“ … a centelha que aquece…”
Mamãe, com a morte de Tadeu, meu irmão, não tinha a mínima condição na restauração do seu equilíbrio.
Passava o tempo todo desesperada, chorando muito. Estava adoecendo, revoltando-se com tudo e com todos. Não acreditava em nada que pudesse aliviar a sua dor.
Nessa época o Chico estava para vir à Televisão Tupi, no Programa Pinga-Fogo.
Amigos achavam que mamãe deveria procurá-lo. Mas, católicos praticantes, ficamos preocupados, pois mamãe não acreditava em Espiritismo.
No dia do programa, o seu desespero parecia maior. Não aguentou e dirigiu-se ao Canal 4 para ver se falava com o Chico Xavier.
Não conhecia ninguém, nem mesmo Chico.
Uma senhora, percebendo a sua aflição, penalizada, acompanhou-a até o Chico.
Soube, depois, tratar-se da Sra. Zilda Giunchetti Rosin.
Conseguiu trocar rápidas palavras com o Chico e voltou para casa.
Porém,esse rápido encontro de nada adiantou. Continuou chorando e cada vez mais revoltada. Dizia que o Chico recomendara-lhe calma. Mas ela não entendia.
— “Como recomendar-me calma? O filho é meu. Por que? Ele vai devolver o meu filho?” — Estas eram as suas palavras.
As reclamações se sucederam por muito tempo. Depois de sete meses do desencarne de Tadeu, tive uma intuição.
Pedi à mamãe que se preparasse, pois iríamos a Uberaba no dia seguinte.
Ela não acreditou, mas insisti. Algo dava-me muita confiança e, naquele impacto, consegui seu assentimento. Nem mesmo meu marido sabia que iríamos.
Não conhecia Uberaba. Viajamos mesmo assim. Era tarde da noite e chovia muito.
A vontade de chegar era grande e, na entrada de Uberaba, por informações, dirigimo-nos para o centro da cidade.
Para nossa surpresa, saímos bem defronte ao hotel onde havíamos feito reserva para a nossa hospedagem. Ainda nessa madrugada fomos à procura da casa de Chico para que no dia seguinte fosse mais fácil. Rodamos por várias ruas, até que nos vimos obrigadas a perguntar onde era a rua Eurípedes Barsanulfo e a casa do Chico.
O rapaz que nos informou admirou-se, pois estávamos a poucos metros da casa.
Acredito que fui guiada. Só mesmo estando junto para sentir o que aconteceu.
No dia seguinte fomos à reunião, mas não pudemos falar com o Chico. Havia muita gente, um casal, talvez com problemas maiores que os nossos, tomou muito tempo.
O trabalho começou.
Colocamos os nossos nomes para o receituário acreditando que mais tarde nos chegaria uma receita com alguma medicação.
Veio um recado do Dr. Bezerra de Menezes que dizia: “Nosso Ricardo está sob os cuidados de abnegados irmãos espirituais.”
No final da reunião, por volta das três horas da madrugada, Chico nos chamou e disse se tínhamos necessidade de voltar para São Paulo, ainda naquele dia. Gostaria que participássemos da peregrinação que se realizaria na tarde daquele sábado que se iniciava.
Aceitamos.
Na volta da peregrinação mamãe estava ansiosa para falar-lhe. Mas estávamos mais afastadas. Um casal sugeriu à mamãe que falasse de onde estava mesmo. Constrangida, não falou.
Pedi-lhe que fossemos para trás, pois se tivesse que receber alguma coisa, receberíamos.
Chegando ao Centro, sentamo-nos e aguardamos quietas.
Abriram-se os trabalhos e o Chico começou a psicografar.
Mamãe nesse momento começou a bocejar e, em dado momento, seu corpo enrijeceu. Estava incorporada, sentindo a presença de meu irmão que gritava: “Mamãe, mamãe…” Socorrida, acalmou-se.
Chico começou a leitura e, quando em determinado parágrafo leu: “terça-feira…”, dei um grito, pois percebi que a mensagem era para nós.
Chorávamos e tremíamos.
A senhora Marcilia Bensi, que nos acompanhou na viagem, empolgada, não se conteve.
Perguntou ao Chico como podia eu estar com todo aquele conhecimento, pois tudo que eu programava ou falava dava certo. Ele respondeu que fui como uma espécie de tomada que foi ligada e o resto foi deixar acontecer.
Se aquela mensagem não tivesse vindo, mamãe não teria dado o menor crédito.
Ela desmaiou quando da leitura da mesma. Foi o alimento que caiu do Céu e veio nos tranquilizar. Sem ela teríamos esmorecido.
Interessante que num determinado trecho, Tadeu enviava lembranças ao Aparício, gerente da empresa de papai. Nem mesmo pensávamos nele naquela viagem.
Outra coisa, coincidência ou não, estávamos com o Certificado de Reservista do Tadeu na bolsa e, confrontando suas assinaturas, sem sombra de dúvida, eram idênticas.
Nas mensagens que recebemos depois, existem muitos casos dignos de nota, como por exemplo:
Papai estava viajando e aproveitamos para ir a Uberaba. Tadeu, na mensagem, não deixou de mencionar que também estava acompanhando papai em sua viagem.
O Chico não sabia disso.
Na noite do seu desencarne, estava sendo levada ao ar, por um canal de televisão, a novela “Minha doce namorada”, assistida por meu filho. Meu irmão comentou-a pois ouvia o som do televisor.
Foi exatamente nesse horário que lhe ocorreu o problema cardíaco.
Na última mensagem, soubemos que Chico estivera acamado e fomos visitá-lo. Já restabelecido, o encontramos no Centro. Para nossa felicidade recebemos outra mensagem, onde Tadeu dizia que não podia escrever muito, pois estava cuidadoso da saúde do Chico.
Com todas essas dores e alegrias, passei a dedicar-me ao estudo da Doutrina Espírita de corpo e alma. Interessei-me demais.
Muito extrovertida, agressiva e nervosa, no seu aprendizado encontrei esclarecimento para muita coisa e, graças a Deus, tudo melhorou para mim.
Chico, para mamãe e para nossos familiares, é a centelha que aquece quando a frieza das dificuldades nos atinge.
Assim, posso dizer:
Quero conhecer cada vez mais essa Doutrina maravilhosa, para poder colaborar sempre com os que mais necessitam.
Perdoem-me a pretensão, mas hoje sou seguidora assídua do Espiritismo.
Graças a Deus, a mediunidade de Francisco Cândido Xavier abriu-nos o caminho para a luta contra as situações desesperadoras.
Salette Richette Parisi