O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Evolução em dois mundos — André Luiz — F. C. Xavier / Waldo Vieira — 1ª Parte


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Mecanismos da mente

(Sumário)

1. ALMA E CORPO. — Aclarando os problemas complexos da alienação mental na maioria dos Espíritos desencarnados, pelo menos durante algum tempo além da morte, 2 vale comentar, ainda que superficialmente, alguns dos experimentos efetuados pela ciência terrestre nos mecanismos nervosos, para que possamos ajuizar da importância da harmonia entre a mente e o seu veículo fisiopsicossomático, no Plano físico ou extrafísico.

3 Assemelhando-se no conjunto ao musicista e seu instrumento, alma e corpo hão-de conjugar-se profundamente um com o outro para a execução do trabalho que a vida lhes reserva.

4 E, sabendo-se que a alma é direção e o corpo obediência, é da Lei Divina que o homem receba em si mesmo o fruto da plantação que realizou, visto que, nos órgãos de sua manifestação, recolhe as maiores concessões do Criador para que efetive o seu aperfeiçoamento na Criação.

5 Assim sendo, de seu próprio comportamento retira, nos vastos setores em que se lhe processa a evolução, o bem ou o mal que, lançando ao caminho, estará impondo a si mesmo. ( † )


2. SECÇÃO DA MEDULA. — Através de experimentação positiva, conhece a Ciência de hoje a inalienável correlação entre o cérebro e todas as províncias celulares do mundo corpóreo.

2 Tomando, pois, em nossas anotações, o sistema cerebral por gabinete administrativo da mente, reconheceremos sempre, que a conduta do corpo físico está invariavelmente condicionada à conduta do corpo espiritual, como a orientação do corpo espiritual está submetida ao governo da nossa vontade.

3 Sabemos, assim, que depois de seccionada a medula de um paciente se observa, de imediato, a insensibilidade completa, o relaxamento muscular, a paralisia e a eliminação dos reflexos somáticos e viscerais, em todas as partes que recebem os nervos nascidos abaixo do ponto em que se verificou o prejuízo.

4 A insensibilidade e a paralisia são decisivas, porquanto procedem da secção dos feixes ascendentes e do feixe piramidal, ou seja, do desligamento das regiões do corpo espiritual correspondentes nos tecidos orgânicos e no cérebro, qual se desse a retirada da força elétrica de determinado setor num campo extenso de ação.

5 Semelhante desligamento, porém, não se verifica de todo, o que acarretaria, irreversivelmente, o processo liberatório da alma com a desencarnação. 6 Junções fluídicas sutis permanecem, ativas, entre as células dos implementos físicos e espirituais, como recursos fisiopsicossomáticos, em ajustes possíveis de emergência. 7 Em razão disso, não obstante a insensibilidade a que nos reportamos, comparável ao “silêncio orgânico”, deixado pela execução de uma neurotomia, muitos pacientes se queixam de dor em zonas localizadas para baixo do nível em que se expressou o corte, 8 fenômeno esse perfeitamente atribuível ao contato das células do corpo espiritual com as fibras aferentes que vibram na cadeia simpática, penetrando a medula, acima do ponto molestado.


3. RECUPERAÇÃO DOS REFLEXOS. — Devido, ainda, a esse reajustamento organizado instintivamente entre a alma e o corpo, os reflexos são gradativamente recuperados.

2 Em condições muito especiais de equilíbrio fisiopsicossomático do enfermo, os reflexos superficiais ressurgem quase sempre em vinte e quatro horas, depois do insulto sofrido, embora os reflexos anal e cremasteriano jamais se percam, 3 insulto esse em que o sinal de Babinski ( † ) ( † ) ou extensão dos pedartículos, principalmente do primeiro, não raro acompanhada por determinado grau de contração dos músculos do joelho, denuncia a violação do feixe piramidal, 4 equivalente à ruptura de ligação das células do corpo espiritual nos implementos nervosos da veste física, assemelhando-se ao curto-circuito da energia elétrica nos condutores ininterruptos que lhe atendem à necessária circulação.

5 Na generalidade dos casos, porém, os reflexos em pacientes dessa espécie apenas reaparecem com mais vagar, no curso de semanas, tempo indispensável para que as células do corpo espiritual, vencendo as resistências do corpo físico, a ele se reimponham, quanto possível.


4. IMPORTÂNCIA DA ENCEFALIZAÇÃO. — Sabemos, igualmente, que a depressão em estudo é tanto mais perdurável quanto mais complexa a encefalização do animal.

2 Nos batráquios, os reflexos desaparecem apenas por alguns minutos. No gato, a diminuição da atividade vital é maior; no cão, ainda mais; no chimpanzé, o refazimento pede vários dias, e, na criatura humana, a restauração dos reflexos referidos exige mais tempo, como, por exemplo, o reflexo de extensão cruzada, cuja recuperação reclama seis semanas, aproximadamente, após o trauma espinhal.

3 Nos estudos de Schiff ( † ) e Sherrington, ( † ) avaliamos, com maior nitidez, a extensão da ocorrência entre os setores do corpo espiritual e do corpo físico, mediante a secção completa da medula espinhal, realizada ao nível dos segmentos lombares, pela qual vemos o cão experimentado, com a medula dorsal seccionada, acusando paraplegia e alterações sensitivas consequentes, abaixo da região prejudicada, assim como uma extensão espástica dos membros anteriores devido à ausência da inibição oriunda dos membros posteriores, inibição que normalmente neutralizaria os impulsos do sistema labiríntico-cerebelar.

4 É que o corpo espiritual preside no campo físico a todas as atividades nervosas, resultantes da entrosagem de sinergias funcionais diversas.

5 Disso temos estrita conta nos reflexos, cuja complexidade cresce invariavelmente na medida em que solicitam o concurso de maior campo dos neurônios internunciais para que se efetuem, 6 qual pianista, requisitando maior número de escalas de tons e semitons para elevar-se da simplicidade à suntuosidade na expansão da melodia.


5. DESCORTICAÇÃO ANIMAL. — Desse modo, compreendendo-se que a integração mente-corpo é cada vez mais importante, à medida que se dilatam os valores da encefalização, reconheceremos que a integração cortical é sempre mais expressiva quão mais amplo se faz o desenvolvimento do sistema nervoso.

2 Na pauta de semelhante realidade, a descorticação em batráquios e peixes não interfere nos reflexos e na motilidade, e, nas aves, modificações emergem, inequívocas, porquanto apenas conseguem voos fragmentários na luz, permanecendo em prostração, quando na obscuridade.

3 O cão que sofre a ablação do córtex, segundo já demonstrou Goltz, ( † ) no século passado, pode viver além de um ano com motilidade reflexa normal aparente, efetuando os movimentos próprios com relativa correção; 4 todavia, jaz inerte quando lhe falte incentivo à ação e, se esse incentivo aparece, coloca-se em movimento exagerado; 5 ignora como se defender até que se veja positivamente atacado; 6 não se decide a buscar alimento, recebendo a ração que se lhe administre, embora as funções viscerais prossigam sem maiores alterações;7 não reconhece as pessoas, baldo de memória, revelando a disjunção dos recursos fisiopsicossomáticos que lhe são peculiares, fenômeno pelo qual evidencia compreensível e aparente regressão a estágio evolutivo inferior.

8 Os chimpanzés, entretanto, com encefalização mais complexa, não sobrevivem, largo tempo, após a extirpação total do córtex, e, quando sofrem a destruição parcial desse ou daquele elemento cortical, apresentam, como acontece na criatura humana, modificações extensas e profundas.

9 Cabe mencionar, ainda aqui, a continuidade das indiscutíveis impressões em pessoas mutiladas, que prosseguem sentindo, integrados ao próprio corpo, esse ou aquele membro que, fisicamente, não mais existe.


6. SINCRONIA DE ESTÍMULOS. — Entenderemos, assim, facilmente, que o córtex encefálico, com as suas delicadas divisões e subdivisões, governando os núcleos reguladores dos sentidos, dos movimentos, dos reflexos e de todas as manifestações nervosas da individualidade encarnada, 2 corresponde à sede do centro cerebral do psicossoma (ou corpo espiritual) no corpo físico, 3 unida à sede do centro coronário, localizada no diencéfalo, entrosando-se ambos em perfeita sincronia de estímulos, 4 pelos quais se manifesta o Espírito em sua constituição mental, harmônica, difícil ou desequilibrada, 5 segundo a posição em que ele mesmo valoriza, conserva, prejudica ou desordena os recursos que a Lei Divina lhe faculta à própria exteriorização no Plano Físico e no Plano Espiritual.

6 E assim como dispomos, no córtex, de ligações energéticas da consciência para os serviços do tato, da audição, da visão, do olfato, do gosto, da memória, da fala, da escrita e de automatismos diversos, 7 possuímos no diencéfalo (tálamo e hipotálamo), a se irradiarem para o mesencéfalo, ligações energéticas semelhantes da consciência para os serviços da mesma natureza, 8 com acréscimos de atributos para enriquecimento e sublimação do campo sensorial, como sejam a reflexão, a atenção, a análise, o estudo, a meditação, o discernimento, a memória críptica, a compreensão, as virtudes morais e todas as fixações emotivas que nos sejam particulares.

9 Emitindo a onda de indagação e trabalho que nos diga respeito, através do centro coronário, conjugado ao centro cerebral, recebemo-la de volta, em circuito de raios substanciais da nossa própria força mental, com impactos aferentes e eferentes, para que a nossa consciência, por si, ajuíze, pela essência dos resultados ou reflexos de nossas próprias ações, quanto ao acerto ou desacerto de nossa escolha, nessa ou naquela circunstância da vida

10 Não podemos esquecer que cada núcleo das ligações a que nos reportamos se subdivide em peculiaridades diversas, entendendo-se, pois, que os fenômenos de obliteração suscetíveis de ocorrer em alguns dos setores corticais do corpo físico podem surgir igualmente no corpo espiritual, quando a turvação da mente é capaz de obstruir temporariamente esse ou aquele fulcro energético da região diencefálica, no centro coronário da entidade desencarnada.


7. MECANISMO DO MONOIDEÍSMO. — Em vista disso, se a criatura encarnada pode cair em amnésia ou afasia pela oclusão dos núcleos da memória ou da fala, sem desequilíbrio integral da inteligência, a criatura desencarnada pode arrojar-se a frustrações semelhantes, sem perturbação total do pensamento, enquanto se lhe mantenha a distonia.

2 Segundo critério idêntico, se a habilidade de um homem para manobrar determinado idioma pode cessar numa das subdivisões do núcleo da fala, no córtex, persistindo a habilidade para lidar com idiomas outros, 3 assim também o núcleo da visão profunda, no centro coronário, pode sofrer disfunção específica pela qual um Espírito desencarnado contemplará tão somente, por tempo equivalente à conturbação em que se encontre, os quadros terríficos que lhe digam respeito às culpas contraídas, sem capacidade para observar paisagens de outra espécie; 4 escutará exclusivamente vozes acusadoras que lhe testemunhem os compromissos inconfessáveis, sem possibilidade de ouvir quaisquer outros valores sônicos, 5 tanto quanto poderá recordar apenas acontecimentos que se lhe refiram aos padecimentos morais, com absoluto olvido de fatos outros, até mesmo daqueles que se relacionem com a sua personalidade, 6 motivo pelo qual se fazem tão raros os processos de perfeita identificação individual, na generalidade das comunicações mediúnicas, com entidades dementadas ou sofredoras, comumente estacionárias no monoideísmo que as isola em tipos exclusivos de recordação ou emoção, 7 de vez que, nessas condições, o pensamento contínuo que lhes flui da mente, em circuito viciado sobre si mesmo, age coagulando ou materializando pesadelos fantásticos, em conexão com as lembranças que albergam.

8 E esses pesadelos não são realmente meras criações abstratas, porquanto, em fluxo constante, as imagens repetidas, formadas pelas partículas vivas de matéria mental, se articulam em quadros que obedecem também à vitalidade mais ou menos longa do pensamento, justapondo-se às criaturas desencarnadas que lhes dão a forma e que, congregando criações do mesmo teor, de outros Espíritos afins, estabelecem, por associações espontâneas, os painéis apavorantes em que a consciência culpada expia, por tempo justo, as consequências dos crimes a que se empenhou, prejudicando a harmonia das Leis Divinas e conturbando, concomitantemente, a si mesma. n


8. ZONAS PURGATORIAIS. — Obliterados os núcleos energéticos da alma, capazes de conduzi-la às sensações de euforia e elevação, entendimento e beleza, precipita-se a mente, pelo excesso da taxa de remorso nos fulcros da memória, na dor do arrependimento a que se encarcera por automatismo, conforme os princípios de responsabilidade a se lhe delinearem no ser,  2 plasmando com os seus próprios pensamentos as telas temporárias, mas por vezes de longuíssima duração, em que contempla, incessantemente, por reflexão mecânica, o fruto amargo de suas próprias obras, 3 até que esgote os resíduos das culpas esposadas ou receba caridosa intervenção dos agentes do amor divino, que, habitualmente, lhe oferecem o preparo adequado para a reencarnação necessária, pela qual retornará ao aprendizado prático das lições em que faliu.

4 É dessa forma que os suicidas, com agravantes à frente do Plano Espiritual, como também os delinquentes de variada categoria, padecem por largo tempo a influência constante das aflitivas criações mentais deles mesmos, a elas aprisionados, pela fixação monoidéica de certos núcleos do corpo espiritual, em detrimento de outros que se mantêm malbaratados e oclusos.

5 E porque o pensamento é força criativa e aglutinante na criatura consciente em plena Criação,  6 as imagens plasmadas pelo mal, à custa da energia inestancável que lhe constitui atributo inalienável e imanente, servem para a formação das paisagens regenerativas em que a alma alucinada pelos próprios remorsos é detida em sua marcha, ilhando-se nas consequências dos próprios delitos, 7 em lugares que, retendo a associação de centenas e milhares de transviados, se transformam em verdadeiros continentes de angústia, filtros de aflição e de dor, 8 em que a loucura ou a crueldade, juguladas pelo sofrimento que geram para si mesmas, se rendem lentamente ao raciocínio equilibrado, para a readmissão indispensável ao trabalho remissor.


André Luiz


Pedro Leopoldo, 23/3/1958.



[1] Vide formas-pensamentos.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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