1 Sebastião Loredo, estimado motorista, depois de afeiçoar-se ao Evangelho, fizera-se mais consagrado à oração.
Clarividente, encontrava grande consolo na palavra de Eusébio, o instrutor espiritual que lhe dedicava incessante carinho.
Entretanto, apesar de todos os votos que fazia, estava sempre a braços com dificuldades morais de vulto.
2 Tomando o automóvel, pela manhã, certa feita afirmou:
— Deus está, comigo. Deus está de meu lado. Deus me ajudará. Deus me dará suas mãos.
Mas, justamente nesse dia, Sebastião rixou com alguns colegas, perdeu a calma, abusou da velocidade, foi multado, desentendeu-se fortemente com o posto fiscal.
3 À noite, no instante das orações, sentia-se envergonhado.
Como de outras vezes, Eusébio surgiu-lhe aos olhos e argumentou, convincente. O pupilo errara com agravantes. Conhecia as próprias obrigações. Cabia-lhe controlar-se, asserenar-se, pois que espírita algum pode, em boa consciência, ignorar o dever da humildade.
4 Sebastião, contudo, insatisfeito consigo mesmo, disse em voz alta:
— Meu amigo, meu irmão, como proceder? Saí de casa orando, buscando vigiar… E muitas vezes repeti hoje: “Deus está de meu lado. Deus me ajudará. Deus me dará suas mãos.”
— Sim, sim, — concordou Eusébio, — tudo está certo, mas não se esqueça de que nós também precisamos estar com Deus, permanecer ao lado de Deus, ajudar a Deus e entregar as mãos a Deus. Está bem?
5 Sebastião gaguejou, gaguejou e acabou conformando-se:
— Está bem.
— Então, — disse Eusébio, — amanhã vamos começar tudo de novo…
Hilário Silva