1. AUTOMATISMO
FISIOLÓGICO. — Compreensível salientar que o princípio inteligente,
no decurso dos evos, plasmou em seu próprio veículo de exteriorização
as conquistas que lhe alicerçariam o crescimento para maiores afirmações
nos horizontes evolutivos.
2 Dominando as células
vivas, de natureza física e espiritual, 3
como que empalmando-as a seu próprio serviço, de modo a senhorear possibilidades
mais amplas de expansão e progresso, sofre no Plano terrestre e no Plano
extraterrestre as profundas experiências que lhe facultarão, no bojo
do tempo, o automatismo fisiológico, 4
pelo qual, sem qualquer obstáculo, executa todos os atos primários de
manutenção, preservação e renovação da própria vida.
2. ATIVIDADES
REFLEXAS DO INCONSCIENTE. — Sabemos que, em nos propondo aprender
a ler e escrever, antes de tudo nos consagramos à empresa difícil de
assimilação do alfabeto e da escrita, consumindo energia cerebral e
coordenando o movimento dos olhos, dos lábios e das mãos, em múltiplas
fases de atenção e trabalho, de maneira a superar nossas próprias inibições,
para, depois, conseguirmos ler e escrever, mecanicamente, 2
sem qualquer esforço, a não ser aquele que se refere à absorção, comunicação
ou materialização do pensamento lido ou escrito, porquanto a leitura
e a grafia ter-se-ão tornado automáticas na esfera de nossa atividade
mental.
3 Nessa base de incessante
repetição dos atos indispensáveis ao seu próprio desenvolvimento, 4
vestindo-se de matéria densa no Plano físico e desnudando-se dela no
fenômeno da morte, 5
para revestir-se de matéria sutil no Plano extrafísico e renascer de
novo na Crosta da Terra, em inumeráveis estações de aprendizado, 6
é que o princípio espiritual incorporou todos os cabedais da inteligência
que lhe brilhariam no cérebro do futuro, pelas chamadas atividades reflexas
do inconsciente.
3. TEORIA DE DESCARTES. — Atento a isso e espantado diante do gigantesco patrimônio da mente humana é que Descartes, no século XVII, indagando de si mesmo sobre a complexidade dos nervos, formulou a “teoria dos espíritos animais” que estariam encerrados no cérebro, perpassando nas redes nervosas para atender aos movimentos da respiração, dos humores e da defesa orgânica, sem participação consciente da vontade, chegando o filósofo a asseverar que esses “espíritos se conjugavam necessariamente refletidos”, aplicando semelhante regra notadamente aos animais que ele classificava por máquinas desprovidas de pensamento.
2 Descartes não logrou
apreender toda a amplitude dos caminhos que se descerram à evolução
na esteira dos séculos, mas abordou a verdade do ato reflexo que obedece
ao influxo nervoso, 3
no automatismo em que a alma evolui para mais altos planos de consciência,
através do nascimento, morte, experiência e renascimento, na vida física
e extrafísica, em avanço inevitável para a vida superior.
4. AUTOMATISMO
E HERANÇA. — Assim como na coletividade humana o indivíduo trabalha
para a comunidade a que pertence, entregando-lhe o produto das próprias
aquisições, e a sociedade opera em favor do indivíduo que a compõe,
protegendo-lhe a existência, no impositivo do aperfeiçoamento constante,
2 nos reinos menores
o ser inferior serve à espécie a que se ajusta, confiando-lhe, maquinalmente,
o fruto das próprias conquistas, e a espécie labora em benefício dele,
amparando-o com todos os valores por ela assimilados, a fim de que a
ascensão da vida não sofra qualquer solução de continuidade.
3 Se, no círculo humano,
a inteligência é seguida pela razão e a razão pela responsabilidade,
nas linhas da Civilização, sob os signos da cultura, 4
observamos que, na retaguarda do transformismo, o reflexo precede o
instinto, tanto quanto o instinto precede a atividade refletida, 5
que é base da inteligência nos depósitos do conhecimento adquirido por
recapitulação e transmissão incessantes, 6
nos milhares de milênios em que o princípio espiritual atravessa lentamente
os círculos elementares da Natureza, qual vaso vivo, de forma em forma,
até configurar-se no indivíduo humano, em trânsito para a maturação
sublimada no campo angélico.
7 Desse modo, em qualquer
estudo acerca do corpo espiritual, não podemos esquecer a função preponderante
do automatismo e da herança na formação da individualidade responsável,
para compreendermos a inexequibilidade de qualquer separação entre a
Fisiologia e a Psicologia, 8
porquanto ao longo da atração no mineral, da sensação no vegetal e do
instinto no animal, vemos a crisálida de consciência construindo as
suas faculdades de organização, sensibilidade e inteligência, transformando,
gradativamente, toda a atividade nervosa em vida psíquica.
5. EVOLUÇÃO
E PRINCÍPIOS COSMOCINÉTICOS. — Os dias da Criação, assinaladas
nos livros de Moisés, ( † )
equivalem a épocas imensas no tempo e no espaço, 2
porque o corpo espiritual que modela o corpo físico e o corpo físico
que representa o corpo espiritual constituem a obra de séculos numerosos,
pacientemente elaborada em duas Esferas diferentes da vida, a se retomarem
no berço e no túmulo com a orientação dos Instrutores Divinos que supervisionam
a evolução terrestre.
3 Com semelhante enunciado
não diligenciamos, de modo algum, explicar a gênese do Espírito, porque
isso, por enquanto, implicaria arrogante e pretensiosa definição do
próprio Deus.
4 Propomo-nos simplesmente
salientar que a lei da evolução prevalece para todos os seres do Universo,
5 tanto quanto os princípios
cosmocinéticos, que determinam o equilíbrio dos astros, são, na origem,
os mesmos que regulam a vida orgânica, na estrutura e movimento dos
átomos.
6 O veículo do Espírito,
além do sepulcro, no Plano extrafísico ou quando reconstituído no berço,
é a soma de experiências infinitamente repetidas, avançando vagarosamente
da obscuridade para a luz. 7
Nele, situamos a individualidade espiritual, que se vale das vidas
menores para afirmar-se, — das vidas menores que lhe prestam
serviço, — dela recolhendo preciosa cooperação para crescerem a seu
turno, conforme os inelutáveis objetivos do progresso.
6. GÊNESE DOS ÓRGÃOS PSICOSSOMÁTICOS. — Todos os órgãos do corpo espiritual e, consequentemente, do corpo físico foram, portanto, construídos com lentidão, atendendo-se à necessidade do campo mental em seu condicionamento e exteriorização no meio terrestre.
2 É assim que o tato
nasceu no princípio inteligente, na sua passagem pelas células nucleares
em seus impulsos ameboídes; 3
que a visão principiou pela sensibilidade do plasma nos flagelados monocelulares
expostos ao clarão solar; 4
que o olfato começou nos animais aquáticos de expressão mais simples,
por excitações do ambiente em que evolviam; 5
que o gosto surgiu nas plantas, muitas delas armadas de pêlos viscosos
destilando sucos digestivos, 6
e que as primeiras sensações do sexo apareceram com algas marinhas providas
não só de células masculinas e femininas que nadam, atraídas uma para
as outras, mas também de um esboço de epiderme sensível, que podemos
definir como região secundária de simpatias genésicas.
7. TRABALHO
DA INTELIGÊNCIA. — Examinando, pois, o fenômeno da reflexão sistemática,
gerando o automatismo que assinala a inteligência de todas as ações
espontâneas do corpo espiritual, 2
reconhecemos sem dificuldade que a marcha do princípio inteligente para
o reino humano e que a viagem da consciência humana para o reino angélico
simbolizam a expansão multimilenar da criatura de Deus 3
que, por força da Lei Divina, deve merecer, com o trabalho de si mesma,
a auréola da imortalidade em pleno Céu.
André Luiz
Pedro Leopoldo, 26/1/1958.