1 Silêncio… Inércia… Morte… O fim de tudo…
Era o estranho ideal que acalentara
Quando vivi qual cego, surdo, mudo,
Ou sonâmbulo em crise longa e rara.
2 Covarde e tresloucado, em transe agudo, n
De súbito fugi à vida amara
E marchei, constrangido, para o estudo
Do enigma que, em vão, me acabrunhara. n
3 Mas não morri… Morreu-me o vaso impuro… n
E, distante da carne transitória,
Colho o passado e planto o meu futuro.
4 Nem mistério, nem cinza à nossa frente…
Apenas o homem louco de vanglória
Procurando enganar-se inutilmente. n
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[1] GALBA DE PAIVA — Poeta distinto, jornalista, conferencista e crítico literário. Depois de cursar o Liceu Alagoano, de Maceió, bacharelou-se pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, tendo sido o orador da turma de 1915. Exerceu várias funções públicas na administração e na magistratura do Rio Grande do Sul. Colaborou em diversos jornais e revistas, dentre outros o Diário do Interior, de Santa Maria, Última Hora, de Porto Alegre, Fon-Fon! e Leitura Para Todos do Rio de Janeiro. Na revista carioca A Semana foi crítico literário ao tempo de Adelino Magalhães. De 1930 até à sua desencarnação, viveu no Rio de Janeiro, advogando no foro. (Uruguaiana, Rio Grande do Sul, 26 de Setembro de 1893 — Rio de Janeiro, Gb, 1 de Julho de 1938.)
BIBLIOGRAFIA: Folhas, versos; Hora Azul, conferência; Elogio das Cores, idem; etc.
[2] Verso 5 - Aliteração em d.
[3] Verso 8 - Suarabácti: “e-ni-g-ma”. Cf. nota 1, pág. 47.
[4] Verso 9 - morri… Morreu-me…: Poliptoto.
[5] Verso 14 - Para que possamos entender-lhe o soneto, transcrevamos apenas o último terceto de “Perante a Dúvida”, que o poeta escreveu, tempos antes de se suicidar:
“Mas do termo final já não me iludo…
— Basta a triste certeza de ser nada,
Basta a vaga esperança de ser tudo.”
(Apud Col. Poetas Sul-Riogr., pág. 283.)