1 Deus te abençoe o gesto de carinho,
Alma da caridade, branda e pura,
Pela migalha de ventura
Aos tristes do caminho.
2 Deus te abençoe a refeição sem nome
Que trazes, cada dia,
Aos cansados viajores da agonia n
Que esmorecem de fome.
3 Deus te abençoe a roupa restaurada
Com que vestes, contente,
A penosa nudez de tanta gente
Que vagueia na estrada!…
4 Deus te abençoe a bolsa de esperança
Que abres, a sós, sem que ninguém te espreite,
Para a gota de leite
Destinada à criança…
5 Deus te abençoe o pano do lençol
Com que envolves, em doce cobertura,
Os enfermos que choram de amargura,
À distância do sol.
6 Deus te abençoe, por onde fores,
E te conserve as luzes
Em que extingues, removes ou reduzes
Os problemas, as lágrimas e as dores!
7 Deus te abençoe a fala humilde e santa, n
Com que aplacas a ira n
Da calúnia, do escárnio, da mentira,
Na frase que perdoa e que levanta.
8 Caridade, que o teu nome ressoe,
Pleno de amor profundo,
E por tudo o que fazes neste mundo,
Deus te guarde e abençoe!…
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IRENE Ferreira de SOUSA PINTO — Poetisa de fino talento e bela inspiração. A seu respeito, diz Enéas de Moura (Colet. Poetas Paul., pág. 97): “Começou seus estudos no Colégio Florence, de Jundiaí, e os terminou no Sion, de São Paulo. Colaborou na Revista Feminina; foi a criadora das crônicas sociais do Correio Paulistano.” Contista, escreveu na Feira Literária, e em 1921 estreava como romancista, publicando Rosa Maria. No Cemitério da Consolação, de S. Paulo, os filhos da poetisa erigiram-lhe um túmulo, onde gravaram o belíssimo soneto “Último Desejo”, de autoria dela. (Amparo, Estado de São Paulo, 8 de Abril de 1887 — Rio de Janeiro, Gb, 21 de Maio de 1944.)
BIBLIOGRAFIA: Primeiro Voo; Gorjeios; O Tutor de Célia, contos; etc.
[1] Leia-se com hiato: A/ ár/vo/re.
[2] Epímone — Cf. 1ª nota do cap. 3 da 1ª Parte.
[3] Aliteração em p.
[4] Ler com hiato: sa/be/ on/de e, no verso seguinte É/ ór/fão.
[5] Poliptoto: “Quantas…/Quanta…/ Quanto…”
[6] Epímone — Cf. 1ª nota do cap. 3 da 1ª Parte.
[7] “Se o Céu quisesse podia.” Entenda-se: se a Espiritualidade Maior indicasse…
[8] Leia-se in-fi-el, com diérese.
[9] Epímone — Cf. 1ª nota do cap. 3 da 1ª Parte.
[10] Ler via-jo-res, com sinérese.
[11] Note-se a mestria com que a poetisa se serve do cólon “Deus te abençoe…”. — Cólon: “Expressão usada pelos preceptistas gregos para designar um MEMBRO MÉTRICO qualquer, repetido no poema sempre com as características métricas e rítmicas, …” (Geir Campos, Op. cit.)
[12] Ler com hiato: Com/ que a/pla/cas/ a/ i/ra.
[13] Essa é a 2ª lição do livro “Antologia Mediúnica do Natal”, editado pela FEB em 1966.