1 Alguém partiu… E ao longe a estranha e muda escolta n
Segue um casulo inerme à estreita cova escura…
Se a trilha humana foi a vasta semeadura,
O caminho do Além traz a justa recolta.
2 O corpo cai, a terra o esconde e a turba volta…
Morrem na alcova fria e ultriz da sepultura
Os derradeiros ais da escala de amargura
Em que o triste marcava o suplício e a revolta…
3 Mas dilema cruel de ansiedades me inunda,
Ao fitar a alma livre até que se reintegre
Na extrema exaltação da vida que persiste…
4 Não sei dizer quem sente a emoção mais profunda:
Se quem ficou na sombra entre arrasado e alegre;
Se quem subiu à Luz entre ditoso e triste!… n
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[1] BASÍLIO SEIXAS — Poeta de origem humilde, nascido em 1884, dele diz Edgard Rezende (Os Mais…, pág. 211): “Criado por sua avó, quitandeira, foi tipógrafo, tendo sido impressor e assíduo colaborador da revista Tagarela, dirigida por Peres Júnior (Teles de Meireles).” Atacado de tuberculose galopante, o poeta veio a falecer em 23 de Março de 1903, com apenas 19 anos de idade, quando ainda cursava o 2º ano do curso jurídico, no Rio de Janeiro. A revista Tagarela de 26 de Março desse ano, em breve necrológio à pág. 3, após afirmar que “Basílio Seixas era um talento de primeira água”, salientou que ele “se fez à custa de uma raríssima força de vontade, estudando com denodo enorme e inabalável”. Mário Linhares (Poetas Esquecidos, pág. 209) diz que o único livro de versos de B. Seixas, publicado em 1902, “colocou o seu nome na plana dos nossos melhores poetas”. Foi Basílio Seixas amigo e ardente admirador de Emílio de Menezes.
BIBLIOGRAFIA: Ópera, versos.
[2] Verso 1 - Atente-se na eloquência do “enjambement” dando a ideia de que, realmente, um séquito leva alguém “à estreita cova escura…” Observe-se, ainda, a aposiopese: “Alguém partiu…”
[3] Verso 14 - A nosso ver, “Dilema” é a resposta sincera do poeta ao seu “Pela Glória de Partir”, por ele escrito quando ainda na Terra e dedicado a Peres Júnior, que vamos transcrever, a fim de que possamos comprovar semelhante fato:
“É um funeral que passa. Um mais que, venturoso,
Abandonou do mundo as dores e as quimeras,
E sua alma, espalhando o horror pelas esferas,
Sumiu-se qual se fora um sopro vaporoso.
Irmão nosso — mortal — tão deslumbrante gozo
Jamais ele sentiu nas esquecidas eras.
Vida, sonhos liriais, amores, primaveras
Nada lhe vale esta hora o cândido repouso!
Porque chorais? Porque sofreis dessa ventura,
Se não há mais para ele a ríspida tortura
Que ora as nossas paixões amargurando vai?
Todo o sonho da vida encerra-se na Morte,
Portanto, pelo amor desse final transporte,
Hosanas, meus irmãos, seu funeral saudai!”
(Os Mais…, pág. 211.)