1. DEPOIS
DA MORTE. — Efetivamente, logo após a morte física, sofre a alma
culpada minucioso processo de purgação, 2
tanto mais produtivo quanto mais se lhe exteriorize a dor do arrependimento,
3 e, apenas depois
disso, consegue elevar-se a Esferas de reconforto e reeducação.
4 Se a moléstia experimentada
na veste somática foi longa e difícil, abençoadas depurações terão sido
feitas, pelo ensejo de autoexame, no qual as aflições suportadas com
paciência lhe alteraram sensações e refundiram ideias.
5 Todavia, se essa
operação natural não foi possível no Círculo carnal, mais se lhe agravam
os remorsos, depois do túmulo, por recalcados na consciência, a aflorarem,
todos eles, através de reflexão, renovando as imagens com que foram
fixados na própria alma.
6 Criminosos que mal ressarciram
os débitos contraídos, instados pelo próprio arrependimento, plasmam,
em torno de si mesmos, as cenas degradantes em que arruinaram a vida
íntima, alimentando-as à custa dos próprios pensamentos desgovernados.
7 Caluniadores que aniquilaram
a felicidade alheia vivem pesadelos espantosos, regravando nas telas
da memória os padecimentos das vítimas, como no dia em que as fizeram
descer para o abismo da angústia, algemados ao pelourinho de obsidentes
recordações.
8 Tiranetes diversos
volvem a sentir nos tecidos da própria alma os golpes que desferiram
nos outros, 9 e os
viciados de toda sorte, quais os dipsômanos e morfinômanos, experimentam
agoniada insatisfação, 10
qual ocorre também aos desequilibrados do sexo, que acumulam na organização
psicossomática as cargas magnéticas do instinto em desvario, pelas quais
se localizam em plena alienação.
11 As vítimas do remorso padecem,
assim, por tempo correspondente às necessidades de reajuste, larga internação
em zonas compatíveis com o estado espiritual que demonstram.
2. CONCEITO
DE INFERNO. — O inferno das várias religiões, nesse aspecto,
existe perfeitamente como órgão controlador do equilíbrio moral nos
reinos do Espírito, 2
assim como a penitenciária e o hospital se levantam na Terra, como retortas
de recuperação e de auxílio.
3 Além-túmulo, no
entanto, o estabelecimento depurativo como que reúne em si os órgãos
de repressão e de cura, 4
porquanto as consciências empedernidas aí se congregam às consciências
enfermas, na comunhão dolorosa, mas necessária, em que o mal é defrontado
pelo próprio mal, a fim de que em se examinando nos semelhantes, esmoreça
por si na faina destruidora em que se desmanda.
5 É assim que as Inteligências
ainda perversas se transformam em instrumentos reeducativos daquelas
que começam a despertar, pela dor do arrependimento, para a imprescindível
restauração.
6 O inferno, dessa
maneira, no clima espiritual das várias nações do Globo, pode ser tido
na conta de imenso cárcere-hospital, 7
em que a diagnose terrestre encontrará realmente todas as doenças catalogadas
na patologia comum, 8
inclusive outras muitas, desconhecidas do homem, não propriamente oriundas
ou sustentadas pela fauna microbiana do ambiente carnal, 9
mas nascidas de profundas disfunções do corpo espiritual e, muitas vezes
nutridas pelas formas-pensamentos
em torturado desequilíbrio, classificáveis por larvas mentais, 10
de extremo poder corrosivo e alucinatório, não obstante a fugaz duração
com que se articulam, quando não obedecem às ideias infelizes, longamente
recapituladas no tempo.
3. “SEMENTES
DE DESTINO”. — Nesses lugares de retificadoras inquietações,
alija o Espírito endividado a carga de superfície, exonerando-se dos
elementos de mais envolvente degradação que o aviltam; 2
contudo, tão logo revele os primeiros sinais de positiva renovação para
o bem, regista o auxílio das Esferas Superiores, que, por agentes inúmeros,
apoiam os serviços da Luz Divina onde a ignorância e a crueldade se
transviam na sombra.
3 Qual doente, agora
acolhido em outros setores pela encorajadora convalescença de que dá
testemunho, o devedor desfruta suficiente serenidade para rever os compromissos
assumidos na encarnação recentemente deixada, sopesando os males e sofrimentos
de que se fez responsável, 4
acusando ainda a si próprio, com a incapacidade evidente de perdoar-se,
tanto maior quão maiores lhe foram no mundo as oportunidades de elevação
e a luz do conhecimento.
5 Muita vez, ascendem
a escolas beneméritas, nas quais recolhem mais altas noções da vida,
aprimoram-se na instrução, aperfeiçoam impulsos e exercem preciosas
atividades, melhorando os próprios créditos; 6
todavia, as lembranças dos erros voluntários, ainda mesmo quando as
suas vítimas tenham já superado todas as sequelas dos golpes sofridos,
entranham-se-lhes no Espírito por “sementes de destino”, 7
de vez que eles mesmos, em se reconhecendo necessitados de promoção
a níveis mais nobres, pedem novas reencarnações com as provas de que
carecem para se quitarem consciencialmente consigo próprios.
8 Nesses casos, a escolha
da experiência é mais que legítima, porquanto, através da limpeza de
limiar, efetuada nas regiões retificadoras, e pelos títulos adquiridos
nos trabalhos que abraça, no Plano extrafísico, merece a criatura os
cuidados preparatórios da nova tarefa em vista, a fim de que haja a
conjugação de todos os fatores para que reencontre os credores ou as
circunstâncias imprescindíveis, junto aos quais se redima perante a
Lei.
4. REENCARNAÇÕES
ESPECIAIS. — Entretanto, reencarnações se processam, muita vez,
sem qualquer consulta aos que necessitam segregação em certas lutas
no Plano físico, 2
providências essas comparáveis às que assumimos no mundo com enfermos
e criminosos que, pela própria condição ou conduta, perderam temporariamente
a faculdade de resolver quanto à sorte que lhes convém no espaço de
tempo em que se lhes perdura a enfermidade ou em que se mantenham sob
as determinações da justiça.
3 São os problemas especiais
em que a individualidade renasce de cérebro parcialmente inibido ou
padecendo mutilações congênitas, ao lado daqueles que lhe devem abnegação
e carinho.
4 Incapazes de eleger
o caminho de reajuste, pelo estado de loucura ou de sofrimento que evidenciam,
semelhantes enfermos são decididamente internados na cela física como
doentes isolados sob assistência precisa.
5 Vemo-los, assim, repontando
de lares faustosos ou paupérrimos, contrariando, por vezes, até certo
ponto os estatutos que regem a hereditariedade, por representarem dolorosas
exceções no caminho normal.
5. REENCARNAÇÃO E EVOLUÇÃO. — Urge reparar, entretanto, que a reencarnação não é mero princípio regenerativo.
2 A evolução natural nela
encontra firme apoio.
3 Criaturas que avultam na
bondade, em muitas ocasiões requerem conhecimento nobilitante, e muitas
que se agigantaram na inteligência permanecem à míngua de virtude.
4 Outras inumeráveis,
embora detendo preciosos valores, nos domínios do coração e do cérebro,
após longo estágio no Plano extrafísico, sentem fome de progresso renovador
por inabilitadas, ainda, a ascensões maiores
e renunciam à tranquilidade a que se integram nos grupos afins, 5 porque,
no cadinho efervescente da carne, analisam, de novo, as próprias imperfeições,
testando-lhes a amplitude nas rudes experiências da vida humana, obtendo
mais avançado ensejo de corrigenda e transformação.
6 Isso não significa
que a consciência desencarnada deixe de encontrar possibilidades de
expansão nas cidades espirituais que gravitam em torno da Terra. 7
Outras modalidades de estudo e trabalho aí lhe asseguram novos fatores
de evolução; 8 contudo,
escassa percentagem de criaturas humanas, além da morte, adquirem acesso
definitivo aos Planos superiores.
9 A esmagadora maioria jaz
ainda ligada às ideologias e raças, pátrias e realizações, famílias
e lares do mundo.
10 É por isso que artistas
eméritos, ao notarem o curso diferente das escolas que deixaram no Planeta,
sentem-se irresistivelmente atraídos para a reencarnação, a fim de preservar-lhes
ou enriquecer-lhes os patrimônios.
11 Cientistas eminentes,
interessados na continuidade dos empreendimentos redentores que largaram
em mãos alheias, volvem ao trabalho e à experimentação entre os homens,
12 e, no mesmo espírito
missionário, religiosos e filósofos, professores e condutores, homens
e mulheres que se distinguem por nobres aspirações retornam, voluntariamente,
à Esfera física, em sagradas ações de auxílio que lhes valem honrosos
degraus de sublimação na escalada para a Divina Luz.
13 Entendamos, assim, que tanto
a regeneração quanto a evolução não se verificam sem preço.
14 O progresso pode ser comparado
a montanha que nos cabe transpor, sofrendo-se naturalmente os problemas
e as fadigas da marcha, enquanto que a recuperação ou a expiação podem
ser consideradas como essa mesma subida, devidamente recapitulada, através
de embaraços e armadilhas, miragens e espinheiros que nós mesmos criamos.
15 Se soubermos, porém, suar
no trabalho honesto, não precisaremos suar e chorar no resgate justo.
16 E não se diga que todos
os infortúnios da marcha de hoje estejam debitados a compromissos de
ontem, porque, com a prudência e a imprudência, com a preguiça e o trabalho,
com o bem e o mal, melhoramos ou agravamos a nossa situação, reconhecendo-se
que todo dia, no exercício de nossa vontade, formamos novas causas,
refazendo o destino.
6. PARTICULARIDADES
DA REENCARNAÇÃO. — Perguntar-se-á, razoavelmente, se existe uma
técnica invariável no serviço reencarnatório. 2
Seria o mesmo que indagar se a morte na Terra é única em seus processos
para todas as criaturas.
3 Cada entidade reencarnante
apresenta particularidades essenciais na recorporificação a que se entrega
na Esfera física, 4
quanto cada pessoa expõe característicos diferentes quando se rende
ao processo liberatório, não obstante o nascimento e a morte parecerem
iguais.
5 Os Espíritos categoricamente
superiores, quase sempre em ligação sutil com a mente materna que lhes
oferta guarida, podem plasmar por si mesmos e, não raro, com a colaboração
de instrutores da Vida Maior, o corpo em que continuarão as futuras
experiências, interferindo nas essências cromossômicas, com vistas às
tarefas que lhes cabem desempenhar.
6 Os Espíritos categoricamente
inferiores, na maioria das ocasiões, padecendo monoideísmo tiranizante,
entram em simbiose fluídica com as organizações femininas a que se agregam,
experimentando o definhamento do corpo espiritual ou o fenômeno de “ovoidização”,
sendo inelutavelmente atraídos ao vaso uterino, em circunstâncias adequadas,
para a reencarnação que lhes toca, em moldes inteiramente dependentes
da hereditariedade, 7
como acontece à semente, que, após desligar-se do fruto seco, germina
no solo, segundo os princípios organogênicos a que obedece, tão logo
encontre o favor ambiencial.
8 Entre ambas as classes,
porém, contamos com milhões de Espíritos medianos na evolução, portadores
de créditos apreciáveis e dívidas numerosas, cuja reencarnação exige
cautela de preparo e esmero de previsão.
7. RESTRINGIMENTO DO CORPO ESPIRITUAL. — Institutos de escultura anatômica funcionam, por isso, no Plano Espiritual, brunindo formas diversas, de modo a orientar os mapas ou prefigurações do serviço que aos reencarnantes competirá, mais tarde atender.
2 Corpos, membros,
órgãos, fibras e células são aí esboçados e estudados, antes que se
definam os primórdios da rematerialização terrestre, 3
porque, nesses casos, em que a alma oscila entre méritos e deméritos,
a reencarnação permanece sob os auspícios de autoridades e servidores
da Justiça Espiritual que administra recursos a cada aprendiz da sublimação,
de acordo com as obras edificantes que lhes constem do currículo da
existência.
4 Para isso, os candidatos
à reencarnação, sem superioridade suficiente de modo a supervisioná-la
com o seu próprio critério e distantes da inferioridade primitivista
que deles faria escravos absolutos da herança física, são admitidos
a instituições-hospitais em que magnetizadores desencarnados, bastante
competentes pela nobreza íntima, se incumbem de aplicar-lhes fluidos
balsamizantes que os adormeçam, por períodos variáveis, de conformidade
com a evolução moral que enunciem, a fim de que os princípios psicossomáticos
se adaptem a justo restringimento, em bases de sonoterapia.
5 Desse modo, regressam ao
berço humano, nas condições precisas, recolhidos a novo corpo, qual
operário detentor de virtudes e defeitos a quem se concede novo uniforme
de trabalho e nova oportunidade de realização.
8. CORPO FÍSICO. — Paternidade e maternidade, raça e pátria, lar e sistema consanguíneo são conjugados com previdente sabedoria para que não faltem ao reencarnante todas as possibilidades necessárias ao êxito no empreendimento que se inicia.
2 E, senhor das experiências
adquiridas que lhe despontam do ser, em forma de tendências e impulsos,
recebe o Espírito um corpo físico inteiramente novo, 3
em olvido temporário, mas não absoluto, das experiências pregressas,
4 corpo com o qual
será defrontado pelas circunstâncias favoráveis ou não do caminho que
deve percorrer, para prosseguir na obra digna em que se haja empenhado
ou para retificar as lições em que haja falido.
5 Nessas diretrizes, nem sempre
estará integrado normalmente na posição em que a vida mental e o campo
somático se mostram em sinergia ideal.
6 Às vezes, deve sofrer mutilações
e enfermidades benéficas, inibições e dificuldades orgânicas de caráter
inevitável, porque, de aprendizado a aprendizado e de tarefa a tarefa,
quanto o aluno de estágio a estágio para as grandes metas educativas,
é que se levantará, vitorioso, para a ascensão à Imortalidade Celeste.
André Luiz
Uberaba, 9/4/1958.