1. PRINCÍPIOS
INTELIGENTES RUDIMENTARES. — Com o transcurso dos evos, surpreendemos
as células como princípios inteligentes de feição rudimentar, 2
a serviço do princípio inteligente em estágio mais nobre nos animais
superiores e nas criaturas humanas, 3
renovando-se continuamente, no corpo físico e no corpo espiritual, 4
em modulações vibratórias diversas, conforme a situação da inteligência
que as senhoreia, depois do berço ou depois do túmulo.
2. FORMAS
DAS CÉLULAS. — Animálculos infinitesimais, que se revelam domesticados
e ordeiros na colmeia orgânica, 2
assumem formas diferentes, segundo a posição dos indivíduos e a natureza
dos tecidos em que se agrupam, 3
obedecendo ao pensamento simples ou complexo que lhes comanda a existência.
4 São cenositos ou
microrganismos que podem viver livremente, como autositos, ou como parasitos;
5 sincícios ou massa
de células que se fundem para a execução de atividade particular, como,
por exemplo, na musculatura cardíaca ou na camada epitelial que compõe
a parte externa da placenta, com ação histolítica sobre a estrutura
da organização materna; 6
células anastomosadas, como as que se coordenam na formação dos tecidos
conjuntivos; 7 células
em grupos coloniais, com movimentos perfeitamente coordenados, quais
as que se mostram nos volvocídeos; 8
células com matriz intersticial, que elaboram substâncias imprescindíveis
à conservação da vida na província corpórea, 9
e as células que podem diversificar-se, constituindo-se elementos livres,
como na preparação dos glóbulos da corrente sanguínea.
10 Articulam-se
em múltiplas formas, adaptando-se às funções que lhes competem, no veículo
de manifestação da criatura que temporariamente as segrega, 11
à maneira de peças eletromagnéticas inteligentes, em máquina eletromagnética
superinteligente, 12
atendendo com precisão matemática aos apelos da mente, 13
assemelhando-se, de certo modo, no organismo, aos milhões de átomos
que constituem harmonicamente as cordas de um piano, acionadas pelos
martelos minúsculos dos nervos, ao impacto das teclas que podemos simbolizar
nos fulcros energéticos do córtice encefálico, 14
movimentado e controlado pelo Espírito, através do centro
coronário que sustenta a conjunção da vida mental com a forma organizada
em que ela própria se expressa.
3. MOTORES ELÉTRICOS MICROSCÓPICOS. — Dispostas na construção da forma em processo idêntico ao da superposição dos tijolos numa obra de alvenaria, as células são compelidas à disciplina, perante a ideia orientadora que as associa e governa, quanto os tijolos vulgares são constrangidos à submissão ante as linhas traçadas pelo arquiteto que lhes aproveita o concurso na concretização de projeto específico.
2 É assim que são
funcionárias da reprodução no centro genésico, 3
trabalhadores da digestão e absorção no centro gástrico, 4
operários da respiração e fonação no centro laríngeo, 5
da circulação no centro cardíaco, 6
servidoras e guardiãs fixas ou migratórias do tráfego e distribuição,
reserva e defesa no centro esplênico, 7
auxiliares da inteligência e elementos de ligação no centro cerebral
8 e administradoras
e artistas no centro coronário, 9
amolgando-se às ordens mentais recebidas e traduzindo na região de trabalho
que lhes é própria a individualidade que as refreia e influencia, com
justas limitações no tempo e no espaço.
10 Temo-las, desse
modo, — repetimos, — por microscópicos motores elétricos, com vida própria,
11 subordinando-se
às determinações do ser que as aglutina e que lhes imprime a fixação
ou a mobilidade indispensáveis às funções que devam exercer no mar interior do mundo orgânico, 12
formado pelos líquidos extracelulares, a se definirem no líquido lacunar
que as irriga e que circula vagarosamente; 13
na linfa que verte dos tecidos, endereçada ao sangue; 14
e no plasma sanguíneo que se movimenta, rápido, 15
além de outros líquidos intersticiais, característicos do meio interno.
4. O
TODO INDIVISÍVEL DO ORGANISMO. — Lógico entender, dessa forma,
que, diante do governo mental, a reunião das células compõe tecidos,
2 assim como a associação
dos tecidos esculpe os órgãos, 3
partes constituintes do organismo que passa a funcionar, como um todo
indivisível em sua integridade, 4
cingido pelo sistema nervoso e controlado pelos hormônios ou substâncias
produzidas em determinado órgão e transportadas a outros arraiais da
atividade somática, que lhes excitam as propriedades funcionais para
certos fins, 5 hormônios
esses nascidos de impulsão mecânica da mente sobre o império celular,
conforme diferentes estados emotivos da consciência, enfeixando cargas
de elementos químicos em nível ideal, quando o equilíbrio íntimo lhe
preside as manifestações, 6
e consubstanciando recursos de manutenção e preservação da vida normal,
perfeitamente isoláveis pela ciência comum, como já acontece com a adrenalina
das supra-renais, com a insulina do pâncreas, a testosterona dos testículos
e outras secreções glandulares do cosmo orgânico.
5. AUTOMATISMO
CELULAR. — É da doutrina celular corrente no mundo que as células
tomam aspectos diferentes conforme a natureza das organizações a que
servem, 2 competindo-nos
desenvolver mais amplamente o asserto, para asseverar que a inteligência,
influenciando o citoplasma, que é, no fundo, o elemento intersticial
de vinculação das forças fisiopsicossomáticas, obriga as células ao
trabalho de que necessita para expressar-se, 3
trabalho este que, à custa de repetições quase infinitas, se torna perfeitamente
automático para as unidades celulares que se renovam, de maneira incessante,
na execução das tarefas que a vida lhes assinala.
6. EFEITOS
DO AUTOMATISMO. — Perfeitamente compreensíveis, nessa base, os
estudos científicos que reconhecem os agrupamentos colaboracionistas
das células especializadas, através da cultura artificial dos tecidos
orgânicos, 2 em que
um fragmento qualquer desses mesmos tecidos, seja da epiderme ou do
cérebro, permanece vivo, por muito tempo, quando mergulhado em soro
que, cuidadosamente imunizado e mantido na temperatura correspondente
à do corpo físico, acusa uma vida intensa. 3
Decorridas algumas horas, os produtos de excreta intoxicam o soro, impedindo
o desenvolvimento celular; 4
mas, se o líquido for renovado, continuam as células a crescer no mesmo
ritmo de movimento e expansão que lhes marca a atividade no edifício
corpóreo.
5 Todavia, fora do
governo mental que as dirigia, não se revelam iguais às suas irmãs em
função orgânica.
6 As células nervosas,
por exemplo, com as suas fibrilas especiais, não produzem células com
fibrilas análogas, 7
e as que atendem nos músculos aos serviços da contração se desdiferenciam,
regredindo ao tipo conjuntivo.
8 Todas as que se ausentam
do conjunto estrutural do tecido inclinam-se para a apresentação morfológica
da ameba, segundo observações cientificamente provadas.
9 Isso ocorre porque as células,
quando ajustadas ao ambiente orgânico, demonstram o comportamento natural
do operário mobilizado em serviço, sob as ordens da Inteligência, comunicando-se
umas com as outras sob o influxo espiritual que lhes mantém a coesão,
e procedem no soro quais amebas em liberdade para satisfazer aos próprios
impulsos.
7. FENÔMENOS
EXPLICÁVEIS. — Dentro do mesmo princípio de submissão das células
ao estímulo nervoso, é que a experiência de transplante dos tecidos
de embriões entre si, com alguns dias de formação, pode oferecer resultados
surpreendentes, 2 de
vez que as células orientadas em determinado sentido, quando enxertadas
sobre tecidos outros “in vivo”, conseguem gerar órgãos-extras, em regime
de monstruosidade, obedecendo a determinações especializadas resultantes
das ordens magnéticas de origem que saturavam essas mesmas células.
3 E é ainda aí, pelo
mesmo teor de semelhante saturação, que vamos entender as demonstrações
do faquirismo e outras realizadas em sessões experimentais do Espiritismo,
4 nas quais a mente
superconcentrada pode arremessar fluidos de impulsão sobre vidas inferiores,
como seja a das plantas, imprimindo-lhes desenvolvimento anormal, e
explicar os fenômenos da materialização mediúnica. 5
Neste caso, sob condições excepcionais e com o auxílio de Inteligências
desencarnadas, o organismo do médium deixa escapar o ectoplasma ou o
plasma exteriorizado, no qual as células, em tonalidade vibratória diferente,
elastecem-se e se renovam, de conformidade com os moldes mentais que
lhes são apresentados, produzindo os mais significativos fenômenos em
obediência ao comando da Inteligência, por intermédio dos quais a Esfera
Espiritual sugere ao Plano Físico a imortalidade da alma, a caminho
da Vida Superior.
André Luiz
Uberaba, 29/1/1958.