1. ALMA
E CORPO. — Aclarando os problemas complexos da alienação mental
na maioria dos Espíritos desencarnados, pelo menos durante algum tempo
além da morte, 2 vale
comentar, ainda que superficialmente, alguns dos experimentos efetuados
pela ciência terrestre nos mecanismos nervosos, para que possamos ajuizar
da importância da harmonia entre a mente e o seu veículo fisiopsicossomático,
no Plano físico ou extrafísico.
3 Assemelhando-se no conjunto
ao musicista e seu instrumento, alma e corpo hão-de conjugar-se profundamente
um com o outro para a execução do trabalho que a vida lhes reserva.
4 E, sabendo-se que
a alma é direção e o corpo obediência, é da Lei Divina que o homem receba
em si mesmo o fruto da plantação que realizou, visto que, nos órgãos
de sua manifestação, recolhe as maiores concessões do Criador para que
efetive o seu aperfeiçoamento na Criação.
5 Assim sendo, de
seu próprio comportamento retira, nos vastos setores em que se lhe processa
a evolução, o bem ou o mal que, lançando ao caminho, estará impondo
a si mesmo. ( † )
2. SECÇÃO DA MEDULA. — Através de experimentação positiva, conhece a Ciência de hoje a inalienável correlação entre o cérebro e todas as províncias celulares do mundo corpóreo.
2 Tomando, pois, em
nossas anotações, o sistema cerebral por gabinete administrativo da
mente, reconheceremos sempre, que a conduta do corpo físico está invariavelmente
condicionada à conduta do corpo espiritual, como a orientação do corpo
espiritual está submetida ao governo da nossa vontade.
3 Sabemos, assim, que depois
de seccionada a medula de um paciente se observa, de imediato, a insensibilidade
completa, o relaxamento muscular, a paralisia e a eliminação dos reflexos
somáticos e viscerais, em todas as partes que recebem os nervos nascidos
abaixo do ponto em que se verificou o prejuízo.
4 A insensibilidade e a paralisia
são decisivas, porquanto procedem da secção dos feixes ascendentes e
do feixe piramidal, ou seja, do desligamento das regiões do corpo espiritual
correspondentes nos tecidos orgânicos e no cérebro, qual se desse a
retirada da força elétrica de determinado setor num campo extenso de
ação.
5 Semelhante desligamento, porém, não se verifica de todo, o que acarretaria, irreversivelmente, o processo liberatório da alma com a desencarnação. 6 Junções fluídicas
sutis permanecem, ativas, entre as células dos implementos físicos e
espirituais, como recursos fisiopsicossomáticos, em ajustes possíveis
de emergência. 7 Em
razão disso, não obstante a insensibilidade a que nos reportamos, comparável
ao “silêncio orgânico”, deixado pela execução de uma neurotomia, muitos
pacientes se queixam de dor em zonas localizadas para baixo do nível
em que se expressou o corte, 8
fenômeno esse perfeitamente atribuível ao contato das células do corpo
espiritual com as fibras aferentes que vibram na cadeia simpática, penetrando
a medula, acima do ponto molestado.
3. RECUPERAÇÃO DOS REFLEXOS. — Devido, ainda, a esse reajustamento organizado instintivamente entre a alma e o corpo, os reflexos são gradativamente recuperados.
2 Em condições muito
especiais de equilíbrio fisiopsicossomático do enfermo, os reflexos
superficiais ressurgem quase sempre em vinte e quatro horas, depois
do insulto sofrido, embora os reflexos anal e cremasteriano jamais se
percam, 3 insulto esse
em que o sinal de Babinski ( † ) ( † )
ou extensão dos pedartículos, principalmente do primeiro, não raro acompanhada
por determinado grau de contração dos músculos do joelho, denuncia a
violação do feixe piramidal, 4
equivalente à ruptura de ligação das células do corpo espiritual nos
implementos nervosos da veste física, assemelhando-se ao curto-circuito
da energia elétrica nos condutores ininterruptos que lhe atendem à necessária
circulação.
5 Na generalidade dos casos,
porém, os reflexos em pacientes dessa espécie apenas reaparecem com
mais vagar, no curso de semanas, tempo indispensável para que as células
do corpo espiritual, vencendo as resistências do corpo físico, a ele
se reimponham, quanto possível.
4. IMPORTÂNCIA DA ENCEFALIZAÇÃO. — Sabemos, igualmente, que a depressão em estudo é tanto mais perdurável quanto mais complexa a encefalização do animal.
2 Nos batráquios,
os reflexos desaparecem apenas por alguns minutos. No gato, a diminuição
da atividade vital é maior; no cão, ainda mais; no chimpanzé, o refazimento
pede vários dias, e, na criatura humana, a restauração dos reflexos
referidos exige mais tempo, como, por exemplo, o reflexo de extensão
cruzada, cuja recuperação reclama seis semanas, aproximadamente, após
o trauma espinhal.
3 Nos estudos de Schiff ( † )
e Sherrington, ( † )
avaliamos, com maior nitidez, a extensão da ocorrência entre os setores
do corpo espiritual e do corpo físico, mediante a secção completa da
medula espinhal, realizada ao nível dos segmentos lombares, pela qual
vemos o cão experimentado, com a medula dorsal seccionada, acusando
paraplegia e alterações sensitivas consequentes, abaixo da região prejudicada,
assim como uma extensão espástica dos membros anteriores devido à ausência
da inibição oriunda dos membros posteriores, inibição que normalmente
neutralizaria os impulsos do sistema labiríntico-cerebelar.
4 É que o corpo espiritual
preside no campo físico a todas as atividades nervosas, resultantes
da entrosagem de sinergias funcionais diversas.
5 Disso temos estrita
conta nos reflexos, cuja complexidade cresce invariavelmente na medida
em que solicitam o concurso de maior campo dos neurônios internunciais
para que se efetuem, 6
qual pianista, requisitando maior número de escalas de tons e semitons
para elevar-se da simplicidade à suntuosidade na expansão da melodia.
5. DESCORTICAÇÃO ANIMAL. — Desse modo, compreendendo-se que a integração mente-corpo é cada vez mais importante, à medida que se dilatam os valores da encefalização, reconheceremos que a integração cortical é sempre mais expressiva quão mais amplo se faz o desenvolvimento do sistema nervoso.
2 Na pauta de semelhante realidade,
a descorticação em batráquios e peixes não interfere nos reflexos e
na motilidade, e, nas aves, modificações emergem, inequívocas, porquanto
apenas conseguem voos fragmentários na luz, permanecendo em prostração,
quando na obscuridade.
3 O cão que sofre
a ablação do córtex, segundo já demonstrou Goltz, ( † )
no século passado, pode viver além de um ano com motilidade reflexa normal
aparente, efetuando os movimentos próprios com relativa correção; 4
todavia, jaz inerte quando lhe falte incentivo à ação e, se esse incentivo
aparece, coloca-se em movimento exagerado; 5
ignora como se defender até que se veja positivamente atacado; 6
não se decide a buscar alimento, recebendo a ração que se lhe administre,
embora as funções viscerais prossigam sem maiores alterações;7
não reconhece as pessoas, baldo de memória, revelando a disjunção dos
recursos fisiopsicossomáticos que lhe são peculiares, fenômeno pelo
qual evidencia compreensível e aparente regressão a estágio evolutivo
inferior.
8 Os chimpanzés, entretanto,
com encefalização mais complexa, não sobrevivem, largo tempo, após a
extirpação total do córtex, e, quando sofrem a destruição parcial desse
ou daquele elemento cortical, apresentam, como acontece na criatura
humana, modificações extensas e profundas.
9 Cabe mencionar, ainda aqui,
a continuidade das indiscutíveis impressões em pessoas mutiladas, que
prosseguem sentindo, integrados ao próprio corpo, esse ou aquele membro
que, fisicamente, não mais existe.
6. SINCRONIA
DE ESTÍMULOS. — Entenderemos, assim, facilmente, que o córtex
encefálico, com as suas delicadas divisões e subdivisões, governando
os núcleos reguladores dos sentidos, dos movimentos, dos reflexos e
de todas as manifestações nervosas da individualidade encarnada, 2
corresponde à sede do centro cerebral do psicossoma (ou corpo espiritual)
no corpo físico, 3
unida à sede do centro
coronário, localizada no diencéfalo, entrosando-se ambos em perfeita
sincronia de estímulos, 4
pelos quais se manifesta o Espírito em sua constituição mental, harmônica,
difícil ou desequilibrada, 5
segundo a posição em que ele mesmo valoriza, conserva, prejudica ou
desordena os recursos que a Lei Divina lhe faculta à própria exteriorização
no Plano Físico e no Plano Espiritual.
6 E assim como dispomos,
no córtex, de ligações energéticas da consciência para os serviços do
tato, da audição, da visão, do olfato, do gosto, da memória, da fala,
da escrita e de automatismos diversos, 7
possuímos no diencéfalo (tálamo e hipotálamo), a se irradiarem para
o mesencéfalo, ligações energéticas semelhantes da consciência para
os serviços da mesma natureza, 8
com acréscimos de atributos para enriquecimento e sublimação do campo
sensorial, como sejam a reflexão, a atenção, a análise, o estudo, a
meditação, o discernimento, a memória críptica, a compreensão, as virtudes
morais e todas as fixações emotivas que nos sejam particulares.
9 Emitindo a onda de indagação
e trabalho que nos diga respeito, através do centro coronário, conjugado
ao centro cerebral, recebemo-la de volta, em circuito de raios substanciais
da nossa própria força mental, com impactos aferentes e eferentes, para
que a nossa consciência, por si, ajuíze, pela essência dos resultados
ou reflexos de nossas próprias ações, quanto ao acerto ou desacerto
de nossa escolha, nessa ou naquela circunstância da vida
10 Não podemos esquecer que
cada núcleo das ligações a que nos reportamos se subdivide em peculiaridades
diversas, entendendo-se, pois, que os fenômenos de obliteração suscetíveis
de ocorrer em alguns dos setores corticais do corpo físico podem surgir
igualmente no corpo espiritual, quando a turvação da mente é capaz de
obstruir temporariamente esse ou aquele fulcro energético da região
diencefálica, no centro coronário da entidade desencarnada.
7. MECANISMO
DO MONOIDEÍSMO. — Em vista disso, se a criatura encarnada pode
cair em amnésia ou afasia pela oclusão dos núcleos da memória ou da
fala, sem desequilíbrio integral da inteligência, a criatura desencarnada
pode arrojar-se a frustrações semelhantes, sem perturbação total do
pensamento, enquanto se lhe mantenha a distonia.
2 Segundo critério
idêntico, se a habilidade de um homem para manobrar determinado idioma
pode cessar numa das subdivisões do núcleo da fala, no córtex, persistindo
a habilidade para lidar com idiomas outros, 3
assim também o núcleo da visão profunda, no centro coronário, pode sofrer
disfunção específica pela qual um Espírito desencarnado contemplará
tão somente, por tempo equivalente à conturbação em que se encontre,
os quadros terríficos que lhe digam respeito às culpas contraídas, sem
capacidade para observar paisagens de outra espécie; 4
escutará exclusivamente vozes acusadoras que lhe testemunhem os compromissos
inconfessáveis, sem possibilidade de ouvir quaisquer outros valores
sônicos, 5 tanto quanto
poderá recordar apenas acontecimentos que se lhe refiram aos padecimentos
morais, com absoluto olvido de fatos outros, até mesmo daqueles que
se relacionem com a sua personalidade, 6
motivo pelo qual se fazem tão raros os processos de perfeita identificação
individual, na generalidade das comunicações mediúnicas, com entidades
dementadas ou sofredoras, comumente estacionárias no monoideísmo que
as isola em tipos exclusivos de recordação ou emoção, 7
de vez que, nessas condições, o pensamento contínuo que lhes flui da
mente, em circuito viciado sobre si mesmo, age coagulando ou materializando
pesadelos fantásticos, em conexão com as lembranças que albergam.
8 E esses pesadelos
não são realmente meras criações abstratas, porquanto, em fluxo constante,
as imagens repetidas, formadas pelas partículas vivas de matéria mental,
se articulam em quadros que obedecem também à vitalidade mais ou menos
longa do pensamento, justapondo-se às criaturas desencarnadas que lhes
dão a forma e que, congregando criações do mesmo teor, de outros Espíritos
afins, estabelecem, por associações espontâneas, os painéis apavorantes
em que a consciência culpada expia, por tempo justo, as consequências
dos crimes a que se empenhou, prejudicando a harmonia das Leis Divinas
e conturbando, concomitantemente, a si mesma. n
8. ZONAS
PURGATORIAIS. — Obliterados os núcleos energéticos da alma, capazes
de conduzi-la às sensações de euforia e elevação, entendimento e beleza,
precipita-se a mente, pelo excesso da taxa de remorso nos fulcros da
memória, na dor do arrependimento a que se encarcera por automatismo,
conforme os princípios de responsabilidade a se lhe delinearem no ser,
2 plasmando com os
seus próprios pensamentos as telas temporárias, mas por vezes de longuíssima
duração, em que contempla, incessantemente, por reflexão mecânica, o
fruto amargo de suas próprias obras, 3
até que esgote os resíduos das culpas esposadas ou receba caridosa intervenção
dos agentes do amor divino, que, habitualmente, lhe oferecem o preparo
adequado para a reencarnação necessária, pela qual retornará ao aprendizado
prático das lições em que faliu.
4 É dessa forma que os suicidas,
com agravantes à frente do Plano Espiritual, como também os delinquentes
de variada categoria, padecem por largo tempo a influência constante
das aflitivas criações mentais deles mesmos, a elas aprisionados, pela
fixação monoidéica de certos núcleos do corpo espiritual, em detrimento
de outros que se mantêm malbaratados e oclusos.
5 E porque o pensamento
é força criativa e aglutinante na criatura consciente em plena Criação,
6 as imagens plasmadas
pelo mal, à custa da energia inestancável que lhe constitui atributo
inalienável e imanente, servem para a formação das paisagens regenerativas
em que a alma alucinada
pelos próprios remorsos é detida em sua marcha, ilhando-se nas consequências
dos próprios delitos, 7 em lugares que, retendo a associação de centenas e milhares de transviados,
se transformam em verdadeiros continentes de angústia, filtros de aflição e de dor, 8 em que a loucura ou a crueldade, juguladas pelo sofrimento que geram
para si mesmas, se rendem lentamente ao raciocínio equilibrado, para
a readmissão indispensável ao trabalho remissor.
André Luiz
Pedro Leopoldo, 23/3/1958.
[1] Vide formas-pensamentos.