1. AURA
HUMANA. — Considerando-se toda célula em ação por unidade viva,
qual motor microscópico, em conexão com a usina mental, é claramente
compreensível que todas as agregações celulares emitam radiações 2 e que essas radiações se articulem, através de sinergias funcionais,
a se constituírem de recursos que podemos nomear por “tecidos de força”,
em torno dos corpos que as exteriorizam.
3 Todos os seres vivos, por
isso, dos mais rudimentares aos mais complexos se revestem de um “halo
energético” que lhes corresponde à natureza.
4 No homem, contudo,
semelhante projeção surge profundamente enriquecida e modificada pelos
fatores do pensamento contínuo 5
que, em se ajustando às emanações do campo celular, lhe modelam, em
derredor da personalidade, o conhecido corpo vital ou duplo etéreo de
algumas escolas espiritualistas, 6
duplicata mais ou menos radiante da criatura.
7 Nas reentrâncias
e ligações sutis dessa túnica eletromagnética de que o homem se entraja,
circula o pensamento, colorindo-a com as vibrações e imagens de que
se constitui, 8 aí
exibindo, em primeira mão, as solicitações e os quadros que improvisa,
antes de irradiá-los no rumo dos objetos e das metas que demanda.
9 Aí temos, nessa
conjugação de forças físico-químicas e mentais, a aura humana, peculiar
a cada indivíduo, 10
interpenetrando-o, ao mesmo tempo que parece emergir dele, à maneira
de campo ovóide, não obstante a feição irregular em que se configura,
11 valendo por espelho
sensível em que todos os estados da alma se estampam com sinais característicos
12 e em que todas as
ideias se evidenciam, plasmando telas vivas, quando perduram em vigor
e semelhança como no cinematógrafo comum.
13 Fotosfera psíquica, entretecida
em elementos dinâmicos, atende à cromática variada, segundo a onda mental
que emitimos, retratando-nos todos os pensamentos em cores e imagens
que nos respondem aos objetivos e escolhas, enobrecedores ou deprimentes.
2. MEDIUNIDADE
INICIAL. — A aura é, portanto, a nossa plataforma onipresente
em toda comunicação com as rotas alheias, 2
antecâmara do Espírito, em todas as nossas atividades de intercâmbio
com a vida que nos rodeia, 3
através da qual somos vistos e examinados pelas Inteligências Superiores,
4 sentidos e reconhecidos
pelos nossos afins, 5
e temidos e hostilizados ou amados e auxiliados pelos irmãos que caminham
em posição inferior à nossa.
6 Isso porque exteriorizamos,
de maneira invariável, o reflexo de nós mesmos, nos contatos de pensamento
a pensamento, sem necessidade das palavras para as simpatias ou repulsões
fundamentais.
7 É por essa couraça
vibratória, espécie de carapaça fluídica, em que cada consciência constrói
o seu ninho ideal, que começaram todos os serviços da mediunidade na
Terra, 8 considerando-se
a mediunidade como atributo do homem encarnado para corresponder-se
com os homens liberados do corpo físico.
9 Essa obra de permuta,
no entanto, foi iniciada no mundo sem qualquer direção consciente, 10
porque, pela natural apresentação da própria aura, os homens melhores
atraíram para si os Espíritos humanos melhorados, cujo coração generoso
se voltava, compadecido, para a Esfera terrena, auxiliando os companheiros
da retaguarda, 11 e
os homens rebeldes à Lei Divina aliciaram a companhia de entidades da
mesma classe, transformando-se em pontos de contato entre o bem e o
mal ou entre a Luz e a Sombra que se digladiam na própria Terra.
12 Pelas ondas de
pensamento a se enovelarem umas sobre as outras, segundo a combinação
de frequência e trajeto, natureza e objetivo, encontraram-se as mentes
semelhantes entre si, 13
formando núcleos de progresso em que homens nobres assimilaram as correntes
mentais dos Espíritos Superiores, para gerar trabalho edificante e educativo,
14 ou originando processos
vários de simbiose em que almas estacionárias se enquistaram mutuamente,
desafiando debalde os imperativos da evolução e estabelecendo obsessões
lamentáveis, a se elastecerem sempre novas, nas teias do crime ou na
etiologia complexa das enfermidades mentais.
15 A intuição foi,
por esse motivo, o sistema inicial de intercâmbio, 16
facilitando a comunhão das criaturas, mesmo a distância, para transfundi-las
no trabalho sutil da telementação, nesse ou naquele domínio do sentimento
e da ideia, 17 por
intermédio de remoinhos mensuráveis de força mental, 18
assim como na atualidade o remoinho eletrônico infunde em aparelhos
especiais a voz ou a figura de pessoas ausentes, em comunicação recíproca
na radiotelefonia e na televisão.
3. SONO E DESPRENDIMENTO. — Releva, contudo, assinalar que, em se iniciando a criatura na produção do pensamento contínuo, o sono adquiriu para ela uma importância que a consciência em processo evolutivo, até aí, não conhecera.
2 Usado instintivamente
pelo elemento espiritual, como recurso reparador, no refazimento das
células em serviço, 3
semelhante estado fisiológico carreou novas possibilidades de realização
para quantos se consagrassem ao trabalho mais amplo de desejar e mentalizar.
4 Ansiando livrar-se da fadiga
física, após determinada quota de tempo no esforço da vigília diária
e, por isso mesmo, entregue ao relaxamento muscular, o homem operante
e indagador adormecia com a ideia fixada a serviços de sua predileção.
5 Amadurecido para
pensar e lançando de si a substância de seus propósitos mais íntimos,
ensaiou, pouco a pouco, tal como aprendera, vagarosamente, o desprendimento
definitivo nas operações da morte, o desprendimento parcial do corpo
sutil, durante o sono, desenfaixando-o do veículo de matéria mais densa,
6 embora sustentando-o,
ligado a ele, por laços fluídico-magnéticos, a se dilatarem levemente
dos plexos e, com mais segurança, da fossa rombóide.
7 Encetado o processo
de sonolência, com as reações motoras empobrecidas e impondo mecanicamente
a si mesma o descanso temporário, no auxílio às células fatigadas de
tensão, 8 isto desde
as eras remotas em que o pensamento se lhe articulou com fluência e
continuidade, 9 permanece
a mente, através do corpo espiritual, na maioria das vezes, justaposta
ao veículo físico, 10
à guisa de um cavaleiro que repousa ao pé do animal de que necessita
para a travessia de grande região em complicada viagem, dando-lhe ensejo
à recuperação e pastagem, 11
enquanto ele [o cavaleiro,] se recolhe ao próprio íntimo, ensimesmando-se
para refletir ou imaginar, de conformidade com seus problemas e inquietações,
necessidades e desejos.
4. ASPECTOS
DO DESPRENDIMENTO. — É dessa forma, aliviando o controle sobre
as células que a servem no corpo carnal, que a mente se volta, no sono,
para o refúgio de si mesma, 2
plasmando na onda constante de suas próprias ideias as imagens com que
se compraz nos sonhos agradáveis em que saca da memória a essência de
seus próprios desejos, retemperando-se na antecipada contemplação dos
painéis ou situações que almeja concretizar.
3 Para isso, mobiliza
os recursos do núcleo da visão superior, no diencéfalo, 4
de vez que, aí, as qualidades essencialmente ópticas do centro
coronário lhe acalentam no silêncio do desnervamento transitório
todos os pensamentos que lhe emergem do seio.
5 Noutras ocasiões,
no mesmo estado de insulamento, recolhe, no curso do sono, os resultados
de seus próprios excessos, padecendo a inquietação das vísceras ou dos
nervos injuriados pela sua rendição à licenciosidade, 6
quando não seja o asfixiante pesar do remorso por faltas cometidas,
cujos reflexos absorvem do arquivo em que se lhe amontoam as próprias
lembranças.
7 Numa e noutra condição,
todavia, é a mente suscetível à influenciação dos desencarnados que,
evoluídos ou não, lhe visitam o ser, atraídos pelos quadros que se lhe
filtram da aura, 8
ofertando-lhe auxílio eficiente quando se mostre inclinada à ascensão
de ordem moral, 9 ou
sugando-lhe as energias e assoprando-lhe sugestões infelizes 10
quando, pela própria ociosidade ou intenção maligna, adere ao consórcio
psíquico de espécie aviltante, que lhe favorece a estagnação na preguiça
11 ou a envolve nas
obsessões viciosas pelas quais se entrega a temíveis contratos com as
forças sombrias.
12 Mas dessa posição de espectador
à função de agente existe apenas um passo.
13 O pensamento
contínuo, em fluxo insopitável, desloca-lhe a organização celular perispiritual,
à maneira do córrego que em sua passagem desarticula da gleba em que
desliza todo um rosário de seixos. 14
E assim como os seixos soltos seguem a direção da corrente, lapidando-se
no curso dos dias, o corpo espiritual acompanha, de início, o impulso
da corrente mental que por ele extravasa, conscienciando-se muito
vagarosamente no sono, que lhe propicia meia-libertação.
5. MEDIUNIDADE ESPONTÂNEA. — Nessa fase primária de novo desenvolvimento, encontra-se, como é natural, ao pé dos objetos que lhe tomam o interesse.
2 É assim que o lavrador,
no repouso físico, retorna, em corpo espiritual, ao campo em que semeia,
entrando em contato com as entidades que amparam a Natureza; 3
o caçador volta para a floresta; 4
o escultor regressa, frequentemente, no sono, ao bloco de mármore de
que aspira a desentranhar a obra-prima; 5
o seareiro do bem volve à leira de serviço em que se lhe desdobra a
virtude, 6 e o culpado
torna ao local do crime, 7
cada qual recebendo de Espíritos afins os estímulos elevados ou degradantes
de que se fazem merecedores.
8 Consolidadas semelhantes
relações com o Plano Espiritual, por intermédio da hipnose comum, começaram
na Terra os movimentos da mediunidade espontânea, 9
porquanto os encarnados que demonstrassem capacidades mediúnicas mais
evidentes, 10 pela
comunhão menos estreita entre as células do corpo físico e do corpo
espiritual, em certas regiões do campo somático, 11
passaram das observações durante o sono às observações da vigília, 12
a princípio fragmentárias, mas acentuáveis com o tempo, conforme os
graus de cultura a que fossem expostos.
13 Quanto menos
densos os elos de ligação entre os implementos físicos e espirituais,
nos órgãos da visão, mais amplas as possibilidades na clarividência,
14 prevalecendo as
mesmas normas para a clariaudiência e para modalidades outras, no intercâmbio
entre as duas Esferas, 15
inclusive as peculiaridades da materialização, pelas quais os recursos
periféricos do citoplasma, a se condensarem no ectoplasma da definição
científica vulgar, se exteriorizam do corpo carnal do médium, na conjugação
com as forças circulantes do ambiente, para a efêmera constituição de
formas diversas.
16 Desde então,
iniciou-se o correio entre o Plano físico e o Plano extrafísico, 17
mas, porque a ignorância embotasse ainda a mente humana, os médiuns
primitivos nada mais puderam realizar que a fascinação recíproca, ou
magia elementar, 18
em que os desencarnados igualmente inferiores eram aproveitados, por
via hipnótica, na execução de atividades materialonas, sem qualquer
alicerce na sublimação pessoal.
6. FORMAÇÃO
DA MITOLOGIA. — Apareceu então a goécia ( † )
ou magia negra, 2 à
qual as Inteligências Superiores opuseram a religião por magia divina,
3 encetando-se a formação
da mitologia em todos os setores da vida tribal.
4 Numes familiares,
interessados em favorecer as tarefas edificantes para levantar a vida
humana a nível mais nobre, foram categorizadas à conta de deuses, em
diversas faixas da Natureza, 5
e, realmente, através dos instrumentos humanos mobilizáveis, esses gênios
tutelares incentivaram, por todas as formas possíveis, o progresso da
agricultura e do pastoreio, das indústrias e das artes.
6 A luta entre os Espíritos
retardados na sombra e os aspirantes da luz encontrou seguro apoio nas
almas encarnadas que lhes eram irmãs.
7 Desde essas eras recuadas,
empenharam-se o bem e o mal em tremendo conflito que ainda está muito
longe de terminar, com bases na mediunidade consciente ou inconsciente,
técnica ou empírica.
7. FUNÇÃO DA DOUTRINA ESPÍRITA. — Forçoso reconhecer, todavia, que a mediunidade, na essência, quanto a energia elétrica em si mesma, nada tem a ver com os princípios morais que regem os problemas do destino e do ser.
2 Dela podem dispor, pela
espontaneidade com que se evidencia, sábios e ignorantes, justos e injustos,
expressando-se-lhe, desse modo, a necessidade de condução reta, quanto
a força elétrica exige disciplina a fim de auxiliar.
3 Esse o motivo por que os
Orientadores do Progresso sustentam a Doutrina Espírita na atualidade
do mundo, por Chama Divina, cristianizando fenômenos e objetivos, caracteres
e faculdades, para que o Evangelho de Jesus seja de fato incorporado
às relações humanas.
4 Como nas intervenções cirúrgicas
em que tecidos são transplantados com êxito para melhoria das condições
orgânicas, é indispensável nos atenhamos ao impositivo das operações
mediúnicas pelas quais se efetuem proveitosas enxertias psíquicas, com
vistas à difusão do conhecimento superior.
8. MEDIUNIDADE E VIDA. — Eminentes fisiologistas e pesquisadores de laboratório procuraram fixar mediunidades e médiuns a nomenclaturas e conceitos da ciência metapsíquica; entretanto, o problema, como todos os problemas humanos, é mais profundo, porque a mediunidade jaz adstrita à própria vida, não existindo, por isso mesmo, dois médiuns iguais, não obstante a semelhança no campo das impressões.
2 Por outro lado, espiritualistas
distintos julgam-se no direito de hostilizar-lhe os serviços e impedir-lhe
a eclosão, encarecendo-lhe os supostos perigos, como se eles próprios,
mentalizando os argumentos que avocam, não estivessem assimilando, por
via mediúnica, as correntes mentais intuitivas, contendo interpretações
particulares das Inteligências desencarnadas que os assistem.
3 A mediunidade, no entanto,
é faculdade inerente à própria vida e, com todas as suas deficiências
e grandezas, acertos e desacertos, é qual o dom da visão comum, peculiar
a todas as criaturas, responsável por tantas glórias e tantos infortúnios
na Terra.
4 Ninguém se lembrará, contudo,
de suprimir os olhos, porque milhões de pessoas, à face de circunstâncias
imponderáveis da evolução, deles se tenham valido para perseguir e matar
nas guerras de terror e destruição.
Urge iluminá-los, orientá-los e esclarecê-los.
5 Também a mediunidade não
requisitará desenvolvimento indiscriminado, mas sim, antes de tudo,
aprimoramento da personalidade mediúnica e nobreza de fins, para que
o corpo espiritual, modelando o corpo físico e sustentando-o, possa
igualmente erigir-se em filtro leal das Esferas Superiores, facilitando
a ascensão da Humanidade aos domínios da luz.
André Luiz
Uberaba, 26/3/1958.