1 E um dia chegará, de segundo a segundo,
A vitória imortal… Tiranias ultrizes
Dobrarão para sempre as trágicas cervizes
Ante o reino do amor a espraiar-se, fecundo!
2 A impiedade revel, o ódio a rir-se iracundo, n
A usura de Harpagão e o gládio de Cambises
Serão restos crostais de velhas cicatrizes,
Temerárias lições no semblante do mundo!
3 Não mais fome ou nudez… O arado, a escola e o malho
Entoarão sobre a Terra as canções do trabalho
Em trompas e clarins de concerto bendito!
4 E os homens, céus além, ao tato incontroverso,
Descobrirão, por fim, nos portais do Universo,
A bússola de Deus no timão do Infinito!
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ALCEU de Freitas WAMOSY — Poeta e jornalista, A. Wamosy trabalhou ativamente na imprensa, principalmente depois que fixou residência em Livramento, tendo sido diretor de O Republicano. Patrono da cadeira nº 40, na Academia Sul-Riograndense de Letras. Sua poesia é essencialmente subjetiva, com impressões de vida interior. Prefaciando-lhe a obra póstuma Poesias, Mansueto Bernardi afirmou: “Alma de eleição, um dos mais finos temperamentos artísticos do Rio Grande, uma das belas vozes da poesia, no Brasil.” E mais adiante, observava: “Ao mesmo tempo que o pensamento do amor, o pensamento da morte o acompanha sempre. (… ) Foram eles, por assim dizer, o amor e a morte, assim como a luz e a sombra dos seus olhos, o mel e a cicuta dos seus lábios, a sístole e a diástole do seu coração.” (Uruguaiana, Rio Grande do Sul, 14 de Fevereiro de 1895 — Livramento, Rio Grande do Sul, 13 de Setembro de 1923.)
BIBLIOGRAFIA: Na Terra Virgem; Coroa de Sonhos; etc.
Nota ao 1º soneto. Este soneto é, sem dúvida, uma resposta ao poema que Alceu Wamosy escreveu pouco antes de sua desencarnação, “Idealizando a Morte” (apud Col. Poetas Sul-Riogr., pág. 302), do qual vamos transcrever o último quarteto, grifando as rimas que se repetem no soneto de hoje:
“E morrer… e levar com a vida que se trunca,
Tudo que de doçura e amargor teve a vida:
O sonho enfermo, a glória obscura, a fé perdida,
E o segredo de amor, que eu não te disse nunca!”
[1] Leia-se com sinérese: im-pie-da-de.