhor.
2 Creio que a intuição lhe terá falado que tudo faria de minha parte para escrever. Acontece que isso é verdade, mas não pretendia tomar tempo. Um bilhete apenas, algumas frases significando saudade e tudo estaria decidido, mas trouxemos até aqui o nosso Luiz Roberto, para endereçar algumas notícias ao tio Cupertino e à tia Célia, no entanto, a emoção é forte e, quando a gente aqui encontra a possibilidade de falar sem muita preparação, a saudade e a presença, a dor e a alegria, a esperança e ansiedade se reúnem com tal força por dentro da alma, que não nos resta senão lágrimas, as lágrimas com que desanuviamos o céu de nossos pensamentos.
3 O vovô Cupertino e outros amigos se incumbiram de trazer o primo conosco, mas não é possível ainda para ele o trabalho de guiar o fio do lápis, sem chorar. Isso, porém, é muito construtivo, pranto por bênção, e surgirá o momento justo em que ele consiga se fazer sentir como deseja. Ele, no entanto, abraça os pais queridos e pede-lhes a continuação dos pensamentos de conformação e confiança em Deus, com os quais se vê seguramente apoiado.
4 Mãezinha Dulce, continuemos trabalhando. A vida aqui para sua filha adquiriu outras nuanças de coragem e fé viva, desde que me vi ao seu lado, colaborando, de algum modo, em favor dos que necessitam.
5 Devo muito ao irmão Colombino e a outros professores de caridade, que vão me auxiliando a esquecer, naquele bendito esquecimento de nós mesmos, para reconhecer que existem provações muito maiores do que as nossas.
6 Por aqui, as nossas dificuldades e necessidades, no setor de escola e de instrução, não mostram muita diferença.
A pessoa aborda a vida espiritual com ideias preconcebidas de felicidade eterna ou de eternas punições, isso de modo geral, e a luta para dissolver as cristalizações mentais nesse sentido, não são pequenas. 7 Pede-se muito esforço para a transformação, porque não é fácil aceitar na Terra o trabalho do bem como sendo privilégio e bênção. Por isso mesmo, quanto mais repouso indébito no mundo físico, mais movimentação neste outro lado da vida para as devidas compensações no relógio do tempo.
8 Ouvimos muito sobre caridade, aí na Terra, e pensamos nela como sendo passaporte para a santificação imediata, quando se resume nela um conjunto enorme de deveres nossos perante a vida, dos quais não se pode fugir sem grandes prejuízos para nós mesmos. Não quero teorizar, desejo apenas dizer a alegria de sua filha, em nos integrarmos nas tarefas de nossa querida “Irradiação”, em Goiânia.
9 Peço, mãezinha, dizer à Vovó que nossa querida tia Ceci é aquela mesma fonte de amor que conhecemos, buscando empenhar-se no auxílio a todos os nossos, e que o nosso querido tio Holger vai seguindo muito bem… Quando digo muito bem, não desejo separar a falta que se sente por aqui, em nos referindo aos nossos entes amados que ficaram na experiência física.
10 Não sei mesmo onde é que a ausência dói mais, se no caminho dos homens que se separam transitoriamente dos Espíritos, ou se nos Espíritos que já se desvencilharam das provas humanas.
11 As nossas saudades são muito grandes, verdadeiros calvários de cada dia, porque sempre tememos pela insegurança da fé naqueles entes queridos que deixamos no lar do mundo.
12 Mas os nossos instrutores da Vida Superior afirmam que não existe outro caminho para a elevação e que, unicamente no amparo recíproco, é que surpreenderemos as necessárias alavancas de apoio. Como é fácil de ver, os conflitos são enormes e serão enormes, até que a confiança na imortalidade se faça comum nas estradas terrestres.
13 Peço ao seu carinho agradecer à nossa irmã Augustinha o que fez e faz por nós. Tenho procurado resgatar uma pequenina parcela de nossa dívida, tranquilizando o estimado Henrique, recém-chegado ao nosso Plano. 14 Pudesse, querida mamãe, e retiraria todas as inquietações daquela alma nobre de irmã e mãe, no entanto, peço a Jesus lhe recomponha as fibras mutiladas do coração amoroso e bom. 15 Henrique já trabalha um tanto, já se movimenta e procura ajudar para o rápido reajustamento, e isso é uma grande alegria. Primeira tarefa a que se deu, e se deu com grande satisfação, foi o empreendimento de consolar a pequena Juliana, que se transferiu para cá, de repente. Aos poucos, ambas as vidas se fundirão numa só, e todos reconheceremos, que as Leis de Deus não nos criaram para a separação.
16 Agradeço os pensamentos de seu coração dedicado a nós todos, como agradeço as vibrações de auxílio que recebi de meu pai.
17 Querida mãezinha, o bisavô Lage vem auxiliando a tia Ceci, e penso, que em casa ficarão satisfeitos com a notícia que trago.
18 A vovó Maria Poli tem sido para mim uma bênção de paz e amor e, por isso, em escrevendo esta carta, estimaria que ela tomasse a forma de um coração agradecido.
19 Mamãe querida, habituei-me às nossas tarefas do “Solar” e do “Recanto de Matilde” e, por isso, não posso deixar de obedecer a dois pedidos aqui rentes a mim. São eles do irmão Adolfo Braga, que deseja manifestar carinho e agradecimento à nossa irmã espiritual Maria Conceição, que lhe foi mãe no mundo, e a outra solicitação é a do jovem Oswaldo Júnior, que me recomenda dizer à irmã Ilza Pereira, presente em nossas preces, que não lhe esquece o devotamento maternal.
20 Muitos amigos realmente se sentiriam felizes com a possibilidade de escrever, entretanto, é preciso treinar para vencer a nós mesmos de modo a que não nos expressemos trazendo amargura.
21 Somos exercitados aqui a distribuir esperança e bom ânimo, e não seria justo esquecermos isso.
A nossa palavra deve ser de reconforto e de fé.
Nossos benfeitores ensinam isso com razão e, por isso mesmo, unimo-nos a todos os entes queridos, antes de tudo pelo silêncio e pela oração, até que consigamos falar sem enfraquecer ou ferir a ninguém.
22 Mãe querida, a todos os nossos presentes e ausentes, muito carinho e muito amor.
23 Ofereceremos, e isso faço em nome dos companheiros e de várias irmãs aqui reunidos conosco, as flores de nossa ternura e reconhecimento às nossas mães queridas pelo próximo domingo segundo de maio. Deus as engrandeça no sacrifício com que aceitaram o trabalho de nos abençoar e reencaminhar para Deus.
24 Muitas cousas desejaria ainda escrever, mas o horário é mais de nossos irmãos, nesta casa, que mesmo nosso.
25 Reunindo meu pai em nossas lembranças de carinhoso agradecimento, quero dizer-lhe, querida mãezinha, que sou sempre a sua filha, sempre reconhecida e sempre mais sua por dentro do coração,
Marina
Marina Cupertino Poli, filha do Sr. Mário Cupertino e de Dona Dulce Lage Poli Cupertino, residentes em Goiânia, nasceu a 8 de outubro de 1951 e desencarnou a 19 de abril de 1969, em consequência de glomerulonefrite, que se agravou desde os quatorze anos de idade.
Foi sempre uma garota de grande círculo de amizades.
Quando criança, além das doenças cíclicas da infância, sofreu bronquite e eczema, dos quais se curou, posteriormente.
Segundo os familiares, ela nunca se revoltou ante o assédio da enfermidade, perguntando, apenas, porque só ela dentre as primas, estava sempre com problemas de saúde.
Embora muito jovem, dizia à sua genitora para não se apoquentar com ela, pois que morreria ainda nova, esclarecendo não sentir medo algum da morte.
Estudava no Colégio Estadual de Goiânia, onde cursava o segundo ano Clássico, fazendo, ainda, o curso de Francês, na Aliança Francesa.
Era grande desportista, nadando e jogando voleibol.
Como desencarnara em abril e em maio seria o Dia das Mães, deixou uma carta de despedida, para esse dia, endereçada à mãe de determinada amiga, a quem queria muito bem.
Luiz Roberto: Primo de Marina, desencarnado em Goiânia, a 2 de maio de 1975, em acidente automobilístico. Seus pais assistiram à recepção da mensagem, no Grupo Espírita da Prece, ao final da reunião da noite de 23 de abril de 1976.
Tia Ceci: Tia avó da jovem comunicante, desencarnada em Goiânia, três anos depois de Marina.
Tio Holger: Desencarnado em São José dos Campos, Estado de São Paulo, em 30 de agosto de 1949.
Augustinha: trata-se de D. Augusta Soares Gregoris, médium psicógrafa e vidente, que recebeu a primeira mensagem de Marina, oito meses após a sua desencarnação. Normalmente, continua dando notícias dela, nos trabalhos da Irradiação Espírita Cristã, em Goiânia.
Henrique: Filho de D. Augustinha, a respeito de quem nos alongamos nos capítulos 24, 26 e 28 [do livro impresso, desencarnado em acidente.
Vovó Maria Poli: Irmã de seu avô, desencarnada há anos, em Limeira, Estado de São Paulo.
Juliana: Filha de uma antiga colega de Henrique, na INCA de Brasília. Desencarnou quarenta dias depois deste último, também vítima de acidente automobilístico. Fato curioso é que até mesmo a genitora de Henrique, D. Augustinha, médium a quem a obra Somos Seis faz referência, a propósito de um sonho, n desconhecia a sua morte, na ocasião da mensagem.
Sobre a página que foi publicada no jornal Cinco de Março, de Goiânia, n sob o título “Chico Xavier psicografa mensagem de conhecida jovem da sociedade goianiense — Marina fala sobre o Outro Lado da Vida”, sejamos breve em nossos apontamentos.
1. “Devo muito ao irmão Colombino e a outros professores de caridade, que vão me auxiliando a esquecer, naquele bendito esquecimento de nós mesmos, para reconhecer que existem provações muito maiores do que as nossas.”
A denominação de professores de caridade dada aos Benfeitores da Vida Maior é bastante sugestiva e, com efeito, somente eles conseguem nos auxiliar de modo efetivo, “no bendito esquecimento de nós mesmos”, já que eles são os verdadeiros administradores do bem.
2. “Por isso mesmo, quanto mais repouso indébito no mundo físico, mais movimentação neste outro lado da vida para as devidas compensações no relógio do tempo.”
3. “Ouvimos muito sobre caridade, aí na Terra, e pensamos nela como sendo passaporte para a santificação imediata, quando se resume nela um conjunto enorme de deveres nossos perante a vida, dos quais não se pode fugir sem grandes prejuízos para nós mesmos.”
Sobre a caridade, além dos Capítulos XIII ( † ) e XV ( † )
de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, recomendamos a leitura do Capítulo XXXV, expressiva página de José Silvério Horta, ( † ) mais conhecido por Monsenhor Horta, da obra Instruções Psicofônicas. n
4. “Não sei mesmo onde é que a ausência dói mais, se no caminho dos homens que se separam transitoriamente dos Espíritos, ou se nos Espíritos que já se desvencilharam das provas humanas.”
Seríssimo esse passo, que bem demonstra o continuísmo da vida após a morte, e o quanto deveremos reverenciar a Doutrina Espírita, estudando Allan Kardec, palavra a palavra.
5. “As nossas saudades são muito grandes, verdadeiros calvários de cada dia, porque sempre tememos pela insegurança da fé naqueles entes queridos que deixamos no lar do mundo.”
Daí, a necessidade da prática do bem infatigável, confiantes na Divina Providência, a fim de pacificarmos, no Além e no Aquém, aqueles filhos de Deus a quem denominamos entes amados.
6. “Muitos amigos realmente se sentiriam felizes com a possibilidade de escrever, entretanto, é preciso treinar para vencer a nós mesmos de modo a que não nos expressemos trazendo amargura.
“Somos exercitados aqui a distribuir esperança e bom ânimo, e não seria justo esquecermos isso.
“A nossa palavra deve ser de reconforto e de fé.”
Eis, aqui, a explicação daquela passagem da segunda carta de Henrique, no Capítulo 25 [do livro impresso] [“De volta ao berçário novo”], quando afirma que não se sente com matrícula no colégio das mensagens. Muito importante este detalhe, especialmente para os pais que desejosos de receberem uma palavra de filhos desencarnados, são constrangidos a esperar, às vezes, por mais de um lustro para a obtenção de semelhante bênção.
Paciência e paciência, quando um ente querido procrastinar, por tempo indeterminado, a comunicação verbal esperada com os que ficaram nas estradas terrestres, é o que aconselharíamos à expectação nesse assunto.
Para finalizar, Marina clareia ainda mais o problema, como que se dirigindo a todos os pais da Terra, rogando-lhes paciência e serviço ao próximo como sendo preciosas moedas, através das quais poderão conseguir algo da Espiritualidade Maior, desde que isso se constitua em benefício para muitos, e não apenas para a família do comunicante:
“Nossos benfeitores ensinam isso com razão e, por isso mesmo, unimo-nos a todos os entes queridos, antes de tudo pelo silêncio e pela oração, até que consigamos falar sem enfraquecer ou ferir a ninguém.”
Elias Barbosa
[1] Francisco Cândido Xavier, Caio Ramacciotti e Espíritos Diversos, Somos Seis, GEEM, São Bernardo do Campo, SP, pp. 197-198.
[2] Cinco de Março, Goiânia, 10 a 16 de maio de 1976, Ano 17. nº 798, p. 5.
[3] Francisco Cândido Xavier, Instruções Psicofônicas, recebidas de vários Espíritos, no Grupo “Meimei”, e organizadas por Arnaldo Rocha, FEB, Rio, 1ª edição, 1956, pp. 143-146.