1 Caro Armando, recebi
Os bilhetes e os recados;
Você deseja notícias
De alguns dos nossos finados.
2 Entendo. Finados hoje
Para nós, é a comitiva
Dos irmãos fora da Terra,
Gente morta sendo viva.
3 Não posso dar muitas notas
De sentido mais profundo,
Falarei de alguns amigos
Já reencarnados no mundo.
4 Às vezes, nos cemitérios,
A gente chora na campa
De amados que já voltaram
Para a Terra, em nova estampa.
5 Você recorda Nhô Zeca
Que liquidou João Matula?
João voltou à casa dele,
É o netinho que ele adula.
6 Por causa de Frederico,
Suicidou-se o Tonho Prata,
Tonho, porém, renasceu…
É o bisneto que o maltrata.
7 Outro suicídio, o de Délio
Que morreu por Lia Benta…
Délio tomou novo berço,
É o filho que ela amamenta.
8 Por ambição, Carlomanho
Arrasou com Dona Luna;
Ela nasceu neta dele,
A fim de herdar lhe a fortuna.
9 Tino e Rita promoveram
A morte de Adão Ramalho;
Adão renasceu com eles,
Trazendo imenso trabalho.
10 Nhô Téo acabou com Joana
Ao não querê-la por nora,
Mas Joana já reencarnou…
É a netinha que ele adora.
11 Morreram dois inimigos:
Tião e Juca da Barra…
Agora nasceram gêmeos,
Vieram irmãos na marra.
12 Desencarnado, Nhô Gino
Que falava mal de tudo,
Pediu corrigenda a Deus,
Em seguida, nasceu mudo.
13 Nosso assunto é isto aí…
Recordação de finados
É a vida em torno da vida
Que se expressa por dois lados.
14 Enquanto estamos na Terra,
Para dizer o que posso,
Muita vez, a gente reza
Em campo que já foi nosso.
Cornélio Pires
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