1 “Morto! Morto!…” — inda escuto. O coração dorido (1) n
E o pensamento em fogo — a vida que me resta…
Meu corpo dorme exangue a derradeira sesta
De quem tudo esqueceu no supremo gemido.
2 Levanto-me, porém, jubiloso e aturdido.
Tenho outra forma em luz — alma acordada em festa —, n
A esperança é a canção que a alegria me empresta…
“Vivo! Vivo!…” — respondo ao choroso alarido. (8)
3 Entretanto, ninguém ouve a fé que me nutre.
No quarto, o desespero — pavoroso abutre,
Insufla-me visões de cinzas, sombra e nada!…
4 Insisto, brado, clamo, ansioso e descontente,
Mas, de súbito, enxergo outro mundo e outra gente n
No celeste esplendor da Sublime Alvorada…
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[1] LEOPOLDO Vóssio BRÍGIDO dos Santos — Poeta de vastos recursos, crítico literário de finos dotes, veio L. Brígido para o Rio com 19 anos de idade, aí tendo colaborado em vários jornais, como A Semana, O Paiz, a Gazeta de Notícias, etc. Funcionário da Fazenda, chegou ao posto de subdiretor do Tesouro Nacional. “Tradutor inteligente e delicado,” — Fernando Góes o afirma (Pan. V, página 254) — “verteu para o português um famoso poema de Dante Gabriel Rossetti, The Blessed Damozel, que inspirou a Debussy uma das suas mais belas melodias — La Damoiselle Élue”. Esta e outras traduções colocam-no “entre os melhores tradutores da poesia simbolista universal no Brasil”, declarou-o A. Muricy (Pan. Mov. Simb. Bras., III, pág. 256), que considerou LB um “poeta de instrumento delicado, num sincretismo discreto de parnasianismo predominante e de simbolismo não formal”. (Itapipoca, Ceará, 17 de Janeiro de 1876 — Rio de Janeiro, Gb, 24 de Agosto de 1947.)
BIBLIOGRAFIA: Poemas do Tempo.
[2] Versos 1-8 - Dois exemplos de epizeuxe.
[3] Verso 6 - outra forma em luz. O poeta se refere ao seu corpo espiritual, “alma acordada em festa”, que se levanta deixando o veículo de carne a dormir exangue a derradeira sesta.
[4] Verso 13 - Poliptoto: “…outro mundo e outra gente”.