1. PARASITISMO NOS REINOS INFERIORES. — Comentando as ocorrências da obsessão e do vampirismo no veículo fisiopsicossomático, é importante lembrar os fenômenos do parasitismo nos reinos inferiores da Natureza.
2 Sem nos reportarmos às simbioses
fisiológicas, em que microorganismos se albergam no trato intestinal
dos seus hospedadores, apropriando-se-lhes dos sucos nutritivos, mas
gerando substâncias úteis à existência dos anfitriões, encontraremos
a associação parasitária, no domínio dos animais, à maneira de uma sociedade,
na qual uma das partes, quase sempre após insinuar-se com astúcia, criou
para si mesma vantagens especiais, com manifesto prejuízo para a outra,
que passa, em seguida, à condição de vítima.
3 Em semelhante desequilíbrio,
as vítimas se acomodam, por tempo indeterminado, à pressão externa dos
verdugos; 4 contudo,
em outras eventualidades, sofrem-lhes a intromissão direta na intimidade
dos próprios tecidos, em ocupação impertinente que, às vezes, se degenera
em conflito destruidor e, na maioria dos casos, se transforma num acordo
de tolerância, por necessidade de adaptação, perdurando até à morte
dos hospedeiros espoliados, 5
chegando mesmo a originar os remanescentes das agregações imensamente
demoradas no tempo, interferindo nos princípios da hereditariedade,
como raízes do conquistador, a se entranharem nas células que lhes padecem
a invasão nos componentes protoplasmáticos, para além da geração em
que o consórcio parasitário começa.
6 Em razão disso, apreciando
a situação dos parasitas, perante os hospedadores, temo-los por ectoparasitas,
quando limitam a própria ação às zonas de superfície, e endoparasitas,
quando se alojam nas reentrâncias do corpo a que se impõem.
7 Não será lícito
esquecer, porém, que toda simbiose exploradora de longo curso, principalmente
a que se verifica no campo interno, resulta de adaptação progressiva
entre o hospedador e o parasita, os quais, não obstante reagindo um
sobre o outro, lentamente concordam na sociedade em que persistem, 8
sem que o hospedador considere os riscos e perdas a que se expõe, comprometendo
não apenas a própria vida, mas a existência da própria espécie.
2. TRANSFORMAÇÕES
DOS PARASITAS. — Temos, assim, na larga escala dos acontecimentos
dessa ordem, os parasitas temporários, quais as sanguessugas e quase
todos os insetos hematófagos, que apenas transitoriamente visitam os
hospedadores; 2 os
ocasionais ou os pseudoparasitas, que sistematicamente não são parasitas,
mas que vampirizam outros animais, quando as situações do ambiente a
isso os conduzam; 3
os permanentes de desenvolvimento direto, que dispõem de um hospedador
exclusivo e a cuja existência se encontram ajustados por laços indissolúveis,
quase todos relacionáveis entre os endoparasitas; 4
os parasitas chamados heteroxênicos, que se fazem adultos, em ciclo
biológico determinado, contando com um ou mais hospedeiros intermediários,
quando se encontram em período larval, para atingirem a forma completa
no hospedeiro definitivo; 5
os hiperparasitas, que são parasitas de outros parasitas.
6 Concluindo-se que o parasitismo,
entre os animais, não decorre de uma condição natural, mas sim de uma
autêntica adaptação deles a modo particular de comportamento, é justo
admitir se inclinem para novos característicos na espécie.
7 Assim é que o parasita,
no regime de adaptação a que se entrega, experimenta mutações de vulto
a se lhe exprimirem na forma, por reduções ou acentuações orgânicas,
8 compreendendo-se,
desse modo, que o desaparecimento de certos órgãos de locomoção em parasitas
fixados e a consequente formação de órgãos necessários à estabilidade
em que se harmonizam devem ser analisados como fenômenos inerentes à
simbiose injuriante, 9
notando-se nesses seres a facilidade de fecundação e a resistência vital,
com a extrema capacidade de encistamento, pela qual segregam recursos
protetores e se isolam dos fatores adversos do meio, como o frio ou
o calor, tolerando vastos períodos de abstenção de qualquer alimento,
a exemplo do que ocorre com o percevejo do leito, que consegue viver,
mais de seis meses consecutivos, em completo jejum.
10 Continuando a examinar as
alterações nos parasitas em atividade, assinalamos muitos platelmintos
e anelídeos que, em virtude do parasitismo, perderam os apêndices locomotores,
substituindo-os por ventosas ou ganchos.
11 Identificamos a degeneração
do aparelho digestivo em vários endoparasitas do campo intestinal e,
por vezes, a total extinção desse aparelho, como acontece a muitos cestóides
e acantocéfalos que, vivendo, de maneira invariável, na corrente abundante
de sucos nutritivos já elaborados no intestino de seus hospedadores,
convertem os órgãos bucais em órgãos de fixação, prescindindo de sistema
intestinal próprio, de vez que passam a realizar a nutrição respectiva
por osmose, utilizando toda a superfície do corpo.
12 De outras vezes, quando
o parasita costuma ingerir grande massa de sangue, demonstra desenvolvimento
anormal do intestino médio, que se transforma em bolsa volumosa a funcionar
por depósito de reserva, onde a assimilação se opera, vagarosa, para
que esses animais, como sejam as sanguessugas e os mosquitos, se sobreponham
a longos jejuns eventuais.
3. TRANSFORMAÇÕES DOS HOSPEDEIROS. — Todavia, se os parasitas podem acusar expressivas transformações, à face do novo regime de existência a que se afeiçoam, os resultados de tais associações sobre o hospedeiro são mais profundos, porque os assaltantes, depois de instalados, se multiplicam, ameaçadores, estabelecendo espoliações sobre as províncias orgânicas da vítima, sugando-lhe a vitalidade, traumatizando-lhe os tecidos, provocando lesões parciais ou totais ou estendendo ações tóxicas, como a exaltação febril nas infecções, com que, algumas vezes, lhe apressam a morte.
2 Nessa movimentação perniciosa
ou letal, conseguem irritar as células ou destruí-las, obstruir cavidades,
seja nos intestinos ou nos vasos, embaraçar funções e obliterar glândulas
importantes, quais as glândulas genitais, que podem levar até à castração,
embora os recursos defensivos do hospedeiro sejam postos em evidência,
criando exércitos celulares de combate às infestações, expulsando os
invasores por via comum, ou neutralizando-lhes a penetração, pelas membranas
fibrosas que os envolvem, encistando-os a princípio, para aniquilá-los,
depois, em pequeninos invólucros calcificados, no interior dos tecidos.
3 E lembrando os efeitos
de certos parasitas heteroxênicos, que se desenvolvem no hospedeiro
intermediário para alcançar a posição adulta no hospedeiro definitivo,
bastará menção especial aos tripanossomas que, em espécies várias, se
multiplicam nos tecidos e líquidos orgânicos, traçando aflitivos problemas
da parasitologia humana, em complicadas operações de transmissão, evolução
e instalação no quadro fisiológico de suas vítimas, 4
valendo citar, dentre todos, o “Trypanosoma cruzi” que se hospeda, habitualmente
no intestino médio de um “triatoma” ou de outro reduviídeo, onde apresenta
formas arredondadas em divisão para adquirir novamente a forma de tripanossoma
no intestino posterior do hemíptero que, vivendo à custa de sangue,
obtido por picada, vem a transmiti-lo pelas fezes, ao organismo humano,
no qual, geralmente, passa a residir, em forma endocelular, nos músculos,
no sistema nervoso, na medula dos ossos ou na intimidade de tecidos
outros, aí se difundindo, na medida das resistências que lhe ofereça
o mundo orgânico, desempenhando o papel de carrasco microscópico a perseguir
e aniquilar populações indefesas.
4. OBSESSÃO E VAMPIRISMO. — Em processos diferentes, mas atendendo aos mesmos princípios de simbiose prejudicial, encontramos os circuitos de obsessão e de vampirismo entre encarnados e desencarnados, desde as eras recuadas em que o Espírito humano, iluminado pela razão, foi chamado pelos princípios da Lei Divina a renunciar ao egoísmo e à crueldade, à ignorância e ao crime.
2 Rebelando-se, no entanto,
em grande maioria, contra as sagradas convocações, e livres para escolher
o próprio caminho, as criaturas humanas desencarnadas, em alto número,
começaram a oprimir os companheiros da retaguarda, disputando afeições
e riquezas que ficavam na carne, ou tentando empreitadas de vingança
e delinquência, quando sofriam o processo liberatório da desencarnação
em circunstâncias delituosas.
3 As vítimas de homicídio,
e violência, brutalidade manifesta ou perseguição disfarçada, fora do
vaso físico, entram na faixa mental dos ofensores, conhecendo-lhes a
enormidade das faltas ocultas, e, ao invés do perdão, com que se exonerariam
da cadeia de trevas, empenham-se em vinditas atrozes, retribuindo golpe
a golpe e mal por mal. ( † )
4 Outros desencarnados, exigindo
que Deus lhes providencie solução aos caprichos pueris e proclamando-se
inabilitados para o resgate do preço devido à evolução que lhes é necessária,
tornam-se madraços e gozadores, e, alegando a suposta impossibilidade
de a Sabedoria Divina dirimir os padecimentos dos homens, pelos próprios
homens criados, fogem, acovardados e preguiçosos, aos deveres e serviços
que lhes competem.
5. “INFECÇÕES FLUÍDICAS”. — Muitos acometem os adversários que ainda se entrosam no corpo terrestre, empolgando-lhes a imaginação com formas mentais monstruosas, operando perturbações que podemos classificar como “infecções fluídicas” e que determinam o colapso cerebral com arrasadora loucura.
2 E ainda muitos outros, imobilizados
nas paixões egoísticas desse ou daquele teor, descansam em pesado monoideísmo,
ao pé dos encarnados, de cuja presença não se sentem capazes de afastar-se.
3 Alguns, como os
ectoparasitas temporários, procedem à semelhança dos mosquitos e dos
ácaros, absorvendo as emanações vitais dos encarnados que com eles se
harmonizam, aqui e ali; 4
mas outros muitos, quais endoparasitas conscientes, após se inteirarem
dos pontos vulneráveis de suas vítimas, segregam sobre elas determinados
produtos, filiados ao quimismo do Espírito, e que podemos nomear como
simpatinas e aglutininas mentais, produtos esses que,
sub-repticiamente, lhes modificam a essência dos próprios pensamentos
a verterem, contínuos, dos fulcros energéticos do tálamo, no diencéfalo.
5 Estabelecida essa
operação de ajuste, que os desencarnados e encarnados, comprometidos
em aviltamento mútuo, realizam em franco automatismo, à maneira dos
animais em absoluto primitivismo nas linhas da Natureza, os verdugos
comumente senhoreiam os neurônios do hipotálamo, acentuando a própria
dominação sobre o feixe amielínico que o liga ao córtex frontal, controlando
as estações sensíveis do centro
coronário que aí se fixam para o governo das excitações, e produzem
nas suas vítimas, quando contrariados em seus desígnios, inibições de
funções viscerais diversas, mediante influência mecânica sobre o simpático
e o parassimpático. 6
Tais manobras, em processos intrincados de vampirismo, prestigiam o
regime de medo ou de guerra nervosa nas criaturas de que se vingam,
alterando-lhes a tela psíquica ou impondo prejuízos constantes aos tecidos
somáticos.
6. “PARASITAS
OVÓIDES”. — Muitos infelizes, obstinados na ideia de fazerem
justiça pelas próprias mãos ou confiados a vicioso apego, quando desafivelados
do carro físico, envolvem sutilmente aqueles que se lhes fazem objeto
da calculada atenção 2
e, auto-hipnotizados por imagens de afetividade ou desforço, infinitamente
repetidas por eles próprios, acabam em deplorável fixação monoideística,
fora das noções de espaço e tempo, 3
acusando, passo a passo, enormes transformações na morfologia do veículo
espiritual, porquanto, de órgãos psicossomáticos retraídos, por falta
de função, assemelham-se a ovóides, 4
vinculados às próprias vítimas que, de modo geral, lhes aceitam, mecanicamente,
a influenciação, à face dos pensamentos de remorso ou arrependimento
tardio, ódio voraz ou egoísmo exigente que alimentam no próprio cérebro,
através de ondas mentais incessantes.
5 Nessas condições,
o obsessor ou parasita espiritual pode ser comparado, de certo modo,
à Sacculina carcini, ( † )
que, provida de órgãos perfeitamente diferenciados na fase de vida livre,
enraíza-se, depois, nos tecidos do crustáceo hospedador, perdendo as
características morfológicas primitivas, para converter-se em massa
celular parasitária.
6 No tocante à criatura humana,
o obsessor passa a viver no clima pessoal da vítima, em perfeita simbiose
mórbida, absorvendo-lhe as forças psíquicas, situação essa que, em muitos
casos, se prolonga para além da morte física do hospedeiro, conforme
a natureza e a extensão dos compromissos morais entre credor e devedor.
7. PARASITISMO
E REENCARNAÇÃO. — Nas ocorrências dessa ordem, quando a decomposição
da vestimenta carnal não basta para consumar o resgate preciso, vítima
e verdugo se equiparam na mesma gama de sentimentos e pensamentos, 2
caindo, além-túmulo, em dolorosos painéis infernais, até que a Misericórdia
Divina, por seus agentes vigilantes, após estudo minucioso dos crimes
cometidos, pesando atenuantes e agravantes, promove a reencarnação daquele
Espírito que, em primeiro lugar, mereça tal recurso.
3 E, executado o projeto
de retorno do beneficiário, a regressar do Plano Espiritual para o Plano
Terrestre, sofre a mulher, indicada por seus débitos à gravidez respectiva,
o assédio de forças obscuras que, em muitas ocasiões, se lhe implantam
no vaso genésico por simbiontes que influenciam o feto em gestação,
4 estabelecendo-se,
desde essa hora inicial da nova existência, ligações fluídicas através
dos tecidos do corpo em formação, pelas quais a entidade reencarnante,
a partir da infância, continua enlaçada ao companheiro ou aos companheiros
menos felizes, que integram com ela toda uma equipe de almas culpadas
em reajuste.
5 Desenvolve-se-lhe, então,
a meninice, cresce, reinstrui-se e retoma à juvenilidade das energias
físicas, padecendo, porém, a influência constante dos assediantes, até
que, frequentemente por intermédio de uniões conjugais, em que a provação
emoldura o amor, ou em circunstâncias difíceis do destino, lhes ofereça
novo corpo na Terra, para que, como filhos de seu sangue e de seu coração,
lhes devolva em moeda de renúncia os bens que lhes deve, desde o passado
próximo ou remoto.
6 Em tais fatos, vamos anotar
situações quase idênticas às que são provocadas pelos parasitas heteroxênicos,
porquanto, se os adversários do Espírito reencarnado são em maior número,
atuam, muitos deles, à feição dos tripanossomas, tomando os filhos de
suas vítimas e afins deles próprios, por hospedeiros intermediários
das formas-pensamentos deploráveis
que arremessam de si, alcançando em seguida, a mente dos pais ou hospedeiros
definitivos, a inocular-lhes perigosos fluidos sutis, com que lhes infernizam
as almas, muitas vezes até à ocasião da própria morte.
8. TERAPÊUTICA
DO PARASITISMO DA ALMA. — Importa, no entanto, observar, que
todos os sofrimentos e corrigendas a que nos referimos estão conjugados
para as consciências encarnadas ou não, dentro da lei de ação e reação
que a cada um confere hoje o equilíbrio ou o desequilíbrio, por suas
obras de ontem, ( † )
2 reconhecendo-se também,
que assim como existem medidas terapêuticas contra o parasitismo no
mundo orgânico, qualquer criatura encontra, na aplicação viva do bem,
eficiente remédio contra o parasitismo da alma.
3 Não bastará, porém, a palavra
que ajude e a oração que ilumina.
4 O hospedeiro de influências
inquietantes que, por suas aflições na existência carnal, pode avaliar
da qualidade e extensão das próprias dívidas, precisará do próprio exemplo,
no serviço do amor puro aos semelhantes, com educação e sublimação de
si mesmo, porque só o exemplo é suficientemente forte para renovar e
reajustar.
5 A ação do bem genuíno,
com a quebra voluntária de nossos sentimentos inferiores, produz vigorosos
fatores de transformação sobre aqueles que nos observam, notadamente
naqueles que se nos agregam à existência, influenciando-nos a atmosfera
espiritual, 6 de vez
que as nossas demonstrações de fraternidade inspiram nos outros pensamentos
edificantes e amigos que, em circuitos sucessivos ou contínuas ondulações
de energia renovadora, modificam nos desafetos mais acirrados qualquer
disposição hostil a nosso respeito.
7 Ninguém necessita, portanto,
aguardar reencarnações futuras, entretecidas de dor e lágrimas, em ligações
expiatórias, para diligenciar a paz com os inimigos trazidos do pretérito,
porque, pelo devotamento ao próximo e pela humildade realmente praticada
e sentida, é possível valorizar nossa frase e santificar nossa prece,
atraindo simpatias valiosas, com intervenções providenciais, em nosso
favor.
8 É que, em nos reparando
transfigurados para o melhor, os nossos adversários igualmente se desarmam
para o mal, compreendendo, por fim, que só o bem será, perante Deus,
o nosso caminho de liberdade e luz.
André Luiz
Uberaba, 19/3/1958.