O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Evolução em dois mundos — André Luiz — F. C. Xavier / Waldo Vieira — 1ª Parte


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Alma e reencarnação

(Sumário)

1. DEPOIS DA MORTE. — Efetivamente, logo após a morte física, sofre a alma culpada minucioso processo de purgação, 2 tanto mais produtivo quanto mais se lhe exteriorize a dor do arrependimento,  3 e, apenas depois disso, consegue elevar-se a Esferas de reconforto e reeducação.

4 Se a moléstia experimentada na veste somática foi longa e difícil, abençoadas depurações terão sido feitas, pelo ensejo de autoexame, no qual as aflições suportadas com paciência lhe alteraram sensações e refundiram ideias.

5 Todavia, se essa operação natural não foi possível no Círculo carnal, mais se lhe agravam os remorsos, depois do túmulo, por recalcados na consciência, a aflorarem, todos eles, através de reflexão, renovando as imagens com que foram fixados na própria alma.

6 Criminosos que mal ressarciram os débitos contraídos, instados pelo próprio arrependimento, plasmam, em torno de si mesmos, as cenas degradantes em que arruinaram a vida íntima, alimentando-as à custa dos próprios pensamentos desgovernados.

7 Caluniadores que aniquilaram a felicidade alheia vivem pesadelos espantosos, regravando nas telas da memória os padecimentos das vítimas, como no dia em que as fizeram descer para o abismo da angústia, algemados ao pelourinho de obsidentes recordações.

8 Tiranetes diversos volvem a sentir nos tecidos da própria alma os golpes que desferiram nos outros, 9 e os viciados de toda sorte, quais os dipsômanos e morfinômanos, experimentam agoniada insatisfação, 10 qual ocorre também aos desequilibrados do sexo, que acumulam na organização psicossomática as cargas magnéticas do instinto em desvario, pelas quais se localizam em plena alienação.

11 As vítimas do remorso padecem, assim, por tempo correspondente às necessidades de reajuste, larga internação em zonas compatíveis com o estado espiritual que demonstram.


2. CONCEITO DE INFERNO. — O inferno das várias religiões, nesse aspecto, existe perfeitamente como órgão controlador do equilíbrio moral nos reinos do Espírito, 2 assim como a penitenciária e o hospital se levantam na Terra, como retortas de recuperação e de auxílio.

3 Além-túmulo, no entanto, o estabelecimento depurativo como que reúne em si os órgãos de repressão e de cura, 4 porquanto as consciências empedernidas aí se congregam às consciências enfermas, na comunhão dolorosa, mas necessária, em que o mal é defrontado pelo próprio mal, a fim de que em se examinando nos semelhantes, esmoreça por si na faina destruidora em que se desmanda.

5 É assim que as Inteligências ainda perversas se transformam em instrumentos reeducativos daquelas que começam a despertar, pela dor do arrependimento, para a imprescindível restauração.

6 O inferno, dessa maneira, no clima espiritual das várias nações do Globo, pode ser tido na conta de imenso cárcere-hospital, 7 em que a diagnose terrestre encontrará realmente todas as doenças catalogadas na patologia comum, 8 inclusive outras muitas, desconhecidas do homem, não propriamente oriundas ou sustentadas pela fauna microbiana do ambiente carnal, 9 mas nascidas de profundas disfunções do corpo espiritual e, muitas vezes nutridas pelas formas-pensamentos em torturado desequilíbrio, classificáveis por larvas mentais, 10 de extremo poder corrosivo e alucinatório, não obstante a fugaz duração com que se articulam, quando não obedecem às ideias infelizes, longamente recapituladas no tempo.


3. “SEMENTES DE DESTINO”. — Nesses lugares de retificadoras inquietações, alija o Espírito endividado a carga de superfície, exonerando-se dos elementos de mais envolvente degradação que o aviltam; 2 contudo, tão logo revele os primeiros sinais de positiva renovação para o bem, regista o auxílio das Esferas Superiores, que, por agentes inúmeros, apoiam os serviços da Luz Divina onde a ignorância e a crueldade se transviam na sombra.

3 Qual doente, agora acolhido em outros setores pela encorajadora convalescença de que dá testemunho, o devedor desfruta suficiente serenidade para rever os compromissos assumidos na encarnação recentemente deixada, sopesando os males e sofrimentos de que se fez responsável, 4 acusando ainda a si próprio, com a incapacidade evidente de perdoar-se, tanto maior quão maiores lhe foram no mundo as oportunidades de elevação e a luz do conhecimento.

5 Muita vez, ascendem a escolas beneméritas, nas quais recolhem mais altas noções da vida, aprimoram-se na instrução, aperfeiçoam impulsos e exercem preciosas atividades, melhorando os próprios créditos; 6 todavia, as lembranças dos erros voluntários, ainda mesmo quando as suas vítimas tenham já superado todas as sequelas dos golpes sofridos, entranham-se-lhes no Espírito por “sementes de destino”, 7 de vez que eles mesmos, em se reconhecendo necessitados de promoção a níveis mais nobres, pedem novas reencarnações com as provas de que carecem para se quitarem consciencialmente consigo próprios.

8 Nesses casos, a escolha da experiência é mais que legítima, porquanto, através da limpeza de limiar, efetuada nas regiões retificadoras, e pelos títulos adquiridos nos trabalhos que abraça, no Plano extrafísico, merece a criatura os cuidados preparatórios da nova tarefa em vista, a fim de que haja a conjugação de todos os fatores para que reencontre os credores ou as circunstâncias imprescindíveis, junto aos quais se redima perante a Lei.


4. REENCARNAÇÕES ESPECIAIS. — Entretanto, reencarnações se processam, muita vez, sem qualquer consulta aos que necessitam segregação em certas lutas no Plano físico, 2 providências essas comparáveis às que assumimos no mundo com enfermos e criminosos que, pela própria condição ou conduta, perderam temporariamente a faculdade de resolver quanto à sorte que lhes convém no espaço de tempo em que se lhes perdura a enfermidade ou em que se mantenham sob as determinações da justiça.

3 São os problemas especiais em que a individualidade renasce de cérebro parcialmente inibido ou padecendo mutilações congênitas, ao lado daqueles que lhe devem abnegação e carinho.

4 Incapazes de eleger o caminho de reajuste, pelo estado de loucura ou de sofrimento que evidenciam, semelhantes enfermos são decididamente internados na cela física como doentes isolados sob assistência precisa.

5 Vemo-los, assim, repontando de lares faustosos ou paupérrimos, contrariando, por vezes, até certo ponto os estatutos que regem a hereditariedade, por representarem dolorosas exceções no caminho normal.


5. REENCARNAÇÃO E EVOLUÇÃO. — Urge reparar, entretanto, que a reencarnação não é mero princípio regenerativo.

2 A evolução natural nela encontra firme apoio.

3 Criaturas que avultam na bondade, em muitas ocasiões requerem conhecimento nobilitante, e muitas que se agigantaram na inteligência permanecem à míngua de virtude.

4 Outras inumeráveis, embora detendo preciosos valores, nos domínios do coração e do cérebro, após longo estágio no Plano extrafísico, sentem fome de progresso renovador por inabilitadas, ainda, a ascensões maiores e renunciam à tranquilidade a que se integram nos grupos afins, 5 porque, no cadinho efervescente da carne, analisam, de novo, as próprias imperfeições, testando-lhes a amplitude nas rudes experiências da vida humana, obtendo mais avançado ensejo de corrigenda e transformação.

6 Isso não significa que a consciência desencarnada deixe de encontrar possibilidades de expansão nas cidades espirituais que gravitam em torno da Terra. 7 Outras modalidades de estudo e trabalho aí lhe asseguram novos fatores de evolução; 8 contudo, escassa percentagem de criaturas humanas, além da morte, adquirem acesso definitivo aos Planos superiores.

9 A esmagadora maioria jaz ainda ligada às ideologias e raças, pátrias e realizações, famílias e lares do mundo.

10 É por isso que artistas eméritos, ao notarem o curso diferente das escolas que deixaram no Planeta, sentem-se irresistivelmente atraídos para a reencarnação, a fim de preservar-lhes ou enriquecer-lhes os patrimônios.

11 Cientistas eminentes, interessados na continuidade dos empreendimentos redentores que largaram em mãos alheias, volvem ao trabalho e à experimentação entre os homens,  12 e, no mesmo espírito missionário, religiosos e filósofos, professores e condutores, homens e mulheres que se distinguem por nobres aspirações retornam, voluntariamente, à Esfera física, em sagradas ações de auxílio que lhes valem honrosos degraus de sublimação na escalada para a Divina Luz.

13 Entendamos, assim, que tanto a regeneração quanto a evolução não se verificam sem preço.

14 O progresso pode ser comparado a montanha que nos cabe transpor, sofrendo-se naturalmente os problemas e as fadigas da marcha, enquanto que a recuperação ou a expiação podem ser consideradas como essa mesma subida, devidamente recapitulada, através de embaraços e armadilhas, miragens e espinheiros que nós mesmos criamos.

15 Se soubermos, porém, suar no trabalho honesto, não precisaremos suar e chorar no resgate justo.

16 E não se diga que todos os infortúnios da marcha de hoje estejam debitados a compromissos de ontem, porque, com a prudência e a imprudência, com a preguiça e o trabalho, com o bem e o mal, melhoramos ou agravamos a nossa situação, reconhecendo-se que todo dia, no exercício de nossa vontade, formamos novas causas, refazendo o destino.


6. PARTICULARIDADES DA REENCARNAÇÃO. — Perguntar-se-á, razoavelmente, se existe uma técnica invariável no serviço reencarnatório. 2 Seria o mesmo que indagar se a morte na Terra é única em seus processos para todas as criaturas.

3 Cada entidade reencarnante apresenta particularidades essenciais na recorporificação a que se entrega na Esfera física, 4 quanto cada pessoa expõe característicos diferentes quando se rende ao processo liberatório, não obstante o nascimento e a morte parecerem iguais.

5 Os Espíritos categoricamente superiores, quase sempre em ligação sutil com a mente materna que lhes oferta guarida, podem plasmar por si mesmos e, não raro, com a colaboração de instrutores da Vida Maior, o corpo em que continuarão as futuras experiências, interferindo nas essências cromossômicas, com vistas às tarefas que lhes cabem desempenhar.

6 Os Espíritos categoricamente inferiores, na maioria das ocasiões, padecendo monoideísmo tiranizante, entram em simbiose fluídica com as organizações femininas a que se agregam, experimentando o definhamento do corpo espiritual ou o fenômeno de “ovoidização”, sendo inelutavelmente atraídos ao vaso uterino, em circunstâncias adequadas, para a reencarnação que lhes toca, em moldes inteiramente dependentes da hereditariedade, 7 como acontece à semente, que, após desligar-se do fruto seco, germina no solo, segundo os princípios organogênicos a que obedece, tão logo encontre o favor ambiencial.

8 Entre ambas as classes, porém, contamos com milhões de Espíritos medianos na evolução, portadores de créditos apreciáveis e dívidas numerosas, cuja reencarnação exige cautela de preparo e esmero de previsão.


7. RESTRINGIMENTO DO CORPO ESPIRITUAL. — Institutos de escultura anatômica funcionam, por isso, no Plano Espiritual, brunindo formas diversas, de modo a orientar os mapas ou prefigurações do serviço que aos reencarnantes competirá, mais tarde atender.

2 Corpos, membros, órgãos, fibras e células são aí esboçados e estudados, antes que se definam os primórdios da rematerialização terrestre, 3 porque, nesses casos, em que a alma oscila entre méritos e deméritos, a reencarnação permanece sob os auspícios de autoridades e servidores da Justiça Espiritual que administra recursos a cada aprendiz da sublimação, de acordo com as obras edificantes que lhes constem do currículo da existência.

4 Para isso, os candidatos à reencarnação, sem superioridade suficiente de modo a supervisioná-la com o seu próprio critério e distantes da inferioridade primitivista que deles faria escravos absolutos da herança física, são admitidos a instituições-hospitais em que magnetizadores desencarnados, bastante competentes pela nobreza íntima, se incumbem de aplicar-lhes fluidos balsamizantes que os adormeçam, por períodos variáveis, de conformidade com a evolução moral que enunciem, a fim de que os princípios psicossomáticos se adaptem a justo restringimento, em bases de sonoterapia.

5 Desse modo, regressam ao berço humano, nas condições precisas, recolhidos a novo corpo, qual operário detentor de virtudes e defeitos a quem se concede novo uniforme de trabalho e nova oportunidade de realização.


8. CORPO FÍSICO. — Paternidade e maternidade, raça e pátria, lar e sistema consanguíneo são conjugados com previdente sabedoria para que não faltem ao reencarnante todas as possibilidades necessárias ao êxito no empreendimento que se inicia.

2 E, senhor das experiências adquiridas que lhe despontam do ser, em forma de tendências e impulsos, recebe o Espírito um corpo físico inteiramente novo, 3 em olvido temporário, mas não absoluto, das experiências pregressas,  4 corpo com o qual será defrontado pelas circunstâncias favoráveis ou não do caminho que deve percorrer, para prosseguir na obra digna em que se haja empenhado ou para retificar as lições em que haja falido.

5 Nessas diretrizes, nem sempre estará integrado normalmente na posição em que a vida mental e o campo somático se mostram em sinergia ideal.

6 Às vezes, deve sofrer mutilações e enfermidades benéficas, inibições e dificuldades orgânicas de caráter inevitável, porque, de aprendizado a aprendizado e de tarefa a tarefa, quanto o aluno de estágio a estágio para as grandes metas educativas, é que se levantará, vitorioso, para a ascensão à Imortalidade Celeste.


André Luiz


Uberaba, 9/4/1958.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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