O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Chico Xavier — Mandato de amor — Autores diversos — 1ª Parte


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Outros relatos em torno de Chico Xavier

Atendendo a um enfermo


1 “Chico, em determinada ocasião, passou a sair de casa todos os dias à hora do almoço. Somente limitava-se a dizer-me que visitaria um enfermo necessitado de atenção.

Antes de sair, Chico apenas pedia:

— Benedito, faça o favor de preparar um franguinho bem macio, que preciso levar a um doente. Lembre-se que deverá ficar bem tenro, pois ele está muito fraco. Precisa fortalecer-se, pouco a pouco, dia a dia!

Assim, diariamente, saía Chico levando uma vasilha com o alimento, cuidadosamente preparado por mim. No íntimo, guardava eu grande curiosidade acerca da identidade daquele doente. Mas Chico nada me dizia.

Após algum tempo, resolvi segui-lo pelas ruas de Uberaba, com o objetivo de conhecer o misterioso enfermo, que lhe merecia tanta atenção e cuidado.

Atravessamos o bairro. Chico, à frente, internou-se num matagal. Fui atrás dele, seguindo-lhe os passos, sem que me visse. Para minha surpresa, deparei-me com a cena comovedora: bem no fundo da mata, lá estava Chico atendendo ao enfermo em questão. Que nada mais era que um cãozinho machucado e faminto!”


Maria Philomena Aluotto Berutto


(Episódio narrado pelo Sr. Benedito Antônio Alves — responsável pelas tarefas domésticas da residência do médium Chico Xavier, nos anos de 1960, em Uberaba, Minas Gerais.)


Influência espiritual


2 Comentávamos sobre o acesso dos Espíritos imperfeitos junto aos médiuns, quando o confrade Arnaldo Rocha relatou-nos o seguinte caso, ocorrido com Chico, o qual ele presenciou:

“Nas atividades que estávamos envolvidos em Pedro Leopoldo, encontrávamos Chico constantemente.

Certa feita, após chegarmos de Belo Horizonte, e ao dirigirmo-nos até a casa do amigo, começamos a ouvir — a uns 40 metros do local – u’a música terrivelmente alta, que assemelhava-se em volume à dos botequins de esquina de cidades interioranas, colocadas em tom mais elevado para atrair os clientes.

Qual não foi nossa surpresa ao identificar que a música originava-se da casa de Luiza, irmã de Chico.

Logo que entramos, perguntamos-lhe a razão de som tão desproporcional. Luiza rapidamente respondeu:

— Meu caro Arnaldo, isso é coisa de Chico e essa música vem de sua casa!

Ao entrarmos em casa de Chico, deparamo-nos com o médium a escrever compenetradamente. Inertes, observávamos suas atitudes estranhas, até que parou de escrever, desligando a vitrola.

Curiosos, indagamos-lhe se seus tímpanos não doíam com música tão alta. A resposta não deixou-nos esperar:

— Arnaldo, estávamos tentando responder uma carta de uma amiga que passa por sérias dificuldades, no entanto, três visitantes do mundo espiritual estavam nos impedindo de escrever. Então, pedimos socorro a Emmanuel! Recomendou-nos que colocássemos uma música bem alto, que eles não iam gostar. Dito e feito! Foi só colocar a música num nível mais elevado para que eles fugissem daqui!

O episódio fez-nos refletir sobre a intensidade da ação dos Espíritos em nossas vidas, mostrando que existem recursos, por nós desconhecidos, que a absorvem ou a neutralizam.

A Doutrina Espírita esclarece-nos que a prece é instrumento seguro, que nos tranquiliza e prepara para a intuição precisa de atitudes no bem.”


Carlos Henrique da Silva Malab


Música transcendental


3 A conversa em nosso grupo de estudos girava em torno da música, quando nosso amigo Arnaldo Rocha brindou-nos com o caso ocorrido com Chico Xavier, que relato a seguir:

“O amigo Chico participava de reuniões mediúnicas, dirigidas pelo Dr. Rômulo Joviano, às quartas-feiras, na Fazenda Modelo, do Ministério da Agricultura, em Pedro Leopoldo. Desde aquela época, o irmão não dispunha de horário para terminar suas atividades, que estendiam-se por várias horas.

Certa noite, Chico solicitou-nos que o buscássemos por volta das 23 horas, uma vez que desejava retirar-se mais cedo.

No horário combinado, dirigimo-nos à Fazenda Modelo e ficamos a esperá-lo, próximos ao local da reunião, dentro do carro.

Nos anos 50 não era comum ter-se rádio nos automóveis e, no entanto, começamos a ouvir uma melodia belíssima, que impressionou-nos bastante. Tentamos localizar pelas redondezas a origem daquele som maravilhoso, porém sem êxito. A região perdia-se de vista e compunha-se de densa vegetação, e supus que a música era trazida, de muito longe, pelo vento.

Instantes depois, percebi que Chico e Dr. Rômulo saíam da sala de reuniões e que, inexplicavelmente, haviam parado em dado recanto do caminho. Aguardamos durante algum tempo e como os dois continuassem estáticos, decidimos encontrá-los no meio do percurso.

Perguntei a ambos o que faziam ali, calados e parados no meio da noite. Responderam-nos que apreciavam a música maravilhosa a que eu também tivera a oportunidade de ouvir.

Chico esclareceu-nos tratar-se aquela música de uma das melodias utilizadas pelos amigos espirituais no socorro dos espíritos enfermos, presentes no ambiente após a reunião mediúnica.

Silenciamo-nos respeitosos com tal afirmativa, sentindo a beleza e o carinho do atendimento em andamento pelas entidades superiores.”


Particularmente, foi a única vez que presenciou tal fenômeno, embora já tivesse inúmeras notícias, através de Chico, das músicas sublimes que ele ouvia durante as tarefas, sem que outros percebessem uma nota sequer.


Carlos Henrique da Silva Malab


Três instantes de uma vida

[Testemunho do cardeal Joaquim Arcoverde]

4 Na antiga Cimbres, em Pernambuco, nasceu Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti que granjearia renome internacional por seu zelo religioso e imensa cultura. À sua passagem, um traço marcante ficara gravado e sua autoridade transbordou dos meios eclesiásticos e influiu nos destinos da nação.

Ao apagar das luzes do Império, sua atitude desassombrada criou a chamada questão religiosa que, com a questão militar, foram as causas próximas da Proclamação da República. Arcoverde enfrentou o Império, foi preso, mas continuou de pé. Quem caiu foi o trono. Em 18 de abril (fixar bem a data) de 1930, desencarnou no Rio de Janeiro.

Era, então, o cardeal Arcoverde, conceituado como a mais ardorosa e completa vocação sacerdotal católica do Brasil. Corria o mês de janeiro de 1949 quando Chico Xavier, estando presente no Rio aos trabalhos do Grupo Ismael — conta-nos em “Trabalhos do Grupo Ismael”, Guillon Ribeiro — foi tomado, inesperadamente, por um Espírito que revelou sua preocupação de fechar a Federação Espírita Brasileira, cuja atividade considerava, em vida, prejudicial à Igreja Católica. Compreendera já seu engano e, ajoelhando-se, orou a Deus em agradecimento.

Dois meses depois, a 20 de março do mesmo ano, já esclarecido mais a fundo, manifestou-se por intermédio de J. Celani, no mesmo Grupo, duas vezes, durante a Semana Santa, para comentar a transformação surpreendente por que passava. Na última, uma sexta-feira da Paixão, contou que depois de visitar os templos em festas solenes, quis saber por que os espíritas não davam suntuosidade a seus atos religiosos e, aconselhado, voltou ao Grupo Ismael, pedindo com simplicidade explicações que lhe satisfizeram.

Com modéstia, recordou que desconhecera o poder fluídico no controle do mal e servira sinceramente a sua Igreja, convencido de que a força moral era insuficiente para conter as massas.

1955 — Congresso Eucarístico Internacional. — A suntuosidade é agora deslumbrante. Há prelados sinceros, pensando no Cristo à sua moda, mas cheios de paz. A regra, contudo, não é essa, pois o poder, o fascínio do prestígio conduz a exibições de força como o decreto de doação do Brasil ao Sagrado Coração de Jesus.

Numa ocasião assim, Arcoverde baixa em Pedro Leopoldo. Incorpora e, já então, um gravador elétrico fixa, documentando sua voz pela garganta de Chico Xavier, mas com aquela entonação sacerdotal e mística dos que ardem na fé, confiam e esperam. Eis sua mensagem, transcrita de “Reformador”, de setembro de 1955:


Prece

[Por ocasião do Trigésimo Sexto Congresso Eucarístico Internacional em 1955]

“Jesus! Senhor e Mestre! Nesta hora em que a Igreja Católica Romana de que temos sido modestos servidores se engalana, no Brasil, com os júbilos do Trigésimo Sexto Congresso Internacional das forças que a representam, derrama sobre nós a bênção do teu olhar.

Ensina-nos que a tua causa é aquela do amor que exemplificaste e que, por isso, não há cristãos separados, mas, sim, ovelhas dispersas do seu aprisco, a se dividirem provisoriamente nos templos da fé viva, em que a sua Doutrina é venerada.

Desceste da glória à manjedoura para servir-nos, induze-nos à humildade para que não te injuriemos o nome com a mentirosa soberbia do ouro terrestre.

Tu que estendeste a abnegação aos próprios verdugos, inclina-nos à bondade e tolerância, a fim de que sejamos verdadeiros e fiéis irmãos uns dos outros.

Tu que nos recomendastes a oração pelos que nos perseguem e caluniam, expulsa de nossa vida o ódio e a crueldade, a discórdia e o fanatismo, que tantas, que tantas vezes nos envenenam os corações.

Tu que te detiveste entre cegos e estropiados, enfermos e paralíticos, distribuindo o socorro e a esperança, impele-nos a deixar nossa velha torre de egoísmo e isolamento, a fim de consagrarmo-nos contigo à exaltação do bem.

Tu que não possuíste uma pedra onde repousar a cabeça, guia-nos ao desprendimento e à caridade, para que a embriaguez da efêmera posse humana não nos imponha a loucura.

Senhor, nós, os religiosos da tua revelação, abusando do poder da fortuna, temos deveres para com o mundo que, engodado pela inteligência transviada nas trevas, ainda agora se dirige para a deflagração de pavorosa carnificina.

Divino Pastor, compadece-te do rebanho desgarrado nos espinheirais da ilusão e da sombra.

Perdoa-nos e ajuda-nos.

Mestre, faze que os sacerdotes retos, que já atravessaram as cinzas do túmulo, voltem de novo à Terra, em auxílio de seus irmãos que ainda se mergulham no nevoeiro da carne!

E que todos nós, acordados para a justiça, possamos retornar ao teu Evangelho de amor, puro e simples, louvando-te o apostolado de luz, para sempre.”


Joaquim Arcoverde


Jaime Rolemberg de Lima

(Fonte: “O Espírita Mineiro”, número 47, Janeiro de 1956)


Recordando fatos inesquecíveis


5 Do longo convívio com o venerável irmão Francisco Cândido Xavier, privando de sua intimidade, há fatos reais inesquecíveis. Ressaltam eles a pujança fecunda de sua mediunidade gloriosa, sempre cuidada e aprimorada pelos queridos mentores que o cercam e protegem.

Certa feita, perguntei-lhe por que não recebia romances. Deu de ombros, ignorando o motivo. Todavia, pouco tempo depois, em conversação cordial, ele me confidenciou que Emmanuel lhe havia dito que o iria preparar para a psicografia de romances. E surgiu, logo após, o “Há Dois Mil Anos”. Observe-se: teve de ser preparado, já sendo médium valoroso, para a realização da nova tarefa.

A primeira vez que me lembro de ter visto o irmão Chico Xavier foi em sessão solene na União Espírita Mineira, onde permaneço há quase 40 anos, a serviço da consoladora Doutrina — o Espiritismo.

Era sócio novo da Casa. E Chico recebeu naquela noite memorável, como se vê da coleção de “O Espírita Mineiro”, a célebre oração de José Silvério Horta, ex-Monsenhor, que ditou:

“Pai Nosso, que estais nos céus/ Na luz dos sóis infinitos. / Pai de todos os aflitos,/ Deste mundo de escarcéus” Tornei-me amigo do querido médium que comemora agora o cinquentenário de seu apostolado onusto de bênçãos reconfortantes, que tantas luzes espalhou pelos cinco continentes. Provas? A sua obra encontra-se divulgada até em japonês! Fizemos mútuas confidências. Em reunião privativa, sendo participantes apenas nós dois, Emmanuel descreveu-me, em mensagem escrita, o perfil de meu avô, pai adotivo, de modo comovedor, apontando-o como meu guardião, logo depois de sua desencarnação, ele que tantas provas de amor deu em vida. E com sua ajuda logrei um lugar ao sol.

Mais tarde, consegui levá-lo à minha casa, festejando o meu natalício. Na sessão mediúnica então realizada, por ele incorporou-se o espírito de minha saudosa mãe. Resumamos o acontecido.

O irmão Germano, então cônego, já desencarnado, aproveitando-se da oportunidade e da visita que lhe fiz, batizou.-me a filha, sem minha licença. No mesmo dia da reunião em meu lar, ele, o irmão, escrevia-me carta doutrinando-me a respeito do batismo. E perguntou-me, no final da missiva, irônico: “Ainda não sabia dessa traição que lhe fiz? O Flores não quis adivinhá-la? Mamãe não te havia contado? Com certeza, estes teus emissários não entram na Igreja!…”

E mamãe, na mensagem psicofônica, naquele mesmo dia, terna e caridosa, fez esta advertência: “Não te preocupes com o que faça A… Ele, no fundo, é boa criatura. Oremos por ele, pedindo a Deus para que bem possa desempenhar seu trabalho, aqui na Terra. Tudo fiz para manter entre os filhos a cordialidade tão desejada.”

Estava zangado, evidente, com a “traição”. Mas o “O Evangelho segundo o Espiritismo” brindou-nos também com esta lição: “Convertei a cólera que conspurca no amor que purifica”. E depois de vários incidentes, veio a complementação do memorável episódio, que patenteia o vigor mediúnico do companheiro de Pedro Leopoldo.

Passei pela residência de Chico, onde pernoitei, com minha esposa. E à noite, mostrei-lhe trechos da carta que escrevia em resposta à recebida.

— Está boa — disse — mas no fim, ponha mais açúcar!

Viajei no dia seguinte. No regresso, deixei-lhe um abraço. Ao sair da cidade, o pneu do carro furou. E enquanto o consertávamos, Chico chegou num grande carroção, que o trazia da Fazenda Modelo. O pneu foi consertado depois de três tentativas frustradas. E ao abraçá-lo, recebi descarga fluídica, dos pés à cabeça, e lembrei-me da conversa anterior.

Indagando-me a respeito do que ocorreu, declarou:

— Quando você lia a carta, vi perfeitamente aquela senhora que se comunicou em sua casa. Diga-lhe, falou ela, que responda ao irmão, mas que amigos devem ser. Responda evangelicamente, com amor e caridade. A irmã é a mãe deles? — perguntei. E o espírito respondeu: “Diga-lhe que é a Amaziles”.

Este foi o nome de nossa genitora.

Participei de vários outros acontecimentos, que reputo notáveis.

Agripino Grieco quis conhecer Chico. A União Espírita Mineira promoveu o encontro, em sua sede. Ao saudar o escritor, disse-lhe que não esperasse milagres. Receberia algo se o merecesse. Veio a bonita mensagem de Humberto de Campos, que provocou análise de Grieco, entusiasmado, por mais de quarenta minutos.

Assisti à reunião com o jurisconsulto Francisco Campos, em Pedro Leopoldo. Chico acendeu uma lâmpada de cem velas e psicografou longa página de Afonso Celso. Perguntei ao ministro se ele escreveria página semelhante, naquela forma. Respondeu que não.


A primeira comemoração do livro espírita no mundo


6 Depois da concentração, saímos a passear: eu, Chico e Ismael Gomes Braga. Fomos até o riacho, que denominávamos de Aube. Noite estrelada, amena, lua fulgurante. Ismael, sentado com Chico numa pedra, que batizei de “pedra pão”, dado o formato, recitava trechos de “A Divina Comédia”, em italiano, e dava, a seguir, a respectiva tradução, tecendo comentários. Fiquei de pé, à frente deles, ouvindo. Quando a palestra ia encerrar-se, tirei do bolso papel, que levara, e disse a Chico que naquele dia era o aniversário de publicação de “O Livro dos Espíritos” e devíamos esperar algo de Emmanuel.

Chico psicografou, então, sobre a perna, a excelente mensagem:


Aplicação do Espiritismo

1 Irmãos, lembremo-nos sempre de que o Espiritismo

Visto, pode ser somente fenômeno;

2 Ouvido, pode ser apenas consolação;

3 Vitorioso, pode ser somente festividade;

4 Estudado, pode ser apenas escola;

5 Discutido, pode ser somente sectarismo;

6 Interpretado, pode ser apenas teoria;

7 Propagado, pode ser somente movimentação;

8 Sistematizado, pode ser apenas filosofia;

9 Observado, pode ser somente ciência;

10 Meditado, pode ser apenas doutrina;

11 Sentido, pode ser somente crença.


12 Não nos esqueçamos, porém, de que Espiritismo aplicado, é Vida Eterna com Eterna Libertação.

13 A codificação trouxe ao mundo uma chave gloriosa, cuja utilidade se adapta a numerosas portas. Escolhamos com o Apóstolo, que hoje recordamos, o caminho da aplicação: Trabalho, Solidariedade, Tolerância.

14 De coração elevado a Jesus, não temos por agora divisa mais nobre a recordar. Vivei-a na fé consoladora. Espiritismo é sol. Brilhai na sua luz.


Emmanuel

Isto ocorreu a 18 de abril de 1943. n

Catorze anos passados, pelas colunas de “Reformador”, edição comemorativa do centenário de “O Livro dos Espíritos”, soubemos que realizamos, naquela noite, a primeira comemoração do livro espírita no mundo.(…)


Noraldino de Mello Castro

(Fonte “O Espírita Mineiro”, número 172, maio/julho de 1977.)


“Eu não vos deixarei órfãos…”


7 Dias passados, na companhia de um reduzido grupo de amigos, em conversa com o nosso Chico em sua casa, perguntamos a ele sobre a tarefa da distribuição da sopa aos mais carentes, efetuada hoje pela maioria dos centros espíritas que conhecemos. Quisemos saber dele se, quando se tornou espírita, nos idos de 1927, ele tinha notícias de algum trabalho semelhante em Pedro Leopoldo.

— “Não, meu filho, — começou a contar-nos — os nossos recursos eram pequenos. Tínhamos uma tarefa de assistência a algumas famílias que residiam debaixo de uma ponte, em Pedro Leopoldo, todas as semanas. Com o auxílio de companheiros que podiam, levávamos a elas o que estava ao nosso alcance. Éramos muito bem recebidos por aquelas crianças que passavam privações de toda a espécie. Ainda aproveitávamos a oportunidade para visitar uma favela próxima, transmitindo passes aos que não podiam se levantar do leito…”

Como se estivesse consultando os “arquivos” de sua prodigiosa memória, após breve pausa, Chico prosseguiu:

— “Num determinado dia, não tínhamos nada para levar… Os nossos companheiros de maiores recursos haviam viajado e ficamos sabendo disto justamente horas antes da visita programada. Muito triste com aquela situação, pensei que a única coisa que poderíamos distribuir seria água fluida. Eu sabia que a água fluida também seria alimento, mas levar água para quem estava esperando pão!… Emmanuel, aparecendo-me, disse que de qualquer forma eu não deveria faltar, que levasse, além da água fluida, a minha amizade e meu carinho aos irmãos que se sentiriam ainda mais frustrados, caso não fôssemos. De minha parte, ainda relutava entre ir e não ir, quando, acima do portal do meu quarto, vi resplandecer uma frase em letras douradas, reproduzindo as palavras de Jesus: “Eu não vos deixarei órfãos…” ( † )

Nesse momento da narrativa, Chico, visivelmente emocionado, não mais conseguiu segurar as lágrimas. Com a voz embargada, ele continuou:

— “Chegando à ponte, comecei a explicar que naquela noite só teríamos a água fluida, porque alguns integrantes do grupo haviam empreendido uma viagem de caráter urgente. Estávamos, entretanto, desconcertados. Os companheiros assistidos compreenderam o nosso constrangimento e faziam o possível para amenizá-lo. Trouxeram uma toalha e estenderam sobre uma laje de cimento, com os copos para a água. Quando eu estava no meio da explicação, apareceu um senhor perguntando quem era Chico Xavier. Apresentei-me e, para a alegria geral, ele me disse que um casal havia mandado me entregar umas coisas. O caminhão estava parado na rodovia. “Onde devo descarregar?”, perguntou-me ele. Aqui mesmo!, respondi depressa. O senhor pode trazer o caminhão!… Foi uma festa! Até as crianças ajudaram a descer a mercadoria! Todos ganharam bastante e ainda saímos distribuindo o que sobrou com os doentes na favela…”

Concluindo a edificante lição, Chico comentou:

— “Quando estive em São Paulo, no final do ano passado (…), para o lançamento de um livro, soube que o senhor, nosso benfeitor, havia desencarnado e que a senhora sua esposa estava muito mal. Infelizmente, não pude visitá-la. Entretanto, nas minhas orações, não me esqueço desses dois amigos que, em nome do Cristo e dos nossos protetores espirituais, nos socorreram numa hora de extrema necessidade.”

Refletindo em mais esta alta lição de Espiritualidade, solidificamos ainda mais em nós a certeza de que Chico Xavier não reencarnou somente com a tarefa de ser o medianeiro extraordinário de tantos livros, mas igualmente com a missão de ensinar-nos a vivenciar o Evangelho do Cristo, apontando para o movimento espírita o rumo certo.

Com Allan Kardec, na lúcida palavra do Espírito Bittencourt Sampaio, retomamos o facho resplandecente da Boa Nova que jazia eclipsado nas sombras da Idade Média, entretanto, o Codificador não pode fazer tudo. Caberia a Chico Xavier, mais tarde, complementar o pensamento kardequiano e sancioná-lo pela força do exemplo, vinculando a filosofia espírita ao Evangelho do Cristo, tanto através de seu lápis abençoado quanto pela sua vida de um dos mais admiráveis apóstolos do Senhor em todos os tempos!


Carlos A. Baccelli

(Fonte: “O Espírita Mineiro”, número 216, março/abril de 1991.)


Humildade e paciência


8 Cada época se define por uma visão do Universo e se exprime pela dominância de determinado tipo de homem.

Ontem, o homem dominava pela força física, lutando um contra o outro para deter o poder e a autoridade. Hoje, o homem domina pela ciência. É o conhecimento intelectual investigando os ares, a Terra e os mares. Amanhã será a vez do homem dominar através do coração, permitindo que o sentimento de amor seja o laço de união entre todas as criaturas.

A Doutrina Espírita alarga o nosso horizonte de compreensão a respeito da vida, ensinando-nos que ela é uma viagem que nos conduz a um objetivo: a conquista da perfeição.

Mas, pelo caminho, o espírito se defronta com inúmeros obstáculos e espinhos que ameaçam destruir os seus mais belos ideais. No entanto, se o seu olhar é dirigido para o alvo a atingir, pouco lhe importam as asperezas da senda.

Enquanto existirem duelos mentais e ódio sobre a face da Terra, o verdadeiro Reino de Deus ainda não terá chegado. Esse Reino de pacificação e de amor deverá banir do nosso mundo a discórdia e a guerra. Os homens não necessitarão sobrepor-se uns aos outros, não conhecerão entre si antagonismos senão a nobre “competição” de fazer o bem.

No Evangelho, encontramos a expressão de Jesus: “Bem-aventurados aqueles que são brandos e pacíficos, porque eles possuirão a Terra.” ( † )

O mundo está impregnado de preconceitos monstruosos, onde aquele que responde aos golpes do ódio com o perdão é considerado um covarde, um bobo! A humildade e a caridade cristã ainda lutam para apropriar-se do coração humano, interditando o mal e exaltando o bem.

Chico Xavier falou-nos, certa vez, da importância da conquista do perdão para a garantia da paz, assim se referindo ao agressor:

— Você está perdoado pelo que fez, está perdoado pelo que está fazendo e está perdoado pelo que irá fazer!…

São os atos do passado, do presente e dos acontecimentos que estão por vir que interferem no comportamento humano. Mas o perdão abrange todas as etapas do desenvolvimento espiritual, garantindo a paz àqueles que o vivenciam em todas as épocas de seu aprendizado.

Recentemente, ao final do trabalho no Grupo Espírita da Prece, Chico foi abordado por um jovem, que indagou-lhe:

— Chico, é muito grande a luta que nós, os espíritas, estamos enfrentando para garantir a nossa transformação. Quais são os caminhos que devemos tomar para persistir na seara espírita?

— Ah, meu filho, só conseguiremos vencer através de dois caminhos: humildade e paciência!


Márcia Q. Silva Baccelli

(Fonte: “O Espírita Mineira) número 209, setembro/novembro de 1991)


Os privilégios de Chico


9 Certa feita, estando na cidade de São Paulo, um comerciante tivera o prazer de receber a visita do evangelizado médium de Uberaba. Desconhecendo a vida real de Chico, afirmou ser ele um privilegiado:

O humilde seareiro da Doutrina Espírita, sem trair sua condição de equilíbrio, respondeu de pronto:

— Meu amigo, eu não sei quais são os meus privilégios perante os céus, porque fiquei órfão de mãe com cinco anos de idade, fui entregue à proteção de uma senhora que durante quase dois anos, graças a Deus, me favoreceu com três surras de vara de marmelo por dia, empreguei-me numa fábrica de tecidos aos oito anos de idade e nela trabalhei quatro anos seguidos, à noite, estudando na escola primária durante o dia. Não podendo continuar na fábrica, empreguei-me como auxiliar de cozinha, balcão e porta num pequeno empório, durante mais quatro anos. Em seguida, empreguei-me numa repartição do Ministério da Agricultura, na qual trabalhei trinta e dois anos, começando da limpeza da repartição, até chegar a escriturário, quando me aposentei. Em criança, sofri moléstia de pele, fui operado no calcanhar, onde me cresceu um grande tumor, sofri dos doze aos quinze anos de Corea ou “Mal de São Guido”, fui operado em 1951 de uma hérnia estrangulada, acompanhei a desencarnação de irmãos que me eram particularmente queridos em família. Sofri um processo público, em 1944, de muitos lances difíceis e amargos, por causa das mensagens do grande escritor Humberto de Campos. Em 1958, passei por escandalosa perseguição, com muitos noticiários infelizes da imprensa, perseguição de tal modo intensa, que me obrigou a sair do campo reconfortante da vida familiar em Pedro Leopoldo, onde nasci, transferindo-me para Uberaba, em 1959, para que houvesse tranquilidade para meus familiares, que não tinham culpa de eu haver nascido médium. Em 1968, fui internado no Hospital Santa Helena, aqui em São Paulo, para ser operado numa cirurgia de muita gravidade e, agora, no princípio deste ano, ano do cinquentenário de minhas pobres faculdades mediúnicas, agravou-se em mim um processo de angina, que começou em novembro do ano passado. Angina essa com a qual estou lutando muito!…

E terminou:

— Se tenho privilégios como o senhor imagina, devo os ter sem saber!


(Fonte: Revista “O Espírita”, número 56, ano 9, fevereiro/março de 1988.)


A missão do besouro


10 Certa vez, após uma reunião mediúnica, Chico Xavier e Waldo Vieira estavam datilografando mensagens recebidas. Chico datilografava uma mensagem de Emmanuel e Waldo, uma de André Luiz.

Um besouro que ali voava caiu na máquina de Waldo. Este pegou-o e atirou-o com força na parede. O besouro levantou voo novamente e tornou a cair em sua máquina. Waldo tornou a pegar o besouro, arremessando-o violentamente no piso do aposento. O besouro, mais uma vez, levantou voo e desta vez pousou na máquina de Chico.

Chico pegou-o com todo o cuidado, abriu a janela e soltou-o lá fora, dizendo:

— Besouro, se você não conseguiu desencarnar através de Waldo é porque você é como eu: tem uma missão a cumprir no mundo. Vá com Deus!


(Fonte: “Revista Espírita Allan Kardec”, número 9, ano III.)


Os perfumes


11 Durante anos, o médium Francisco Cândido Xavier produziu perfumes, que eram sentidos nos ambientes onde ele estava presente, ou que ficavam nas garrafas contendo água a ser fluidificada, colocadas numa sala ao lado.

Quando o Espírito da entidade conhecida pelo nome Sheila se apresentava, o odor que se sentia no ar era de éter, especialmente quando estavam presentes pessoas necessitadas de tratamento de saúde. A água fluidificada, apanhada após as sessões, cheirava a rosas. Nós mesmos presenciamos esse fenômeno diversas vezes e podemos atestar sua autenticidade, além do fato de que as mãos do médium ficavam úmidas e perfumadas.

Sobre Chico, conhecemos outro caso curioso.

O fundador do Centro de Valorização da Vida, de São Paulo, o Dr. Jacques Conchon, que na ocasião nos narrou o episódio, fora a Uberaba para visitar o célebre médium. Também estava desejoso de presenciar o fenômeno dos perfumes, do qual todos falavam. Porém, o guia espiritual de Chico, sentindo que este muito lhe exigia, suspendera-o. Desapontado, Dr. Conchon saiu da sessão sem ter realizado seu desejo.

Quando chegou ao hotel, teve uma belíssima surpresa: ao pôr a mão no bolso, viu que seu lenço estava embebido em perfume. Foi, pensamos nós, um belo gesto da entidade espiritual.

Dessa forma, com o brinde perfumado, reconheceu o esforço do homem que, na qualidade de presidente do CVV. — Centro de Valorização da Vida —, salvou a vida de tantos prováveis suicidas.


(Fonte: “Revista Espírita Allan Kardec”, número 9, ano III)



[1] Esta mensagem foi publicada originalmente em 1950 pela LAKE e é a 35ª lição da 1ª Parte do livro “Nosso livro


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