1. RESPONSABILIDADE E CONSCIÊNCIA. — À medida que a responsabilidade se lhe apossou do Espírito, iluminou-se a consciência do homem.
2 A centelha da razão convertera-se
em chama divina.
3 A inteligência humana entendeu
a grandeza do Universo e compreendeu a própria humildade, reconhecendo
em suas entranhas a ideia inalienável de Deus.
4 Conduzindo-se, então, de
modo racional, experimentou profundas transformações.
5 Percebe, nesse despertamento,
que, além das operações vulgares da nutrição e da reprodução, da vigília
e do repouso, estímulos interiores, inelutáveis, trabalham-lhe o âmago
do ser, plasmando-lhe o caráter e o senso moral, 6
em que a intuição se amplia segundo as aquisições de conhecimento 7
e em que a afetividade se converte em amor, com capacidade de sacrifício,
atingindo a renúncia completa.
8 Até à época recuada
do paleolítico, interferiram as Inteligências Divinas para que se lhe
estruturasse o veículo físico, dotando-a com preciosas reservas para
o futuro imenso.
9 Envolvendo-a na luz da responsabilidade, conferiam-lhe o dever
de conservar e aprimorar o patrimônio recebido, e, investindo-a na riqueza
do pensamento contínuo, entregaram-lhe a obrigação de atender ao aperfeiçoamento
de seu corpo espiritual.
10 Aceitar-se-á, razoavelmente,
que até semelhante fase os tremendos conflitos da Natureza, em que se
mesclavam a violência e a brutalidade, foram debitados à conta da evolução
necessária para a discriminação de indivíduos e agrupamentos, espécies
e raças.
2. ATIVIDADE RELIGIOSA. — Estabelecido, porém, o princípio de justiça e aflorando a mentação incessante, o homem começou a examinar em si mesmo o efeito das próprias ações, de modo a crescer, conscientemente, para a sua destinação de filho de Deus, herdeiro e colaborador da Sua Obra Divina.
2 Espicaça-se-lhe,
então, a curiosidade construtiva. 3
Faminto de elucidações adequadas quanto ao próprio caminho, ergue as
antenas mentais para as estrelas, recolhendo os valores do Espírito
que lhe consubstanciam o patrimônio de revelações do Céu, através dos
tempos.
4 Era necessário satisfazer
ao acrisolamento do seu veículo sutil, na essência íntima, 5
assegurar-lhe o transformismo anímico, 6
revesti-lo de luminosidade e beleza 7
e apurar-lhe os princípios para que, além do angusto círculo humano,
pudesse retratar a glória dos Planos superiores.
8 Para isso, o pensamento
reclamava orientação educativa, de modo a despojar-se da espessa sedimentação
de animalidade que lhe presidia os impulsos.
9 Exigia-se-lhe a depuração
da atmosfera vital, imprescindível à assimilação da influência divina.
10 E a atividade
religiosa nasceu por instituto mundial de higiene da alma, 11
traçando ao homem diretrizes à nutrição psíquica, 12
de vez que, pela própria perspiração, exterioriza os produtos que elabora
na usina mental, em forma de eflúvios eletromagnéticos, 13
nos quais se lhe corporificam, em movimento, os reflexos dominantes,
influenciando o ambiente e sendo por ele influenciado.
14 A ciência médica,
rica de experimentação e de lógica, surgiria para corresponder às necessidades
do corpo físico, 15
mas a tarefa religiosa viria ao encontro das civilizações, plena de
inspiração e disciplina, patrocinando a orientação do corpo espiritual,
em seu necessário refinamento.
3. ENXERTO REVITALIZADOR. — Nesse sentido, a Espiritualidade Sublime, amparando o homem, jamais lhe menosprezou a sede de consolo e esclarecimento.
2 Quando mais angustiosos
se lhe esboçavam os problemas da dor, com a guerra íntima entre a razão
e a animalidade, grande massa de Espíritos ilustrados, mas decaídos
de outro sistema cósmico, renasceu no tronco genealógico das tribos
terrestres, qual enxerto revitalizador, embora isso representasse para
eles amarga penitência expiatória.
3 Constituiu-se desse modo
a raça adâmica, instilando no homem renovadas noções de Deus e da vida. n
4 Levantam-se organizações
religiosas primordiais.
5 Povos nômades e agrupamentos
escravizados ao solo por extremado gregarismo adotaram as mais estranhas
formas de fé, a se emoldurarem por barbárie natural, através de intercâmbio
fragmentário com o Plano extrafísico.
6 Os Espíritos exilados, presos
à rede organogênica em que se lhes tecia o cárcere, no carro biológico,
ainda profundamente primitivista, muita vez revoltados e endurecidos,
aliavam-se às tabas selvagens, em cultos sanguinários e indescritíveis,
desvairando-se nos mais aviltantes espetáculos de crueldade, em nome
dos deuses com que fantasiavam as entidades inferiores do seu convívio
doméstico.
7 Alguns deles, no entanto,
movidos de compunção entraram em fervoroso arrependimento das culpas
contraídas no mundo aprimorado de que provinham, e não obstante os embaraços
que se lhes antepunham aos sonhos de recuperação, começaram instintivamente
a formar núcleos isolados para o cultivo de meditações superiores, em
sagrados tentames de elevação.
4. RELIGIÃO EGIPCIANA. — Depois de longos e porfiados milênios de luta espiritual, surgem no mundo, como grupos por eles organizados, a China pré-histórica e a Índia védica, o antigo Egito e civilizações outras que se perderam no abismo das eras, nos quais a religião assume aspecto enobrecido como ciência moral de aperfeiçoamento, para mais alta ascensão da mente humana à Consciência Cósmica.
2 Dentre todos, desempenha
o Egito missão especial, organizando escolas de iniciação mais profunda.
3 Em obediência aos requisitos
da crença popular, herdeira intransigente das fixações mitológicas,
mantém o sacerdócio cultos diversos a deuses vários, nas manifestações
esotéricas dos templos descerrados ao povo.
4 O lar e a escola, a agricultura
e o comércio, as indústrias e as artes possuem gênios especiais que
os presidem, em nome da convicção vulgar, mas, na intimidade do santuário,
o monoteísmo dirige a implantação da fé.
5 A unidade de Deus é o alicerce
de toda a religião egipciana, em sua feição superior.
6 Para ela, os atributos divinos
são a vontade sábia e poderosa, a liberdade, a grandeza, a magnanimidade
incansável, o amor infinito e a imortalidade.
7 Em síntese, acredita
que Deus plasmou os seus próprios membros, que são os deuses conhecidos.
8 Cada um desses deuses
secundários pode ser tomado como sendo análogo ao Deus Único, e cada
um deles pode formar um tipo novo do qual se irradiam por sua vez, e
pelo mesmo processo, outros tipos de deuses inferiores.
9 Claro está que essa
argumentação teológica, distanciada de mais altos roteiros da evolução,
imaginava erroneamente potências espirituais centralizadas no Criador
Excelso, quando só Deus tem a faculdade de verdadeiramente criar, 10
mas o conceito expressa, em sentido lato, a solidariedade constante
e inevitável que existe em todas as vidas de que se constitui a família
do Supremo Senhor em todo o Universo.
5. MISSÃO DE MOISÉS. — Os padres tebanos conheciam, de maneira precisa, a evidência do corpo espiritual que pode exteriorizar-se de cada criatura para ações úteis ou criminosas.
2 Cultivam a mediunidade
em grau avançado, 3
atendem a complexas aplicações do magnetismo, 4
traçam disciplinas à vida íntima 5
e comunicam-se com os desencarnados de modo iniludível, consagrando-lhes
reverência especial.
6 Nesse campo de conhecimento
mais nobre, reencarna-se Moisés como missionário da renovação, para
dar à mente do povo a concepção do Deus Único, transferindo-a dos recintos
iniciáticos para a praça pública. 7
Entretanto, porque a evolução dos princípios religiosos implica sempre
em levantamento dos costumes, com a elevação da alma, 8
o desbravador enfrenta batalhas terríveis do pensamento acomodado aos
circuitos da tradição em que as classes se exploram mutuamente, agravando
assim os próprios compromissos, para afinal receber os fundamentos da
Lei, no Sinai. n
9 Desde essa hora,
o conhecimento religioso, baseado na Justiça Cósmica, generaliza-se
no ânimo das nações, 10
porquanto, através da mensagem de Moisés, informa-se o homem comum de
que, perante Deus, o Senhor do Universo e da Vida, é obrigado a respeitar
o direito dos semelhantes para que seja igualmente respeitado, reconhecendo
que ele e o próximo são irmãos entre si, filhos de um Pai Único.
11 A religião passa, desse
modo, a atuar, em sentido direto, no acrisolamento do corpo espiritual
para a Vida Maior, através da educação dos hábitos humanos a se depurarem
no cadinho dos séculos, preparando a chegada do Cristo, o Governador
Espiritual da Terra.
12 As ideias da justiça e da
solidariedade, dos deveres coletivos e individuais com a higiene do
corpo e da mente atingem ampla divulgação.
6. OS
DEZ MANDAMENTOS. — Os dez mandamentos, recebidos mediunicamente
pelo profeta, brilham ainda hoje por alicerce de luz na edificação do
direito, dentro da ordem social.
A palavra da Esfera Superior gravava
a lei de causa e efeito para o homem, advertindo-o solenemente:
1 — Consagra amor supremo
ao Pai de Bondade Eterna, n’Ele reconhecendo a tua divina origem.
2 Precata-te contra os enganos do antropomorfismo,
porque padronizar os atributos divinos absolutos pelos acanhados atributos
humanos é cair em perigosas armadilhas da vaidade e do orgulho.
3 Abstém-te de envolver o Julgamento
Divino na estreiteza de teus julgamentos.
4 Recorda o impositivo da meditação
em teu favor e em benefício daqueles que te atendem na esfera de trabalho,
para que possas assimilar com segurança os valores da experiência.
5 Lembra-te de que a dívida para com
teus pais terrestres é sempre insolvável por sua natureza sublime.
6 Responsabilizar-te-ás pelas vidas
que deliberadamente extinguires.
7 Foge de obscurecer ou conturbar o
sentimento alheio porque o cálculo delituoso emite ondas de força desorientada
que voltarão sobre ti mesmo.
8 Evita a apropriação indébita para
que não agraves as próprias dívidas.
9 Desterra de teus lábios toda palavra
dolosa a fim de que se não transforme, um dia, em tropeço para os teus
pés.
10 Acautela-te contra a inveja e o despeito,
a inconformação e o ciúme, aprendendo a conquistar alegria e tranquilidade,
ao preço do esforço próprio, porque os teus pensamentos te precedem
os passos, plasmando-te, hoje, o caminho de amanhã.
7. JESUS E A RELIGIÃO. — Com Jesus, no entanto, a religião, como sistema educativo, alcança eminência inimaginável.
2 Nem templos de pedra, nem
rituais.
3 Nem hierarquias efêmeras,
nem avanço ao poder humano.
4 O Mestre desaferrolha
as arcas do conhecimento enobrecido e distribui-lhe os tesouros. 5
Dirige-se aos homens simples de coração, curvados para a gleba do sofrimento
e ergue-lhes a cabeça trêmula para o Céu. 6
Aproxima-se de quantos desconhecem a sublimidade dos próprios destinos
e assopra-lhes a verdade, vazada em amor, para que o sol da esperança
lhes renasça no ser. 7
Abraça os deserdados e fala-lhes da Providência Infinita. 8
Reúne, em torno de sua glória que a humildade escondia, os velhos e
os doentes, os cansados e os tristes, os pobres e os oprimidos, as mães
sofredoras e as crianças abandonadas e entrega-lhes as bem-aventuranças
celestes. 9 Ensina
que a felicidade não pode nascer das posses efêmeras que se transferem
de mão em mão, e sim da caridade e do entendimento, da modéstia e do
trabalho, da tolerância e do perdão. 10
Afirma-lhes que a Casa de Deus está constituída por muitas moradas,
nos mundos que enxameiam o firmamento, 11
e que o homem deve nascer de novo para progredir na direção da Sabedoria
Divina. 12 Proclama
que a morte não existe e que a Criação é beleza e segurança, alegria
e vitória em plena imortalidade.
13 Pelas revelações
com que vence a superstição e o crime, a violência e a perversidade,
paga na cruz o imposto de extremo sacrifício aos preconceitos humanos
que lhe não perdoam a soberana grandeza, 14
mas, reaparecendo redivivo para a mesma Humanidade que o escarnecera
e crucificara, desvenda-lhe, em novo cântico de humildade, a excelsitude
da vida eterna.
8. REVIVESCÊNCIA DO CRISTIANISMO. — Erige-se, desde então, o Evangelho em código de harmonia, inspirando o devotamento ao bem de todos até o sacrifício voluntário, a fraternidade viva, o serviço infatigável aos semelhantes e o perdão sem limites.
2 Iniciam-se em todo
o Orbe imensas alterações. 3
A crueldade metódica cede lugar à compaixão. 4
Os troféus sanguinolentos da guerra desertam dos santuários. 5
A escravidão de homens livres é sacudida nos fundamentos para que se
anule de vez. 6 Levanta-se
a mulher da condição de alimária para a dignidade humana. 7
A filosofia e a ciência admitem a caridade no governo dos povos. 8
O ideal da solidariedade pura começa a fulgir sobre a fronte do mundo.
9 Moisés instalara o princípio
da justiça, coordenando a vida e influenciando-a de fora para dentro.
10 Jesus inaugurou na Terra
o princípio do amor, a exteriorizar-se do coração, de dentro para fora,
traçando-lhe a rota para Deus.
11 E eis que o Cristianismo
grandioso e simples ressurge agora no Espiritismo, induzindo-nos à sublimação
da vida íntima, para que nossa alma se liberte da sombra que a densifica,
encaminhando-se, renovada, para as culminâncias da Luz.
André Luiz
Pedro Leopoldo, 13/4/1958.
[1] Para mais amplo esclarecimento do assunto, aconselhamos ao leitor breve consulta ao capítulo III do
livro “A Caminho da Luz”, de autoria do Espírito Emmanuel e recebido mediunicamente por Francisco Cândido Xavier. — (Nota da Editora.)
[2] Vide: Lei e Dez Mandamentos.