O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Evolução em dois mundos — André Luiz — F. C. Xavier / Waldo Vieira — 1ª Parte


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Mediunidade e corpo espiritual

(Sumário)

1. AURA HUMANA. — Considerando-se toda célula em ação por unidade viva, qual motor microscópico, em conexão com a usina mental, é claramente compreensível que todas as agregações celulares emitam radiações 2 e que essas radiações se articulem, através de sinergias funcionais, a se constituírem de recursos que podemos nomear por “tecidos de força”, em torno dos corpos que as exteriorizam.

3 Todos os seres vivos, por isso, dos mais rudimentares aos mais complexos se revestem de um “halo energético” que lhes corresponde à natureza.

4 No homem, contudo, semelhante projeção surge profundamente enriquecida e modificada pelos fatores do pensamento contínuo 5 que, em se ajustando às emanações do campo celular, lhe modelam, em derredor da personalidade, o conhecido corpo vital ou duplo etéreo de algumas escolas espiritualistas, 6 duplicata mais ou menos radiante da criatura.

7 Nas reentrâncias e ligações sutis dessa túnica eletromagnética de que o homem se entraja, circula o pensamento, colorindo-a com as vibrações e imagens de que se constitui, 8 aí exibindo, em primeira mão, as solicitações e os quadros que improvisa, antes de irradiá-los no rumo dos objetos e das metas que demanda.

9 Aí temos, nessa conjugação de forças físico-químicas e mentais, a aura humana, peculiar a cada indivíduo, 10 interpenetrando-o, ao mesmo tempo que parece emergir dele, à maneira de campo ovóide, não obstante a feição irregular em que se configura,  11 valendo por espelho sensível em que todos os estados da alma se estampam com sinais característicos  12 e em que todas as ideias se evidenciam, plasmando telas vivas, quando perduram em vigor e semelhança como no cinematógrafo comum.

13 Fotosfera psíquica, entretecida em elementos dinâmicos, atende à cromática variada, segundo a onda mental que emitimos, retratando-nos todos os pensamentos em cores e imagens que nos respondem aos objetivos e escolhas, enobrecedores ou deprimentes.


2. MEDIUNIDADE INICIAL. — A aura é, portanto, a nossa plataforma onipresente em toda comunicação com as rotas alheias, 2 antecâmara do Espírito, em todas as nossas atividades de intercâmbio com a vida que nos rodeia, 3 através da qual somos vistos e examinados pelas Inteligências Superiores,  4 sentidos e reconhecidos pelos nossos afins, 5 e temidos e hostilizados ou amados e auxiliados pelos irmãos que caminham em posição inferior à nossa.

6 Isso porque exteriorizamos, de maneira invariável, o reflexo de nós mesmos, nos contatos de pensamento a pensamento, sem necessidade das palavras para as simpatias ou repulsões fundamentais.

7 É por essa couraça vibratória, espécie de carapaça fluídica, em que cada consciência constrói o seu ninho ideal, que começaram todos os serviços da mediunidade na Terra, 8 considerando-se a mediunidade como atributo do homem encarnado para corresponder-se com os homens liberados do corpo físico.

9 Essa obra de permuta, no entanto, foi iniciada no mundo sem qualquer direção consciente, 10 porque, pela natural apresentação da própria aura, os homens melhores atraíram para si os Espíritos humanos melhorados, cujo coração generoso se voltava, compadecido, para a Esfera terrena, auxiliando os companheiros da retaguarda, 11 e os homens rebeldes à Lei Divina aliciaram a companhia de entidades da mesma classe, transformando-se em pontos de contato entre o bem e o mal ou entre a Luz e a Sombra que se digladiam na própria Terra.

12 Pelas ondas de pensamento a se enovelarem umas sobre as outras, segundo a combinação de frequência e trajeto, natureza e objetivo, encontraram-se as mentes semelhantes entre si, 13 formando núcleos de progresso em que homens nobres assimilaram as correntes mentais dos Espíritos Superiores, para gerar trabalho edificante e educativo,  14 ou originando processos vários de simbiose em que almas estacionárias se enquistaram mutuamente, desafiando debalde os imperativos da evolução e estabelecendo obsessões lamentáveis, a se elastecerem sempre novas, nas teias do crime ou na etiologia complexa das enfermidades mentais.

15 A intuição foi, por esse motivo, o sistema inicial de intercâmbio, 16 facilitando a comunhão das criaturas, mesmo a distância, para transfundi-las no trabalho sutil da telementação, nesse ou naquele domínio do sentimento e da ideia, 17 por intermédio de remoinhos mensuráveis de força mental, 18 assim como na atualidade o remoinho eletrônico infunde em aparelhos especiais a voz ou a figura de pessoas ausentes, em comunicação recíproca na radiotelefonia e na televisão.


3. SONO E DESPRENDIMENTO. — Releva, contudo, assinalar que, em se iniciando a criatura na produção do pensamento contínuo, o sono adquiriu para ela uma importância que a consciência em processo evolutivo, até aí, não conhecera.

2 Usado instintivamente pelo elemento espiritual, como recurso reparador, no refazimento das células em serviço, 3 semelhante estado fisiológico carreou novas possibilidades de realização para quantos se consagrassem ao trabalho mais amplo de desejar e mentalizar.

4 Ansiando livrar-se da fadiga física, após determinada quota de tempo no esforço da vigília diária e, por isso mesmo, entregue ao relaxamento muscular, o homem operante e indagador adormecia com a ideia fixada a serviços de sua predileção.

5 Amadurecido para pensar e lançando de si a substância de seus propósitos mais íntimos, ensaiou, pouco a pouco, tal como aprendera, vagarosamente, o desprendimento definitivo nas operações da morte, o desprendimento parcial do corpo sutil, durante o sono, desenfaixando-o do veículo de matéria mais densa,  6 embora sustentando-o, ligado a ele, por laços fluídico-magnéticos, a se dilatarem levemente dos plexos e, com mais segurança, da fossa rombóide.

7 Encetado o processo de sonolência, com as reações motoras empobrecidas e impondo mecanicamente a si mesma o descanso temporário, no auxílio às células fatigadas de tensão, 8 isto desde as eras remotas em que o pensamento se lhe articulou com fluência e continuidade, 9 permanece a mente, através do corpo espiritual, na maioria das vezes, justaposta ao veículo físico, 10 à guisa de um cavaleiro que repousa ao pé do animal de que necessita para a travessia de grande região em complicada viagem, dando-lhe ensejo à recuperação e pastagem, 11 enquanto ele [o cavaleiro,] se recolhe ao próprio íntimo, ensimesmando-se para refletir ou imaginar, de conformidade com seus problemas e inquietações, necessidades e desejos.


4. ASPECTOS DO DESPRENDIMENTO. — É dessa forma, aliviando o controle sobre as células que a servem no corpo carnal, que a mente se volta, no sono, para o refúgio de si mesma, 2 plasmando na onda constante de suas próprias ideias as imagens com que se compraz nos sonhos agradáveis em que saca da memória a essência de seus próprios desejos, retemperando-se na antecipada contemplação dos painéis ou situações que almeja concretizar.

3 Para isso, mobiliza os recursos do núcleo da visão superior, no diencéfalo, 4 de vez que, aí, as qualidades essencialmente ópticas do centro coronário lhe acalentam no silêncio do desnervamento transitório todos os pensamentos que lhe emergem do seio.

5 Noutras ocasiões, no mesmo estado de insulamento, recolhe, no curso do sono, os resultados de seus próprios excessos, padecendo a inquietação das vísceras ou dos nervos injuriados pela sua rendição à licenciosidade, 6 quando não seja o asfixiante pesar do remorso por faltas cometidas, cujos reflexos absorvem do arquivo em que se lhe amontoam as próprias lembranças.

7 Numa e noutra condição, todavia, é a mente suscetível à influenciação dos desencarnados que, evoluídos ou não, lhe visitam o ser, atraídos pelos quadros que se lhe filtram da aura, 8 ofertando-lhe auxílio eficiente quando se mostre inclinada à ascensão de ordem moral, 9 ou sugando-lhe as energias e assoprando-lhe sugestões infelizes 10 quando, pela própria ociosidade ou intenção maligna, adere ao consórcio psíquico de espécie aviltante, que lhe favorece a estagnação na preguiça  11 ou a envolve nas obsessões viciosas pelas quais se entrega a temíveis contratos com as forças sombrias.

12 Mas dessa posição de espectador à função de agente existe apenas um passo.

13 O pensamento contínuo, em fluxo insopitável, desloca-lhe a organização celular perispiritual, à maneira do córrego que em sua passagem desarticula da gleba em que desliza todo um rosário de seixos. 14 E assim como os seixos soltos seguem a direção da corrente, lapidando-se no curso dos dias, o corpo espiritual acompanha, de início, o impulso da corrente mental que por ele extravasa, conscienciando-se muito vagarosamente no sono, que lhe propicia meia-libertação.


5. MEDIUNIDADE ESPONTÂNEA. — Nessa fase primária de novo desenvolvimento, encontra-se, como é natural, ao pé dos objetos que lhe tomam o interesse.

2 É assim que o lavrador, no repouso físico, retorna, em corpo espiritual, ao campo em que semeia, entrando em contato com as entidades que amparam a Natureza; 3 o caçador volta para a floresta; 4 o escultor regressa, frequentemente, no sono, ao bloco de mármore de que aspira a desentranhar a obra-prima; 5 o seareiro do bem volve à leira de serviço em que se lhe desdobra a virtude, 6 e o culpado torna ao local do crime, 7 cada qual recebendo de Espíritos afins os estímulos elevados ou degradantes de que se fazem merecedores.

8 Consolidadas semelhantes relações com o Plano Espiritual, por intermédio da hipnose comum, começaram na Terra os movimentos da mediunidade espontânea, 9 porquanto os encarnados que demonstrassem capacidades mediúnicas mais evidentes, 10 pela comunhão menos estreita entre as células do corpo físico e do corpo espiritual, em certas regiões do campo somático, 11 passaram das observações durante o sono às observações da vigília, 12 a princípio fragmentárias, mas acentuáveis com o tempo, conforme os graus de cultura a que fossem expostos.

13 Quanto menos densos os elos de ligação entre os implementos físicos e espirituais, nos órgãos da visão, mais amplas as possibilidades na clarividência,  14 prevalecendo as mesmas normas para a clariaudiência e para modalidades outras, no intercâmbio entre as duas Esferas, 15 inclusive as peculiaridades da materialização, pelas quais os recursos periféricos do citoplasma, a se condensarem no ectoplasma da definição científica vulgar, se exteriorizam do corpo carnal do médium, na conjugação com as forças circulantes do ambiente, para a efêmera constituição de formas diversas.

16 Desde então, iniciou-se o correio entre o Plano físico e o Plano extrafísico, 17 mas, porque a ignorância embotasse ainda a mente humana, os médiuns primitivos nada mais puderam realizar que a fascinação recíproca, ou magia elementar, 18 em que os desencarnados igualmente inferiores eram aproveitados, por via hipnótica, na execução de atividades materialonas, sem qualquer alicerce na sublimação pessoal.


6. FORMAÇÃO DA MITOLOGIA. — Apareceu então a goécia ( † ) ou magia negra, 2 à qual as Inteligências Superiores opuseram a religião por magia divina,  3 encetando-se a formação da mitologia em todos os setores da vida tribal.

4 Numes familiares, interessados em favorecer as tarefas edificantes para levantar a vida humana a nível mais nobre, foram categorizadas à conta de deuses, em diversas faixas da Natureza, 5 e, realmente, através dos instrumentos humanos mobilizáveis, esses gênios tutelares incentivaram, por todas as formas possíveis, o progresso da agricultura e do pastoreio, das indústrias e das artes.

6 A luta entre os Espíritos retardados na sombra e os aspirantes da luz encontrou seguro apoio nas almas encarnadas que lhes eram irmãs.

7 Desde essas eras recuadas, empenharam-se o bem e o mal em tremendo conflito que ainda está muito longe de terminar, com bases na mediunidade consciente ou inconsciente, técnica ou empírica.


7. FUNÇÃO DA DOUTRINA ESPÍRITA. — Forçoso reconhecer, todavia, que a mediunidade, na essência, quanto a energia elétrica em si mesma, nada tem a ver com os princípios morais que regem os problemas do destino e do ser.

2 Dela podem dispor, pela espontaneidade com que se evidencia, sábios e ignorantes, justos e injustos, expressando-se-lhe, desse modo, a necessidade de condução reta, quanto a força elétrica exige disciplina a fim de auxiliar.

3 Esse o motivo por que os Orientadores do Progresso sustentam a Doutrina Espírita na atualidade do mundo, por Chama Divina, cristianizando fenômenos e objetivos, caracteres e faculdades, para que o Evangelho de Jesus seja de fato incorporado às relações humanas.

4 Como nas intervenções cirúrgicas em que tecidos são transplantados com êxito para melhoria das condições orgânicas, é indispensável nos atenhamos ao impositivo das operações mediúnicas pelas quais se efetuem proveitosas enxertias psíquicas, com vistas à difusão do conhecimento superior.


8. MEDIUNIDADE E VIDA. — Eminentes fisiologistas e pesquisadores de laboratório procuraram fixar mediunidades e médiuns a nomenclaturas e conceitos da ciência metapsíquica; entretanto, o problema, como todos os problemas humanos, é mais profundo, porque a mediunidade jaz adstrita à própria vida, não existindo, por isso mesmo, dois médiuns iguais, não obstante a semelhança no campo das impressões.

2 Por outro lado, espiritualistas distintos julgam-se no direito de hostilizar-lhe os serviços e impedir-lhe a eclosão, encarecendo-lhe os supostos perigos, como se eles próprios, mentalizando os argumentos que avocam, não estivessem assimilando, por via mediúnica, as correntes mentais intuitivas, contendo interpretações particulares das Inteligências desencarnadas que os assistem.

3 A mediunidade, no entanto, é faculdade inerente à própria vida e, com todas as suas deficiências e grandezas, acertos e desacertos, é qual o dom da visão comum, peculiar a todas as criaturas, responsável por tantas glórias e tantos infortúnios na Terra.

4 Ninguém se lembrará, contudo, de suprimir os olhos, porque milhões de pessoas, à face de circunstâncias imponderáveis da evolução, deles se tenham valido para perseguir e matar nas guerras de terror e destruição.

Urge iluminá-los, orientá-los e esclarecê-los.

5 Também a mediunidade não requisitará desenvolvimento indiscriminado, mas sim, antes de tudo, aprimoramento da personalidade mediúnica e nobreza de fins, para que o corpo espiritual, modelando o corpo físico e sustentando-o, possa igualmente erigir-se em filtro leal das Esferas Superiores, facilitando a ascensão da Humanidade aos domínios da luz.


André Luiz


Uberaba, 26/3/1958.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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