1 Pergunta — Como encara a missão de Chico Xavier?
Resposta — Encaramos com o maior respeito e admiração o trabalho do valoroso médium mineiro, Francisco Cândido Xavier. Acostumamo-nos a apreciar o valioso intercâmbio entre os dois mundos, iniciado há 50 anos em Pedro Leopoldo, através da figura humilde, simpática e laboriosa desse lutador perseverante. Nosso companheiro tem honrado, sobremaneira, a mediunidade, dando-nos, no Espiritismo e fora dele, constantes e difíceis testemunhos, os quais nos autorizam a considerar a tarefa que realiza como legítimo mediunato.
Francisco Thiesen
Presidente da F.E.B — Federação Espírita Brasileira
(Fonte: “O Espírita Brasileira”, número 165, setembro/outubro de 1975.)
Tenho-o dentro de minha alma como a um irmão muito querido”
2 “…Não me considero à altura para escrever algo sobre o Chico, Dele, dão testemunho (e que testemunho!) as belas obras que semeou e semeia por esse Brasil afora, com reflexos benéficos em diversas nações do mundo. E quando digo “obras”, refiro-me não só à palavra escrita e falada, como também aos seus exemplos de caridade, de perdão, de fé, de humildade, aos seus diálogos fraternos e frutíferos, enfim, à sua multiforme vivência evangélica junto a pobres e ricos, num trabalho diário de edificação e levantamento de Espíritos.”
“Conheço o Chico há bastante tempo. Nos seus livros mediúnicos encontrei forças, luz e paz, e através de suas cartas pude senti-lo e amá-lo bem no fundo do seu ser. Por várias vezes chorei com suas preocupações e sua dor, vivendo-lhe as graves responsabilidades e lamentando a incompreensão dos homens. Mas sempre orei pedindo ao Senhor que não lhe tirasse o pesado fardo dos ombros e, sim, que o ajudasse a carregá-lo. Graças a Deus, o nosso caro Chico tem vencido todas as dificuldades e todos os óbices do caminho, numa maratona hercúlea que realmente o dignifica aos olhos dos homens e aos olhos do Pai.”
“Como vê a prezada amiga, não sei como poderia dizer algo sobre o Chico. As palavras não o saberiam expressar. Tenho-o dentro de minha alma como a um irmão muito querido, a quem devo grande parte da minha renovação espiritual e, mais ainda, da felicidade parcial que mora em meu coração.”
(Trechos da carta do Dr. Zeus Wantuil, 3.º secretário da Federação Espírita Brasileira, à presidente da União Espírita :Mineira, publicados com sua autorização a nosso pedido. Dr: Zeus Wantuil é filho do saudoso presidente da F.E,B. Dr. Antonio Wantuil de Freitas, grande amigo da Casa de Antonio Lima.)
(Fonte: “O Espírita Mineiro”, número 172, maio/julho de 1977.)
Líderes espíritas opinam sobre Chico Xavier
(Depoimentos datados de 1977, por ocasião dos 50 anos de mediunidade de Chico Xavier.)
3 Pergunta — Como os espíritas receberam as primeiras obras psicografadas de Chico Xavier?
Resposta — Quando saíram as primeiras obras de Chico, eu ainda estava, a bem dizer, nos primeiros passos da seara espírita. Justamente por isso, não posso responder bem a essa pergunta. Mas ainda me recordo de que principalmente o “Parnaso de Além Túmulo”, objeto de comentários constantes, como outras obras de Chico, empolgou muita gente nos primeiros tempos. Somente mais tarde, porém, depois de haver-me familiarizado com Léon Denis e Gabriel Dellane, fui tomar conhecimento, diretamente, dos livros mediúnicos, a respeito dos quais ouvira apenas referências e elogios, em discussões e conferências.
Deolindo Amorim
Presidente do Instituto de Cultura Espírita do Brasil, Rio de Janeiro.
4 Pergunta — Como encara o fenômeno Chico Xavier?
Resposta — Creio que é a concretização da promessa de Jesus, citada em João, 14,15 a 17 e 26, quando refere-se ao Consolador: “Se me amais, guardai os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai e Ele vos dará outro Consolador, para que fique eternamente convosco. O Espírito da Verdade, a quem o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; mas vós o conhecereis, porque ele ficará convosco e estará em vós. Mas o Consolador, que é o Espírito Santo a quem o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar tudo o que eu vos tenho dito”.
Da mesma forma que o Espiritismo veio para explicar Jesus, Chico Xavier, com sua exuberante faculdade mediúnica, serviu de intermediário para que o mesmo Espírito da Verdade explicasse ainda melhor o Espiritismo. Aceitamos, pois, que as entidades que se fazem presentes pela intermediação de Francisco Cândido Xavier também sejam pertencentes àquela mesma equipe liderada pelo Mestre e Senhor, e que tem como missão esclarecer o homem em todos os sentidos, a fim de que ele viva a realidade profunda do Evangelho, que se resume em uma palavra apenas — amor. Quem melhor do que Chico Xavier, até os dias presentes, conseguiu, com espontaneidade, viver tão profunda e intensamente a mensagem de Jesus, em nosso século? Sempre foi simples, humilde e sofredor, mas jamais vimo-lo imprecar ou lamentar-se. Ao contrário, nos momentos mais agudos de seu sofrimento, deles sempre tirou o incentivo necessário para todos os que, até hoje, aos milhares, o procuram, vindos de todas as partes do Brasil e do estrangeiro também. A todos recebe com carinho, afeto e dignidade. E até mesmo aos que abusivamente lhe exigem, sabe dar mostras de sua paciência e tolerância. É pena, no entanto, que o homem geralmente valorize, com a dimensão do equilíbrio, aquilo que teve, somente depois que o perde. O que os espíritas e curiosos de variada procedência têm feito ultimamente com esse homem é um verdadeiro “crime lesa Doutrina”, porque o obrigam, através de uma programação estafante, a verdadeiros sacrifícios, quando deveriam preservá-lo, a fim de que ele continuasse a viver em clima de recolhimento e paz, colocando-se, assim, em condições de prosseguir, dando-nos, pela sua mediunidade, obras de alto quilate e profundidade doutrinária. No entanto, achamos que o material que nos deixa, o publicado e o inédito, será suficiente para que pelo menos duas gerações abasteçam-se em conhecimento e elevação, desde que todos o estudem e entendam seu alto significado espiritualizante. Nesse prazo, ele mesmo, ou outros, aparecerão para dar novo impulso a este movimento irresistível e histórico que é o Cristianismo, que visa a libertação do homem, escravo do erro, para a sua destinação angelical, e que hoje encontra no Espiritismo a sua forma mais pura de expressão. Cinquenta anos de ininterrupta atividade mediúnica e 150 obras psicografadas: realmente são dados muito significativos, embora não devêssemos nos prender a tempo e números, porque o que realmente vale é a qualidade da obra de Chico Xavier, que passou por várias fases e em todas demonstrou uma autenticidade invejável. Tem uma força de obra sem precedentes, que a qualifica sobremodo, identificando-a com a tarefa do Espírito Consolador, que veio para enxugar a lágrima do aflito e também ensinar-lhe como agir daqui para frente, evitando novas lágrimas e sofrimentos desnecessários. Acho que o fenômeno Chico Xavier deverá ser entendido por todos mais tarde, principalmente quando não mais o tivermos prisioneiro dos laços físicos, quando passar para as paragens de luz, de onde veio. Quando ele, após ter cumprido com sua tarefa, abandonar o corpo físico, instrumento de tantas dores suportadas com silêncio e resignação, e viver junto dos corações amigos com os quais conviveu durante toda a sua vida, em intimidade de experiências, graças à sua mediunidade, aí, sim, entre lágrimas de saudade, começaremos a entender quem tivemos junto de nós e não soubemos valorizar convenientemente. Referimo-nos à valorização consciente, que nada tem dessas manifestações perniciosas de endeusamento, de divinização inoportuna e oportunista, da qual Chico tem sido alvo seguidamente. Falamos da real dimensão que se dá a quem merece, sem que se tenha em mente, com isto, incensar ou bajular para criar clima de simpatia, despertando sentimentos paternalistas de favorecimento e proteção. Falamos daquele julgamento histórico, isento de paixões baratas e perturbadas pela vontade doentia dos que querem aparecer através da exaltação que fazem. Referimo-nos à valorização que somente os corações superiores serão capazes de fazer. Chico Xavier é o fenômeno psíquico do século e se explica por si mesmo, desde que não haja prevenção preconceituosa, nem adoração insciente.
Alexandre Sech
Presidente do Centro Espírita Luz Eterna, Curitiba.
5 Pergunta — Quais suas principais observações sobre a identificação dos Espíritos, que habitualmente se comunicam através de Chico Xavier?
Resposta — Pelo que venho observando há muito tempo, um dos aspectos que mais identificam os espíritos na promoção mediúnica de Chico Xavier, são as peculiaridades de linguagem. Os termos técnicos, as particularidades ambientais e, sobretudo, o estilo característico distinguem claramente os autores. Notemos que nos livros de André Luiz, por exemplo, há termos próprios da profissão médica, o que caracteriza bem o autor espiritual, ao passo que a linguagem de Emmanuel já é de outra natureza. Até mesmo os problemas ventilados em determinados livros mediúnicos, recebidos por Francisco Cândido Xavier, denotam a existência de ângulos diversos. Este aspecto demonstra que tais livros não podem ser criação engendrada pelo médium.
Deolindo Amorim
6 A obra de Chico Xavier ainda não está devidamente divulgada no exterior. Poderíamos fazer um prognóstico: quando for divulgada, terá maior projeção do que tem aqui, no Brasil. Sugiro que se traduza para o inglês as obras psicografadas por Chico Xavier. E urgente!
Hernani Guimarães Andrade
Presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas, São Paulo.
7 Pergunta — Seria lícito analisar a evolução do Espiritismo no Brasil, dividindo-o nos períodos antes e depois de Chico Xavier?
Resposta — Os ensinos dos espíritos são dosados na conformidade do progresso intelectual e moral, do amadurecimento espiritual dos homens terrenos. Três grandes revelações marcaram diferentes etapas, no curso dos milênios, na popularização dos conhecimentos das coisas espirituais. Na última delas — a espírita — como foi, recentemente, abordado em editorial de “Reformador” (março de 1977), o próprio Codificador reportou-se a três períodos distintos, batizando o desenvolvimento das ideias espirituais: o da curiosidade — intensa e ruidosa fenomenologia —, o do raciocínio e da filosofia — estudo e meditação sérios, apenas no início —, e o da aplicação e das consequências — que seguiria, inevitavelmente, aos outros dois.
A propósito da questão 160 de “O Livro dos Espíritos”, Emmanuel lembrou os períodos aludidos e denominou-os de aviso, chegada e entendimento. No Brasil, desde cedo, ainda no século XIX, foi dada ênfase ao sentido do terceiro período, da aplicação e das consequências (Allan Kardec) ou do entendimento (Emmanuel), que é o da vivência do Evangelho de Jesus Cristo, no aspecto religioso da Doutrina dos Espíritos, a que conduz à lógica das conclusões do estudo metódico e sistemático dos aspectos científico e filosófico, como muito bem elucida o próprio espírito Emmanuel em “O Consolador”. A elaboração dos trabalhos, no transcorrer de um século de vida do Espiritismo no Brasil, em pleno período terceiro, como não podia deixar de ser, seguiria, como seguiu, orientação nos mesmos moldes dos outros dois: no sentido do esforço conjugado dos planos espiritual e físico, do planeta, da contribuição das humanidades invisível e visível que o povoam. À luz dessa realidade, o pesquisa dor, o estudioso, o espírita laborioso encontrará sempre e licitamente pontos demarcantes da evolução do Espiritismo, em nosso país e fora dele, todos importantes e necessários, como contributos da edificação comum da mentalidade cristã e das obras que decorrem das atividades dos seres desencarnados e encarnados, solidários entre si e perseguindo idênticos ideais na imensa seara do Senhor.
Nas linhas gerais do processo evolutivo da Doutrina dos Espíritos, no Brasil, se respeitadas as premissas alinhadas neste esforço, parece-nos perfeitamente justo identificar as múltiplas fases do trabalho, para nelas situar esse ou aquele médium como instrumento de equipes de espíritos a utilizarem com vistas ao entendimento das necessidades da programação de longo curso, a cumprir-se por partes, no tempo e no espaço.
Francisco Cândido Xavier, médium precedido por inúmeros outros, na obra do livro espírita, principalmente em terras do Cruzeiro, contemporâneo de diversos medianeiros que também chegaram a ultrapassar a barreira de meio século de fecundas e continuadas realizações, e de outros já com alguns decênios de lutas e dedicações, é bem a expressão simples e confortadora da progressividade da revelação e do permanente cuidado e carinho de Deus para com os seus filhos em duras experiências no mundo. Analisar as realizações que se ligam, indissoluvelmente, ao valoroso espírita-cristão Chico Xavier, é tarefa que, ao nosso ver, deveria ser mais propriamente delegada ao futuro imediato à sua desencarnação e aos decênios seguintes, porque, então, detentores do conhecimento pleno do inteiro patrimônio representado pelo seu mediunato, devidamente esquadrinhado, sem as interferências das emoções ainda próprias da condição de contemporaneidade, os espíritas melhormente — e sem preocupações de ferir a modéstia proverbial do querido médium poderíamos compreendê-lo na verdadeira extensão e profundidade, na qualidade e na influência dos seus escritos. A bibliografia mediúnica, que foi acrescida à literatura espírita nestes últimos cinquenta anos, nascida do lápis de Chico Xavier — e o espaço não nos permite, sequer, considerações ligeiras sobre a oriunda, em nosso plano de suas páginas — é vultosa, considerável. É qualitativamente admirável. Poderíamos, sem dificuldade, num exame sereno e com absoluta isenção, dividir a obra mediúnica, orientada por Emmanuel, igualmente em fases perfeitamente delineadas, dentro de duas grandes divisões: a primeira, provando a sobrevivência e a imortalidade do espírito “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho” — seguido de uma panorâmica da História universal – “A Caminho da Luz” e de alguns manuais de maior valor: “Emmanuel [o livro], Dissertações Mediúnicas”, “O Consolador”, “Roteiro”, etc. Enfim, muitos estudos interessantes e instrutivos virão, a seu tempo. E a obra de Francisco Cândido Xavier, criteriosamente traduzida, estará, tempestivamente, à disposição dos leitores do mundo inteiro, juntamente com a de Allan Kardec e da dos autores que cuidaram dos escritos subsidiários e complementares da Codificação. Mas, enquanto isso, e para que tudo ocorra com a tranquilidade que se almeja na difusão conscienciosa e responsável da Doutrina dos Espíritos, seria de bom alvitre não perder de vista o fato de que Chico Xavier jamais teria obtido êxito, como instrumento do Alto, se não tivesse seguido a rígida disciplina que lhe foi sugerida por Emmanuel, testemunhando e permanecendo na exemplificação do amor ao próximo e do amor a Deus, vivendo o Evangelho.
Francisco Thiesen
Presidente da Federação Espírita Brasileira, Rio de Janeiro.
Antônio César Perri de Carvalho
(Fonte: “Revista Internacional do Espiritismo”, número 6, Ano LII, julho de 1977.)