“… Chico Xavier no amanhã luminoso…”
Conhecia Chico Xavier por meio da televisão. Nutria muita vontade de conhecê-lo, mas nunca tive oportunidade. Independente de alguns convites feitos pela Srta. Maria Canceli, quando da visita do Chico ao Centro Espírita Paz, Amor e Caridade, mesmo assim não tive esse prazer.
Devido ao acontecimento com o meu filho, vitimado por aneurisma cerebral, meu marido, após quinze dias do seu desencarne, muito desorientado, acabou lamentavelmente deixando o lar, tomando rumo que ainda ignoro. Com esses desacertos, fiquei muito enferma; aliviava-me sob o poder dos calmantes. As receitas se acumulavam nas farmácias e meu problema não se resolvia. Continuava presa ao sofrimento.
Durante um mês e meio tomei 150 injeções.
Os farmacêuticos e os Doutores pelos quais passei, admiravam-se da quantidade de comprimidos que ingeria, chegando mesmo um deles dizer: “Com apenas um comprimido eu dormiria 24 horas e a senhora tomando três por vez não surte nenhum efeito. É de admirar!”
Para os caros leitores terem uma ideia do que estou falando, fiquei aproximadamente um ano sem saber o que era dormir. Apenas cochiladas de poucos minutos. As noites e dias desfilavam aos meus olhos.
Não tendo mais condições de aguentar, por Deus, acredito sinceramente nisso, os Espíritos amigos inspiraram-me e meu pensamento voltou-se para Francisco Cândido Xavier. Sentia profundamente que a solução ou alívio para tudo que estava me acontecendo era procurá-lo. E assim fiz.
Com o coração esperançoso viajei para Uberaba. Hospedei-me em casa da Sra. Candinha, pois em minha companhia foi sua filha Sra. Olivia Dorotea Rodrigues que muito colaborou nessa viagem.
Na sexta-feira fui ao Grupo Espírita da Prece. Ansiosa cheguei muito cedo e fiquei sentada no chão da rua; era um trapo de gente, não queria comer e nem beber, minha ansiedade era unicamente vê-lo. Meu estado era deprimente.
Quando Chico chegou, parecia-me estar revivendo cenas de quando Jesus caminhava no meio dos menos felizes. Com muita fé e em sua presença, rogava a Deus que me curasse.
Minha alegria era transbordante, não tinha condições sequer de desviar meu olhar daquela figura que seria o remédio para os meus dissabores.
Fui a terceira pessoa a conversar com ele e na sua presença, sem dar qualquer valor ao pensamento estético e de boas maneiras, não me importando com o que pudessem pensar ou falar, atirei-me em seus braços.
Com a foto do meu filho nas mãos, mostrei-lhe. Delicadamente apanhou-a e mostrou ao pessoal presente; dizia comovido:
— “Que belo rapaz Jesus levou para junto de si.”
Devolveu-me a foto sem falar mais nada.
Fui sentar-me. Levava vários nomes de amigos e parentes; no meu desespero esqueci de entregá-los ao Chico. Pedi, então, a uma pessoa que colocasse esses papéis na mesa que eram solicitações de preces e receitas.
Não sei porque, devolveram-me e pediram que eu mesma entregasse ao Chico, coisa que costumeiramente não se faz, isto é, são entregues ao Sr. Weaker Baptista e às senhoras que lá frequentam e trabalham.
Os elementos responsáveis pela disciplina do Centro, penalizados com a minha situação, abriram alas e levaram-me à sua presença.
Nessa oportunidade, pedi ao Chico que gostaria de receber uma mensagem de meu filho.
Respondeu ser ainda muito cedo, mas pediu publicamente que eu atestasse o que iria dizer: era realidade ou não o fato que havia ocorrido há muito tempo em nossa família de ter perdido um cunhado que fora atropelado, chamava-se Rafael. Disse ainda: No momento em que seu filho Ronaldo partiu para Jesus, a pessoa que o encontrou e o recebeu no seu grande desespero, foi esse seu tio. Confirmei sobre Rafael, tornei a sentar-me e aguardei.
Convicta ainda de que receberia o meu remédio, perguntei aos médiuns que se reuniam em comentários sobre o Evangelho, se viria uma mensagem de meu filho; unânimes, responderam: “—Se for permitido por Jesus a Sra. receberá.” Meu estado de saúde não estava permitindo que eu desfrutasse daquele ambiente maravilhoso. Preocupada também com a minha anfitriã, precisei retirar-me.
Estávamos à meia noite, chovia torrencialmente, consegui apanhar o último táxi estacionado.
Os resultados se fizeram sentir, dormi a noite toda, essa maravilha me chegara.
Não necessitei de calmante, pois saíra tranquila.
O ambiente reequilibrara-me.
Na manhã do sábado, viajei para São Paulo, chegando em casa por volta das 17 horas.
Com muita surpresa, na segunda-feira, recebo a visita da Dra. Marlene Rossi Severino Nobre, que trazia em mãos a mensagem de meu filho.
Dizia que haviam procurado por todos os hotéis de Uberaba e não conseguiram encontrar-me; estava como portadora, atendendo gentilmente o pedido de Chico Xavier. Meu filho comunicara.
Mostrei-lhe minha satisfação.
Em seguida passei a ler a mensagem que tanto aguardara. Em sua leitura vim compreender um fato que havia se passado:
Quando Ronaldo ainda em casa, no caixão, não entendia porque, corriam-lhe pelas faces grossos fios de lágrimas. Intrigada com aquilo, perguntei aos presentes se viam também. Todos confirmaram. Na mensagem meu filho cita o porquê das lágrimas quando diz: “Aquilo tudo com aquela impressão de fim de existência me fez chorar por dentro, mas as lágrimas eram iguais às vozes que se mantinham presas comigo. Minhas pálpebras também estavam cerradas e aquele orvalho de dor que nascia no coração ficou estancado… Por isso, mãezinha, é que a senhora e os nossos tiveram a impressão de que eu chorava no corpo imóvel. Ver, eu não vi, mas as suas perguntas nesse sentido eram muitas e minha bisavó Philomena que me tomou por outra mãe explicou-me o que se passara. Quando me retiraram da forma física extenuada as comportas se abriram e as lágrimas que eram em mim preces a Deus, rogando forças em vão para dizer alguma coisa, rolaram pelas faces…”
Vários familiares desencarnados foram citados. O nome Angeloantonio veio escrito exatamente igual ao da família na citação de vovô, e outras coisas mais.
Graças a Deus, e à mediunidade de Chico que deu condições para os Espíritos amigos nos ajudarem, hoje sou outra, não soube mais o que é um comprimido calmante.
Minha felicidade voltou e após essa mensagem, recebida no dia 9.4.1976, no mês seguinte Ronaldo aniversariava. Fiz uma festa, convidei todas as crianças vizinhas como Ronaldo gostava, cantamos o parabéns. Essa foi a primeira alegria após três anos de sofrimento.
Ronaldo, desencarnou com 23 anos e, para o caro leitor avaliar, em nossa vida, ainda quando encarnado, por problemas familiares, tentei por diversas vezes o suicídio. Intoxiquei-me com drogas sem ter a consciência do que fazia. Ronaldo, quinze dias antes do seu desencarne, chamou-me e comovidamente fez-me jurar que nunca mais tentasse contra minha vida, dizendo-me:
— “Só Jesus pode ditar nossa partida e quando ela chegar ele nos chama.”
Na sua súplica, via em seus olhos o amor que existia em seu coração para com a mãe que muito o magoara.
Hoje, como na mensagem, ainda recordo suas palavras que, como dínamo, refazem minhas forças e condições de seguir e lutar.
Por tudo isso, agradeço e peço a Deus que transfira os méritos da minha felicidade ao Chico, esse coração que nestes 50 anos só soube amar e tranquilizar os desesperados como eu.
Após um ano da minha estada em Uberaba, isto é em 9.4.1976, por dádiva de Deus, a lacuna deixada por meu filho no coração dos familiares, foi preenchida por meu sobrinho Ronaldinho, nascido exatamente em 9.4.1977. Encaro-o como se fosse meu filho. Meu irmão colocou seu nome em honra, carinho e afeto que tinha pelo seu sobrinho, meu filho Ronaldo.
Chico Xavier, no amanhã luminoso do nosso entendimento ficará marcado para sempre. Foi o interruptor que ligou e clareou os caminhos que hoje trilhamos no campo do equilíbrio cristão.
Deu-nos o verdadeiro sentido, o amor seja na sua palavra ou na palavra de meu filho, é e será para todo o sempre o melhor calmante que não arrasa o nosso equilíbrio físico e espiritual e dá-nos forças para novas tentativas de trabalho no aprendizado de Jesus.
Perdoem-me os leitores, minha felicidade precisa ser exposta no agradecimento aos companheiros do IDEAL, Instituto de Divulgação Editora André Luiz, que sem saber chegaram até nós para este testemunho, exatamente no dia em que Ronaldo aniversaria. Meu irmão Roberto Angeloantonio, que me surpreendeu com a reunião de vários casais amigos de meu filho em sua casa, para relembrarem esta data. A Deus pela oportunidade. Aos amigos leitores pela atenção e aos que necessitam, possam encontrar nestas minhas palavras algum conforto.
Thereza Malafronto