1 Você deseja de nós,
Meu caro Juca Loureiro,
Alguma nota do Além
Sobre a questão do dinheiro.
2 Entretanto, caro amigo,
Você, de modo geral,
Somente fala em moeda
Quanto ao que existe de mal.
3 Refere-se a casos tristes,
Aos delitos, tais quais são,
E apenas vê na riqueza
Motivo à condenação.
4 Escute. Medite um pouco
No que a lógica elucida
E encontrará no dinheiro
Apoio, progresso e vida.
5 Sem a finança mantendo
A escola, o pão, o agasalho,
Pouca gente sobraria
Para a bênção do trabalho.
6 E sem trabalho constante
O mundo inteiro, por certo,
Estaria reduzido
A pavoroso deserto.
7 A moeda claramente
É força a prevalecer
Até que o dom de servir
Seja na Terra um prazer.
8 Para evitar entre nós
Qualquer indução à briga,
Peço a você rememore
O burro da história antiga.
9 Em recanto de outras eras,
Existiu certo muar
Que em vez de ajudar na vila,
Só vivia de empacar.
10 Submetido a chicote,
Nem notava o próprio dano,
Se alguém lhe impusesse carga,
Dava coice a todo o pano.
11 Certo dia, um cavaleiro,
Com muito tempo de monta,
Mostrou a ele uma vara
Com milho verde na ponta.
12 Em seguida, o curioso,
Resguardando o milho em paz,
Avançou, buscando a frente
E o burro seguiu atrás.
13 Com semelhante incentivo,
Trotou pela estrada larga,
Interessado na espiga
Servia, aguentando a carga.
14 Você pode observar
Pelo assunto que me envia,
Que, ante a saga desse burro,
Há muita filosofia.
15 É isso aí… Sem trabalho
Que a moeda alenta e anota,
Os homens copiariam
A lentidão da marmota.
16 Não condene os bens do mundo,
Sejam meus ou sejam seus;
Dinheiro marca a nós todos
Como instrumento de Deus.
Cornélio Pires
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