“… Deus lhe pague…”
Quando criança, ouvia falar em Chico Xavier. Meu pai conhecia-o desde 1935. Papai desencarnou em 1937, no dia 19 de janeiro, em Sacramento - Minas Gerais.
A mensagem de papai foi a mais diferente de todas que tenho recebido até hoje. Cinco meses depois de sua desencarnação, chegou pelo Correio uma carta endereçada ao meu irmão Labieno, o filho mais velho. Era enviada pelo Chico Xavier. Ninguém em minha casa conhecia o Chico. Só o papai que esteve com ele em várias visitas, em Pedro Leopoldo. Em 1954 tive a felicidade de visitar o Chico em Pedro Leopoldo. Nesse dia, em companhia de meu marido, tive grande emoção quando o vi pela primeira vez. Minha impressão foi como se já estivera com ele. Não me era estranho.
O tempo foi passando e esporadicamente fazia minhas viagens para visitá-lo. Em 28.8.1964, meu marido veio a desencarnar, vitimado por afogamento, no Rio Meia Ponte, em Goiânia. Hoje, mais assíduas em virtude do desencarne do Gastão meu marido e meu filho Henrique Emanuel Gregoris.
Na véspera do falecimento do Henrique, algo importante aconteceu. Fiquei com 2 netos em casa de minha filha, enquanto ela e o marido passeavam no Rio de Janeiro. Henrique e Eduardo, meus filhos, ficaram a sós em nosso apartamento, estávamos separados há 18 dias.
No dia 9 de fevereiro, o Henrique me telefonou. Fazia isso todas as noites, para saber como estávamos. Notei que ele parecia satisfeito. E me disse:
— Veia, acabei de assistir um capítulo de “A Viagem” e fiquei todo arrepiado. Achei graça e perguntei por quê. (Claro que eu sabia, pois também a assisti).
Mãe! A Dinah morreu e acordou toda confusa num lugar estranho e não sabia que era o Além. Escuta, Veia, você me garante que Lá é daquele jeito mesmo?
Não! É muito mais interessante e bonito.
Puxa, que novela bacana, vou assisti-la inteira, podes crer.
No dia seguinte foi ele quem partiu para a Espiritualidade. Tenho um sentimento de muita gratidão pelo autor, atores e pelo nosso querido Chico, que na verdade é o patrono de todas as nossas alegrias espirituais em nome do Cristo.
Eu orientava Henrique para sempre que visse um acidentado o socorresse imediatamente, sem pensar em problemas posteriores. Ele me dizia:
Veia, essa de Samaritano ainda vai me levar para a cadeia. Quem vai acreditar que não fui eu o causador do acidente. E socorreu vários casos, graças a Deus.
Quando ele foi o acidentado, dois hospitais o rejeitaram e morreu à porta do terceiro que o socorria. São os espinhos do nosso caminho que, sem a ajuda de Deus, como aceitar?
No mês de abril de 1976, fui a São Paulo. Na minha ausência, companheiras do Departamento Assistencial Menina-Moça Lar de Matilde — resolveram visitar o Chico Xavier em Uberaba. A noite foi de felicidade para uma delas, que recebeu mensagem da filha, Marina Cupertino, que desencarnara há 7 anos, aos 17 anos.
Na mensagem ela pede à mãe dizer à irmã Augustinha que a primeira tarefa de Henrique, na Espiritualidade, fora a de socorrer a pequena Juliana, que partira para Lá de repente.
A Sra. Dulce Poli Cupertino, mãe da jovem desencarnada, não soube dizer quem era Juliana, nem o Chico sabia.
De volta a Goiânia, procurou com várias companheiras identificar a garota, porém, ninguém a conhecia.
Quando voltei é que pude dar a informação: Juliana era filha de Dulce Consuelo Martins Nunes, colega do Henrique, da INCA de Brasília, que faleceu em acidente automobilístico, dois meses depois dele, na rodovia Belo Horizonte-Patos, em Minas Gerais.
Henrique adorava a garotinha.
Todas as noites faço muitas preces em meu quarto, junto ao retrato do meu filho. Uma noite notei, surpresa, que os olhos do meu filho (no retrato) estavam marejados. E durante alguns dias o fenômeno se repetiu.
Um sábado visitei uma grande amiga, Sra. Nayá Siqueira Amorim, e comentávamos fatos de nossa vida ocorrido com o querido amigo Chico.
Pouco mais tarde, ouvimos a campainha da porta. Certamente alguma visita. Ficamos surpreendidas olhando o recém-chegado. Era Chico Xavier.
Cumprimentou a todos e quando me viu, sorriu e disse:
— Augustinha, você aqui?
— Olha, e tirou um envelope azul do bolso do paletó. Era meu nome e endereço.
— Sabe por que os olhos do Henrique estão marejados?
(Há dois dias atrás eu assinara (pra valer) a Apelação, no processo de sua morte).
Numa das últimas vezes que estive com o Chico, estávamos juntos na peregrinação (reparte de donativos aos menos felizes, que é feita nos sábados à tarde). Ele chamou-me para ficar junto dele e o ajudasse na distribuição para aqueles irmãos. Fiquei ao seu lado e distribui o dinheiro em notas de um cruzeiro. Do outro lado, uma senhora de São Paulo (não me lembro o seu nome), distribuía as notas de dez cruzeiros, que eram dadas às senhoras mais idosas e às gestantes. O Chico, muito feliz, disse-me:
— Augustinha, aquela nossa amiga é o Banco do Brasil e você é o INPS; achei muita graça nesta brincadeira do Chico.
Em outra oportunidade, contou-nos também que nas reuniões doutrinárias, às vezes, menos atento, chegava a cochilar e levava suas chamadinhas dos Benfeitores Espirituais.
Ele se desculpava, dizendo que era cansaço, mal-estar.
E o Benfeitor:
— E você cochila quando vai comer?
— Geralmente não.
— Então não durma na pregação que é o alimento Espiritual que você está precisando e muito.
É, meus queridos leitores, recebi três mensagens de meu filho e uma de meu marido; são 4 joias que estão guardadas no cofre do meu coração, protegendo-me com os seus valores inestimáveis.
O Chico representa para nós o HOMEM DO FUTURO, onde já podemos ir imitando alguma coisa. Ele em nossa família é o Anjo Bom, de uma existência em tristes resgates.
Sem Chico Xavier em meu caminho, em nosso caminho, seria uma via-crucis, sem cireneu. Um dia, com a graça de Deus, chegaremos lá.
A nossa rogativa por tudo que nos foi dado por misericórdia de Deus, no trabalho e amor de Chico, no desprendimento de sempre servir e ver seu semelhante feliz, só existe uma: “Deus lhe pague e o proteja para toda a eternidade.”
Augusta Soares Gregoris