O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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A Vida Escreve — Hilário Silva — F. C. Xavier / Waldo Vieira — 1ª Parte


17

O conto da mosca

1 — A impaciência é vício grave. Falta de caridade para consigo mesmo. Por isso, afirmava Jesus: “Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a Terra.” ( † ) Isso quer dizer que o homem sereno desfruta o privilégio de mais extensa vida no corpo.

2 Jerônimo, o benfeitor espiritual, falava pelo médium, com grande acerto. E continuava:

— O suicídio indireto é, muitas vezes, praticado pelos cultores da intemperança mental. Em muitas ocasiões, basta um momento de indisciplina e a morte surge por nonadas.

3 A sessão terminou e todos exaltaram a excelência dos conceitos ouvidos. E Fraga, o contador de vários estabelecimentos comerciais, coçando nervosamente a cabeça, exclamou risonho:

— Tão bons conselhos! Tão bons conselhos!

4 No outro dia, porém, o mesmo Fraga, entre os livros do escritório, no calor da tarde, via-se atarantado. Leve mosca zombava dele, procurando-lhe a calva. O zeloso contador tentava alcançá-la com um tabefe, aqui e ali, mas nada… À maneira da personagem de Fedro, ( † ) castigava improficuamente a si mesmo. 5 Sentindo que ela se alojava, provavelmente pela vigésima vez, entre os seus raros cabelos, bateu fortemente no próprio crânio. A pancada, no entanto, fê-lo cair. Socorro. Aflição. Ocorrera a ruptura de vaso importante no cérebro, e Fraga, em poucas horas, se viu desencarnado.

6 Quando acordou, espantado, no regaço do piedoso Jerônimo, ao conhecer a própria situação, gritou, afobado:

— E agora, meu Deus? Que fazer?

7 O amigo espiritual, todavia, informou calmamente:

— Você já se encontra fora do corpo de carne há dois meses, mas apenas agora toma acordo de si. Já estudamos seu caso. Você estava avisado quanto aos perigos da impaciência e caiu, mesmo assim, no conto da mosca8 Suicídio indireto, meu caro, suicídio sem nenhuma razão de ser. E você ainda dispunha de onze anos pela frente para trabalhar junto dos homens.

— E agora? Que faço?

9 O benfeitor espraiou o olhar pela casa de socorro terrestre em que se achavam e esclareceu:

— Já expliquei o problema aos nossos Maiores. Pela vida correta que você levou, decerto não merece o pavor das regiões abismais. Mas também não está habilitado para subir. Ficará aqui mesmo.

— Aqui, onde? — Indagou Fraga, assombrado.

— No hospital onde estamos.

— Com que fim?

— Ajudando aos enfermos…

— E fazendo o quê?

10 Sem sorrir, Jerônimo explicou simplesmente:

— Aprendendo a ter paciência, você ficará durante algum tempo a espantar moscas…


Hilário Silva


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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